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impossível saber. No mínimo, três. Sentiu a bota soltar-se completamente.<br />
Estava sem meia, descalço. Agora, deveria concentrar-se na segun<strong>da</strong> parte do<br />
plano: alcançar a poça e molhar os pés na água <strong>da</strong> chuva. Esperou um<br />
segundo. Os homens estavam olhando para ele, como se decidissem sobre<br />
seu destino. Pelo menos dois perceberam que ele tinha tirado a bota. Temeu<br />
que estragassem a tentativa, mas, aparentemente, estavam cagando para o pé<br />
descalço.<br />
Distraídos e conversando em ro<strong>da</strong>, o homem aprisionado teve chance de<br />
executar a tarefa. Abaixou o corpo, raspando contra a coluna, e aproximou-se<br />
alguns centímetros do objetivo. O pé arrastou-se ligeiro, tocando a generosa<br />
poça d’água. Sentiu a pele umedecer, molhar. Levou alguns segundos além do<br />
normal, mas aconteceu. A pele eriçou; a audição aguçou momentaneamente,<br />
ouvindo as gotas <strong>da</strong> chuva cortarem o céu. Os olhos cintilaram, tornando tudo<br />
mais claro. Sentiu a força chegando, tonificando, queimando como<br />
eletrici<strong>da</strong>de. Os músculos pareciam rocha. Ele tinha o "poder" novamente.<br />
Os homens conversavam anima<strong>da</strong>mente sem <strong>da</strong>r bola para o prisioneiro<br />
subjugado. Por isso, nem perceberam quando ele arrebentou o cor<strong>da</strong>me que<br />
prendia o pulso, como se fosse feito de manteiga.<br />
Apesar de livre, Gregório manteve-se na mesma posição para disfarçar,<br />
fingir-se preso até detectar uma boa oportuni<strong>da</strong>de para deixar o lugar. Os<br />
homens viraram em sua direção, sem prestar atenção. Apenas um deteve-se,<br />
com o queixo caído, tamanho o espanto. Atabalhoado, sem conseguir falar,<br />
cutucou um outro, e assim por diante, até que todos estavam virados para<br />
Gregório, com surpresa estampa<strong>da</strong> no rosto. Dois trataram de engatilhar a<br />
espingar<strong>da</strong>. Gregório estava imóvel. Os outros correram para suas armas,<br />
colocando-as em prontidão. Gregório tentava descobrir o que o havia<br />
denunciado, mas não encontrou nenhum indício gritante, exceto a bota fora do<br />
pé. Dois apontaram as armas em sua direção. Foi quando percebeu que o<br />
problema não era exatamente com ele. Estavam olhando para além dele. Ouviu<br />
uma bati<strong>da</strong> de porta. Tentou, mas não conseguiu olhar por cima dos ombros. Se<br />
forçasse um pouco mais, eles perceberiam que as cor<strong>da</strong>s estavam completamente<br />
soltas. Um vento forte entrava no celeiro.<br />
Os homens esqueceram o prisioneiro. Os dois primeiros viram<br />
claramente um braço empurrando e abrindo a porta. O intruso permanecia<br />
escondido do lado de fora, sem revelar sua figura. Era um braço normal, com<br />
uma blusa compri<strong>da</strong>. A porta abriu-se por inteiro e depois, começou a fechar<br />
lentamente, rangendo, empurra<strong>da</strong> de leve pelo vento. Os outros, despertos<br />
pelo movimento <strong>da</strong> porta, apanharam as armas e agruparam-se. Um vento<br />
forte e repentino atirou a folha <strong>da</strong> porta contra a parede do celeiro.<br />
—É só o vento, seus palermas. — grunhiu Pablo.