12.04.2013 Views

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

milhares agora, milhares! Sentiu medo: eram eles que gargalhavam? Um tapa<br />

dolorido no rosto o fez procurar o agressor.<br />

—Não dorme, não. Já dormiu demais por hoje. — ordenou a voz.<br />

—Pablo?...<br />

—Ah! A mocinha resolveu falar, então.<br />

A visão começava a entrar em foco, a clarear. A caricatura humana<br />

começou a tomar forma.<br />

Sim, era Pablo. Indiscutivelmente. E, se não estivesse enganado, o outro<br />

vulto atormentado, logo atrás, era um dos desajeitados capangas, o Ney. Como<br />

sempre, Pablo vestia o sobretudo preto e dele sacou uma pistola 380. Gregório<br />

sentiu o cano gelado <strong>da</strong> arma pressionar e empurrar dolorosamente a cabeça<br />

contra o pilar onde estava preso. Já estivera sob armas aponta<strong>da</strong>s mais de uma<br />

vez, porém era a primeira em que desejava que o carrasco puxasse o gatilho.<br />

Os últimos dias foram rápidos e confusos demais, como em sonhos infantis. E<br />

as estranhezas estavam chegando a um ponto-limite. Queria que parassem de<br />

acontecer. Um tiro, bem no meio <strong>da</strong> testa, talvez resolvesse seu problema.<br />

Perdera o irmão, e a culpa não saía de sua cabeça. Mais gente tinha morrido<br />

naquela manhã; isso, considerando que ain<strong>da</strong> estivesse no mesmo dia. Sentiase<br />

responsável por tudo, por aquele sangue. Quisera nunca ter voltado para a<br />

terra natal. Certamente, as coisas continuariam como na última déca<strong>da</strong>. O pior<br />

não era a autoculpa, a autocomiseração: era sentir-se responsável pelo<br />

sofrimento <strong>da</strong> cunha<strong>da</strong>. Aquilo acabava com ele. Talvez liqui<strong>da</strong>sse com ela só<br />

para não carregar aquele fardo para a cova. Saber que deixou a mulher<br />

penando a vi<strong>da</strong> inteira, culpando-o pela morte do marido. Ele não era um cara<br />

legal, ele não era do time dos mocinhos, mas um demônio, alastrando peste<br />

negra. Isso tinha que acabar, e melhor que fosse agora, <strong>da</strong>quele jeito: rápido e,<br />

com sorte, indolor.<br />

—Eu podia esparramar essa porra que você chama de cérebro bem<br />

aqui, na frente de todo mundo. Ninguém iria fazer na<strong>da</strong>. — murmurou<br />

Pablo em seu ouvido.<br />

—Vai em frente... — balbuciou Gregório, quase desacor<strong>da</strong>ndo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!