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à frente de todos, determinado, liderando. Tentou erguer a espa<strong>da</strong>, mas o<br />
braço não respondia. A on<strong>da</strong> estava próxima. Já podia ouvir os rugidos<br />
animalescos <strong>da</strong>s feras a poucos metros. O anjo expirou demora<strong>da</strong>mente. Não<br />
morreria tão fácil; viveria para ver o próximo ataque; destruiria todos aqueles<br />
demônios odientos. Jamais colocariam as garras em seu valoroso general.<br />
Inespera<strong>da</strong>mente, porém, tudo tornou-se leve. A luz esmaeceu; o cão estava ali<br />
e o anjo, impotente. O cão era rápido demais para ele. E os demônios muitos.<br />
Perdeu-se nessas observações por uns segundos. E como foram preciosos!<br />
Quando olhou, o demônio voava em sua direção. Tinha se desconcentrado, e<br />
isso custara-lhe a vi<strong>da</strong>. Caiu, chocando-se dolorosamente contra o campo. A<br />
espa<strong>da</strong> voou longe. O fim se avizinhava. De repente, a visão tornou-se turva, e<br />
lágrimas escuras o cegaram. A boca quente <strong>da</strong> fera envolvera seu pescoço; ao<br />
fechar-se, uma dor jamais experimenta<strong>da</strong>. Sentiu a cabeça deslocar e uma<br />
grande desordem. O corpo estava insensível; na<strong>da</strong> obedecia. Os olhos fitavam<br />
o céu. A visão tornou-se clara pela última vez em sua existência para a luz. Via<br />
os irmãos bailando lin<strong>da</strong>mente, brilhando, livres dos cães. Via-os passeando e<br />
voando. A escuridão chegava aos olhos. Em na<strong>da</strong> pensava o anjo. As lágrimas<br />
negras voltaram. Tudo era escuridão.<br />
Thal tentava avaliar aquele início de combate. Torceu para que os<br />
guerreiros <strong>da</strong> primeira batalha tivessem tido tempo para descansar.<br />
Observando o campo, viu, na outra margem, um pequeno grupo de dez cães<br />
grandes e ferozes correndo enlouqueci<strong>da</strong>mente, mas não iam na direção <strong>da</strong><br />
batalha. Contornaram a periferia do evento e atravessaram o campo, afastados<br />
<strong>da</strong> concentração dos anjos. Boa coisa não era.<br />
O general alertou alguns sol<strong>da</strong>dos do último batalhão e ordenou que<br />
perseguissem as feras. Algo de ruim iria principiar.<br />
Nove e cinqüenta <strong>da</strong> noite.<br />
Os homens encapuzados apearam <strong>da</strong> pick-up. Cumpriam ordens do<br />
velho Gê, que não acompanhava o grupo. O velho, que, como outros deles,<br />
havia recebido a visita de Khel, dizia ser esta a missão mais importante do dia:<br />
um seqüestro. Buscariam Gregório, escondido na igreja. O homem era<br />
importante demais para ficar nas mãos dos cristãos. Era a chave para certificar<br />
a vitória do exército negro e um curinga, a ser usado na hora certa.<br />
Seis homens armados com pistolas e espingar<strong>da</strong>s esgueiraram-se na<br />
escuridão, ao lado <strong>da</strong> igreja, evitando a multidão. Encostaram na parede de<br />
madeira nos fundos <strong>da</strong> igreja. Segundo Genaro, encontrariam uma janela fácil<br />
de arrombar. E lá estava ela.<br />
Ney enfiou um pé-de-cabra e, sem muito trabalho, abriu a janela,<br />
produzindo o mínimo possível de barulho.