O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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12.04.2013 Views

A legenda identificava o homem como pastor Marcelo. A porta estava aberta, com sinais de arrombamento. Ninguém mais em vigília. Ninguém mais protegendo Gregório. Ele não estava naquele lugar. Se ainda dormia, mantendo o anjo Thal liberto, era um mistério. Para o bem dos anjos, o melhor era que sim, que ele estivesse adormecido e ainda protegido. Infelizmente, o bem não era o lado da moeda que reinava naquela noite. Cinco para a meia-noite. O apelo voou para todos os lugares. Da emissora, a mensagem foi enviada para a torre de transmissão. Da torre de transmissão, enviada para o satélite. Do satélite, voltou para a Terra, chegando a cada televisor sintonizado no Canal 3 em todo o Brasil. Alguns países latinos, que possuíam antenas especiais, recebiam a imagem com clareza. Argentinos, uruguaios, paraguaios e bolivianos sentiram-se tocados pela mensagem. Até os países ao norte do Brasil percebiam que ali acontecia alguma coisa diferente. Alguma coisa forte. Fé... Centenas de milhares de famílias atenderam ao apelo, muitas ajoelhando ali mesmo em suas salas, de frente para a televisão. Oravam, enviando a fé verdadeira e força para o Exército de Luz. O pastor sequer mencionara o velho código, onde todas as dúvidas eram saciadas aos iniciados, onde todas as provas eram evidentes. Não tinha permissão para usar o velho código assim, de maneira tão aberta. Entretanto, a fé era tão genuína e clara, que mesmo o mais cético ficou abalado naquela noite. Muitos, que jamais tinham aberto seus corações para a palavra cristã, que apenas passeavam com o controle remoto de canal em canal, que ao passar para o Canal 3 normalmente pulavam para o próximo, naquela noite, pararam. Naquela noite, havia alguma coisa diferente no orador. Naquela noite, as palavras soavam verdadeiras. Muitos oraram pela primeira vez na vida. Muitos tiveram fé pela primeira vez naquela noite. Era uma sensação que consumia. Emoção, lágrimas descendo pelo rosto. Era uma necessidade que gritava. Não foram poucos os que acompanharam aquele homem em suas lágrimas sem saber o porquê. A audiência do Canal 3, surpreendentemente, era unanimidade naquela noite. Havia um apelo no ar, um apelo para os anjos que perdiam suas vidas no campo de batalha. Um pedido em favor dos bravos guerreiros, das pobres almas daquela pequena cidade do interior do estado. Os mais sensíveis captavam a presença de algo superior, que fazia a pele arrepiar, como se estivessem com frio. Havia uma coisa nas entrelinhas. Havia uma guerra entre

o bem e o mal. Jeová e Satanás em mais uma queda de braço, mas uma importante queda de braço. A noite cheirava a sangue. Sangue. Samuel queria mais sangue. Estava no centro da cidade. Eram nove horas da noite, deveria haver gente por ali, mas estranhamente, as ruas estavam desertas. Será que já o temiam? Desconfiou que este, por enquanto, ainda não era o ponto. Abandonara o corpo do gordo Doglinhas junto a um eucaliptal, próximo às cercas que delimitavam o sítio do velho Gê, o satanista oculto de Belo Verde. Mais sangue traria mais energia para aquele momento, todavia somente o tempo traria o verdadeiro poder. A criatura da noite sabia disso. Levaria muito tempo para fortalecer-se verdadeiramente. Muito sangue ainda iria rolar. Escalou a parte lateral do supermercado, obtendo, lá de cima da letra S, uma excelente visão das poucas ruas centrais. Os ouvidos aguçados não captavam nenhum barulho denunciador, nem as narinas alcançavam o cheiro do precioso combustível. Ninguém sangrava ali perto. Saltou da letra S, velozmente ao chão, mas era como se fosse feito de vento, como uma pluma. Não produzia barulho nem impacto. Não possuía peso; era mágico. Era sedutor imaginar. E este era apenas um de seus novos poderes. Ele misturava-se nas sombras, caminhando invisível. Caminhando como um mago. Samuel olhou para o céu e, pela primeira vez, se deu conta daquela luz incomum. Um portentoso facho corria para o firmamento, como um gigantesco cordão umbilical cintilando e trocando suas cores maravilhosamente. Como não percebera antes? Prestando mais atenção, mais longe, beirando a linha do horizonte, ele podia perceber outros fachos. De menor intensidade e luz que o primeiro, mas numerosos. Contou, considerando os quase invisíveis: quase trinta. Intrigado, esgueirou-se em direção ao facho e descobriu que vinha da igreja de Belo Verde. Descobriu também por que a cidade se encontrava vazia. Todos estavam ali! Se não ali, estavam na outra igreja, aquela que o acolhera tão generosamente. Para trás do templo, onde começava uma nova fazenda, Samuel notou algum movimento. Mais rápido do que os humanos poderiam acompanhar, alcançou o telhado da igreja. O que via era indescritível. Seus olhos encheram-se de anjos e demônios. Eles se digladiavam furiosamente, selvagens. Próximo à igreja, já no pasto da fazenda, era o quartelgeneral dos anjos de luz, presumiu. Centenas de anjos, em pé, aguardando um sinal. Ao lado deste pelotão garboso e iluminado, ajuntava-se uma pequena quantidade de anjinhos-da-asa-quebrada. O vampiro quase sorriu com seu modo de pensar. Eram soldados feridos. Teriam escapado da morte, capengando lá do meio do pasto? Viu sua pergunta respondida quando, do

A legen<strong>da</strong> identificava o homem como pastor Marcelo.<br />

A porta estava aberta, com sinais de arrombamento. Ninguém mais em<br />

vigília. Ninguém mais protegendo Gregório.<br />

Ele não estava naquele lugar. Se ain<strong>da</strong> dormia, mantendo o anjo Thal<br />

liberto, era um mistério.<br />

Para o bem dos anjos, o melhor era que sim, que ele estivesse adormecido<br />

e ain<strong>da</strong> protegido.<br />

Infelizmente, o bem não era o lado <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> que reinava naquela noite.<br />

Cinco para a meia-noite.<br />

O apelo voou para todos os lugares. Da emissora, a mensagem foi<br />

envia<strong>da</strong> para a torre de transmissão. Da torre de transmissão, envia<strong>da</strong> para o<br />

satélite. Do satélite, voltou para a Terra, chegando a ca<strong>da</strong> televisor sintonizado<br />

no Canal 3 em todo o Brasil. Alguns países latinos, que possuíam antenas<br />

especiais, recebiam a imagem com clareza. Argentinos, uruguaios, paraguaios e<br />

bolivianos sentiram-se tocados pela mensagem. Até os países ao norte do<br />

Brasil percebiam que ali acontecia alguma coisa diferente. Alguma coisa forte.<br />

Fé...<br />

Centenas de milhares de famílias atenderam ao apelo, muitas<br />

ajoelhando ali mesmo em suas salas, de frente para a televisão. Oravam,<br />

enviando a fé ver<strong>da</strong>deira e força para o Exército de Luz.<br />

O pastor sequer mencionara o velho código, onde to<strong>da</strong>s as dúvi<strong>da</strong>s eram<br />

sacia<strong>da</strong>s aos iniciados, onde to<strong>da</strong>s as provas eram evidentes. Não tinha<br />

permissão para usar o velho código assim, de maneira tão aberta. Entretanto,<br />

a fé era tão genuína e clara, que mesmo o mais cético ficou abalado naquela<br />

noite. Muitos, que jamais tinham aberto seus corações para a palavra cristã, que<br />

apenas passeavam com o controle remoto de canal em canal, que ao passar para<br />

o Canal 3 normalmente pulavam para o próximo, naquela noite, pararam.<br />

Naquela noite, havia alguma coisa diferente no orador. Naquela noite, as<br />

palavras soavam ver<strong>da</strong>deiras. Muitos oraram pela primeira vez na vi<strong>da</strong>. Muitos<br />

tiveram fé pela primeira vez naquela noite. Era uma sensação que consumia.<br />

Emoção, lágrimas descendo pelo rosto. Era uma necessi<strong>da</strong>de que gritava. Não<br />

foram poucos os que acompanharam aquele homem em suas lágrimas sem<br />

saber o porquê. A audiência do Canal 3, surpreendentemente, era unanimi<strong>da</strong>de<br />

naquela noite. Havia um apelo no ar, um apelo para os anjos que perdiam suas<br />

vi<strong>da</strong>s no campo de batalha. Um pedido em favor dos bravos guerreiros, <strong>da</strong>s<br />

pobres almas <strong>da</strong>quela pequena ci<strong>da</strong>de do interior do estado. Os mais sensíveis<br />

captavam a presença de algo superior, que fazia a pele arrepiar, como se<br />

estivessem com frio. Havia uma coisa nas entrelinhas. Havia uma guerra entre

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