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Os anjos não se animaram a desembainhar as espa<strong>da</strong>s. Deixaram apenas<br />
os olhos repousar no horizonte, onde um mar de lanternas vermelhas<br />
amontoava-se, cobrindo a paisagem. Agita<strong>da</strong>s, afoitas. Eram tantas...<br />
— Quantos? — perguntou Taguinel, com voz apaga<strong>da</strong> e os olhos<br />
varrendo o princípio de floresta, que parecia arder num incêndio<br />
monstruoso, espectral.<br />
Quando o anjo negro revelou o número, o ar pareceu congelar e as<br />
estrelas apagar. O tempo havia parado. A vontade dos dois anjos fora suga<strong>da</strong>.<br />
Não se via esperança naqueles corações. Estavam previamente massacrados; a<br />
noite estava perdi<strong>da</strong>. Seria melhor entregar as espa<strong>da</strong>s ali, na hora, pois não<br />
faria diferença quantos demônios matassem, quantas feras detivessem. O<br />
número atravessou os ouvidos como fina a<strong>da</strong>ga. Aquela noite seria infinita para<br />
muitos deles. A vontade era voltar correndo e gritar para o grupo de irmãos de<br />
luz dispersar e fugir. Era, porém, um fardo que teriam de enfrentar. Deviam ao<br />
general. Estavam comprometidos com a Batalha Negra. Não poderiam recuar<br />
até que seus corpos fossem retalhados pelas feras ou que, o mais improvável,<br />
saíssem vitoriosos do campo.<br />
— Somos vinte e três mil, seiscentos e sessenta e seis demônios.<br />
— disse a fera de aparência cansa<strong>da</strong>.<br />
Sem emitir uma única sílaba, os dois anjos de luz abandonaram o<br />
encontro de apresentação, carregando o número impossível para seus líderes.<br />
Vinte e três mil, seiscentos e sessenta e seis.<br />
Thal, quase restabelecido por completo, adiantou-se para receber os<br />
irmãos e percebeu que os dois estavam de certa forma abalados, carregando a<br />
tragédia dentro de seus corações. Num relance, Thal viu os anjos negros<br />
retornando para o grupo à margem <strong>da</strong> floresta. Seus anjos pousaram no pasto,<br />
com a igreja ao fundo, de onde o jato de luz incandescente subia ao céu.<br />
—Quantos são?<br />
—Vinte e três mil, seiscentos e sessenta e seis demônios.<br />
Thal calou. O rosto expressava desapontamento, não medo. Nem uma<br />
ponta de desespero se abatia sobre o guerreiro. Só desapontamento. Talvez<br />
dentro do anjo residisse uma esperança, uma esperança de que o número fosse<br />
justo. Um para um; dois demônios para um anjo, até mesmo três para um seria<br />
justo. Os anjos de luz eram muito mais determinados, mais puros e letais. Os<br />
demônios estavam interessados em odiar os anjos, em feri-los, xingá-los,<br />
humilhá-los... Então, perdiam a objetivi<strong>da</strong>de. Eram menos perigosos que os<br />
anjos ver<strong>da</strong>deiros. A ameaça maior guar<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo exército inimigo residia nos<br />
anjos negros de asas: tinham experiência em batalha e eram implacáveis quanto