O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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12.04.2013 Views

Oito e meia da noite. —Não adianta, não consigo me desligar. — reclamou Gregório. —Mas você tem quê. — disse Vera. — Se quiser que as luzes sejam completamente apagadas, ou... —Não adianta. Essa expectativa toda está me deixando excitado, não consigo relaxar. Vocês me desculpem a falta de jeito, mas... quem trouxe essa cama do cacete? Ela é muito desconfor... —Acho que só tem um jeito. — cortou o Dr. Jessup. — Me dêem três minutos; vou preparar um sedativo que faz até elefante dormir na hora. —Boa, doutor. Um empurrãozinho pode vir a calhar. — Gregório levantou o tronco, sentando na beira da desconfortável cama. Acenderam as luzes. Jessup, em cima de um dos armários, preparava uma poção mágica, retirando os frascos da conhecida valise de médico. —Você é alérgico a alguma droga, meu filho? —Não. Pelo menos, nenhum analgésico. Já tomei anestesia geralduas vezes. Local, uma renca, nem sei. Nunca tive problema, não. Jessup limitou-se a balançar a cabeça, enquanto enchia uma seringa. — Não vai demorar nada. Oito e meia da noite. Na mesma hora em que Gregório se preocupava em dormir, o irmão, Samuel, se preocupava em acordar. A tampa do caixão levantou-se lentamente. Leve como neblina, sem mover músculo algum, Samuel pôs-se de pé. Nem bem iniciara a Vida Negra e já estava envolto em guerra. Olhando em volta, percebeu que não estava na aconchegante capela. Parecia um celeiro. Um cheiro delicioso e convidativo fê-lo mover-se. Não havia luz, então os olhos clarearam, fazendo-o enxergar cada inseto dentro do galpão. Não eram apenas insetos que rastejavam por ali. Havia muito mais. Havia um altar. Fiéis. Homens. Havia sangue com fartura. Os homens estavam calados, amedrontados, esperando alguma coisa. Seria seu despertar? perguntou-se o vampiro. Poderia ser. Alguns estavam dormindo profundamente. O cheiro forte de sangue vinha de corpos decapitados, amontoados ao lado do altar. Era diferente do cheiro de sangue

vivo. Era um cheiro atraente, ao mesmo tempo rançoso. Era sangue morto. Inútil. Fixou a visão num homem gordo e sono-lento, cochilando na segunda fila. Os homens acordados estavam com os olhos arregalados, sem nada poder enxergar na escuridão. Provavelmente, tinham escutado algum barulho revelador, alguma coisa que denunciasse a presença do vampiro acordado. Mas ainda estavam confusos. Deveriam despertar o grupo da oração? Deveriam alertar a todos? Estariam enganados? Podia não ser nada. Aproveitando-se da confusão, um segundo depois, Samuel estava ao lado do gordo dorminhoco. Com uma das mãos, tapou a boca do homem, que esticou-se, fazendo seus pés tocarem o banco da frente com inesperada violência. — Ele está aqui! — gritou Pablo, sentado no banco dianteiro. Lanternas foram acesas, vasculhando todo o salão. Estavam na igreja satanista. Aguardavam, como recomendado por Genaro, no escuro para que o vampiro estivesse mais à vontade naquele ambiente diferente, para que não se retraísse. Pouco conheciam, na prática, da natureza daquelas criaturas. Genaro apontou a lanterna para a segunda fileira. Não havia nada. Mais dois dorminhocos acordaram. Um foi ao chão, assustado. —Cadê ele? — perguntou Ney para o chefe. —Nos cadáveres... — alguém gritou. Apontaram os fachos de luz para lá. Os corpos permaneciam amontoados, sem o menor sinal da criatura. O caixão estava aberto e vazio. — Ele está aqui. — afirmou o velho Gê. Continuaram rastreando. Genaro sentiu uma gota líquida, quente e melada pousar no rosto. Passou a mão e espalhou o líquido em sua face. Pablo trombou com ele e apontou a lanterna para o velho. —Que é isso, cara?! — perguntou o traficante, espantado. —É sangue. Acho que alguém me fodeu... Antes que terminasse, foi bombardeado por outra gota. Pablo, com a lanterna apontada para o rosto do homem, descobriu de onde vinha o sangue. Do teto! Abandonou o rosto do velho Gê, rastreando o teto com a luz. O vampiro estava lá, segurando o gordo com uma das mãos. Com a outra, apoiava-se numa das colunas do celeiro, equilibrando-se para não cair da viga que cruzava o teto. — Ali tá ele. — disse baixinho, próximo ao Gê. Os homens se agruparam. Juntaram suas lanternas, apontando para o hóspede.

Oito e meia <strong>da</strong> noite.<br />

—Não adianta, não consigo me desligar. — reclamou Gregório.<br />

—Mas você tem quê. — disse Vera. — Se quiser que as luzes sejam<br />

completamente apaga<strong>da</strong>s, ou...<br />

—Não adianta. Essa expectativa to<strong>da</strong> está me deixando excitado,<br />

não consigo relaxar. Vocês me desculpem a falta de jeito, mas... quem<br />

trouxe essa cama do cacete? Ela é muito desconfor...<br />

—Acho que só tem um jeito. — cortou o Dr. Jessup. — Me dêem<br />

três minutos; vou preparar um se<strong>da</strong>tivo que faz até elefante dormir na<br />

hora.<br />

—Boa, doutor. Um empurrãozinho pode vir a calhar. — Gregório<br />

levantou o tronco, sentando na beira <strong>da</strong> desconfortável cama.<br />

Acenderam as luzes. Jessup, em cima de um dos armários, preparava<br />

uma poção mágica, retirando os frascos <strong>da</strong> conheci<strong>da</strong> valise de médico.<br />

—Você é alérgico a alguma droga, meu filho?<br />

—Não. Pelo menos, nenhum analgésico. Já tomei anestesia geralduas<br />

vezes. Local, uma renca, nem sei. Nunca tive problema, não.<br />

Jessup limitou-se a balançar a cabeça, enquanto enchia uma seringa.<br />

— Não vai demorar na<strong>da</strong>.<br />

Oito e meia <strong>da</strong> noite.<br />

Na mesma hora em que Gregório se preocupava em dormir, o irmão,<br />

Samuel, se preocupava em acor<strong>da</strong>r.<br />

A tampa do caixão levantou-se lentamente. Leve como neblina, sem<br />

mover músculo algum, Samuel pôs-se de pé.<br />

Nem bem iniciara a Vi<strong>da</strong> Negra e já estava envolto em guerra.<br />

Olhando em volta, percebeu que não estava na aconchegante capela.<br />

Parecia um celeiro. Um cheiro delicioso e convi<strong>da</strong>tivo fê-lo mover-se. Não<br />

havia luz, então os olhos clarearam, fazendo-o enxergar ca<strong>da</strong> inseto dentro do<br />

galpão. Não eram apenas insetos que rastejavam por ali. Havia muito mais.<br />

Havia um altar. Fiéis. Homens. Havia sangue com fartura.<br />

Os homens estavam calados, amedrontados, esperando alguma coisa.<br />

Seria seu despertar? perguntou-se o vampiro. Poderia ser. Alguns estavam<br />

dormindo profun<strong>da</strong>mente. O cheiro forte de sangue vinha de corpos<br />

decapitados, amontoados ao lado do altar. Era diferente do cheiro de sangue

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