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quando eram repartidos pelas espa<strong>da</strong>s inimigas, suas almas e suas energias iam<br />
embora ao vento, destinando-se aos propósitos do <strong>Senhor</strong>. Suas almas eram<br />
leva<strong>da</strong>s e guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s no plano seguinte, junto à Luz, junto à paz, voltando para<br />
a casa celestial. Perder a vi<strong>da</strong> não importava. Durante a Batalha Negra, as<br />
coisas eram diferentes. Não podiam depositar a fé no <strong>Senhor</strong> Deus. Ele estava<br />
fora dessa luta e, mesmo que quisesse, não poderia participar. A Lei era clara:<br />
sem Deus, sem diabo. Era algo mais primitivo, como duas gangues, duas tribos,<br />
brigando escondi<strong>da</strong>s dos inspetores escolares, dos pais. Durante a batalha, o<br />
que importava era depositar a fé em si mesmo, acreditar em salvar a pele e<br />
derrubar o maior número de inimigos possível, sair vivo. Hoje, isso parecia<br />
impossível. Eram poucos os anjos reunidos e teriam pela frente, na melhor<br />
<strong>da</strong>s hipóteses, cinco vezes mais demônios. Quando se perdia na Batalha Negra,<br />
deixar de existir era uma bênção, mas, infelizmente, não era isso que acontecia.<br />
Se um anjo era destruído pelas espa<strong>da</strong>s dos demônios, sua alma e sua energia<br />
eram captura<strong>da</strong>s pelo exército negro. Sua consciência continuava existindo, e o<br />
anjo se convertia em algo novo: um auxiliador de Satã. Tornava-se um anjo<br />
novo. Um anjo negro. Um serviçal do demônio. Algo podre e conhecedor do<br />
outro lado. O sofrimento residia justamente nesse ponto. Quem dera suas<br />
almas evaporassem ou apenas seus corpos fossem dominados! Não, não era<br />
na<strong>da</strong> disso que acontecia. Suas mentes continuavam lembrando-se <strong>da</strong> luz, mas<br />
dela eram afastados, exilados. Suas mentes continuavam lembrando-se do<br />
amor, mas por ele não eram alcança<strong>da</strong>s. Eram escravas do <strong>Senhor</strong> <strong>da</strong>s Trevas e<br />
a ele obedeciam com prontidão e medo. Eram desprovi<strong>da</strong>s de coragem; seus<br />
corações eram esfaqueados pelo medo e pela dor eterna.<br />
A consciência tornava-se o inferno dos anjos, que, <strong>da</strong> escravidão para<br />
frente, desembainhariam suas espa<strong>da</strong>s para lutar a favor de um exército<br />
maligno e desgraçado.<br />
Trombetas soaram, chamando a atenção de todos os anjos. Esferas de luz<br />
cruzaram o céu, reunindo-se junto à igreja. Era a última apresentação antes do<br />
enfileiramento para a temi<strong>da</strong> campanha que se aproximava. Os anjos pareciam<br />
pe<strong>da</strong>ços de rochas, firmes e resolutos em guerrear, mas os olhos, os olhos<br />
traíam-lhes a firmeza: eram portadores de pesar e de indecisão.<br />
Os anjos organizaram-se em grupos. Somados, chegavam a exatamente<br />
mil e duzentos.<br />
Thal, o general, ain<strong>da</strong> não se juntara.<br />
Eram cinco e meia <strong>da</strong> tarde, e o Sol beijava o horizonte, principiando sua<br />
caprichosa <strong>da</strong>nça de esconder. O céu começava a escurecer e a encher-se<br />
<strong>da</strong>quele odor de enxofre. Não muito longe <strong>da</strong>li, as feras exercitavam,<br />
preparando-se para o confronto. Os anjos seriam mastigados e cuspidos,<br />
restando aos demônios gargalhar e <strong>da</strong>nçar sobre os corpos mutilados