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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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ain<strong>da</strong> mais a língua e arranhando o rosto com unhas duras e afia<strong>da</strong>s. Depois,<br />

seus dentes venceram uma espécie de couro pouco resistente, cravando em<br />

carne mole. Sentiu vários intrusos em outras partes do corpo, mordendo sem<br />

pie<strong>da</strong>de. Descontava a fúria no que estava preso em sua boca. A língua, livre<br />

agora, roçou algo macio e coberto de pêlos. Que seria, por Deus?! perguntava-se<br />

Teodoro, que, desesperado e aturdido, ain<strong>da</strong> não tivera como identificar os<br />

agressores. Pequenos alfinetes picavam o céu de sua boca; guinchos<br />

frenéticos entravam pelos tímpanos. Os companheiros começaram a arrastálos<br />

pelo chão de terra. Estaria delirando? Não podia responder. O sol estava<br />

forte demais. A escuridão rendera-lhe uma cegueira difícil de desfazer-se.<br />

Pareciam pequenos animais tentando devorá-lo. Se eram animais... aquilo<br />

em sua boca também era! Não era imaginação porcaria nenhuma! Estivera<br />

mastigando alguma coisa viva! Os alfinetes eram na ver<strong>da</strong>de os bigodes do<br />

bichinho. A visão começou a aflorar-se. Uma gor<strong>da</strong> ratazana <strong>da</strong>nçava ao seu<br />

lado sem cabeça, com as patas movendo-se, perdi<strong>da</strong>s. Enojado, cuspiu a<br />

cabeça do animal. Os amigos esmagavam ratos com as botinas, chutavam e<br />

agrediam com a coronha <strong>da</strong>s armas, tentando debelar o feroz ataque a que fora<br />

submetido.<br />

— Catem o André! O coitado tá lá dentro! — foi o que conseguiu gritar<br />

antes de sentir um enorme calor dominar o corpo e um súbito resfriamento<br />

geral, tirando-lhe o fio de consciência e de sani<strong>da</strong>de que lhe restava.<br />

Paulo e Jonas, irmãos de André, e mais um homem, praticamente<br />

atiraram-se dentro do porão. Após alguns minutos, voltaram cobertos de ratos<br />

negros pendurados por todo o corpo. Gritavam. Choravam. O terceiro homem<br />

teve a orelha direita dilacera<strong>da</strong> ao tentar remover uma ratazana faminta, que<br />

parecia querer entrar em sua cabeça através do orifício auricular e alimentar-se<br />

do cérebro.<br />

Levaram muito tempo para retirar os ratos de cima do corpo de André.<br />

Ele estava praticamente nu, pois os ratos devoraram quase to<strong>da</strong> sua roupa. O<br />

ataque tinha sido tão selvagem que os roedores produziram buracos enormes,<br />

fazendo o sangue esvair-se em grande quanti<strong>da</strong>de. O corpo do rapaz<br />

apresentava centenas de ferimentos, transformando-o num borrão vermelho e<br />

inflamado. A única coisa que ain<strong>da</strong> revelava vi<strong>da</strong> era o subir e descer do peito<br />

e esporádicos gemidos de dor.<br />

O grupo improvisou uma maca, construí<strong>da</strong> com galhos e amarra<strong>da</strong> com<br />

cintos. Paulo, o irmão mais novo, e quatro homens encarregaram-se de André<br />

e dos dois outros feridos. Jonas tinha que levar o grupo até a velha capela.<br />

Os doze homens restantes prosseguiram com a expedição. Através do walkietalkie,<br />

pediram para alguém chamar uma ambulância com a máxima urgência,<br />

pois o estado de saúde dos rapazes era extremamente grave.

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