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Sandra, esposa do pastor Durval, abriu a porta e soltou um grito.<br />
Havia um homem, pálido como parafina, vestindo uma espécie de túnica<br />
e coberto por um comprido lençol. Ela cobriu o rosto, mais por vergonha do que<br />
por medo. Poderia ser um mendigo, um doente mental. Certamente, alguém<br />
buscando aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> igreja.<br />
Elias, à distância, conseguiu entrever o inesperado visitante. O homem<br />
fantasmagórico tinha fisionomia conheci<strong>da</strong>. Aquele rosto...<br />
— Posso entrar, pastor Elias? — perguntou Samuel.<br />
O pastor Durval correu os olhos <strong>da</strong> esposa para Elias. O pastor de Belo<br />
Verde permanecia com a cabeça inclina<strong>da</strong> para frente, tentando desven<strong>da</strong>r o<br />
rosto nebuloso. Estava quase próximo de desven<strong>da</strong>r de quem eram aquelas<br />
feições tão familiares, mas to<strong>da</strong> vez que um rosto e um nome relacionado<br />
pareciam solidificar em sua massa cinzenta, a combinação fugia,<br />
transformando-se em outro rosto conhecido e logo em outro e outro e outro...<br />
como um feitiço.<br />
— Sim, pode entrar, pobre homem. — autorizou Durval, percebendo a<br />
hesitação do amigo.<br />
Samuel esboçou um sorriso malicioso, adiantando o pé esquerdo e<br />
cruzando a porta. Sim, podia entrar, a permissão era uma chave mágica. Agora,<br />
Samuel sentia-se completamente livre para finalizar o que veio fazer.<br />
No momento em que o vampiro tocou o chão <strong>da</strong> casa, Elias o identificou.<br />
Era Samuel. A face ficou clara, sem mutações inexplicáveis. Era ele, sem sombra<br />
de dúvi<strong>da</strong>. Estava pálido, a pele extremamente branca, um legítimo albino.<br />
Não existiam mais pigmentos morenos, estava quase sem rugas faciais. A<br />
franja, de fios negríssimos, cobria a face espectral, e do rosto emanava uma<br />
atração mágica... estranhamente sedutora.<br />
Elias percebeu que Samuel vestia o camisolão do Municipal, coberto por<br />
um lençol, que provavelmente fora branco no passado. A roupa fez o pastor<br />
lembrar o desaparecimento recente de Samuel.<br />
—Que faz aqui, Samuel? — perguntou atônito. — Estão todos<br />
preocupados.<br />
—Não precisa mais, meu amigo. — sentenciou o vampiro. — Vim ter<br />
uma conversinha com você em particular.<br />
Elias pestanejou, sem entender. Durval ain<strong>da</strong> estava paralisado, atento<br />
ao estranho mendigo que adentrara sua casa. Sandra, para<strong>da</strong> na porta <strong>da</strong><br />
cozinha, gritou quando Samuel, magicamente, num piscar de olhos,<br />
desapareceu <strong>da</strong> vista de todos, surgindo atrás de Elias, empurrando-o