O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

jovemsulnews.com.br
from jovemsulnews.com.br More from this publisher
12.04.2013 Views

vôo, quase mortos, restando seis para enfrentar os cães. Novamente os demônios investiram todos ao mesmo tempo, aprisionando os adversários entre os dentes. Os que conseguiam espaço deixavam de golpear defensivamente a fim de alçar vôo e retirar-se com vida daquela batalha perdida. Três fugiram, e dois tombaram mortos. De pé, em meio a mordidas e gargalhadas demoníacas, apenas o guerreiro Anatã. Ele afundou a espada no abdome de mais um cão; outro saracoteava agarrado em seu ombro ferido, retirando um pedaço do anjo, enquanto um terceiro mordia o glúteo, provocando mais um extenso ferimento. Quando as feras perceberam que ele estava sozinho, cambaleante no meio dos corpos dos irmãos mortos, afastaram-se. Anatã não enxergava quase nada. Os olhos, outrora brilhantes como a espada, pareciam dois espaços vazios, escuros. O guerreiro, ferido e fraco, chegava a golpear o ar sem inimigos. Tropeçou no braço de um anjo, caindo com o traseiro no chão, gritando em virtude do ferimento ali localizado. Os cães gargalhavam freneticamente, zombando do guerreiro derrotado, à mercê de suas garras e dentes. Formaram um círculo em torno dele, escarnecendo, cuspindo e xingando. Apoiando-se na espada, pôs-se de pé. Iria morrer, porém antes calaria mais demônios. Um corte profundo próximo aos olhos prejudicava a visão. A carne estava aberta em vários pontos, permitindo que sua energia vital fluísse e esvaísse do corpo em grandes quantidades. Logo estaria morto. Os cães afastaram-se. Apenas um saltou para o centro do círculo, galopando de encontro a Anatã. O plano era divertir-se com ele, um a um, antes de matá-lo. Anatã ouviu os passos e o rugido da fera, mas faltavam-lhe forças para enfrentar o cão. A fera foi para cima do gigante enquanto gargalhava. Anatã caiu, largando pela primeira vez a espada. Deu as costas ao cão, tentando recuperar a arma, e sentiu o bafo quente em sua nuca. Morreria sem clamar, sem gritar, sem chorar. Agarrou o cabo da espada, sabendo que não teria tempo para virar e golpear. O cão, caprichosamente, abocanhou a orelha do anjo, arrancando-a com ferocidade, e escapou às gargalhadas. Despertado pela dor, Anatã levantou-se e golpeou mortalmente no dorso um segundo cão que se aproximava. Mais dois cães entraram na roda, um pela frente, outro pelas costas. Anatã concentrou-se no primeiro, sem se dar conta do outro. O cão apenas grunhia, exibindo os gigantescos caninos, prontos para devorá-lo. Repentinamente, bombardeado às costas, caiu de bruços, quase desmaiado. O grupo de demônios gargalhava. Os dois cães entreolharam-se e prosseguiram. Um deles pousou as patas dianteiras nas costas de Anatã, imobilizando-o, enquanto o outro abocanhou a asa esquerda do anjo,

arrancando-a aos poucos. Inerte, sentindo a asa desmembrar-se do corpo, Anatã desmaiou, vencido pelas bestas. Naquele instante, o céu encheu-se de luz. Um grupo de vinte anjos aproximou-se da clareira, presenciando a cena bárbara de um demônio correndo para todos os lados, louco, levando uma asa de anjo presa à boca. Anatã jazia morto, jogado no centro da clareira com os demais irmãos. Ao verem os novos inimigos, os cães debandaram. O único emboscado e destruído foi o que carregava o troféu. Os anjos recuperaram a asa de Anatã e os corpos dos irmãos, carregados no colo, como crianças adormecidas. Quando o levantaram, Anatã expeliu um gemido, um "obrigado" talvez. Percebendo o irmão ainda vivo, aquele anjo transformou-se numa esfera de luz, sumindo no céu em velocidade extraordinária. Os demais foram levados, lentamente, para onde os anjos estavam concentrados: a igreja de Belo Verde. O cavalo saiu da estrada, acompanhando a horda de demônios alados, embrenhando-se num canavial. Depois de cinco minutos, caíram numa estradinha vicinal asfaltada. Aquela hora da madrugada, ninguém circulava pelas ruas de Barra da Cana. Crepúsculo começou a descer lentamente. O cavalo abandonou o galope, marchando calma e silenciosamente. Um carro ultrapassou e sumiu em grande velocidade. O anjo pousou com o cavalo emparelhado. — Não precisaremos esperar. — disse para Samuel, com voz rouca. Os demônios alados também foram pousando, um a um, dispersos. —O pastor chegou naquele carro? — perguntou o vampiro. —Sim, protegido. Agora, a missão é sua. Mate-o. Samuel, ainda cheio de ódio, apeou do cavalo. Correu, saltou em direção ao galho inferior de uma árvore, fazendo a capa esvoaçar. A árvore estava totalmente pelada, permitindo a qualquer um que passasse por ali notar o homem amalucado escalando o topo. Lá de cima, Samuel pôde ver o carro do pastor Elias estacionar em frente à igreja, um prédio de madeira, com uma torre alta ostentando uma cruz. De frente para a árvore, havia uma loja de dois andares, afastada cerca de dez metros. Samuel saltou direto no telhado, atravessando o céu, sem peso algum, qual um fantasma cruzando a madrugada. Caiu levemente na cobertura plana do prédio, dirigindo-se para a edificação vizinha. Repetiu o vôo fantasmagórico, chegando ao telhado seguinte. Os demônios alados o acompanhavam, mas só eram vistos por Samuel. Como fizera no celeiro,

arrancando-a aos poucos. Inerte, sentindo a asa desmembrar-se do corpo,<br />

Anatã desmaiou, vencido pelas bestas.<br />

Naquele instante, o céu encheu-se de luz. Um grupo de vinte anjos<br />

aproximou-se <strong>da</strong> clareira, presenciando a cena bárbara de um demônio<br />

correndo para todos os lados, louco, levando uma asa de anjo presa à boca.<br />

Anatã jazia morto, jogado no centro <strong>da</strong> clareira com os demais irmãos.<br />

Ao verem os novos inimigos, os cães deban<strong>da</strong>ram. O único emboscado e<br />

destruído foi o que carregava o troféu. Os anjos recuperaram a asa de Anatã e<br />

os corpos dos irmãos, carregados no colo, como crianças adormeci<strong>da</strong>s. Quando<br />

o levantaram, Anatã expeliu um gemido, um "obrigado" talvez. Percebendo o<br />

irmão ain<strong>da</strong> vivo, aquele anjo transformou-se numa esfera de luz, sumindo no<br />

céu em veloci<strong>da</strong>de extraordinária.<br />

Os demais foram levados, lentamente, para onde os anjos estavam<br />

concentrados: a igreja de Belo Verde.<br />

O cavalo saiu <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, acompanhando a hor<strong>da</strong> de demônios alados,<br />

embrenhando-se num canavial. Depois de cinco minutos, caíram numa<br />

estradinha vicinal asfalta<strong>da</strong>. Aquela hora <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>, ninguém circulava<br />

pelas ruas de Barra <strong>da</strong> Cana. Crepúsculo começou a descer lentamente. O<br />

cavalo abandonou o galope, marchando calma e silenciosamente. Um carro<br />

ultrapassou e sumiu em grande veloci<strong>da</strong>de. O anjo pousou com o cavalo<br />

emparelhado.<br />

— Não precisaremos esperar. — disse para Samuel, com voz rouca.<br />

Os demônios alados também foram pousando, um a um, dispersos.<br />

—O pastor chegou naquele carro? — perguntou o vampiro.<br />

—Sim, protegido. Agora, a missão é sua. Mate-o.<br />

Samuel, ain<strong>da</strong> cheio de ódio, apeou do cavalo. Correu, saltou em<br />

direção ao galho inferior de uma árvore, fazendo a capa esvoaçar. A árvore<br />

estava totalmente pela<strong>da</strong>, permitindo a qualquer um que passasse por ali notar<br />

o homem amalucado escalando o topo.<br />

Lá de cima, Samuel pôde ver o carro do pastor Elias estacionar em frente<br />

à igreja, um prédio de madeira, com uma torre alta ostentando uma cruz.<br />

De frente para a árvore, havia uma loja de dois an<strong>da</strong>res, afasta<strong>da</strong> cerca<br />

de dez metros. Samuel saltou direto no telhado, atravessando o céu, sem peso<br />

algum, qual um fantasma cruzando a madruga<strong>da</strong>. Caiu levemente na cobertura<br />

plana do prédio, dirigindo-se para a edificação vizinha. Repetiu o vôo<br />

fantasmagórico, chegando ao telhado seguinte. Os demônios alados o<br />

acompanhavam, mas só eram vistos por Samuel. Como fizera no celeiro,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!