Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ramiro estava atrás <strong>da</strong> turma, an<strong>da</strong>ndo e pensando em acender o cigarro de<br />
palha.<br />
Samuel, atocaiado nas sombras do celeiro, viu os homens passarem pela<br />
porta. Deixou-os avançar. Poderia agarrar Ramiro com facili<strong>da</strong>de, atrai-lo para<br />
dentro do celeiro se quisesse, mas preferiu a caça.<br />
Ramiro deu tchau, tragando o cigarro de palha. Entrou por uma<br />
estradinha no meio do milharal, o atalho para casa.<br />
— Ramiro, meu amigo. — murmurou Samuel, inaudível.<br />
Ele estacou. A sensação estranha novamente. Era uma voz esquisita na<br />
cabeça. Não entrava pelos ouvidos; ia direto no cérebro. Era pavoroso.<br />
A lua <strong>da</strong>va um pouco de luz ao caminho. Ramiro virou-se excitado. Não<br />
havia ninguém, apenas a bor<strong>da</strong> do milharal balançando ao sabor do vento, as<br />
folhas farfalhando docemente. Deu mais alguns passos apressados em direção<br />
ao casebre. O medo começou a crescer velozmente. Não ouvia nem sentia<br />
na<strong>da</strong>. Lembrou-se dos estranhos cães enterrados junto ao celeiro. O medo o<br />
dominava, rugindo como um leão acuado. Não havia barulho nem sensação<br />
ruim, só silêncio. O milharal estava imóvel. O vento desaparecera. Alguma<br />
coisa se movia no meio <strong>da</strong> plantação, fazendo a bor<strong>da</strong> balançar<br />
caprichosamente. Começou a correr.<br />
Samuel percebeu o medo crescer no homem. Por um segundo, pensou<br />
que Ramiro o tivesse visto, mas não era possível. No entanto, ouviu o coração<br />
do homem disparar. Samuel deixou o abrigo e entrou na estradinha. Ramiro<br />
adiantara-se uns vinte metros. No instante seguinte, com a veloci<strong>da</strong>de do<br />
pensamento, alcançou o homem e pôs uma <strong>da</strong>s mãos no ombro.<br />
— Ramiro! — gritou. — Pare, eu ordeno.<br />
Virou-se, fitando Samuel. O pavor foi tamanho que caiu no chão, sem<br />
forças para an<strong>da</strong>r.<br />
—Sa... sa... Samuel?<br />
—Ra... ra... Ramiro. —brincou o vampiro.<br />
—E você mesmo, patrão?<br />
—Meio que sim, meio que não. E a minha cara que você vê... mas não o<br />
meu velho coração.<br />
—Oh, Deus! Então o senhorzinho tá vivo?<br />
Samuel levantou a cabeça, <strong>da</strong>ndo uma demora<strong>da</strong> gargalha<strong>da</strong>, aumentando<br />
ain<strong>da</strong> mais o medo em Ramiro.