O Senhor da Chuva - Jovem Sul News
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—Oi, Vera. — Ele virou, encostando-se no batente. — Deus te ouça, querida. Deus te ouça. Vera sentou-se ao lado do marido, afagou-lhe a cabeça, como consolo. Era muito bonita. Longos cabelos negros, pele queimada de sol, algumas sardinhas no rosto. Corpo esguio e bem feito. — Sonhei com chuva; é um bom sinal. — disse a mulher, mostrando um sorriso. Levantou-se, ficou admirando a plantação. — São tantos, cresceram tão rápido, você não vai perdê-los agora. Essa estiagem não vai durar. Samuel concordou, balançando a cabeça. — Entre, querido. Vamos pôr alguma coisa nessa barriga. A comida está uma delícia. Os dois entraram abraçados e brincalhões. Vera lembrou o marido sobre o conserto do celeiro. Samuel prometeu começar as reformas na semana seguinte. Caso chovesse, teriam de estocar a colheita em lugar seco... Caso chovesse.
Capítulo 04 GREGÓRIO ENTROU APRESSADO no apartamento. Renan dormia no sofá da sala. — Acorde, guri. — ordenou, balançando o corpo do rapaz com entusiasmo. Renan remexeu-se. Puxou o cobertor para cima do corpo e virou para o lado. Gregório já estava na cozinha, falando alto. Havia telefonado para o homem do cartão. Agora contava a história para seu amigo. —E um cara da alta. Já concorreu pra senador e essas porras todas. Ele é discreto, mas nunca foi do ramo. Falou pouco. Não sei se era ele mesmo no telefone ou um funcionário. Disse onde encontrá-lo quando estivesse com a mercadoria em cima. Pelo que eu percebi, o cara é um baba-ovo. Comprar droga não é pra bocó novato. Pelo que entendi, vai ser a primeira compra. Vou me fazer. — Pegou uma xícara de café e virou de uma só vez; preparou outra imediatamente e levou para a sala. — Tome, está sem açúcar. Assim você acorda. O cara tá começando rápido demais. Quer nove quilos. Nove quilos! — gritou Gregório, entusiasmado. —Dá uma boa grana? —Se dá uma boa grana?! Você tá tirando com a minha cara? — Gregório esfregou o rosto com as duas mãos. — Se ele for pato, como penso que é, vendo mais caro e saio de circulação por um bom tempo. Aliás, saio do ramo maldito pra sempre. Cê sabe que esse meio do tráfico é foda. Sacaneio um novato. Saio de cara limpa e vivo... Volto pra minha cidade até a coisa dar uma esfriada, depois viajo por aí. Renan vestiu-se. —Onde é essa cidade? —Fica longe, muito longe. Chama-se Belo Verde. Minha família... meus amigos já moraram lá. — Gregório pareceu reflexivo, aquietando-se por alguns segundos. Voltou a mexer no guarda-roupa, reanimando-se. — Você vai comigo, garoto. Esse negócio não é bom pra você. Lá você vai ver o que é vida boa. Mulher bonita, comida fresca e ar puro. Com essa grana... quem sabe não começo um negócio... comprar terras. Sei lá, preciso descansar a cabeça primeiro. —Você vai sair de férias só com esse serviço? —São nove quilos, Renan! Quero pegar essa grana e me ajeitar. Não é papo de traficante que vira bonzinho, não. Acontece que faço esses
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Capítulo 04<br />
GREGÓRIO ENTROU APRESSADO no apartamento. Renan dormia no sofá<br />
<strong>da</strong> sala.<br />
— Acorde, guri. — ordenou, balançando o corpo do rapaz com<br />
entusiasmo.<br />
Renan remexeu-se. Puxou o cobertor para cima do corpo e virou para o<br />
lado. Gregório já estava na cozinha, falando alto. Havia telefonado para o<br />
homem do cartão. Agora contava a história para seu amigo.<br />
—E um cara <strong>da</strong> alta. Já concorreu pra senador e essas porras to<strong>da</strong>s.<br />
Ele é discreto, mas nunca foi do ramo. Falou pouco. Não sei se era ele<br />
mesmo no telefone ou um funcionário. Disse onde encontrá-lo quando<br />
estivesse com a mercadoria em cima. Pelo que eu percebi, o cara é um<br />
baba-ovo. Comprar droga não é pra bocó novato. Pelo que entendi, vai<br />
ser a primeira compra. Vou me fazer. — Pegou uma xícara de café e<br />
virou de uma só vez; preparou outra imediatamente e levou para a sala.<br />
— Tome, está sem açúcar. Assim você acor<strong>da</strong>. O cara tá começando<br />
rápido demais. Quer nove quilos. Nove quilos! — gritou Gregório,<br />
entusiasmado.<br />
—Dá uma boa grana?<br />
—Se dá uma boa grana?! Você tá tirando com a minha cara? —<br />
Gregório esfregou o rosto com as duas mãos. — Se ele for pato, como<br />
penso que é, vendo mais caro e saio de circulação por um bom tempo.<br />
Aliás, saio do ramo maldito pra sempre. Cê sabe que esse meio do<br />
tráfico é fo<strong>da</strong>. Sacaneio um novato. Saio de cara limpa e vivo... Volto<br />
pra minha ci<strong>da</strong>de até a coisa <strong>da</strong>r uma esfria<strong>da</strong>, depois viajo por aí.<br />
Renan vestiu-se.<br />
—Onde é essa ci<strong>da</strong>de?<br />
—Fica longe, muito longe. Chama-se Belo Verde. Minha família... meus<br />
amigos já moraram lá. — Gregório pareceu reflexivo, aquietando-se por<br />
alguns segundos. Voltou a mexer no guar<strong>da</strong>-roupa, reanimando-se. —<br />
Você vai comigo, garoto. Esse negócio não é bom pra você. Lá você vai<br />
ver o que é vi<strong>da</strong> boa. Mulher bonita, comi<strong>da</strong> fresca e ar puro. Com essa<br />
grana... quem sabe não começo um negócio... comprar terras. Sei lá,<br />
preciso descansar a cabeça primeiro.<br />
—Você vai sair de férias só com esse serviço?<br />
—São nove quilos, Renan! Quero pegar essa grana e me ajeitar. Não é<br />
papo de traficante que vira bonzinho, não. Acontece que faço esses