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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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familiar, o cheiro do sangue de seu irmão. Samuel gargalhou, espalhando um<br />

guincho sinistro na noite. Correu como vento, invisível nas sombras, ao<br />

encontro de Gregório.<br />

Os homens já tinham jantado e agora jogavam papo no alpendre <strong>da</strong><br />

casa. Gregório balançava-se apoiado nas pernas traseiras <strong>da</strong> cadeira de madeira,<br />

com o chapéu de palha no topo <strong>da</strong> cabeça. Conversavam sobre o sumiço do<br />

caixão do seu Décio e também perguntavam-se sobre o paradeiro de Samuel, já<br />

que não acreditavam que ele estivesse morto. Gregório disse que aguar<strong>da</strong>va o<br />

chamado do investigador Tatá para saber o que fazer. Se o homem não se<br />

manifestasse na manhã seguinte, ele organizaria um grupo de busca para<br />

encontrar o irmão ou, ao menos, alguma pista de seu paradeiro.<br />

De pé, num galho, Samuel podia ver os homens no alpendre. Via-os<br />

claramente. Em sua mente, imagens confusas mostravam aqueles rostos que<br />

deveria conhecer tão bem, entretanto agora não os distinguia e mal sabia seus<br />

nomes. Reconheceu com certeza apenas Celeste, o capataz, e o irmão gêmeo,<br />

Gregório.<br />

Ramiro, tirando lascas de fumo para enrolar o cigarro, descuidou-se do<br />

pequeno e afiado canivete, produzindo um corte no dedo indicador esquerdo.<br />

Apesar de pequeno, o ferimento deixou liberar uma gotinha de sangue, que se<br />

desprendeu <strong>da</strong> pele, indo espatifar-se no assoalho de madeira.<br />

A cento e cinqüenta metros do alpendre, Samuel sentiu o corpo<br />

estremecer e o abdome arder ao detectar o odor de sangue humano injetado<br />

nas narinas.<br />

— Ramiro. — murmurou baixinho, saltando suavemente sobre as folhas<br />

secas, sem produzir ruído.<br />

Ramiro benzeu-se:<br />

—Credo em cruz, gente.<br />

—Que foi, homem? — perguntou Celeste.<br />

—Sei não, compadre, senti um trem ruim pra <strong>da</strong>na. Um vento na minha<br />

cabeça, um zumbido.<br />

— Deve de ser coisa de véio. — brincou Celeste, rindo à beça.<br />

Os outros riram com ele.<br />

Ramiro apertou o dedo, e uma gota maior caiu no chão, misturando-se<br />

com a areia solta no assoalho.<br />

Samuel, escondido atrás do celeiro, contorceu-se novamente ao ser<br />

chicoteado por demônios invisíveis vindos com o cheiro fresco de sangue

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