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O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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Capítulo 03<br />

SAMUEL SAIU DA ESTRADA e encostou o jipe na frente <strong>da</strong> porteira. Estava com<br />

calça jeans clara e de botas, camisa xadrez azula<strong>da</strong> e camiseta branca por baixo.<br />

Tinha rosto fino e definido, revelando seus quase trinta anos. Desceu do jipe e<br />

abriu a porteira. O sol estava quente demais, e ain<strong>da</strong> não eram onze horas.<br />

Enxugou o suor <strong>da</strong> testa com as costas <strong>da</strong>s mãos, colocou um chapéu de palha<br />

e voltou para o veículo. Percorreu dois quilômetros numa estradinha de terra,<br />

beirando a plantação. O sol castigava as ervas, comprometendo a colheita. Não<br />

chovia há meses. Até o sistema de irrigação estava sendo afetado pela estiagem.<br />

À frente, encontrou os trabalhadores. O grupo adubava a terra,<br />

preparando-a para um novo plantio. Avistaram o jipe e acenaram para Samuel.<br />

Ele respondeu, chacoalhando a mão no ar. Parou o veículo e desceu.<br />

—Temos água pra mais dois dias de irrigação. Depois disso, acaba. —<br />

gritou Samuel, aproximando-se devagar.<br />

—Tem que chover, Samuel. A terra tá seca demais, homem. Não sei se<br />

esse milho aí vai pegar. O milharal grande ain<strong>da</strong> tá verde. Se<br />

continuar com essa secura, é melhor nem plantar mais. — reclamou o<br />

pequeno Tônico.<br />

—E ver<strong>da</strong>de. Deixa a sementeira prepara<strong>da</strong>; às vezes, o tempo mu<strong>da</strong>,<br />

Tônico. Temos que ter fé. Mas, como seguro morreu de velho, se não<br />

chover em dois dias, a gente começa a colher.<br />

—Verde?! — espantou-se Ramiro.<br />

—É, verde mesmo. Se eu não colher, a gente perde tudo. — Samuel<br />

abaixou-se e apanhou um torrão de terra. Estava seco demais,<br />

esturricando nas mãos. Olhou para o céu, sem nuvens, inclemente.<br />

Esfregou de novo a testa com as costas <strong>da</strong>s mãos.<br />

—E um dó, mas pelo menos a gente consegue alguma coisa.<br />

Samuel voltou para o jipe. Partiu, deixando uma nuvern de poeira para<br />

trás. Havia muita terra planta<strong>da</strong> no caminho. As espigas estavam começando a<br />

engor<strong>da</strong>r, mas, sem chuva, o solo continuaria maltratado, fraco. As espigas<br />

cresceriam magricelas, sem valor. Acabaria tendo de colher antes do tempo.<br />

Vinte minutos depois estava em casa. Estacionou o jipe ao lado do velho<br />

celeiro. Pulou para fora e caminhou cansado, desanimado. Sentou na esca<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

varan<strong>da</strong>, balançando o velho chapéu entre as pernas.<br />

—Calma, fazendeiro. Logo logo chove. — murmurou a esposa ao pé de<br />

seu ouvido.

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