O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

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12.04.2013 Views

Capítulo 15 POR VOLTA DAS OITO E MEIA da noite, uma hora depois do telefonema de Vera, uma viatura de polícia adentrou os limites da fazenda. Vinha buscar Gregório para levá-lo ao hospital. O irmão estava desaparecido. O policial manteve-se calado durante todo o trajeto de volta. A estrada de terra que separava a fazenda do centro da cidade era estreita e com curvas lamacentas e perigosas. Quase não havia trânsito àquela hora. Não era muito seguro aventurar-se por aquelas bandas depois que a escuridão invadia o campo. O policial mantinha-se a uma velocidade segura para uma eventual freada devido à estreiteza da estrada. Alguns trechos demonstravam ser impossível a passagem de dois carros ao mesmo tempo. —Você sabe o que aconteceu com meu irmão? —Bem, ele aparentemente... — o policial expressava-se de um jeito reticente, como se escolhesse as palavras, como se soubesse exatamente o que acontecera, mas não quisesse adiantar as coisas. — ...aparentemente fugiu do hospital. —Mas ninguém viu ele passando pela recepção? — Gregório imaginava que para sair teria que passar pela recepção. — Deveria ter alguém lá... As câmeras de vídeo interno? Alguém deveria ter visto ele saindo... não é? —Aí é que está. — respondeu o policial, dando uma batida rápida no volante. — Normalmente, nada escapa à vigilância interna do Municipal, mas esta ocorrência não tem nada de normal. E, sinceramente é melhor você aguardar até chegarmos, eu não sei o que aconteceu. Talvez você saiba... Gregório estava indignado. Como, não sabiam? Como alguém sai do hospital sem ser visto? Sair, na boa, na malandragem, é a parte fácil da história, mas sem ser visto, isso é que era difícil. Seguiu o conselho do policial e manteve-se em silêncio o restante da viagem. Ao chegar ao Hospital Municipal, foi conduzido à enfermaria. Vera havia passado por uma crise nervosa e estava agora tomando soro e sob efeito de calmantes. Conversou com a cunhada, que dizia coisas desconexas, como perdemos ele, nosso Samuel foi levado. Gregório ficou bastante impressionado com o estado da cunhada, mas aquilo não era nada comparado ao turbilhão de pensamentos sinistros que invadiu sua mente ao adentrar o quarto onde antes estivera com o irmão. Quando chegou ao terceiro andar, utilizando o elevador mais antigo do planeta, adentrou o quarto, arregalando os olhos para vislumbrar qualquer detalhe macabro. Havia

três pessoas ali dentro, executando algo sem importância naquele cenário inesperado. Dois pareciam pertencer à polícia técnica e tiravam fotografias instantâneas. O outro, um policial fardado, como o que o trouxera. O quarto parecia abalroado por um vendaval. Na parede, alguns desenhos sem sentido, feitos com tinta vermelha ou... sangue. Uns pareciam máscaras; outros, borrões ao acaso, dispostos à volta, em todas as paredes. No chão, poças de sangue nos quatro cantos pareciam querer subir pelas paredes e juntar-se aos estranhos borrões. As janelas estavam estilhaçadas e arrombadas, como se uma bomba violentíssima houvesse detonado junto delas. As grades externas também estavam destruídas, retorcidas e rompidas, como se mãos gigantes as tivessem puxado furiosamente para fora. O que quer que houvesse visitado Samuel, certamente não era humano. Não havia o menor sinal do irmão, nenhuma pista... nenhum pedaço. Amostras do sangue foram coletadas para checagem. Tudo indicava que Samuel havia sido raptado. Gregório caminhava cautelosamente pelo quarto. Deixou-se cair sentado no sofá, boquiaberto. Não sabia o que pensar. Talvez os demônios tivessem voltado. Demônios. Certamente a polícia não acreditaria nele. Deveria contar? Alguém pôs a cabeça para dentro do quarto bufando. Era outro policial, talvez um investigador, de paletó e calça jeans. — Ei, caras, vocês precisam ver isto! — exclamou o homem negro de aparência madura. No mesmo instante, desapareceu pelo corredor. Os que estavam no quarto seguiram-no. Gregório ficou atento a uma poça de sangue que estava na sua frente, a um metro e meio, aproximadamente. De segundos em segundos, a poça oscilava, despertando a curiosidade do observador. Depois de algum tempo, percebeu que eram gotas de sangue que caíam. Olhou para cima e descobriu o que acontecia. O sangue estava gotejando de uma entrada de ar no teto do quarto, com um metro de diâmetro. Facilmente poderia haver um... — Gregório, pode me acompanhar, por favor? — perguntou o suposto investigador, pousando a mão em seu ombro. Gregório desviou o olhar do teto e assentiu com um movimento da cabeça. Subiram um lance de escadas e entraram numa sala ampla, cheia de pessoas e um aperto desconfortante. O homem empurrou-o para perto de uma série de monitores ligados. Ao que tudo indicava, era a sala da segurança. Gregório impressionou-se com os recursos disponíveis. Apesar da cidade ser minúscula, o prefeito se orgulhava em investir a grana dos impostos em saúde para o povo. Apontaram para um monitor que rodava imagens aceleradas, indecifráveis. O operador congelou um ponto e apertou a tecla play. A primeira imagem que Gregório identificou foi a de cacos de

três pessoas ali dentro, executando algo sem importância naquele cenário<br />

inesperado. Dois pareciam pertencer à polícia técnica e tiravam fotografias<br />

instantâneas. O outro, um policial far<strong>da</strong>do, como o que o trouxera.<br />

O quarto parecia abalroado por um ven<strong>da</strong>val. Na parede, alguns<br />

desenhos sem sentido, feitos com tinta vermelha ou... sangue. Uns pareciam<br />

máscaras; outros, borrões ao acaso, dispostos à volta, em to<strong>da</strong>s as paredes. No<br />

chão, poças de sangue nos quatro cantos pareciam querer subir pelas paredes e<br />

juntar-se aos estranhos borrões. As janelas estavam estilhaça<strong>da</strong>s e arromba<strong>da</strong>s,<br />

como se uma bomba violentíssima houvesse detonado junto delas. As grades<br />

externas também estavam destruí<strong>da</strong>s, retorci<strong>da</strong>s e rompi<strong>da</strong>s, como se mãos<br />

gigantes as tivessem puxado furiosamente para fora.<br />

O que quer que houvesse visitado Samuel, certamente não era humano.<br />

Não havia o menor sinal do irmão, nenhuma pista... nenhum pe<strong>da</strong>ço. Amostras<br />

do sangue foram coleta<strong>da</strong>s para checagem. Tudo indicava que Samuel havia<br />

sido raptado. Gregório caminhava cautelosamente pelo quarto. Deixou-se cair<br />

sentado no sofá, boquiaberto. Não sabia o que pensar. Talvez os demônios<br />

tivessem voltado. Demônios. Certamente a polícia não acreditaria nele. Deveria<br />

contar? Alguém pôs a cabeça para dentro do quarto bufando. Era outro policial,<br />

talvez um investigador, de paletó e calça jeans.<br />

— Ei, caras, vocês precisam ver isto! — exclamou o homem negro de<br />

aparência madura. No mesmo instante, desapareceu pelo corredor.<br />

Os que estavam no quarto seguiram-no. Gregório ficou atento a uma<br />

poça de sangue que estava na sua frente, a um metro e meio,<br />

aproxima<strong>da</strong>mente. De segundos em segundos, a poça oscilava, despertando a<br />

curiosi<strong>da</strong>de do observador. Depois de algum tempo, percebeu que eram gotas<br />

de sangue que caíam. Olhou para cima e descobriu o que acontecia. O<br />

sangue estava gotejando de uma entra<strong>da</strong> de ar no teto do quarto, com um<br />

metro de diâmetro. Facilmente poderia haver um...<br />

— Gregório, pode me acompanhar, por favor? — perguntou o<br />

suposto investigador, pousando a mão em seu ombro.<br />

Gregório desviou o olhar do teto e assentiu com um movimento <strong>da</strong><br />

cabeça. Subiram um lance de esca<strong>da</strong>s e entraram numa sala ampla, cheia de<br />

pessoas e um aperto desconfortante. O homem empurrou-o para perto de<br />

uma série de monitores ligados. Ao que tudo indicava, era a sala <strong>da</strong><br />

segurança. Gregório impressionou-se com os recursos disponíveis. Apesar <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de ser minúscula, o prefeito se orgulhava em investir a grana dos<br />

impostos em saúde para o povo. Apontaram para um monitor que ro<strong>da</strong>va<br />

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tecla play. A primeira imagem que Gregório identificou foi a de cacos de

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