12.04.2013 Views

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

O Senhor da Chuva - Jovem Sul News

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

fazia por conta própria, mas desta vez algo aconteceu. Algo estranho. O peso<br />

desapareceu. As tábuas chiaram quando a tora as libertou <strong>da</strong> carga. Parecia<br />

um grito de alívio. Mais um puxão, o tronco voltou para o lugar original, e<br />

outro, para que ela ficasse alguns centímetros acima do ponto inicial. Soltou a<br />

cor<strong>da</strong> devagar, ouvindo o tronco assentar no madeirame, torcendo para ele<br />

não ceder. Nem a parede. Ficou parado, estático por alguns segundos. Na<strong>da</strong><br />

aconteceu. Nenhum gemido. Nenhum celeiro desmoronando. Na<strong>da</strong>.<br />

Aparentemente, tudo ficou resolvido: as madeiras firmes, sofrendo bem menos<br />

com as panca<strong>da</strong>s de vento.<br />

Gregório voltou para casa faminto. Ao chegar próximo à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

varan<strong>da</strong>, verificou que a calha funcionava maravilhosamente: a água descia,<br />

e o barril, colocado embaixo <strong>da</strong> boca do cano de descarga, transbor<strong>da</strong>va.<br />

Quando subiu o primeiro degrau, percebeu que o telefone se degolava<br />

na sala, insistente. Um frio percorreu a espinha... Era como adivinhar que o<br />

aparelho iria despejar palavras sofri<strong>da</strong>s e angustia<strong>da</strong>s por parte de Vera. E foi o<br />

que aconteceu.<br />

Pablo acordou sobressaltado, transpirando aos borbotões, e olhou para o<br />

lado. Ney dormia como uma criança, nem sombra de marginal infeliz.<br />

Entretanto, ele não acreditava que conseguiria pregar o olho novamente.<br />

Acabava de ser atacado pelo pesadelo mais assustador que tivera na vi<strong>da</strong>. Não<br />

por conta do personagem demoníaco, mas pela intensa sensação de reali<strong>da</strong>de<br />

que o assaltara durante o estranho diálogo: fora advertido para não matar o<br />

homem. Mas, que homem?<br />

A aberração ala<strong>da</strong>, um anjo alto e forte... Seria um anjo, mesmo? Fosse o<br />

que fosse, a criatura o havia atacado, derrubado e vomitado palavrões em sua<br />

cara, com um hálito podre e azedo. Havia dito uma centena de vezes: Não mate<br />

o homem.<br />

Não... aquilo não era um anjo. Horrível. Ele tinha chifres, pernas<br />

cobertas de pêlo e patas de cabra. A língua era parti<strong>da</strong> ao meio. Ele dizia: Não<br />

mate o homem, ou eu virei to<strong>da</strong> noite até que você esteja louco e morrendo de<br />

tanto chorar. Não mate o homem.<br />

Acendeu um cigarro.<br />

—Que homem, porra?<br />

Veio-lhe um nome. Gregório. Era o único homem com quem ele tinha<br />

contas para acertar. E acertaria no dia seguinte, o dia final. Precisava voltar logo<br />

para São Paulo. Muitas coisas pendentes. Não era um vagabundo, só estava ali<br />

porque não queria ser <strong>da</strong>do como otário. Queria vingança, queria matar<br />

Gregório. O dinheiro quase não importava, o que contava era a honra. Pablo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!