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Relatório intermédio das escavações arqueológicas subaquáticas ...

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<strong>Relatório</strong> <strong>intermédio</strong> <strong>das</strong> <strong>escavações</strong> <strong>arqueológicas</strong><br />

<strong>subaquáticas</strong> na ilha de Moçambique e Mogincual, de<br />

Abril a Novembro de 2005.<br />

Lic. Alejandro Mirabal<br />

- Janeiro 2006 -


Índice<br />

Assunto página<br />

! Objectivos 3<br />

! Resumo 4<br />

! <strong>Relatório</strong>s dos sítios 5<br />

! MOG-003 5<br />

I. Descrição do sítio e primeiros achados 5<br />

II. Natureza do sedimento e condições hidrográficas 6<br />

III. Escavação 6<br />

IV. Localização geográfica 8<br />

V. Plano do sítio 9<br />

VI. Resultados 10<br />

VII. Interpretações 17<br />

VIII. Os artefactos 18<br />

IX. Tentativa de identificação 30<br />

! IDM-003 32<br />

I. Descrição do sítio e primeiros achados 32<br />

II. Natureza do sedimento e condições hidrográficas 32<br />

III. Escavação 33<br />

IV. Localização geográfica 35<br />

V. Plano do sítio 36<br />

VI. Resultados 37<br />

VII. Interpretações 45<br />

VIII. Os artefactos 46<br />

IX. Tentativa de identificação 69<br />

! IDM-017 71<br />

I. Descrição do sítio e pesquisa 71<br />

II. Localização geográfica 72<br />

III. Desenho do sítio 73<br />

IV. Tentativa de identificação 74<br />

! Conservação 75<br />

! Equipamento 77<br />

! Pessoal 78<br />

! Bibliografia e fontes 79<br />

! Agradecimentos 80<br />

2


O presente serve como relatório de fim de temporada na escavação<br />

de dois sítios de naufrágios que aconteceram durante o século XVII<br />

na ilha de Moçambique e Mongincual, designados por MOG-003 e<br />

IDM-003, e ainda a pesquisa e avaliação do IDM-017. Estes locais<br />

foram escolhidos não só pela importância histórica que detêm, mas<br />

também por estarem em perigo uma vez que se trata de uma zona<br />

conhecida por pescadores que sabiam da sua existência. O local do<br />

IDM-003 foi por diversas vezes visitado por pescadores com o intuito<br />

de extrair barras de chumbo para posterior venda. Por outro lado, os<br />

canhões de bronze do MOG-003 estavam prestes a serem apanhados<br />

por locais que queriam vendê-los como fragmentos de metal.<br />

Objectivos.<br />

Foram vários os objectivos de fazer esta escavação arqueológica de<br />

dois naufrágios potencialmente importantes, quer a nível histórico<br />

quer cultural, nas águas da província de Nampula. Em primeiro lugar,<br />

era necessário definir a área de dispersão do material cultural no<br />

terreno, assim como a extensão e natureza do cobertura natural,<br />

escavar essa cobertura natural e os depósitos recentes até à<br />

camada estéril por baixo da estação, para finalmente começar o<br />

estudo da artilharia, composição da carga, construção naval e ainda<br />

a vida a bordo destes navios particulares.<br />

3


Resumo.<br />

Esta operação de escavação aconteceu nas águas da ilha de Moçambique e<br />

Mogincual de 01/05/2005 a 30/11/2005 sem qualquer interrupção num total<br />

214 dias de operações.<br />

O tempo de operações foi dividido da seguinte forma:<br />

Transporte (navegar para e dos sítios) 6 dias<br />

Mobilização/Logística(combustível, comida, etc e reparações) 32 dias<br />

Mau tempo 16 dias<br />

Dias de folga 15 dias<br />

Dias de mergulho 145 dias<br />

Durante estes 145 dias de mergulho, um total de 1371 mergulhos foram<br />

efectuados, para um total de 2.000,14 horas de mergulho a uma proporção<br />

de 14,19 horas de mergulho por dia.<br />

MOG-003 (possivelmente Almiranta São Jose, 1622):<br />

- Dias trabalhados neste sítio 35<br />

- Mergulhos 441<br />

- Horas de mergulho 482.56<br />

- Artefactos recuperados 57 (20.248 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

- Estado da escavação (aprox.) 20%<br />

IDM-003 (possivelmente Nossa Senhora da Consolação, 1608):<br />

- Dias trabalhados neste sítio 110<br />

- Mergulhos 839<br />

- Horas de mergulhos 1359.45<br />

- Artefactos recuperados 169<br />

- Estado escavação (aprox.) 40%<br />

IDM-017 (possivelmente Capitana Santa Teresa, 1622):<br />

- Dias trabalhados neste sítio (simultaneamente com MOG-003) 13<br />

- Mergulhos 91<br />

- Horas de mergulho 158.13<br />

- Artefactos recuperados 0<br />

- Estado da escavação (aprox.) 0%<br />

4


<strong>Relatório</strong> dos sítios.<br />

MOG-003 Infusse, 35 dias entre 06/05/05 e 20/11/05<br />

Descrição do sítio e primeiros achados<br />

Este local foi encontrado no dia 27 de Setembro de 2004 durante as buscas<br />

sistemáticas com um magnómetro e inspeções visuais no Infusse. A maior parte<br />

do naufrágio está localizado no lado noroeste do Infusse a uma profundidade<br />

de 21 metros e meio num fundo arenoso e rochas soltas.<br />

Num total foram encontrados 3 canhões de bronze e 5 de ferro, um macho de<br />

leme e 6 âncoras, distribuído num eixo de dispersão de 3800m de<br />

comprimento, terminando no sitio <strong>das</strong> âncoras A6 e A7 e canhões G6 e G7. Os<br />

canhões de ferro estão muito cobertos de concreção mas os 3 de bronze estão<br />

em razoavelmente bom estado com golfinhos, moentes e cascavéis completos.<br />

A inspeção começou num ponto a sul do Infusse onde uma âncora histórica<br />

(A3) tinha sido encontrada numa busca anterior. Daquele ponto continuámos a<br />

procurar em direcção a nor-nordeste, ao favor do vento e foram encontra<strong>das</strong><br />

outras duas âncoras (A2 e A1) e um canhão de ferro (G0) a uma distância<br />

aproximada de 452 metros do A3. Mais nenhum vestígio de naufrágio foi<br />

encontrado na área circundante. A cerca de 1500 metros a norte desta área, os<br />

primeiros 2 canhões de bronze e um de ferro foram encontrados a uma<br />

profundidade de 14.3 metros num fundo de areia, pedras soltas e calhaus. Um<br />

dos canhões de bronze esta virado ao contrário (G1) e poderá provavelmente<br />

ter marcas que ajudem à sua identificação, o outro (G2) esta ligeiramente<br />

virado mas não tem marcas visíveis. O G1 tem 3.43 metros de comprimento e o<br />

G2 conta com 3.31 metros. Uma pesquisa visual foi imediatamente levada a<br />

cabo de forma a encontrar mais material do naufragio na zona, mas sem<br />

resultados. No mesmo momento, to<strong>das</strong> as medi<strong>das</strong> dos canhões e a sua relação<br />

foram efectua<strong>das</strong> de forma a produzir um desenho à escala da zona. Foram<br />

ainda tira<strong>das</strong> fotografias e vídeos digitais do local. Outro canhão de bronze (G4)<br />

foi encontrado a 95.3 metros a Noroeste do canhão G2 a uma profundidade de<br />

14 metros sem qualquer vestígio de naufrágio na vizinhança. To<strong>das</strong> as medi<strong>das</strong><br />

do canhão foram tira<strong>das</strong> assim como fotografias digitais. Outro canhão de ferro<br />

(G5) foi encontrado através da pesquisa realizada por magnómetro a 442<br />

metros a noroeste do canhão G2 a uma profundidade de 13 metros, muito<br />

cimentado (quase irreconhecível) e sem mais evidencias de naufrágio na área<br />

circundante. Uma vasta investigação através de detectores de metal foi feita no<br />

local mas sem leituras resultantes. Uma pedra de balastro isolada foi<br />

encontrada entre os canhões G2 e G4. Uma âncora com uma unha partida (A5)<br />

foi encontrada numa inspeção visual a uma profundidade de 14 metros num<br />

fundo rochoso. Uma pesquisa com detector de metal foi efectuada<br />

imediatamente em toda a sua vizinhança. Apenas foi encontrado um prego de<br />

ferro cimentado no fundo do mar sem mais sinais de naufrágio.<br />

Uma área anômala foi detectada com o magnómetro a Nor-noroeste do A5 a<br />

uma profundidade de 21.5 metros e uma inspecção visual revelou outras duas<br />

âncoras históricas (A6 e A7) parcialmente enterra<strong>das</strong> na areia, assim como dois<br />

canhões de ferro (G6 e G7) a 15 metros a nor-noroeste do A6 e ainda um<br />

macho de leme de ferro. O facto do G7 e A7 estarem totalmente submersos<br />

levou-nos a mudar à estratégia de avaliação do sítio e começar também a<br />

procurar mais profundamente nos sedimentos com o objectivo de encontrar<br />

5


outras provas enterra<strong>das</strong>. Como resultado destes testes controlados de<br />

escavação foram encontra<strong>das</strong> 8 balas de canhão, um objecto de ferro<br />

inidentificável, 2 tampas de peltre de garrafas e várias moe<strong>das</strong> de prata em<br />

aglomerações de diferentes tamanhos, todos enterrados debaixo do sedimento.<br />

Parte <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> de prata ainda conservavam traços de disposição em fila,<br />

vestígio de uma suposta arrumação em recipientes, dai pensarmos serem com<br />

grande probabilidade, parte da carga do navio. As son<strong>das</strong> atingiram 1, 2 metros<br />

de profundidade em certos pontos e foi a essa profundidade que foram<br />

encontra<strong>das</strong> as primeiras pedras de balastro, folha de chumbo de revestimento<br />

do casco, assim como pequenos fragmentos de cerâmica vulgar e um jarro de<br />

azeite fragmentado.<br />

Esta foi a área onde as <strong>escavações</strong> começaram este ano.<br />

Natureza do sedimento e condições hidrográficas.<br />

O local do naufrágio está localizado a 21.5 metros de profundidade num canal<br />

de marés situado entre o recife exterior e a costa continental que, nesta zona, é<br />

composta por praias. Sentem-se fortes correntes <strong>das</strong> marés que vêm do Norte<br />

e do Sul conforme a fase da maré que é sempre mais forte nos dias <strong>das</strong> marés<br />

vivas. A área é também regularmente afectada por ondulações de fundo<br />

(geralmente provenientes de sudeste) origina<strong>das</strong> por factos oceânicos que<br />

ocorrem longe, que em nada estão relaciona<strong>das</strong> com as particulares condições<br />

meteorológicas da zona.<br />

O manto do fundo do mar é formado por areia solta e pequenos fragmentos de<br />

colónias de corais mortos (até agora identificados Diploria sp., Acropora sp. e<br />

Mussa sp.) misturados até uma profundidade de aproximadamente 1.5 metros<br />

onde o sedimento torna-se mais compacto.<br />

A dinâmica do sedimento é induzida pela grande vaga de on<strong>das</strong> presente nos<br />

dias de ondulações de fundo, quando a areia e os pequenos fragmentos de<br />

coral vêm e vão, por vezes, num raio de 3 a 5 metros. Existe também uma<br />

forte sedimentação <strong>das</strong> partículas em suspensão na coluna de água, que<br />

provém sobretudo do fluxo do rio Mogincual e dos riachos de Infusse e da<br />

Curvelane.<br />

Não se provou, até ao momento, que a deposição de sedimento macio no sítio<br />

seja sazonal como se pensou no início. Uma contínua monitorização deste<br />

aspecto durante 15 meses mostraram uma taxa de deposição de<br />

aproximadamente 1 cm por mês em toda a área, como consequência, o<br />

naufrágio ficando mais e mais enterrado em de cada intervenção.<br />

Os testes de escavação são reenchidos em um termo de poucas horas quando<br />

as ondulações de fundo estiveram presentes.<br />

Escavação.<br />

As <strong>escavações</strong> começaram no dia 6 de Maio de 2005. A equipa era constituída<br />

sobretudo por mergulhadores, especialistas de IT e por arqueólogos, todos com<br />

vasta experiência em trabalho de campo em arqueologia subaquática. O<br />

primeiro objectivo era estabelecer uma teia de pontos permanentes de<br />

referência que iriam permitir uma cartografia exacta (mapeamento) do terreno<br />

e dos resíduos do naufrágio.<br />

Nos primeiros mergulhos no local, 5 meses depois da pesquisa e do<br />

reconhecimento, encontrámos o local muito mais sedimentado do que aquele<br />

que tínhamos deixado depois <strong>das</strong> sondagens teste. Cada escavação-teste<br />

6


(incluindo a feita ao redor de G6 e G7 que tinha uma profundidade de 1.5m)<br />

estava de novo coberta de finas areias e lama ao mesmo nível do fundo do mar<br />

original.<br />

Aparentemente a corrente terá sido a causa para esta ocorrência. Assim<br />

pensámos devido à que as pequenas pedras removi<strong>das</strong> durante as sondagenstestes<br />

apareceram no local em quase perfeita linha orienta<strong>das</strong> Norte-Sul, a<br />

principal orientação da corrente. A água no sitio tem muita suspensão fina e é<br />

muito possível que a contínua deposição desta é um <strong>das</strong> razões para esta<br />

rápida cobertura.<br />

Depois de uma pesquisa detalhada e de uma cuidada reflexão, ficou<br />

estabelecida uma area onde estavam os vestígios culturais, se expostos no<br />

fundo do mar, se enterrados no sedimento mas a uma distância que ainda<br />

permitisse o alcance do detector de metal, para colocar o nosso sistema de<br />

grelha para a primeira fase da escavação.<br />

Existem duas formas simples de aproximação à escavação: uma é escavando<br />

grandes áreas do local, camada por camada; a outra é trabalhar o sítio em<br />

pequenas secções, camada por camada, repetindo secção por secção através<br />

do local. A primeira abordagem é concretizável num local onde as condições<br />

sejam relativamente calmas, quando haja muito pessoal disponível e sem<br />

pressões de tempo. O ultimo método tende a ser usado quando as condições<br />

são adversas, ou quando há um número limite de pessoal, ou ainda quando as<br />

condições de meteorologia restringem o comprimento da escavação.<br />

Escolhemos o último caso até porque a escavação pode ser rapidamente<br />

terminada no caso de acontecerem adversas condições meteorológicas sem<br />

perigo para o sítio.<br />

Escolhemos adoptar um sistema de grelha com um área a inicial de 24 quadros<br />

(5x5m, 25m 2 ) orientados Norte-Sul e Este-Oeste, e cobrimos toda a área com<br />

material cultural visível. As grelhas foram construí<strong>das</strong> com corda de plástico<br />

branca de 8 mm de diâmetro marcada cada metro com um pequena etiqueta<br />

de plástico; a cada 5 metros (princípios, fins e intersecções) a linha foi também<br />

marcada a negro para facilitar referências. Os pontos de fixação para esta<br />

grelha foram sacos de plástico cheios de areia e pedras de modo a evitar uma<br />

contaminação desnecessária da área com objectos modernos como pesos de<br />

chumbo ou hastes de aço. A área total preparada para escavação foi de 750m 2 .<br />

Foram investiga<strong>das</strong> duas áreas, uma a 15 metros a Este e outra a 15 m a Oeste<br />

dos respectivos fins da área delimitada para escavar, em ordem a usar os locais<br />

como descarga dos resíduos produzidos durante a escavação. Como estes<br />

locais foram encontrados estéreis em termos de material cultural, uma corda<br />

mais grossa foi fixa do centro da área de escavação ate estes “locais de<br />

despejo” para ser usada pelos mergulhadores nas suas viagens de ida e volta.<br />

As ferramentas <strong>subaquáticas</strong> usa<strong>das</strong> na primeira fase da escavação foram um<br />

air-lift e um water-lift, ambas para ajudar no evacuar do sedimento<br />

previamente removido manualmente pelos mergulhadores e para potenciar a<br />

visibilidade durante a remoção do sedimento. Todos os artefactos foram<br />

coleccionados à mão debaixo de água para sacos de rede e etiquetados ainda<br />

debaixo de água com a exacta localização onde foram encontra<strong>das</strong> na zona da<br />

grelha.<br />

7


Localização geográfica do naufrágio MOG-003 no Mogincual.<br />

A figura acima demonstra o longo e disperso rasto de material de naufrágio. Esta situação<br />

evidencia o movimento do navio antes de naufragar. Desde o primeiro ancorar a Sul até à area<br />

de escavação (situada no ultimo quadrado a encarnado a Norte) a distância é de 3800 metros.<br />

8


Resultados.<br />

As <strong>escavações</strong> iniciaram-se no quadro S2. Esta decisão foi tomada considerando<br />

as evidências de vários objectos visíveis no fundo do mar, à proximidade de um<br />

dos dois núcleos de objectos pesados do sítio (âncoras A6 e A7) e o facto do<br />

que durante a fase de reconhecimento foi encontrada a camada de artefactos<br />

com valor cultural a pouca profundidade. Os detalhes dos resultados de cada<br />

escavação de cada rede serão explicados de seguida.<br />

Quadro S2.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral morto<br />

Profundidade do carregamento: 0,25m<br />

Profundidade de camada com valor cultural: 0,75m<br />

Profundidade média de escavação: 1,10m<br />

Artefactos observados: Bolas de canhão e moe<strong>das</strong> de prata<br />

Artefactos recuperados: 15 artefactos (app. 4049 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: Completa<br />

A escavação no S2 foi conduzida a partir do canto a Noroeste e avançou para<br />

Sul quando foi encontrada a camada cultural abaixo dos primeiros 25 cm do<br />

sedimento. No princípio, os únicos artefactos observados foram moe<strong>das</strong> de<br />

prata com diferentes denominações, to<strong>das</strong> soltas. Quando a escavação<br />

continuou para o canto ocidental do quadro, a uma profundidade de 60<br />

centímetros, várias moe<strong>das</strong> de prata foram encontra<strong>das</strong> dispersas ou a formar<br />

pequenos maços, sem qualquer sinal ou vestígio de arrumação. A inteira<br />

camada dos 60 centímetros de profundidade estava coberta de moe<strong>das</strong> em !<br />

da área do quadro, sendo mais escassas e espalha<strong>das</strong> no sector Noroeste. No<br />

canto sudeste do quadro foi o único local onde foram encontrados resíduos que<br />

não eram moe<strong>das</strong> de prata mas sim duas bolas de ferro de canhão. Estas bolas<br />

de canhão foram encontra<strong>das</strong> quase à superfície (a uma profundidade de<br />

apenas 10 centímetros) e solidifica<strong>das</strong> a várias moe<strong>das</strong> de prata como se as<br />

bolas tivessem caído sobre uma caixa da carga de moe<strong>das</strong>.<br />

Este quadro foi escavado em toda a extensão ate uma profundidade de 1,10m<br />

onde já não se encontrou mais material de naufrágio. Surpreendentemente<br />

nem um prego, parafuso, ou caco de cerâmica ou os normais fragmentos de<br />

cobertura de chumbo foram encontrados nesta zona.<br />

10


Quadro S3.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral morto<br />

Profundidade de sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: Mas mais profunda do que 1,2m<br />

Profundidade média de escavação: 1,60m<br />

Artefactos observados: Âncora A6, jarra de azeite frgmentada,<br />

bolas de canhão e moe<strong>das</strong> de<br />

prata<br />

Artefactos recuperados: 6 artefactos (app. 3283 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: 40% escavada<br />

Começou-se a escavação do S3 pela borda ocidental (adjacente à S2).<br />

Circundou-se a âncora A6 tentando atingir a profundidade no sedimento onde<br />

poderia estar concentrada a maior parte dos artefactos. Compreendendo que a<br />

âncora A6 poderia representar uma barreira física para a deslocação horizontal<br />

dos mais pequenos e leves artefactos do navio, foi dada prioridade as partes<br />

Sul e Norte da cana da âncora. Contrariamente ao esperado, estas áreas não<br />

continham qualquer acumulação importante de material naufragado, pelo<br />

menos a uma profundidade de 1,5m. Ainda assim, o único artefacto que<br />

pertence à categoria dos materiais domésticos do navio foi encontrado neste<br />

quadro. Este objecto é uma pequena jarra de azeite, parcialmente<br />

fragmentada, cimentada debaixo do arganeu da A6 a uma profundidade de<br />

1,1m. Este achado leva-nos a pensar que as âncoras A6 e A7 rolaram durante o<br />

acidente caindo por cima de algumas partes do navio e actuaram como<br />

armadilha, prevenindo da dispersão natural que seria provocada pela forte<br />

ondulação que se faz sentir no sítio. A reforçar esta teoria, um conjunto de<br />

ferramentas de ferro (aparentemente do gancho do leme) foram encontra<strong>das</strong><br />

encurrala<strong>das</strong> entre o anel da A6 e a unha de âncora da A7. A camada estéril<br />

por baixo da âncora ainda não foi encontrada assim como da maior densidade<br />

do material, mantendo a esperança e a probabilidade de que se encontrará<br />

ainda a uma camada mais profunda.<br />

As moe<strong>das</strong> de prata deste quadro estavam muito concentra<strong>das</strong> na parte Oeste<br />

<strong>das</strong> unhas de âncora A6, constituindo a grande parte <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> soltas<br />

provenientes do S2.<br />

As bolas de canhão deste quadro estavam localiza<strong>das</strong> no canto Noroeste do<br />

quadro e mais uma vez bastante à superfície debaixo da areia. Este<br />

acontecimento é provavelmente produzido pelo tamanho e natureza destes<br />

objectos, que dificulta a penetração do sedimento em comparaçâo com<br />

objectos mais pequenos e pesados.<br />

11


Quadro S4.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: Mais profunda do que 1,2m<br />

Profundidade média de escavação: 1,60m<br />

Artefactos observados: Âncora A7, acessórios de ferro do leme<br />

Artefactos recuperados: Nenhum<br />

Estado da escavação: 5 % escavado<br />

A escavação do quadro S4 foi efectuada ao longo da cana da âncora A7 e<br />

continuou-se a pesquisa para Norte a partir do S3.<br />

Não foram encontrados nenhuns artefactos do naufrágio na pequena área<br />

escavada, além da própria âncora.<br />

Rede S6.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,25m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,75m<br />

Profundidade média de escavação: 1,10m<br />

Artefactos observados: Bolas de canhão, objecto de ferro, moe<strong>das</strong> de prata<br />

Artefactos recuperados: 2 artefactos (48 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: 30 % escavado<br />

A escavação do quadro começou pela borda a Sul proveniente do S2 e que<br />

cobriu 1/3 dele. Apenas dois artefactos foram recuperados (48 moe<strong>das</strong> de prata<br />

formando dois pequenos aglomerados) mas várias bolas de canhão foram<br />

observa<strong>das</strong> a uma camada à superfície.<br />

A ausência de qualquer outro material naufragado a Norte deste quadro e<br />

debaixo da camada cultural fez-nos movimentar para Este, na direcção do S7.<br />

No canto Este do S6 foi encontrado um objecto inidentificável de ferro<br />

(aparentemente proveniente do massame do navio) a uma profundidade de<br />

0,30 m, mas por estar colado às bolas de canhão e deformado pela concreção,<br />

foi deixado in situ.<br />

12


Quadro S7.<br />

Natureza do sobre carregamento Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,25m<br />

Profundidade da camada cultural:: Desconhecida<br />

Profundidade média de escavação: 0,50m<br />

Artefactos observados: Bolas de canhão<br />

Artefactos recuperados: Nenhum<br />

Estado da escavação: 10 % escavados<br />

A escavação desta rede foi focalizada nas pequenas anomalias magnéticas<br />

detecta<strong>das</strong> durante a pesquisa preliminar e to<strong>das</strong> revelaram ser bolas de<br />

canhão a uma profundidade de 0,25m. Condições meteorológicas adversas<br />

forçaram a equipa a parar com a escavação.<br />

Rede S8.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: Desconhecido, artefactos encontrados<br />

a 1m de profundidade<br />

Profundidade da camada cultural: Desconhecido<br />

Profundidade média de escavação: 1m<br />

Artefactos observados: Macho de leme de ferro<br />

Artefactos recuperados: 2 artefactos (2 tampas de peltre)<br />

Estado da escavação: 1% escavado<br />

Esta rede foi alvo de um profundo buraco para teste durante a pesquisa<br />

preliminar de forma a estabelecer a profundidade do sedimento e do leito<br />

rochoso. Foi aberto um buraco por baixo do macho do leme de ferro (Pt1) que<br />

chegou a um metro de profundidade sem atingir, no entanto, o leito rochoso<br />

nem a camada estéril. Encontrámos nesta escavação tampas de peltre,<br />

aparentemente como os que eram usa<strong>das</strong> nas garrafas de medicina.<br />

Curiosamente foram os únicos dois artefactos achados que se encaixam na<br />

categoria dos bens pessoais.<br />

13


Quadro S16.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: Desconhecida, objectos expostos<br />

Profundidade da camada cultural: Desconhecida<br />

Profundidade média de escavação: 1,5m<br />

Artefactos observados: Canhões de ferro G6-G7, balas de chumbo, madeira<br />

Artefactos recuperados: Nenhum (apenas uma amostra de madeira)<br />

Estado da escavação: 1% escavado<br />

Neste quadro foi efectuado um teste mais extenso durante a pesquisa<br />

preliminar em redor da canhão G6 de forma a determinar a profundidade do<br />

sedimento e outro canhão de ferro (G7) foi encontrado completamente<br />

enterrado debaixo da areia. A uma profundidade de 1,5m pequenos e frágeis<br />

pedaços de madeira foram localizados (mas que muito provavelmente não<br />

pertenceriam ao casco do navio). Um dos pedaços de madeira foi recuperado<br />

para uma análise dendro-cronológica na Europa. Foram observados também<br />

neste local três balas de chumbo que foram deixa<strong>das</strong> in situ.<br />

14


Quadro S18.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,80m<br />

Profundidade média de escavação: 1,2m<br />

Artefactos observados: Moe<strong>das</strong> de prata e 1 bola de canhão<br />

Artefactos recuperados: 15 artefactos (app. 4048 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: 50% escavado<br />

A escavação deste quadro começou na fronteira a norte (adjacente ao S2) e foi<br />

efectuada na direcção SE a uma profundidade de 0,60m, onde se encontrou a<br />

maior concentração de artefactos no S2. No sector Este deste quadro<br />

encontrámos os primeiros conglomerados de moe<strong>das</strong> de prata com traços de<br />

arranjo ou ordenados na mesma forma em que teriam sido guardados<br />

originalmente. Quatro destes conglomerados ainda tinham a forma do<br />

contentor de carga onde originalmente estariam colocados. Aparentemente<br />

seriam sacos de lona já decomposto mas as moe<strong>das</strong> cimenta<strong>das</strong> e juntas<br />

mantiveram a forma original em que estavam guarda<strong>das</strong> nesses sacos. Dois<br />

desses conglomerados faziam um ângulo de 90º em dois cantos, a fazer prever<br />

que também estes sacos individuais de lona estariam guardados, eles mesmos,<br />

dentro de uma caixa ou arca de formato quadrado ou rectangular.<br />

A concentração de moe<strong>das</strong> decresceu à medida que a escavação avançou para<br />

Oeste do quadro. Mais nenhum artefacto do naufrágio foi encontrado além de<br />

uma bola de canhão na fronteira mais a Sul do quadro.<br />

Quadro S19.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,80m<br />

Profundidade média de escavação: 1m<br />

Artefactos observados: Moe<strong>das</strong> de prata<br />

Artefactos recuperados: 14 artefactos (app. 6259 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: 40% escavada<br />

A escavação do S19 começou pela fronteira a oeste do quadro, adjacente ao<br />

S18 à mesma profundidade da camada cultural (0,6m) encontrando o mesmo<br />

tipo de artefactos. A densidade de moe<strong>das</strong> de prata espalha<strong>das</strong> foi semelhante<br />

à já observada no S18. Foram, no entanto, encontra<strong>das</strong> mais moe<strong>das</strong>.<br />

15


Rede S23.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia e fragmentos de coral disperso<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: Desconhecida<br />

Profundidade média de escavação: 0,50m<br />

Artefactos observados: Moe<strong>das</strong> de prata<br />

Artefactos recuperados: 3 artefactos (app. 1767 moe<strong>das</strong> de prata)<br />

Estado da escavação: 10% escavada<br />

Devido às adversas condições de meteorologia, a escavação deste<br />

quadro foi apenas realizada na parte que cobria o canto a Noroeste,<br />

a vir do S19. Os únicos artefactos encontrados foram moe<strong>das</strong> de<br />

prata espalha<strong>das</strong> e conglomerados muito pequenos (o maior tinha<br />

aproximadamente 15 moe<strong>das</strong>). Não chegámos à camada estéril<br />

abaixo da camada cultural.<br />

16


Interpretações.<br />

Como apenas uma pequena área do campo de dispersão deste naufrágio foi<br />

escavada (aproximadamente 20%), to<strong>das</strong> as interpretações neste relatório<br />

<strong>intermédio</strong> são apenas uma tentativa de melhor entender o local e debem (e<br />

vão) mudar à medida que a escavação continue, dando-nos também mais<br />

terreno para estudar.<br />

O padrão de distribuição horizontal e vertical dos artefactos deste naufrágio<br />

ainda não foi completamente compreendido. É bastante óbvio que não<br />

corresponde, pelo menos, à típica dispersão cónica, que normalmente se<br />

encontra nos naufrágios acontecidos em águas pouco profun<strong>das</strong> e sujeitos a<br />

uma permanente tensão hidrodinâmica. A forte vaga que se faz sentir e a<br />

natureza deste fundo fazem alguns objectos deslocar-se longas distâncias sem<br />

que qualquer barreira mecânica que os parasse ou detivesse ou algum<br />

profundo canal ou outro coletor natural os amontoasse.<br />

A disposição estratigráfica do material naufragado é bastante simples neste<br />

local, demonstrando que, tal como em muitos casos de sítios de naufrágios,<br />

não existe estratigrafia para falar. Apenas se pode afirmar que existe um sobre<br />

carregamento estéril, seguido de uma camada arqueológica, por sua vez<br />

seguida por outra camada estéril.<br />

A profundidade do sobre carregamento varia muito pouco, de um mínimo de<br />

0,25m (e.g. no S2) até um máximo de 0,30m. Se bem que em apenas um local<br />

do S8 os únicos artefactos encontrados estavam a uma profundidade de 1m, é<br />

caso isolado e não podemos assumir que no resto do quadro o mesmo<br />

acontecerá à mesma profundidade.<br />

A profundidade da camada arqueológica está praticamente por determinar pois<br />

apenas em alguns pontos atingimos a camada estéril que está por baixo e<br />

nenhum leito rochoso foi observado. A rápida deposição do sedimento<br />

observada durante o tempo da escavação leva-nos a acreditar que ainda deverá<br />

haver lugares nos quadros cuja escavação deverá ser acabada, onde a camada<br />

cultural está muito mais abaixo e é mais grossa do que aquela até agora<br />

estudada, o que faz possivel que um grande número de artefactos ainda estão<br />

enterrados em sedimentos mais profundos.<br />

A dispersão horizontal dos artefactos é mais complexa, porém numa grande<br />

escala reconhecemos o campo de dispersão em forma cónica numa extensão<br />

de 3800m. No entanto, a situação na parte principal do sítio é diferente deste<br />

padrão. Na verdade os artefactos parece terem sido trazidos mais pela<br />

ondulação do mar que os deslocou para a frente e para trás desde a sua<br />

posição original no fundo do mar do que pelas correntes da maré. Esta<br />

situação cria um padrão de distribuição radial, bastante reconhecível no caso<br />

<strong>das</strong> moe<strong>das</strong>. A maior acumulação de moe<strong>das</strong> de prata (maiores conglomerados<br />

e maior densidade de moe<strong>das</strong> dispersas) aparecem nos quadros S18 e S19<br />

(secções este e oeste, respectivamente) e as moe<strong>das</strong> dispersas e pequenos<br />

aglomerados foram observados a Norte e a Sul deste ponto com a mesma<br />

resposta até aproximadamente 5 metros de raio desde o núcleo. Observámos<br />

uma leve tendência nos artefactos de se ajustarem em direcção NNW-SSE,<br />

coincidindo com as mais comuns direcções da ondulação, mas numa visão<br />

global pode ser identificada uma distribuição em raio, pelo menos na área da<br />

escavação.<br />

Até agora as duas únicas categorias de artefactos encontra<strong>das</strong> neste naufrágio<br />

são Carga e Artilharia (moe<strong>das</strong> de prata e bolas de canhão) com apenas duas<br />

ocorrências de material doméstico/bens pessoais, caso da jarra de azeite e as<br />

17


duas tampas de garrafa. Nenhum instrumento de navegação ou de qualquer<br />

outra categoria que normalmente se encontram nos naufrágios foram até ao<br />

momento encontrados. Isto é explicável devido à zona de mar encrespado onde<br />

encontra-se o naufrágio. Como os objectos mais pesados deslocam-se menos<br />

do que os artefactos mais leves, leva-nos a crer que a área de localização onde<br />

os fragmentos de material naufragado pode estar é maior do que o<br />

originalmente esperado. Pelo tipo de artefactos observado no local (machos do<br />

leme, âncoras, carga e bolas de canhão), estamos em crer que a secção da<br />

popa do navio estará a ser escavada, embora a ausência até agora de qualquer<br />

parte mais forte do casco ou acessórios, não permite ainda confirmar esta<br />

teoria.<br />

Os artefactos. (Lista completa em anexo)<br />

Artilharia.<br />

Os artefactos pertencentes a esta categoria observados neste local durante a<br />

fase inicial da escavação foram 3 canhões de bronze, 5 canhões de ferro, 14<br />

bolas de canhão e 3 balas de chumbo.<br />

Canhões de bronze.<br />

As peças de artilharia de bronze foram encontra<strong>das</strong> a 812m para Sudeste do<br />

sítio principal, num leito rochoso a 14m de profundidade e foram chama<strong>das</strong> de<br />

G1, G2 e G4. Outro canhão (G3) foi encontrado na proximidade mas por se<br />

tratar de ferro, será tratado mais adiante.<br />

Os canhões G1 e G4 são do mesmo tipo (demi-canhões), muito provavelmente<br />

construídos por Cristoforo Giordano que trabalhou em Nápoles para Filipe II<br />

entre os anos de 1583 e 1594. O nome do Capitão General da artilharia<br />

espanhola em Itália (provavelmente Juan Vazquez de Acuña) poderá estar<br />

inscrito num dos 3 escudos gravados nos canhões, mas a concreção não<br />

permite ler de forma apropriada, o que só poderá acontecer quando o canhão<br />

for recuperado e tratado no nosso centro de conservação na Ilha de<br />

Moçambique. Estes canhões estão em óptimas condições com 3 marcas visíveis<br />

(aparentemente o escudo espanhol e dois brasões ilegíveis em forma oval) e<br />

são mais ornamentados do que G2.<br />

Medi<strong>das</strong> totais dos canhões G1 e G4 e localização dos escudos.<br />

18


O trabalho de Giordano pode ser reconhecido, além de outras características,<br />

pelos originais golfinhos que representam dois lutadores que se enfrentam.<br />

Detalhe dos golfinhos do G4, ainda cimentados no fundo do mar (à esq.) e um dos<br />

golfinhos num canhão construído por Giordano (à dta.). De realçar a similitude.<br />

Parte traseira do G4 mostrando a posição do escudo e do brazão de armas .<br />

19


O canhão G2 não apresenta nem escudos nem inscrições que pudessem ajudar<br />

à identificação, mas lembra o trabalho dos Bocarro, uma família portuguesa que<br />

trabalhava na Índia no início do século XVII. A única marca encontrada no<br />

canhão G2 localiza-se na parte superior da parte traseira, perto do cascabel e<br />

não está perfeitamente legível: os caracteres que sobreviveram são “oo----8s”.<br />

Arqueólogo tirando medi<strong>das</strong> do canhão G2 e detalhes dos golfinhos.<br />

Nota: Como estes canhões permaneceram in situ algumas medi<strong>das</strong> podem não<br />

estar completamente precisas devido à crescimento marinho. No momento em<br />

que as instalações de armazenamento e conservação estiverem prontas, estas<br />

peças serão recupera<strong>das</strong> e conserva<strong>das</strong> e mais informação para o seu estudo<br />

estará disponível.<br />

20


Canhões de ferro.<br />

As peças de artilharia de ferro encontra<strong>das</strong> neste navio naufragado são to<strong>das</strong><br />

bastante semelhantes mas devido a intensa concreção <strong>das</strong> peças apenas alguns<br />

medi<strong>das</strong> rudimentares foram possível tirar. Os canhões foram designados G0,<br />

G3, G5, G6 e G7. Todos medem 2,5m de comprimento, são de carregamento<br />

frontal e apenas o G6 e o G7 têm alguma relação, uma vez que as restantes<br />

armas estão isola<strong>das</strong> e muito distantes umas <strong>das</strong> outras. O G3 está na<br />

vizinhança dos canhões de bronze G1 e G2 e tem um curioso traço a fazer<br />

lembrar um par de golfinhos, mas por estar tão deformado pela concreção não<br />

é possível nem assegurar nem afastar a hipótese.<br />

Bolas de canhão de ferro.<br />

Um total de 14 bolas de canhão foram encontra<strong>das</strong> no local, algumas<br />

apresentavam-se cimenta<strong>das</strong> em aglomerados de moe<strong>das</strong> de prata, outras<br />

estavam isola<strong>das</strong>.<br />

Podem ser separa<strong>das</strong> em dois grupos, as médias (de 5Kg ou 11 libras) e<br />

pequenas (de 2Kg ou 4,4 libras).<br />

As do grupo de tamanho médio (7 peças) têm um diâmetro de 0.10m e<br />

considerando a natural perda de massa que terá ocorrido depois de quase 400<br />

anos de submersão em águas salga<strong>das</strong>, podemos assumir que seriam para ser<br />

utiliza<strong>das</strong> nos demi-canhões de bronze (G1, G2 e G4) que são de 12 libras e<br />

têm um diâmetro na boca de 0,11m e 0,13m. As do grupo do tamanho<br />

pequeno (7 peças) têm um diâmetro de 0.07m e seriam provavelmente para<br />

usar nos canhões de ferro, que pelo seu tamanho deveriam ser de 4 libras.<br />

Nenhuma bala de pedra ou de barra foi encontrada no local.<br />

Balas de chumbo.<br />

As três balas de chumbo encontra<strong>das</strong> nos testes de escavação efectuados em<br />

redor dos canhões G6 e G7 são exactamente do mesmo tipo e têm um peso de<br />

35gr e um diâmetro de 18mm. Nenhuma destas balas de chumbo foi disparada.<br />

21


Carga.<br />

Um total de 55 artefactos foram recuperados e catalogados na categoria de<br />

Carga do navio naufragado, todos moe<strong>das</strong> de prata, soltas, em aglomerados ou<br />

cimenta<strong>das</strong> com bolas de canhão. Cada número de artefacto é composto por<br />

um grupo de moe<strong>das</strong> encontra<strong>das</strong> numa área específica, dando, desta forma, a<br />

exacta localização do sítio onde as moe<strong>das</strong> foram recupera<strong>das</strong>. Por isso, temos<br />

um considerável maior número de moe<strong>das</strong> individuais em comparação com os<br />

números dos artefactos.<br />

To<strong>das</strong> as moe<strong>das</strong> de prata foram encontra<strong>das</strong> enterra<strong>das</strong> no sedimento,<br />

variando em profundidade entre 0,15m a 1m em alguns dos casos. Desde o<br />

núcleo central destes artefactos (fronteira a este do S18 e fronteira a oeste do<br />

S19), onde a concentração de aglomerados pesados estava localizada, a<br />

dispersão cobria uma área com um raio de aproximadamente 5m em to<strong>das</strong> as<br />

direcções, onde as moe<strong>das</strong> soltas estavam localiza<strong>das</strong> fazendo uma camada de<br />

uma grossura de 0,2m.<br />

Camada de moe<strong>das</strong> de prata espalha<strong>das</strong> a uma profundidade de<br />

0,4m no quadro S2<br />

O número aproximado de moe<strong>das</strong> de prata recupera<strong>das</strong> até agora (conti<strong>das</strong><br />

nos 55 artefactos referidos) compreende 20.248 e o número exacto final será<br />

conhecido quando to<strong>das</strong> as moe<strong>das</strong> forem propriamente limpas e conserva<strong>das</strong>,<br />

uma vez que à data da realização deste relatório, ainda permanecem muitas em<br />

aglomerados o que faz com que a quantidade não consiga ser senão uma<br />

estimativa.<br />

22


Quando um número de artefacto, contendo vários items, foi limpo no<br />

laboratório, as moe<strong>das</strong> desse conteúdo foram cataloga<strong>das</strong> individualmente em<br />

três grupos e da seguinte forma:<br />

1. Moe<strong>das</strong> numismáticas: To<strong>das</strong> as peças com informação (casa da<br />

moeda, marcas de ensaiador, etc.) que poderiam ajudar no seu estudo<br />

e identificação.<br />

2. Moe<strong>das</strong> corroí<strong>das</strong>: To<strong>das</strong> as peças sem marcas mas ainda com forma e<br />

características de uma moeda. Na maior parte <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> corroí<strong>das</strong> é<br />

reconhecível a área geográfica de origem.<br />

3. Washers: To<strong>das</strong> as peças que perderam informação nelas inscrita e que<br />

se tornaram numa fina folha de prata.<br />

To<strong>das</strong> as moe<strong>das</strong> numismáticas foram introduzi<strong>das</strong> individualmente na<br />

database especialmente criada para esse<br />

efeito. Cada moeda adquire um número<br />

individual enraizado no número do artefacto<br />

do qual fazia parte. Dessa forma as moe<strong>das</strong><br />

provenientes do artefacto 2085 foram<br />

numera<strong>das</strong> como 2085.001, 2085.002, etc.<br />

Alguns dos aglomerados (e.g. os artefactos<br />

2095 e 2111) ainda conservaram a forma dos<br />

sacos de lona que continham as moe<strong>das</strong> e<br />

foram alvo de muito cuidado e atenção<br />

durante o processo de conservação de forma<br />

a encontrar um padrão de armazenamiento<br />

por tipos ou denominação. Até ao momento<br />

ainda não resultou num modelo<br />

compreensível.<br />

Por exemplo, o artefacto 2095 (o pareceu<br />

mais completo com a forma do saco original) forneceu 748 moe<strong>das</strong>, <strong>das</strong> quais<br />

351 (46.92%) eram de 8 reales e 397 (53.07%) eram de 4 reales<br />

representando um conjunto de 4397 reales. Quanto à proveniência as moe<strong>das</strong><br />

que observámos pudemos concluir que 314 (41.97%) foram cunha<strong>das</strong> em<br />

Espanha, 114 (15.24%) cunha<strong>das</strong> em potosi e 320 (42.78%) no México.<br />

O único traço de regularidade foi encontrado no artefacto 2105, um<br />

aglomerado de 146 moe<strong>das</strong> <strong>das</strong> quais 142 (97.26%) foram cunha<strong>das</strong> em Potosi<br />

e apenas 4 (2.73%) foram cunha<strong>das</strong> no México.<br />

Artefacto 2095 (à esq.) e Artefacto 2105 (à dta.), o “conglomerado Potosi”, no laboratório<br />

23


Estas proporções, como veremos abaixo, não são as mismas da maior parte <strong>das</strong><br />

moe<strong>das</strong> cataloga<strong>das</strong>. Nenhum material suave empacotado foi encontrado entre<br />

as moe<strong>das</strong> de forma a preveni-las do desgaste da fricção entre cada uma.<br />

Estatísticas relativas às moe<strong>das</strong>.<br />

O estudo preliminar da colecção de moe<strong>das</strong> deste naufrágio baseou-se nas<br />

moe<strong>das</strong> limpas no laboratório e que apresentassem informação suficiente para<br />

serem, pelo menos, estatisticamente úteis. Por tanto to<strong>das</strong> as moe<strong>das</strong><br />

numismáticas e a maioria <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> corroí<strong>das</strong> (aquelas cuja área geográfica<br />

de origem e denominação pudessem ser reconheci<strong>das</strong>) foram incluí<strong>das</strong>. No que<br />

respeita aos Washers foram apenas listados com um número e peso já que<br />

mais nenhuma informação deles é possível retirar.<br />

Das estima<strong>das</strong> 20.248 moe<strong>das</strong> recupera<strong>das</strong> do naufrágio do MOG-003, um total<br />

de 6552 foram limpas e estuda<strong>das</strong>. 797 pertencem à categoria dos Washers,<br />

2466 são moe<strong>das</strong> corroí<strong>das</strong> e 3289 são moe<strong>das</strong> numismáticas. Isto contabiliza<br />

uma amostra de 5755 moe<strong>das</strong> alvo de análise.<br />

Desta colecção as denominações distribuem-se da seguinte forma: 58% em<br />

moe<strong>das</strong> de 8 reales (3328 moe<strong>das</strong>), 42% de 4 reales (2421 moe<strong>das</strong>) e 0.14%<br />

de 2 reales (6 moe<strong>das</strong>). Mais nenhuma denominação foi encontrada nesta<br />

amostra.<br />

8 reales, 3328,<br />

58%<br />

A distribuição geográfica do exemplo demonstra uma maioria de moe<strong>das</strong><br />

cunha<strong>das</strong> no México (2385) segui<strong>das</strong> <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> espanholas (2032) e uma<br />

percentagem menor de moe<strong>das</strong> cunha<strong>das</strong> no Peru (1338).<br />

Spain<br />

35%<br />

Denominations Distribution<br />

Sample size<br />

5755 coins<br />

2 reales, 6,<br />

0.14%<br />

Countries Distribution<br />

Sample size<br />

5755 coins<br />

Peru<br />

23%<br />

4 reales, 2421,<br />

42%<br />

Mexico<br />

42%<br />

24


As moe<strong>das</strong> mexicanas foram encontra<strong>das</strong> numa perfeita proporção de 70-30%<br />

entre 8 reales (1675 moe<strong>das</strong>) e 4 reales (710 moe<strong>das</strong>) respectivamente, com<br />

um escopo de data de cunhagem entre 1600 a 1621 basea<strong>das</strong> no período de<br />

trabalho do ensaiador. No entanto, há algumas poucas moe<strong>das</strong> com marca de<br />

ensaiador “O”, quem é conhecido que trabalhou durante o reinado de Filipe II<br />

(1556-1598). Os ensaiadores encontrados nos exemplares cunhados no México<br />

são D (Diego de Godoy), F (Francisco de Morales), A (Antonio de Morales) e O<br />

(Luis de Oñate?) que se distribuem de acordo com a seguinte proporção:<br />

F<br />

39.13%<br />

Mexican Coins<br />

Assayers Distribution<br />

O<br />

0.49%<br />

A<br />

2.19%<br />

D<br />

58.20%<br />

Uma <strong>das</strong> mais antigas moe<strong>das</strong> mexicanas encontra<strong>das</strong> neste naufrágio. Ensaiador O,<br />

cunhada entre 1556 e 1598 no reinado de Filipe II. Artefact0 2089.066<br />

Uma <strong>das</strong> mais recentes moe<strong>das</strong> mexicanas encontra<strong>das</strong> neste naufrágio. Ensaiador D,<br />

cunhada em 1620 (data visível no sector acima à esq.) no reinado de Filipe III. Artefacto<br />

nº 2111.191<br />

25


No que respeita à denominação, as moe<strong>das</strong> espanholas têm inversa proporção<br />

se compara<strong>das</strong> com as moe<strong>das</strong> mexicanas, com as de 4 reales a aparecer num<br />

70 % (1412 moe<strong>das</strong>) e as de 8 reales num 30% (614 moe<strong>das</strong>). Às moe<strong>das</strong> de<br />

2 reales encontra<strong>das</strong>, apenas 6 exemplares até agora, foram to<strong>das</strong> cunha<strong>das</strong><br />

em Espanha.<br />

As moe<strong>das</strong> provenientes de Espanha têm uma maior variedade do que as <strong>das</strong><br />

outras área geográfica em termos de distribuição de onde foram cunha<strong>das</strong>.<br />

Encontram-se diversas proveniências que incluem Sevilha, Toledo, Segóvia,<br />

Valladolid e Granada. Este estudo também inclui as moe<strong>das</strong> que, mesmo sem<br />

uma marca visível de cunhagem, mostram to<strong>das</strong> as características <strong>das</strong> moe<strong>das</strong><br />

cunha<strong>das</strong> em Espanha durante este período.<br />

Estas moe<strong>das</strong> são identifica<strong>das</strong> como “unreadable mint” no gráfico abaixo, que<br />

demonstra a proporção <strong>das</strong> diferentes cunhagem <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> provenientes de<br />

Espanha.<br />

Granada<br />

0.48%<br />

Spanish Coins<br />

Mints Distribution<br />

Unreadable mint<br />

53.71%<br />

Sevilla<br />

33.82%<br />

Madrid<br />

0.48%<br />

Segovia<br />

0.19%<br />

Toledo<br />

12.33%<br />

Como esperado nesta heterogénea amostra, a variedade de ensaiadores é<br />

consequentemente elevada. Encontrámos as seguintes marca de ensaiador: C,<br />

P, M circulada e V nas de Toledo; D, B, G, H, P e V nas de Sevilla; V e G em<br />

Madrid; M nas de Granada, IO nas de Valladolid e IM nas de Segovia. A<br />

distância temporal compreende-se entre 1590 (numa moeda de Toledo,<br />

ensaiador M circulada) até 1622 (moeda proveniente de Sevilha, ensaiador D).<br />

Moeda espanhola cunhada em Sevilha em 1622, Ensaiador D, (data visível acima da cruz)<br />

Artefacto nº 2070.003<br />

26


A amostra de moe<strong>das</strong> cunha<strong>das</strong> no Peru (Lima e Potosi) mostram a mais<br />

elevada proporção de moe<strong>das</strong> de 8 reales (78%, 1039 moe<strong>das</strong>) em<br />

comparação com as <strong>das</strong> outras proveniências. Também a maior parte <strong>das</strong><br />

moe<strong>das</strong> deste grupo foram cunha<strong>das</strong> em Potosi (1334 moe<strong>das</strong>, 99.70%) e<br />

apenas foram encontra<strong>das</strong> 4 moe<strong>das</strong> cunha<strong>das</strong> em Lima (0.30%). Os<br />

ensaiadores encontrados nestas moe<strong>das</strong> de Potosi são: Juan Ballesteros<br />

Narvaez juntamente com o irmão e filho (B, 1591-1601), Baltasar Ramos<br />

Leceta (R, 1602-1614), Agustin de la Quadra (Q, 1614-1616), Juan de Muñoz<br />

(M, 1617) e Juan Ximenez de Tapia (T, 1618-1621), data<strong>das</strong> entre 1591 to<br />

1621 com a seguinte distribuição:<br />

R<br />

28%<br />

Potosi Coins<br />

Assayers Distribution<br />

T<br />

10%<br />

Q<br />

36%<br />

B<br />

12%<br />

M<br />

14%<br />

Moeda cunhada em Potosi em 1617, ensaiador M (Juan de Muñoz), data por cima da cruz<br />

Artefacto nº 2087.001<br />

27


Comentários sobre as moe<strong>das</strong>.<br />

As datas nas moe<strong>das</strong> américo-hispânicas apenas apareceram muito depois <strong>das</strong><br />

espanholas. Por isso é normal que as moe<strong>das</strong> do México encontra<strong>das</strong> com o<br />

ensaiador O e F (de Filipe II e Filipe III ), apareçam não data<strong>das</strong>, tal como as<br />

moe<strong>das</strong> provenientes de Potosi anteriores a 1618.<br />

É conhecido por um documento datado de 1564 que o nome do ensaiador O<br />

era Bernardo de Oñate. Mas a meio de 1580, o posto foi ocupado por Luis de<br />

Oñate. Até agora a relação entre os dois ainda não foi totalmente estabelecida,<br />

mas pela semelhança do apelido e a pela imediata sucessão podemos supor<br />

que Luis de Oñate deverá ter sido o filho de Bernardo de Oñate. No que diz<br />

respeito a esta situação, pelo menos com segurança podemos afirmar que o<br />

ensaiador Bernardo serviu antes de Luís e fê-lo durante a transição de moe<strong>das</strong><br />

de Carlos e Juana (as moe<strong>das</strong> com as colunas) para as moe<strong>das</strong> de Filipe II (as<br />

moe<strong>das</strong> com o escudo dos Hapsburg). O problema agora é o seguinte, como os<br />

dois usam a inicial O nas moe<strong>das</strong> de Filipe II, até ao momento ainda não foi<br />

possível determinar a qual dos dois ensaiadores elas pertencem, e duvidamos<br />

mesmo que algum dia se chegue a uma resposta concreta.<br />

Entre as moe<strong>das</strong> do México também existe a circunstância de haver uma dupla<br />

de ensaiadores uma vez que aparecem as letras F/D na mesma moeda<br />

(aparentemente o D por cima do F). Ambas são marcas de ensaiador e estas<br />

moe<strong>das</strong> são considera<strong>das</strong> raras. São conheci<strong>das</strong> em to<strong>das</strong> as denominações e<br />

raramente menciona<strong>das</strong> em livros de numismática.<br />

Foram encontra<strong>das</strong> poucas moe<strong>das</strong> mexicanas do ensaiador A com a data de<br />

1600, embora esta não seja uma data muito certa. Estas moe<strong>das</strong> são bastante<br />

conheci<strong>das</strong>, mas é aceite, por razões que se desconhecem, que foram feitas<br />

entre os anos 1608 e 1610 com a data de 1600. É sabido que o ensaiador<br />

Antonio de Morales (ensaiador A) trabalhou na ausência do seu Pai, Francisco<br />

de Morales, durante um período de 10 anos. Mas construí<strong>das</strong> por ele apenas<br />

são conheci<strong>das</strong> moe<strong>das</strong> de 1608 a 1610 (com a excepção <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> com data<br />

de 1600). Como é aceite que a cunhagem no México apenas começou a usar<br />

datas nas moe<strong>das</strong> a partir de 1607, é considerado que estas moe<strong>das</strong> data<strong>das</strong><br />

de 1603 e ensaiador F são posteriores a 1607. Por razões que ainda se<br />

desconhecem foram data<strong>das</strong> com uma data anterior.<br />

Das 4 moe<strong>das</strong> encontra<strong>das</strong> até agora cunha<strong>das</strong> em Lima, 3 pertenciam ao<br />

ensaiador Diego de la Torre (D com um “o” por cima). Diego de la Torre foi<br />

ensaiador de 1577 até 1587 e ainda teve uma última experiência em 1592. As<br />

moe<strong>das</strong> têm sempre gravado uma * que significa a marca suplementar de Lima<br />

para as diferenciar, uma vez que ao tempo a letra P também era usada por<br />

Potosi. As moe<strong>das</strong> de Lima deste período são sempre as que têm melhor<br />

aparência, quase to<strong>das</strong> de forma redonda quasi perfeita. É estranho encontrar<br />

uma moeda de Diego de la Torre que não tenha esta alta qualidade.<br />

Uma curiosidade é que encontrámos uma moeda cunhada em Sevilha com a<br />

denominação de 2 reales gravada numa moeda com peso de 4 reales, o que<br />

leva a crer que se trate de um erro. Esta incorrecção tem sido encontrada em<br />

várias ocasiões mas o que prende a atenção neste caso é que normalmente o<br />

erro é inverso, ou seja, são moe<strong>das</strong> de valor nominal menor que são cunha<strong>das</strong><br />

com uma denominção mais elevada (como por exemplo, uma moeda de peso<br />

de 4 reales com um selo de 8 reales). Nas moe<strong>das</strong> do nosso caso, parece que<br />

se terá tornado muito espessa e não obstante o corte tiveram ficar com o valor<br />

de 4 reales independentemente do selo de 2.<br />

28


Miscelánea.<br />

O macho do leme de ferro (PT1) localizado no S8 foi encontrado, em 2004,<br />

metade exposto no fundo do mar com o pino saliente cerca de 0,25m por cima<br />

da areia. Actualmente está completamente enterrado e foi relocalizado apenas<br />

pelas medi<strong>das</strong> previamente tira<strong>das</strong> durante a pesquisa não intrusiva.<br />

O leme é do tipo que está preso ao<br />

casco da popa, por cima da água e fixo<br />

a um dos gudeones (geralmente em<br />

bronze) que estavam presos aos<br />

próprios lemes. Não foram encontrados<br />

pinos nem pregos neste leme, se bem<br />

que ainda não foi completamente<br />

escavado até ao momento. A<br />

possibilidade deste macho do leme ter<br />

estado fixo ao casco torna mais<br />

provável que, pelo menos, uma parte<br />

da popa do navio acabaria onde nos<br />

encontramos a investigar neste momento.<br />

As 6 âncoras encontra<strong>das</strong> no terreno dos destroços do naufrágio são da mesmo<br />

tipo em forma de “seta” e medi<strong>das</strong>. To<strong>das</strong> estão completas com excepção do<br />

A5 que tem uma unha desaparecida.<br />

Âncora A6 in-situ<br />

parcialmente<br />

enterrada no<br />

sedimento<br />

Medi<strong>das</strong><br />

detalha<strong>das</strong> da<br />

âncora A6<br />

29


Identificação tentativa.<br />

Baseados na pesquisa de arquivo sabemos que a São José, sob o comando do<br />

capitão Dom Francisco de Mascarenhas era a Almiranta da armada portuguesa<br />

que deixou Lisboa no dia 18 de Março de 1622 para a viagem anual a Goa,<br />

Índia. Os navios a acompanhá-la eram a Capitana da armada, a nau Santa<br />

Teresa, sob o comando de Dom Filipe Lobo e a nau São Carlos, debaixo <strong>das</strong><br />

ordens de Dom Francisco Lobo, navio onde o futuro vice-Rei da Índia Dom<br />

Francisco da Gama, Conde da Vidigueira, viajava. Um pequeno galeão chamado<br />

São Salvador também acompanhava a comitiva daquelas grandes carracas e<br />

curiosamente foi o único navio que chegou sem danos ao porto da Ilha de<br />

Moçambique durante esta viagem.<br />

Na noite de 22 de Julho quando os 4 navios estavam a aproximar-se do<br />

Mongincual, quase a chegar à Ilha de Moçambique, foram atacados por uma<br />

frota de guerra anglo-holandesa. A frota anglo-holandesa atacou com 5 navios,<br />

primeiro contra a Almiranta São José que devido à sua posição na armada (ao<br />

tempo na retaguarda, a fechar a escolta) estava bastante isolada e portanto era<br />

alvo fácil. Quatro navios começaram a disparar seus canhões contra a São José<br />

enquanto outro navegou um pouco em direcção a Norte de forma a interceptar<br />

a São José que vinha para assistir a Almiranta aflita. Os dois navios lutaram<br />

durante toda a noite contra a armada anglo-holandesa e ainda durante a<br />

manhã do dia 23, mas ao final da tarde a São José deixou de resistir devido ao<br />

facto de, primeiro o capitão e a maior parte da tripulação estarem doentes, e<br />

depois porque o piloto for morto durante a batalha. O navio ficou muito<br />

danificado pelo fogo inimigo, a maioria <strong>das</strong> velas rasga<strong>das</strong> e o mastro principal<br />

rachou. Foi tomada a decisão de, numa última e desesperada tentativa de<br />

salvamento, virar rumo à costa para escapar ao inimigo e ganhar algum tempo<br />

para reparar o navio. Mas um baixio no Mogincual (hoje chamado Infusse)<br />

bloqueou-lhes o caminho. Primeiro o navio pego num recife fundo perdendo o<br />

leme que o deixou ao desgoverno e nas mãos dos elementos. Eles atiraram<br />

uma âncora na tentativa de parar o navio mas foram levados em direcção a<br />

terra e levados pela corrente para mais perto da costa onde o navio finalmente<br />

partiu e afundou-se nas águas profun<strong>das</strong> desta zona no dia seguinte.<br />

A frota anglo-holandesa deixou o São José sozinho e continuou a caça do Santa<br />

Teresa e São Carlos até à entrada da Ilha de Moçambique. Quando chegaram à<br />

dentro da ilha de Goa estes navios encalharam num banco de areia (hoje<br />

chamado banco de São Lourenço) antes de conseguirem chegar sob à<br />

protecção dos canhões do forte de São Sebastião. Entretanto a frota angloholandesa<br />

tinha perdido interesse nestes navios e regressa ao Mongincual com<br />

a intenção de recuperar o tesouro trazido pela Almiranta da frota portuguesa,<br />

uma vez que sabiam que a Capitana e a Almiranta traziam a maior fatia do<br />

dinheiro do Rei.<br />

Os navegadores portugueses da Almiranta São José conseguiram, entretanto,<br />

descarregar uma pequena parte do dinheiro do Rei e 120 pessoas, mas<br />

nenhum tesouro dos comerciantes privados de a bordo foi resgatado. Isto<br />

porque o barco auxiliar do navio foi destruído durante a batalha, porque<br />

estavam longe de terra e porque o Capitão e o piloto estavam incapazes de<br />

comandar essa operação.<br />

Quando os anglo-holandeses chegaram à São José levaram “alguns 66 000<br />

rials” e 100 prisioneiros mas rapidamente o navio começou a partir até que<br />

afundou “com uma infinita riqueza” e “afogou trezentas ou quatrocentas<br />

pessoas e um inglês” que estavam a bordo.<br />

30


Como o manifesto de carga deste navio está desaparecido especula-se sobre a<br />

exacta quantidade de dinheiro perdido do naufrágio, mas por todos é<br />

reconhecido que um “grande tesouro” foi perdido.<br />

Os números variam, dependendo <strong>das</strong> várias versões conheci<strong>das</strong>:<br />

- O portugueses dizem que conseguiram recuperar “algum dinheiro do Rei e<br />

nada pertencente a privados” (confirmando que dinheiro privado era<br />

transportado no navio para alem do dinheiro do Rei) e que os anglo-holandeses<br />

apenas conseguiram roubar 30 000 cruzados. "Da nao almirante se salvou parte<br />

do cabedal del Rei, e nenhum <strong>das</strong> partes, e ate as orfas del Rei levarão os<br />

inimigos e muita outra gente cativa" (Biblioteca Nacional de Lisboa;<br />

Reservados; Caixa 26, nº 153).<br />

- A versão inglesa diz que foram recuperados por eles 68 558 cruzados e<br />

distribuídos entre si.<br />

- Dos arquivos portugueses podemos assumir que 160 000 cruzados estavam a<br />

bordo quando o navio afundou; de uma carta do Vice-Rei de 11 de Março de<br />

1624 (BNL Fondo General 1871) “9 cofres de prata com 18 000 cruzados e 142<br />

000 cruzados foram perdidos”.<br />

- Boxer (Charles) escreve: “uma parte dos portugueses salvaram parte da prata<br />

e os anglo-holandeses tomaram 68 558 cruzados e 100 prisioneiros”.<br />

- Foster (Williams) escreve: “66 000 peças de a 8 foram salvas antes de ter<br />

afundado”.<br />

Dada a natureza dos artefactos, as características da artilharia e a composição<br />

da carga de moe<strong>das</strong> de prata, podemos assumir que o naufrágio que<br />

permanece localizado e parcialmente escavado pertencia a um navio do<br />

princípio do século XVII, muito provavelmente de nacionalidade portuguesa e<br />

até agora tudo indica que vinha de Lisboa e não da Índia.<br />

A área geográfica onde o naufrágio está localizado, a vasta área de dispersão<br />

de evidências de luta do navio e a tripulação durante o acidente, a quantidade<br />

de moe<strong>das</strong> de prata escava<strong>das</strong> e a informação fornecida pelos canhões e as<br />

moe<strong>das</strong>, levam a identificar, mais provavelmente, este navio como a São José.<br />

A uniformidade da amostra de moe<strong>das</strong> no que concerne a denominação, área<br />

geográfica de origem e data, leva-nos a concluir que o até agora encontrado<br />

foram parte da carga e não pertences a privados ou mercadores. Esta<br />

informação e o facto de nem uma só moeda ou ensaiador até agora encontrado<br />

ter uma data posterior a 1622, e ainda o facto de to<strong>das</strong> as moe<strong>das</strong> com a data<br />

de 1622 inscrita terem sido cunha<strong>das</strong> em Espanha, reforça fortemente a teoria<br />

de que o naufrágio MOG-003 possa mesmo ser a Almiranta da frota portuguesa<br />

de 1622 – a São José. Apesar disso, mais escavação e conservação e uma<br />

análise mais profunda ainda a ser realizada no carregamento de moe<strong>das</strong> deste<br />

naufrágio através de um numismata ajudarão a dar mais luz à compreensão<br />

deste altamente interessante sítio.<br />

31


IDM-003 Ilha de Moçambique, 110 dias entre 04/07/05 e 19/11/05<br />

Descrição do sítio e primeiros achados.<br />

O sítio do naufrágio encontra-se a 5m de profundidade na face Norte do canal,<br />

a 1110 metros em frente à Fortaleza de São Sebastião e consiste num monte<br />

de pedra de balastro tapado por um recife de coral que cresceu por cima do<br />

navio. Alguns objectos de ferro, possivelmente pertencente ao macho do leme,<br />

são tambem presentes. 6 interessantes lingotes de chumbo foram encontrados<br />

em pequenas sondagens/teste no sítio durante a pesquisa efectuada em 2001.<br />

Estes lingotes tinham o formato de barco; com marcas e peso aproximado de<br />

50 kg cada. Um destes lingotes de chumbo foi recuperados para propósitos de<br />

identificação. Na altura não foram encontrados neste sítio nem a estrutura de<br />

madeira, nem âncoras nem canhões. Numa posterior pesquisa durante 2003,<br />

um canhão de ferro (G1) foi localizado, muito cimentado e parcialmente coberto<br />

de pedra de balastro.<br />

Toda a área à volta da superfície de balastro foi examinada com detector de<br />

metal e son<strong>das</strong>/teste foram efectua<strong>das</strong> de forma a definir a estratigrafia e a<br />

profundidade dos destroços do naufrágio. Duas <strong>das</strong> son<strong>das</strong> pararam quando<br />

atingiram o casco de madeira e a terceira parou na camada onde os lingotes de<br />

chumbo foram encontrados com madeiras espalha<strong>das</strong>. Alguns artefactos tipo<br />

foram recuperados para ajudar na avaliação do sítio e a uma possível<br />

identificação do naufrágio. To<strong>das</strong> as áreas de teste foram recobertas no final<br />

dos mergulhos de forma a proteger os restos de casco de mais degradação e<br />

para futuro estudo detalhado.<br />

Pela natureza dos achados, incluindo os artefactos de cerâmica e o tipo de<br />

lingotes de chumbo, o IDM-003 é, muito provavelmente, um navio português<br />

que se afundou na viagem de regresso da Índia no final do século XVI ou nos<br />

princípios do século XVII.<br />

A escavação foi planeada para 2005, quando uma equipa maior e com<br />

equipamento adequado pudesse ser mobilizada.<br />

Natureza do sedimento e condições hidrográficas.<br />

A área onde o naufrágio está localizado é um banco de deposicão na fronteira<br />

com o profundo canal à entrada da Baia de Moçambique. É uma área de<br />

contra-correntes, tanto com marés enchentes ou vaziantes, a criar uma espécie<br />

de redemoinhos que concentram os sedimentos transportados pelas marés. Dai<br />

a natureza do fundo do mar no local ser composta por areia de grão fino (a<br />

maioria lama) na primeira camada, seguida por uma camada mais grossa de<br />

conchas mortas compacta<strong>das</strong> e esqueletos de celenterados. A superfície do<br />

fundo do mar apresenta areas com cobertura de algas, na maioria Thalassia<br />

testudinum e Siringodium filiforme, por cima de uma camada de areia limpa. A<br />

única formação de coral nesta área é a que cresceu precisamente por cima do<br />

naufrágio; que, dando uma base sólida, permitiu às colónias de coral conquistar<br />

o sítio, algo que seria impossível no chão suave do fundo neste local. As<br />

colónias de coral, no entanto, são de rápido crescimento com esqueletos<br />

ligeiros e fraca fixação (predominando o coral de folha), sendo as únicas<br />

grandes colónias (Montastrea Sp. e Diploria Sp.) liga<strong>das</strong> a alguns grandes<br />

objectos de ferro e concreções.<br />

32


A área é de bastante boas condições hidrográficas, não sendo muito exposta<br />

nem a grandes ondulações de fundo ou sequer grandes on<strong>das</strong>. As correntes<br />

são senti<strong>das</strong> nas marés vivas mas não o suficientemente fortes ao ponto de<br />

serem toma<strong>das</strong> em consideração no que toca a dispersão de material<br />

naufragado. Ainda assim a sedimentação é muito rápida e os objectos são<br />

enterrados bastante depressa muito fundo debaixo da areia.<br />

Escavação.<br />

A escavação começou dia 4 de Julho de 2005. O primeiro objectivo era<br />

estabelecer uma teia de pontos de referencia permanentes que haviam de<br />

permitir o preciso mapeamento do terreno e os restos do naufrágio. Numa<br />

pesquisa prévia realizada em 2003, com o objectivo de avaliar o sítio e perceber<br />

se seria de suficiente interesse cultural para justificar uma escavação<br />

arqueológica, abrimos quatro pequenas sondagens com os seguintes<br />

resultados:<br />

Teste 1 (fronteira Norte da pilha de balastro, 1.5 x 1.5m) – 4 lingotes de<br />

chumbo (deixados in situ) foram encontrados a uma profundidade de<br />

aproximadamente 50 cm debaixo da areia sem indicação de arranjo, pequenos<br />

fragmentos de cerâmica grosseira foram observados assim como pequenos<br />

vestígios de madeira (que não faz parte do casco). Esta sonda não atingiu o<br />

substrato rochoso ou o casco do navio a uma profundidade de 60 cm debaixo<br />

da areia.<br />

Teste 2 (fronteira Oeste da pilha de balastro, secção intermédia, 2.5 x 1m) –<br />

foram encontra<strong>das</strong> quatro jarras de azeite intactas (uma ainda permanecia<br />

fechada com conteúdo mais tarde identificado como sementes de azeitonas) no<br />

topo do casco de madeira a 15 cm abaixo da areia, mistura<strong>das</strong> com fragmentos<br />

de martaban, outros pescoços de jarras de azeite e louça de barro preta. Uma<br />

secção de quatro madeiras de casco (3 tábuas paralelas e uma cuaderna)<br />

foram expostas a uma profundidade de 35 cm abaixo da areia e enterra<strong>das</strong><br />

abaixo de um grande coral localizado na fronteira sul da escavação. Dentro <strong>das</strong><br />

cavidades entre as madeiras encontrámos pequenos frascos de cerâmica em<br />

boas condições e diversos fragmentos, assim como 3 balas de chumbo, 9<br />

moe<strong>das</strong> de prata (muito cimenta<strong>das</strong>) e dois pendentes em forma de mão (de<br />

material ainda desconhecido mas possivelmente de lignita). A escavação foi<br />

parada quando atingimos a estrutura de madeira.<br />

Teste 3 (Sudeste do teste 2, adjacente, 0.75 x 0.75m) – 1 jarra intacta de<br />

azeite foi encontrada neste pequeno fosso a uma profundidade de 15 cm<br />

abaixo da areia que estava sobre uma tábua de madeira. Muitos fragmentos de<br />

jarros de azeite foram observados. A escavação parou na estrutura de madeira<br />

(a tábua exposta é paralela às outras 3 do Teste 2).<br />

Teste 4 (5m a Sul do Teste 3, 1 x 1 m) – 1 jarra intacta de azeite foi<br />

encontrada neste fosso a uma profundidade de 25 cm debaixo da areia mas<br />

não foram encontra<strong>das</strong> tábuas de madeira, apenas umas peças soltas de<br />

madeira. Vários fragmentos de cerâmica tosca foram também descobertos.<br />

Com base nestes resultados, foi tomada a decisão de começar a escavação pela<br />

fronteira Oeste do monte de balastro, na secção intermédia (onde o Teste 2 foi<br />

33


aberto) uma vez que o navio parecia ter caído desse lado e colapsado sobre o<br />

lado de estibordo.<br />

Uma grelha foi colocada com dois quadros no início (5m x 5m), S1 e S2 com a<br />

intenção de abrir a próxima levada pelos resultados <strong>das</strong> <strong>escavações</strong> nesses dois<br />

quadros. Os quadros foram demarcados com cor<strong>das</strong> de plástico de 6mm de<br />

diâmetro e foi marcado cada metro com uma etiqueta plástica e depois<br />

marcados cada 5m com tinta preta. Também pontos de dados verticais foram<br />

preparados para o caso de a estratigrafia ter um importante papel na<br />

compreensão do sítio.<br />

É de salientar que debaixo de água, a cronologia arqueológica pode ter um<br />

diferente significado daquele que tem um sítio arqueológico em terra. Na<br />

escavação de um naufrágio, a estratigrafia normalmente está relacionada com<br />

um único evento no tempo. Consequentemente, a estratigrafia terá pouca ou<br />

nenhuma importância temporal, mas poderá ser de grande importância<br />

espacial. Logo, num naufrágio na vertical no fundo do mar, ter-se-á desintegrar<br />

com o tempo. Qualquer coisa situada em cima de outra é lá por causa de uma<br />

relação de espaço em lugar de uma relação temporal. Se o navio se apoiasse<br />

vertical no fundo, o material geralmente se desmoronaria para baixo e fora. Se<br />

um navio naufragar e virar para bombordo, por exemplo as armas a estibordo<br />

ficam em cima <strong>das</strong> armas a bombordo depois do navio colapsar. Isto diz ao<br />

escavador onde vinham no navio depois da interpretação dos eventos do<br />

naufrágio subsequente a escavação. A circunstância não usual do naufrágio,<br />

com a rapidez do evento, dá ao aspecto espacial do sítio maior importância que<br />

ao temporal. Isto não significa que devamos ignorar a estratigrafia;<br />

simplesmente a componente vertical pode não ser de maior importância que a<br />

horizontal.<br />

Devido à natureza suave do sedimento e à fragilidade de alguns artefactos<br />

observados durante as son<strong>das</strong>, decidimos usar apenas a sucção da água para<br />

remover o sobre carregamento do sítio e os sacos de elevação para remover as<br />

cabeças de coral que vinham presas às concreções de ferro.<br />

Todos os mergulhadores levavam pranchas plásticas para registrar as medi<strong>das</strong><br />

exactas e a localização dos artefactos, sacos de rede e caixas de plástico rígido<br />

para trazer os artefactos à superfície e fitas de medição para referência da<br />

profundidade debaixo do fundo de mar original onde o artefacto ou detalhe da<br />

estrutura for encontrado.<br />

A bomba de água para alimentar á sucção foi colocada num barco insuflável por<br />

cima do ponto de escavação de forma a libertar o mínimo de comprimento de<br />

mangueira e dai evitar quaisquer perturbação desnecessária do sítio.<br />

No total durante 2005 foram escavados 9 quadros, cobrindo uma área de<br />

225m 2 dos sectores a oeste e parte dos situado a norte do navio, escavando<br />

aproximadamente 40% da área com interesse cultural.<br />

34


Localização geográfica do naufrágio IDM-003<br />

na Ilha de Moçambique.<br />

35


Plano do sítio IDM-003<br />

(como 30 Novembro 2005)<br />

36


Resultados.<br />

As <strong>escavações</strong> iniciaram-se no quadro S1, do Norte da cabeça do coral e indo<br />

para Norte. Chegámos à estrutura de madeira do casco encontrada no teste<br />

prévio e a escavação continuou a esse nível seguindo os espaços entre os<br />

troncos de madeira ate as tábuas por embaixo.<br />

Quadro S1.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,25m<br />

Profundidade média de escavação: 0,50m<br />

Artefactos observados: Estrutura de madeira, cerámicas groseiras<br />

Artefactos recuperados: 42 artefactos<br />

Estado da escavação: Completa<br />

A escavação deste quadro começou na fronteira Sul, ao pé da colonia de coral e<br />

deslocou-se primeiro para Este e Norte e depois para Oeste a uma<br />

profundidade de 0,35m. A escavação foi realizada em duas fases (neste como<br />

em todos os outros quadros); primeiro para remover o sobre carregamento de<br />

toda a grade até uma profundidade de aproximadamente 0,30m, onde os<br />

primeiros artefactos começaram a aparecer e segundo escavando<br />

cuidadosamente esta fina camada indo profundo entre as madeiras do casco<br />

chegando à borda por baixo. O sector a Sul ofereceu a maioria dos artefactos,<br />

aparentemente ali concentrados devido à acção do coral que actua como uma<br />

barreira mecânica na dispersão horizontal. Havia uma mistura de carga, com<br />

bens domésticos e pessoais, mas a maioria era de objectos domésticos. Havia<br />

também tábuas de madeira visivelmente queima<strong>das</strong> que indicam que aconteceu<br />

um incêndio a bordo.<br />

37


Quadro S2.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,25m<br />

Profundidade média de escavação: 0,70m<br />

Artefactos observados: Estrutura de madeira, cerámicas<br />

groseiras, selos de chumbo<br />

Artefactos recuperados: 28 artefactos<br />

Estado da escavação: Completa<br />

Abrimos a S2 para Sul e adjacente à S1 a rodear o coral. A estrutura de<br />

madeira de S1 continua ao longo de S2 na direcção a sudoeste, embora na<br />

secção ao Sul do quadro as tábuas começaram a aparecer soltas e de tamanho<br />

pequeno. O casco continua ininterruptamente debaixo do coral que cresceu por<br />

cima de um objecto de ferro irreconhecível que está por cima <strong>das</strong> tábuas.<br />

Estudámos a possibilidade de remover este coral para escavar o que se<br />

encontrava por baixo mas esta solução pareceu demasiado perigosa pondo em<br />

risco a estrutura de madeira. Dai decidimos escavar por baixo do coral o melhor<br />

que pudéssemos com os nossos meios de forma a deixa-lo sem distúrbios. A<br />

maioria dos artefactos foram encontrados no canto a NE do quadro, adjacente<br />

ao S1, S3 e S4 e eram da mesma categoria dos do último quadro, e de especial<br />

interesse um grupo de moe<strong>das</strong> de prata encontra<strong>das</strong> por baixo <strong>das</strong> tábuas. Dois<br />

selos de chumbo muito interessantes foram escavados por baixo <strong>das</strong> madeiras,<br />

um dos quais com a “esfera armilar” e o outro com um brasão não identificado,<br />

ambos a relieve. No sector a Oeste do quadro a estrutura de madeira<br />

desaparece, estando partida ou queimada no final <strong>das</strong> tábuas; o sedimento era<br />

mais fundo nesta parte do quadro, chegando a 1,8m à camada estéril. Três<br />

grandes concreções produzi<strong>das</strong> por objectos de ferro foram localiza<strong>das</strong> no<br />

centro da grade mas deixa<strong>das</strong> intoca<strong>das</strong>.<br />

38


Quadro S3.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama e algumas conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,25m<br />

Profundidade média de escavação: 0,70m<br />

Artefactos observados: Madeira, jarros de azeite<br />

Artefactos recuperados: 21 artefactos<br />

Estado da escavação: 60% escavada<br />

Este quadro foi escavado seguindo o rasto dos artefactos de cerâmica vulgar<br />

encontrados no canto a NE do S2 a profundidade da estrutura de madeira. Uma<br />

concentração interessante de jarras de azeite foi encontrada no canto a SW do<br />

S3, entrando pela S4 a Sul. Os jarros de azeite eram organizados entre as<br />

madeiras de navio em filas de 6, enquanto apontando a boca ao SE, tudos na<br />

mesma direção. No centro do quadro algums fragmentos estavam expostos<br />

entre as tábuas da madeira, aparentemente partidos por um deslize de pedras<br />

de balastro que caíram por cima deles. A parte do casco exposta desta pilha de<br />

balastro aparece muito solta e desorganizada. A maioria dos artefactos da<br />

Carga foram encontrados neste quadro, mas alguns objectos domésticos foram<br />

escavados no sector a NW e a inteira metade a este do quadro ainda<br />

permanece por escavar. A escavação a Este parou quando atingiu o corpo<br />

principal <strong>das</strong> pedras de balastro que permanecem nas tábuas e nenhum<br />

artefacto era visive em a camada cultural. Os jarros de azeitona foram<br />

organizados seguidos entre as madeiras de navio de 6, enquanto apontando a<br />

boca ao SE, tudo na mesma direção, A remoção do balastro está planeada para<br />

a próxima fase, quando o estudo do casco que está por baixo puder começar.<br />

39


Quadro S4.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama e algumas conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,30m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,25m<br />

Profundidade média de escavação: 0,70m<br />

Artefactos observados: Madeira, jarros de azeite<br />

Artefactos recuperados: 12 artefactos<br />

Estado da escavação: 70% escavada<br />

A estrutura de madeira deste quadro quase desapareceu para Este e Sul da<br />

área e os únicos artefactos encontrados pertencem à categoria de Carga.<br />

Algumas peças de madeira redonda foram encontra<strong>das</strong> no centro do quadro,<br />

aparentemente transporta<strong>das</strong> no navio para pequenas reparações de<br />

carpintaria. A única concentração de artefactos foi o grupo de jarras de azeite<br />

localizado no canto a NW do quadro pertencente ao grupo que for a escavado<br />

em S3. A profundidade do sedimento fica maior ao avançar para Sul, mas a<br />

camada estéril é alcançada a aproximadamente 0,70m, o mesmo que nos<br />

quadros previamente descritos.<br />

40


Quadros S5 e S6.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama, ervas marinhas e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,50m<br />

Profundidade da camada cultural 0,15m<br />

Profundidade média de escavação: 1m<br />

Artefactos observados: Madeira, jarro de azeite<br />

Artefactos recuperados: 2 artefactos (S5) 1 artefacto (S6)<br />

Estado da escavação: Finalizada<br />

Estes quadros fazem a extremidade Sul do campo de dispersão deste local de<br />

naufrágio. A estrutura de madeira desaparece a Norte dos dois quadrantes e<br />

foram apenas encontrados pequenos pedaços de madeira soltos. Quase não há<br />

nesta área pedras de balastro, a que pensamos poder ser a proa do navio. Dois<br />

objectos da categoria dos Domésticos e uma jarra de azeite foram encontrados<br />

nestes quadros, a reforçar a teoria de que mais nenhum resto está presente<br />

mais para Sul. A escavação continuou até à profundidade de 1,9m abaixo da<br />

areia de modo a tentar localizar qualquer outro vestígio de naufrágio<br />

possivelmente enterrado a uma maior profundidade mas mais nenhuma<br />

evidência de naufrágio foi registada.<br />

41


Quadro S7.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama, ervas marinhas e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,40m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,40m<br />

Profundidade média de escavação: 0,90m<br />

Artefactos observados: Estrutura de madeira, jarras de azeite, dentes de<br />

elefante<br />

Artefactos recuperados: 37 artefactos<br />

Estado da escavação: Finalizada<br />

Este quadro foi estabelecido a Norte e a adjacente ao S3, percorrendo as<br />

tábuas maiores da estrutura do casco que estavam orienta<strong>das</strong> SW-NE nesta<br />

área. O sobre carregamento era mais grosso do que nos quadros previamente<br />

escavados e a área cultural era também mais larga, nomeadamente para Oeste<br />

do quadro. Foram encontra<strong>das</strong> várias jarras de azeite da carga, mas também<br />

uma maior ocorrência de objectos pessoais e os primeiros instrumentos<br />

profissionais foram observados. São de salientar alguns dos artefactos<br />

encontrados nesta grade: uma estátua de Jesus Cristo (13cm de altura, feita de<br />

peltre), um “aguamanil” intacto de porcelana chinesa (da Dinastia Ming) e dois<br />

conjuntos de compassos de navegação em bastante bom estado de<br />

conservação. Vários fragmentos de um prato de porcelana chinesa foram<br />

encontrados em diferentes áreas deste quadro que depois foram restaurados<br />

até formar uma peça inteira. A diversa natureza dos objectos encontrados nesta<br />

grade leva-nos a acreditar que estamos a chegar a secção da popa do navio,<br />

onde a maioria <strong>das</strong> cabines estava localizada. Dai esperarmos encontrar<br />

diversas categorias de artefactos. Alguns dentes de elefante e de hipopótamo<br />

foram localizados mas deixados in situ para estudo mais aprofundado antes da<br />

escavação. Alguns fragmentos de vidro foram observados neste quadro e foi<br />

recuperado um copo de vidro de beber intacto.<br />

42


Quadro S8.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama, ervas marinhas e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,40m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,60m<br />

Profundidade média de escavação: 1,20m<br />

Artefactos observados: Estrutura de madeira, jarros de azeite, dentes de<br />

elefante<br />

Artefactos recuperados 17 artefactos<br />

Estado da escavação: Finalizada<br />

Este quadro foi colocado a Norte, adjacente ao S7, seguindo as tábuas da<br />

estrutura do casco que continuaram com a orientação do quadro prévio. A<br />

escavação começou a SE localizando a estrutura de madeira a 0,45m que<br />

continuava para Norte assim como os comuns fragmentos de cerâmica tosca e<br />

mais pedaços de porcelanas de cerâmica chinesa. O fundo fragmentado de uma<br />

raramente grande jarra Martaban foi observada no canto a NE do quadro<br />

(debaixo do coral) e foi parcialmente escavado, mas deixado in situ. A estrutura<br />

de madeira desapareceu em direcção a oeste, onde algumas porções soltas de<br />

madeira foram encontra<strong>das</strong> mas sem relação. A profundidade do quadro<br />

aumentou nessa direcção chegando a mais de 1.20m até alcançar a camada<br />

cultural. Mais instrumentos de navegação (um conjunto de compassos intacto e<br />

um outro instrumento intacto de medição em cobre) foram encontrados nesta<br />

área assim como uma bala de pedra e bolas de canhão de ferro. Duas<br />

interessantes concentrações de balas de chumbo foram observa<strong>das</strong> entre as<br />

tábuas, conti<strong>das</strong> entre duas placas mais finas como se esta se tratasse da<br />

localização original destes objectos.<br />

43


Quadro S9.<br />

Natureza do sobre carregamento: Areia fina/lama, ervas marinhas e conchas<br />

Profundidade do sobre carregamento: 0,50m<br />

Profundidade da camada cultural: 0,30m<br />

Profundidade média de escavação: 1,00m<br />

Artefactos observados: Estrutura de madeira, objectos pessoais, lingotes de<br />

chumbo<br />

Artefactos recuperados: 9 artefactos<br />

Estado da escavação: Finalizada<br />

Este quadro foi aberto a este e adjacente a S8, deslocado a 1m para Norte para<br />

evitar a maior concentração de pedras de balastro. A estrutura de madeira é<br />

menos organizada neste quadro do que nos anteriores, mas a primeira<br />

evidência da quebra e do colapso de uma banda (estibordo do navio,<br />

acreditamos) foi observada debaixo da fronteira a Norte da pilha de balastro.<br />

Uma maior concentração de fragmentos de cerâmica e uma grande concreção<br />

de ferro que permaneciam nas tábuas foram observa<strong>das</strong> no sector a Oeste do<br />

S9 a uma profundidade de 0,35m. Dois lingotes de chumbo em forma de barco<br />

de aproximadamente 50kg de peso foram localizados no sector a Norte do<br />

quadro, mas deixados in situ para posterior fotografia e escavação para a<br />

próxima fase. Pequenos fragmentos de porcelana chinesa foram também<br />

encontrados neste quadro, a maioria entre as pedras de balastro do sector a<br />

Este. Foram encontrados dentes de elefante e de hipopótamo assim como<br />

cerâmica vulgar, presentes a Norte do quadro onde a profundidade do<br />

sedimento alcançou 1,90m até à camada cultural. Uma peça de marfim de um<br />

jogo de mesa (provavelmente xadrez) e uma fivela de peltre foram os bens<br />

pessoais encontrados em S9 mas outro set de compassos de navegação foi<br />

encontrado ainda mais profundo entre as tábuas. Devido a estes achados é<br />

muito provável que S9 pertença já à secção da popa do navio.<br />

44


Interpretações.<br />

Como aproximadamente 40% da provável campo de dispersão deste naufrágio<br />

já foi escavado podemos começar a ter uma vaga ideia acerca da posição do<br />

navio naufragado e sobre a área que temos vindo a trabalhar. Há uma forte<br />

possibilidade que o navio tenha encalhado na zona menos profunda quando<br />

navegava vindo do interior da baia de Moçambique rumo a mar aberto. Um<br />

acidente no leme, uma perda temporária de controlo do navio no canal e os<br />

ventos sul predominantes nesta área, forçariam o navio a acabar nessa zona<br />

apenas numa questão de minutos. O que acreditamos que seja a secção da<br />

proa deste navio está apontada SSW, quase paralela ao canal de navegação<br />

neste ponto e em direcção ao exterior, sendo que a secção da popa em<br />

direcção a NNE apontando para o interior da baia. A área escavada a S, E, NE e<br />

Norte (parcialmente) parece ter coberto o lado estibordo do navio, desde a<br />

proa até aproximadamente 4/5 do nível da popa ao longo de 23m.<br />

O padrão de distribuição dos artefactos, na horizontal e na vertical, deste<br />

naufrágio é a típica de um navio naufragado em águas pouco profun<strong>das</strong> mas<br />

relativamente calmas. Não há fortes correntes que mereçam ser toma<strong>das</strong> em<br />

conta quando analisamos a dispersão dos artefactos, apenas é de referenciar a<br />

acção de uma ondulação moderada vinda de Sul produzida pelas tempestades.<br />

O facto de esta área ser de rápido depósito de sedimento, normalmente<br />

carregado pela corrente em marés altas e baixas, ajudou a criar uma<br />

“armadinha” que agarra os artefactos guardados no interior do navio, sem<br />

deslocamento sensível na componente horizontal. Dai ser mais provável que os<br />

artefactos encontrados numa secção específica do naufrágio pertencerem<br />

originalmente a essa secção do navio, nas differentes cubertas e nas áreas de<br />

carga. A disposição da estratigrafia do material deste naufrágio é simples<br />

mostrando o típico modelo do colapso de convés e do seu conteúdo, sendo que<br />

os objectos que estão mais à superfície pertencem à convés superior. Há uma<br />

certa deslocação horizontal (para Oeste) no caso do material dos convés<br />

superiores devido à natural inclinação de um navio encalhado em águas tão<br />

pouco profun<strong>das</strong>. A profundidade do sobre carregamento incrementa para<br />

Oeste do terreno da destroços onde o material de naufrágio é mais escasso, de<br />

um mínimo de 0,30m <strong>das</strong> grades a este chegando a um máximo de 0,90m para<br />

Oeste do S7 onde o material do naufrágio foi encontrado a uma profundidade<br />

de 1m.<br />

A profundidade da camada arqueológica varia entre 0,15m e 0,60m,<br />

maiormente modulada pela localização do monte de pedra de balastro no<br />

centro do navio (onde a camada cultural é mais fina), aumentando para Oeste<br />

tal como a profundidade do sobre carregamento. O tipo de sedimento<br />

observado nesta área leva a que seja muito provável que possam existir pontos<br />

em direcção a Oeste que poderão conter material de naufrágio a um nível mais<br />

profundo do que 1m, tais como parte cordame e elementos isolados dos convés<br />

superiores.<br />

O tipo de artefactos encontrados até ao momento abrangem as categorias de<br />

Carga, Domésticos, Bens pessoais, Instrumentos profissionais e Artilharia,<br />

mostrando uma rica olhada ao âmbito da troca comercial, navegação e vida a<br />

bordo durante o início do século XVII.<br />

45


Os artefactos. (lista completa em anexo)<br />

Artilharia.<br />

Os artefactos pertencentes a esta categoria observados no local durante a fase<br />

inicial da escavação foram 1 canhão de ferro, várias bolas de canhão de ferro,<br />

balas de pedra e balas de chumbo.<br />

O canhão de ferro.<br />

O único canhão encontrado neste sítio até ao momento é de carregamento<br />

frontal (G1) com um comprimento de 2,5m e o mais provável um 4-pounder,<br />

baseando-se no seu comprimento e na presença deste tipo de munição no<br />

local. A medida desta peça é muito vaga uma vez que o canhão se encontra em<br />

avançado estado de concreção e por estar deformado pela sua situação no<br />

centro do balastro. O facto de estar parcialmente enterrado pelas pedras de<br />

balastro sugere que o canhão teria sido originalmente colocado no convés e<br />

quando o navio encalhou e caiu para o lado estibordo esta peça terá caído<br />

também e terá sido coberta pelo deslize <strong>das</strong> pedras de balastro. A boca,<br />

cascavel, trunnions e qualquer outra característica do canhão estão totalmente<br />

irreconhecíveis na presente condição de concreção e oxidação.<br />

Bolas de canhão de ferro.<br />

Uma grande quantidade de bolas de canhão foram encontra<strong>das</strong> neste sítio,<br />

to<strong>das</strong> em concreção em aglomerados nos quadros S7, S8 e S9 na maioria.<br />

Podem ser cataloga<strong>das</strong> como pequenas (2Kg ou 4.4 libras) com um diâmetro<br />

de 0.07m e foram provavelmente usa<strong>das</strong> pelos canhões de ferro e outros<br />

similares ao G1.<br />

Bolas de canhão de pedra.<br />

Quatro balas de pedra foram observa<strong>das</strong> neste sítio. São perfeitamente<br />

esféricas e o seu diâmetro varia entre 0,15m e 0,25m. Nenhuma peça de<br />

artilharia foi encontrada até ao momento que pudesse ter usado estes<br />

projécteis.<br />

Balas de chumbo.<br />

A grande quantidade de balas de chumbo que foram encontra<strong>das</strong> no quadro S8<br />

são exactamente to<strong>das</strong> do mesmo tipo com um peso de 35gr e um diâmetro de<br />

18mm. Nenhum destes tiros de chumbo foram usados. Duas interessantes<br />

concentrações de tiros de chumbo foram encontra<strong>das</strong> entre as tábuas do casco,<br />

conti<strong>das</strong> entre duas finas tábuas como se fosse esse o armazenamento original<br />

desses objectos.<br />

46


Carga.<br />

O tipo de artefactos encontrados até ao momento neste sítio que possam ser<br />

considerados como Carga são jarras de azeite, Jarras Martaban, tampas de<br />

cerâmica, lingotes de chumbo e dentes de elefante e hipopótamo. Chegámos a<br />

esta conclusão devido à grande quantidade deste tipo de artefactos e os traces<br />

de disposição observados neles.<br />

Dentes de animais.<br />

Foram encontrados um total de 22 dentes de animal do naufrágio, e apenas 7<br />

deles foram recuperados e conservados para propósitos de identificação.<br />

Quatro destes dentes pertenciam aparentemente a elefantes asiáticos (Elephas<br />

maximus) e três de hipopótamo (Hippopotamus amphibious).<br />

Dois dentes de elefante (Art. 15009 and 15010) à esq e de hipopótamo à dta (Art. 15000)<br />

Os dentes de animal observados estavam na maioria espalhados nos quadros<br />

S7, S8 e S9, mas por duas ocasiões (no sector Oeste do S8 e o sector Norte do<br />

S9) estes objectos foram relacionados com fragmentos de uma grossa jarra<br />

Martaban. No caso ao Oeste do S8 os dentes estavam dispostos dentro dos<br />

restos da jarra. Isto pode provavelmente indicar que, pelo menos, em duas<br />

ocasiões os dentes foram transportados dentro destes recipientes de cerâmica<br />

que, na maioria, eram usados para pimenta e outras especiarias.<br />

To<strong>das</strong> as peças de dentes observa<strong>das</strong> até ao momento estão em razoável<br />

estado de conservação, com pouca degradação devido à escassez de oxigénio e<br />

à acção <strong>das</strong> bactérias por se encontrarem num nível profundo do sedimento.<br />

Os restantes dentes observados neste naufrágio e não recuperados foram<br />

recolocados e enterrados a sul do sector do S9 depois de medidos e<br />

fotografados, exactamente na fronteira da pilha <strong>das</strong> pedras de balastro. Serão<br />

recuperados na próxima temporada para documentação e conservação.<br />

47


Jarras de azeite.<br />

Este tipo de artefacto foi encontrado em quase todos os quadros ao longo do<br />

sítio do naufrágio, com uma importante concentração entre os quadros S1, S2,<br />

S3 e S4 onde uma espécie de disposição de armazenamento foi observada.<br />

Jarras de azeite in situ nas madeiras do casco na secção a Noroeste do quadro S4<br />

Estas jarras para transporte e armazenamento têm três formas generais.<br />

Goggin (1960) estabeleceu uma tipologia base ainda em uso, designando a<br />

forma oblonga como do Tipo A, a forma globular como do Tipo B, e a cónica<br />

"forma em cenoura " as Tipo C (Hurst et al. 1986:66). To<strong>das</strong> têm um pescoço<br />

apertado e um espesso aro, alguns dois quais tem sido encontrados com<br />

tampas de cortiça cubiertas de pez ainda em su sítio.<br />

As medi<strong>das</strong> de volume dos exemplos dos naufrágios implicam que as jarras<br />

oblongas do Tipo A eram usa<strong>das</strong> para levar uma arroba castelhana de vinho de<br />

4.26 galões, embora dois exemplos de 1695 parecem ser para a arroba<br />

castelhana de azeite de 3.31 galões (Marken 1994:127). As jarras globulares do<br />

final do século XVI parecem ser de metade de uma arroba de azeite (1.65<br />

galões), mas os exemplares do início do século XVII mostram um volume médio<br />

de 1.56 galões (Marken 1994:123). As jarras em formato cenoura do tipo C<br />

tinham um volume médio de cerca de 0.57 galões (Marken 1994:123).<br />

Num total foram encontra<strong>das</strong> 51 jarras de azeite neste naufrágio e embora<br />

sejam to<strong>das</strong> de diferentes formatos e fabrico, é possível catalogá-las em três<br />

grupos essencialmente diferentes.<br />

48


Tipo A<br />

Apenas 4 jarras de azeite deste navio foram descritas como pertencentes ao<br />

tipo A (forma oblonga) pelo formato que apresentam, com a diferença de que<br />

no nosso caso o volume destes objectos é de 6 lts. (1.65 galões ou " arroba<br />

de azeite) mais similares com o volume descrito como do tipo B no início do<br />

século XVII.<br />

Dois exemplars do tipo A de jarras de azeite (Art. 15004 esq. e Art. 15098 dta) e desenho do<br />

Art. 15098<br />

A cor destes objectos é de em tons de areia clara, sem traço de envidraçado<br />

por dentro ou por fora. São feitos de um material grosso com areia vulgar, com<br />

largos bolsos de ar na massa.<br />

Tipo B<br />

A maioria dos exemplares com 46 artefactos, to<strong>das</strong> bastante similares na forma<br />

se não for dada grande relevância às deformações produzi<strong>das</strong> durante o<br />

processo no forno. São to<strong>das</strong> do mesmo volume (6lts/1.65 galões) embora com<br />

grandes diferenças no fabrico, mostrando alguns traços de envidraçado verde<br />

ou cinzento quer no interior como no exterior, a maioria á volta do pescoço ou<br />

outras áreas protegi<strong>das</strong>.<br />

Exemplo típico do tipo B <strong>das</strong> jarras de azeite (Art. 15051) e o seu desenho<br />

49


Tipo B com base plana<br />

Apenas uma jarra de azeite deste tipo foi encontrada até ao momento. É do<br />

mesmo volume (6 lts/1.65 galões) do grupo descrito acima mas a forma plana<br />

da base e o facto de ter sido encontrado no sector oeste do S2, completamente<br />

isolada e longe da maior concentração de jarras de azeite, leva-nos a acreditar<br />

que teria uma função doméstica no navio em vez de fazer parte do<br />

carregamento. É feita de uma argila avermelhada com largos bolsos de ar no<br />

seu fabrico, parcialmente rachado e tem um pequeno fragmento desaparecido.<br />

A base é ligeiramente côncava e com uma grossa parede.<br />

Jarra de azeite de tipo B com base plana (Art. 15061) e seu desenho<br />

Tampas de cerâmica.<br />

Foi encontrado um grupo de 8 tampas de cerâmica pertencentes ao<br />

carregamento do navio, sempre relaciona<strong>das</strong> com jarras de azeite. Este facto e<br />

ainda o diâmetro (84 por 88mm) e formato, que conjuga perfeitamente com a<br />

boca <strong>das</strong> jarras de azeite, levaram-nos a pensar que poderiam servir para<br />

fechar as jarras de azeite por cima da cortiça.<br />

Exemplo de tampa de cerâmica em relação com a jarra de azeite ambas in-situ,<br />

sugerindo uma função de fecho.<br />

50


Em todos os casos estas tampas de cerâmica apresentam traços de<br />

envidraçado quer no exterior quer no interior, sendo 7 de cor verde e uma de<br />

cinza escuro.<br />

Tampa de cerâmica e desenho (Art. 15084) mostrando sinais claros de envidraçado no interior e no rim.<br />

Jarras Martaban e outros recipientes.<br />

Este grupo engloba uma grande variedade de recipientes grandes de cerâmica<br />

ou seus fragmentos.<br />

O martaban é um jarro grande de faiança, usualmente envernizado (de modo a<br />

não deixar o líquido sair) com asas circulares na parte superior. Fabricados<br />

desde a dinastia Tang (618 a 906AD), possivelmente ainda antes, o seu<br />

propósito original era guardar líquidos, especialmente água em viagens longas.<br />

Mas foram também usados para guardar comida, salmouras, especiarias e até<br />

porcelanas quebráveis. Fabrica<strong>das</strong> no Sul da China, foram exporta<strong>das</strong> em<br />

grande quantidade durante pelo menos mil anos para as Filipinas, Indonésia e<br />

outras zonas do Sudeste asiático.<br />

Embora alguns dos fragmentos sejam de diferentes espessuras e os artefactos<br />

parcialmente completos sejam de diferentes tamanhos, agrupámo-los baseados<br />

na espécie de envernizamento, a base plana e com a presença de asas ou<br />

“orelhas”. A razão para tanto é que de facto muito pouco se sabe acerca destes<br />

enormes vasos e são de difícil datação, e depois porque são todos chamados<br />

“Martabans”, não obstante estes jarros poderem ser fabricados em toda a Ásia<br />

e no facto de estes vasos não terem sido praticamente alterados desde o século<br />

XIII/XIV até ao século XIX.<br />

Jarra Martaban fragmentada (Art. 2007) e<br />

disenho. Note as marcas de pez usada para<br />

fechar e selar a tampa.<br />

51


Há claramente dois tipos de jarras, as não ornamenta<strong>das</strong> ou as decora<strong>das</strong> com<br />

os motivos comuns (dragões, flores, símbolos ou emblemas) e claramente<br />

fabrica<strong>das</strong> para uso. Depois há as jarras produzi<strong>das</strong> de grande qualidade,<br />

envidraça<strong>das</strong> em diferentes cores (mais de cinco) que eram também usa<strong>das</strong>,<br />

mas provavelmente dentro <strong>das</strong> casas e funcionavam ao mesmo tempo como<br />

peças de decoração ou como urnas. As decorações mais comuns nos artefactos<br />

é a que se mostra acima e abaixo, apenas com linhas simples e pontos a<br />

simular reforços no material que sugerem um uso para armazenamento mais<br />

do que decorativo.<br />

Duas vistas de outro fragmento de jarra Martaban<br />

(Art. 15088) a mostrar a mesma decoração.<br />

É de facto interessante a variedade do tamanho, espessura e cor do material<br />

destas jarras, tendo encontrado diversos fragmentos de diferentes Martaban<br />

neste naufrágio e nenhuma é idêntica à outra. Também é curioso que a maioria<br />

dos dentes de animais observados durante esta escavação estavam<br />

relacionados com os maiores fragmentos Martaban o que sugere que os dentes<br />

seriam transportados dentro <strong>das</strong> jarras, uma utilização que não é descrita como<br />

o principal propósito destas jarras.<br />

Exemplos de diferentes características dos materiais e manufactura <strong>das</strong> jarras Martaban<br />

encontra<strong>das</strong> neste naufrágio (Arts. 15015, 15017 e 15089 à dta).<br />

52


Outro tipo de recipiente para armazenamento foi também encontrado (artefacto<br />

no. 15092). De tamanho inferior mas muito próximo na forma de base plana e<br />

envidraçada às maiores jarras Martaban, com a grande diferença de que não<br />

têm asas. Falta parte do aro e mostra alguns traços de alcatrão a escorrer até<br />

cerca de 0,05m da base.<br />

Artefacton no. 15092 e desenho técnico. Uma jarra similar foi encontrada no sítio mas<br />

deixada in-situ uma vez que está fortemente ligada auma colónia de coral.<br />

Lingotes de chumbo.<br />

Até ao momento dois interessantes lingotes de chumbo foram encontrados na<br />

secção a Sul do quadro S2 e deixados in-situ para posterior escavação. Estes<br />

lingotes têm forma de barco com uma secção triangular transversal e mais<br />

estreito nas extremidades para um transporte mais fácil. Na face superior vêmse<br />

marcas circulares, provavelmente mostrando a posse destes objectos. O<br />

peso destes lingotes é de aproximadamente 50 Kg cada. Um lingote foi<br />

recuperado para propósitos de identificação e fotografado.<br />

Lingote de chumbo (Artefacto No. 133) e detalhe de um dos selos.<br />

53


Domésticos.<br />

Os tipos de artefactos encontrados neste sítio que podem ser catalogados como<br />

domésticos são recipientes de cerâmica, copos de vidro, porcelana chinesa,<br />

cerâmicas envidraça<strong>das</strong>, talheres em peltre, artigos de cozinha e tampas de<br />

peltre. Devido à diversidade dos artefactos, serão abaixo descritos por material.<br />

Cerâmica.<br />

Foi encontrado um grupo interessante de pequenos e delicados frascos, taças e<br />

tigelas nas intersecções dos quadros S1 e S2, caído entre as tábuas de<br />

madeira. Os frascos são decorados com motivos com folhas ao redor da parte<br />

globular do corpo. Parecem manufactura<strong>das</strong> na Índia e usa<strong>das</strong> para óleos finos<br />

e outros líquidos preciosos uma vez que, nos dois casos, o orifício de saída é<br />

muito estreito.<br />

Frascos de cerâmica (Artefactos No. 2009 e 2015) e desenho técnico<br />

54


Outro artefacto interessante é um pequeno recipiente, aparentemente para sal<br />

e pimenta, encontrados em relação com os frascos anteriores e ainda uma<br />

pequena taça, to<strong>das</strong> da mesma fina faiança.<br />

Recipiente de cerâmica e taça (Artefactos No. 2017 e 2011)<br />

Juntamente com estes pequenos e delicados objectos foi encontrado um grupo<br />

de 4 tigelas de cerâmica tal como tinham sido originalmente arruma<strong>das</strong>. Estes<br />

objectos eram supostamente usados na vida quotidiana a bordo, já que não foi<br />

encontrado material para empacotar entre as peças, o que poderia indicar<br />

armazenamento de longa duração.<br />

Pilha de tigelas tal como encontra<strong>das</strong>, tigelas em exposição e desenho técnico de uma<br />

(Artefacto No. 2019)<br />

Várias vasilhas de cerâmica pertencentes à vida do dia-a-dia do navio foram<br />

também encontra<strong>das</strong>, sendo que as mais largas servem para líquidos mais<br />

grossos (como mel) e os mais estreitos para vinho, água, etc.<br />

Vasilhas de cerâmica. Art No. 15003 e desenho (esquerda e centro) e Artefacto No. 15081.<br />

55


Também foram encontrados neste sítio dois vasos de cerâmica, aparentemente<br />

de origem africana, um parcialmente rachado e cimentado a uma bola de<br />

canhão e outro intacto. Ambos são de tom escuro e material muito poroso,<br />

produto de uma temperatura relativamente baixa no cozido. O artefacto 15080<br />

está decorado na parte mais larga do bojo com um desenho de “colinas”<br />

preenchi<strong>das</strong> com um padrão simétrico de linhas paralelas e diagonais. Têm um<br />

pequeno cinto á volta da base do pescoço com linhas cruza<strong>das</strong>, ambas<br />

profundamente marca<strong>das</strong> na massa.<br />

Diferentes momentos do processo da conservação e restauro<br />

do artefacto no. 15080. A cima à esquerda tal como<br />

encontrada, ainda presa à bola de canhão. Em cima ao<br />

centro trabalhos de reconstrução e em cima á direita depois<br />

de completo restauro. Desenho técnico do artefacto à direita.<br />

O Artefacto 15102 é da mesma manufactura mas de decoração mais simples,<br />

apresentando simplesmente marcas de linhas diagonais de pouca profundidade<br />

no aro. É uma tigela de cavidade aguda na base e tem o mesmo tom escuro de<br />

argila.<br />

Tigela de cerâmica, art. no. 15102 e desenho técnico.<br />

56


Vidro.<br />

Tal como se espera num naufrágio de um período tão antigo, muito poucos<br />

fragmentos de vidro conseguiram sobreviver. Durante a escavação foram<br />

observa<strong>das</strong> diferentes tipologias de vidro, que variavam entre fragmentos<br />

transparentes planos (possivelmente provenientes de lanternas) de um vidro<br />

muito fino até um espesso “vidro de sódio” encontrado no único artefacto de<br />

vidro intacto no naufrágio.<br />

Fragmentos de garrafa de vidro azul (Art No. 15090) e desenho. Fabricado em vidro soplado.<br />

Copo de vidro intacto (Art No. 15091) e detalhe dos ornamentos no fundo. Vidro de soda.<br />

O copo é bem ornamentado com quatro pétalas de “Fleur de Lis” em redor do<br />

corpo e do fundo que apresenta um “ladrão” côncavo e pouco profundo com a<br />

marca do sopro no centro.<br />

O silicato de sódio, ou vidro de soda, é uma substância vidrosa e embora não<br />

seja incolor ou sequer transparente, é considerado como um tipo de vidro.<br />

Embora se diga que vidro é silicato de alguns dos metais básicos, como vidro<br />

de sódio, vidro de potássio, vidro de chumbo, etc, na prática nunca é o caso,<br />

sendo que cada vidro é a mistura destes diferentes silicatos e variam nas<br />

proporções; o silicato do metal que dá o nome ao vidro normalmente concede<br />

certas características especificas, ou tendo apenas predominância.<br />

Em cada caso dos fragmentos de vidro encontrados no naufrágio mostram<br />

bolhas dentro do material.<br />

57


Porcelana chinesa.<br />

Apenas dois artefactos feitos de porcelana chinesa foram encontrados nesta<br />

fase da escavação (um prato e um Kendi) embora alguns fragmentos tenham<br />

sido observados nos quadros S7, S8 e S9 mas não em suficiente quantidade<br />

para serem considera<strong>das</strong> como carga, portanto os objectos de porcelana<br />

chinesa deste naufrágio foram até ao momento catalogados como objectos<br />

domésticos.<br />

O prato foi encontrado em 12 fragmentos espalhados pelo quadro S7 e foram<br />

juntos durante o processo de conservação no laboratório. Os motivos com<br />

paisagens com veados são muito comuns na porcelana “Kraak”, a típica<br />

porcelana chinesa para exportação do período 1580-1640. É caracterizada pelas<br />

formas aparentemente relaciona<strong>das</strong> com metal e pelas suas ocupa<strong>das</strong><br />

decorações, a maioria organiza<strong>das</strong> em painéis radiais. A porcelana Kraak foi<br />

introduzida no Ocidente pelos comerciantes portugueses que no século XVI<br />

começaram a importar porcelana azul e branca dos fins da dinastia Ming para a<br />

Europa. Acredita-se que o nome “kraak” vem dos navios portugueses chamados<br />

carracas nos quais as porcelanas eram transporta<strong>das</strong>.<br />

Prato com veado (Art. 15107) tal como encontrado e depois do restauro. Sem selo na parte traseira.<br />

O Kendi (também chamado de “copo de beber de nariz”) foi encontrado no<br />

centro do quadro S7, muito ligado a um perno de ferro com uma fenda na<br />

base, restaurada no laboratório durante o processo de conservação.<br />

Este artefacto em particular é feito de porcelana chinesa branca com decoração<br />

azul-cobalto por baixo do envidraçado, mostrando um bojo circular, um tubo<br />

muito direito e um cano muito proeminente. Está decorado com um lótus<br />

estilizado à volta do bojo assim como com folhas direitas e circulares.<br />

A base mostra uma marca com pintura de uma lebre branca em frente a uma<br />

pedra azul. Este aspecto encontra-se normalmente na porcelana Ming do fim do<br />

século XVI, mais provável do período Wanli (1573-1619).<br />

58


Um Kendi é um recipiente para líquidos com uma bica mas sem asa. Enquanto<br />

se deita o líquido, o vaso segura-se pelo pescoço. Cadinhos deste tipo não se<br />

encontram na China antes da dinastia Song, quando os tipos mais tempranos<br />

parecem ter sido de bico direito com envidraçado do tipo Jian (castanho-preto)<br />

da China do Sul.<br />

Kendi (Art. 15085) depois de conservado (à esq.) e ainda ligado ao perno de ferro Detalhe do<br />

selo, uma lebre encostada a uma pedra azul localizada na base.<br />

No Sudeste asiático, kendis parecem ter tido várias utilizações desde<br />

medicinais, para beber, lavar, de bênção e até para sacrifício. A sua principal<br />

utilização para ter sido a de recipiente para beber água, onde muitas pessoas<br />

de forma higiénica e sem usar copos podiam beber da mesma garrafa bebendo<br />

directamente do gargalo quando o recipiente fosse inclinado.<br />

Também pode ser que o Kendi seja o recipiente referido no Jingdezhen Tao Lu<br />

traduzido por G.R. Sayer em 1951, onde se diz #65, página 90 “os sulistas<br />

praticam nose-drinking. Eles têm recipientes de cerâmica como taças ou tigelas<br />

com um tubo parecido com a borda de uma garrafa fixada de lado…” a fonte<br />

que Tao Lu cita é um Tratado em Geografia e História natural do Sul da China,<br />

datado do século 11 (meio da dinastia Song do Norte).<br />

Pinturas contemporâneas, evidências literárias ou <strong>arqueológicas</strong> até agora não<br />

demonstraram que alguém tenha “bebido através do nariz”. O nome original da<br />

fonte Song acima mencionada pode ter sido, afinal, o de recipiente de bica para<br />

beber em vez de “nose drinking”, uma vez que a protuberante bica ainda nos<br />

dias de hoje é apelidada de nariz de recipiente. O Kendi era, no entanto, único<br />

por se beber exactamente por esse orifício do gargalo.<br />

Há Kendis de todos os tamanhos desde os maiores às miniaturas possivelmente<br />

usa<strong>das</strong> como conta-gotas. Alguns kendis de tamanho médio ou pequeno tem<br />

uma utilização confirmada para medicação. Agora se algumas drogas poderiam<br />

ter sido administra<strong>das</strong> através <strong>das</strong> bicas, isso permanece uma questão em<br />

aberto.<br />

59


Cerâmica envidraçada.<br />

Poucos fragmentos envidraçados, de origem europeia ou asiática foram<br />

encontrados nesta escavação. Os fragmentos identificados como vindos da<br />

Europa são do tipo Majolica, cerâmicas envidraça<strong>das</strong> de estanho. Esmalte de<br />

estanho é uma forma de envidraçado, que contém um óxido de estanho, com o<br />

qual a cerâmica em lustre é revestida antes de ser pintada com cores. Quando<br />

aquecida, o envidraçado e o pigmento fundem-se para dar uma aparência<br />

brilhante e incandescente.<br />

Duas vistas do Art. 15142, um dos poucos fragmentos de Majolica encontrados no navio..<br />

Majolica, o primeiro envidraçado a estanho visto na Europa, chega a Itália no<br />

século XIV no começo da época renascentista. Por volta de 1400 são<br />

exporta<strong>das</strong> da Espanha para Itália pelos comerciantes de Maiorca. Passam<br />

então a ser conhecidos pelos italianos como artigo de Maiorca ou majolica.<br />

O único artefacto deste tipo completo é uma <strong>das</strong> duas tampas, encontra<strong>das</strong> no<br />

quadro S2, toda fragmentada mas com todos os fragmentos presentes. O<br />

artefacto foi depois conservado e restaurado no laboratório de conservação,<br />

mostrando-nos agora a sua forma original.<br />

Artefacto 15027 tal como encontrado, durante o seu<br />

processo de restauro (em cima ao centro), desenho técnico<br />

depois <strong>das</strong> peças estarem reuni<strong>das</strong> (em cima à direita) e<br />

depois de completa a conservação e restauração (direita)<br />

60


Um interessante fragmento de cerâmica envidraçada foi encontrad no quadro<br />

S7, com motivos com folhas onde também se pode ver uma suástica, que tanto<br />

pode ser de origem chinesa como indiana, nesta fase do estudo não é possível<br />

ainda determinar.<br />

A suástica é um símbolo antigo que tem sido usado desde há mais de 3000<br />

anos (ainda precede um antigo símbolo egício, o Ankh). Artefactos como<br />

cerâmica e moe<strong>das</strong> da antiga Tróia mostram que a suástica é um símbolo<br />

commumente usado desde tão cedo como 1000 AC.<br />

Durante os seguintes mil anos, a imagem da suástica foi usada por diversas<br />

culturas, incluindo na China (wan), Japão, Índia (swastika) e no Sul da Europa.<br />

Na idade média, a suástica foi uma imagem bem conhecida, se não mesmo um<br />

comummente usado símbolo mas foi chamada por diferentes nomes, como na<br />

Inglaterra (fylfot), na Alemanha (Hakenkreuz), na Grécia (tetraskelion e<br />

gammadion). Na generalidade a suástica foi usada por diversas culturas ao<br />

longo de três mil anos para representar vida, sol, poder, força e mesmo boa<br />

sorte.<br />

Artefacto 15126. Praticamente o envidraçado todo está presentemente desaparecido,<br />

com apenas alguns traços verdes na parte superior à direita. De notar os símbolos<br />

suásticos à volta da base.<br />

61


Peltre.<br />

Vários artefactos fabricados de peltre e catalogados como domésticos foram<br />

encontrados, desde louça de mesa a tampas de garrafas medicinais.<br />

Nenhum dos artefactos de peltre encontrado tinha marcas de proveniência ou<br />

qualidade do material tal como costume, levando-nos a acreditar que seriam<br />

objectos utilitários sem qualquer função ornamental.<br />

Uma jarra de peltre (Artefacto 2008) encontrada no quadro S1 e uma tampa de peltre<br />

(Artefacto 15011) encontrada no quadro S1 mas a 4m para Norte. Devido às medi<strong>das</strong> e<br />

características destes artefactos pensamos formarem conjunto.<br />

Dois pratos fabricados de peltre muito fino foram ainda encontrados,<br />

fortemente cimentados com peças de ferro e bolas de canhão no quadro S7.<br />

Um destes pratos estava parcialmente rachado ao longo do aro e foi restaurado<br />

no laboratório.<br />

Um prato de peltre (Artefacto 15103) encontrado no quadro S7 durante o restauro e na sua<br />

condição final. Desenho técnico do lado direito.<br />

62


As tampas de garrafa recupera<strong>das</strong> (5) são to<strong>das</strong> de um tipo similar, com duas<br />

partes, uma com rosca exterior outra com rosca interior e um anel para segurar<br />

no topo. A parte inferior estava ligada ao aro de uma garrafa de vidro verde, tal<br />

como ficou evidenciado por algum material ainda anexado, e a parte superior é<br />

aparafusada à posterior. Tal como observado na vizinhança de algumas marcas<br />

no sedimento destes achados, a garrafa talvez tivesse sido de base plana, tal<br />

como as usa<strong>das</strong> para medicina a bordo dos navios desta época.<br />

Exemplares de topos de garrafas de peltre (Artefactos 15097 e 15121) depois da<br />

conservação. De salientar que o 15121 tinha o topo desaparecido mas perfeitamente visível<br />

onde a parte superior seria para anexar.<br />

Cobre.<br />

Os exemplares de artefactos domésticos feitos de cobre é praticamente todo<br />

pertencente a utensílios de cozinha como uma frigideira e outro objecto não<br />

identificado. Os dois foram descobertos em relação com fragmentos de cabo de<br />

um pote de cobre maior e de fragmentos de cerâmica vulgar, o mais<br />

provavelmente pertencentes à galeria do navio.<br />

Acima o que restou da frigideira (Art. 15106) e objecto com uma função desconhecida (Art.<br />

15012), mas provavelmente para a cozinha.<br />

Outro tipo de objectos feitos de liga de cobre são as tampas, côncavas, com<br />

oito buracos para cozer e um desenho na face interna. Parecem ter sido parte<br />

de lâmpa<strong>das</strong>.<br />

Dois lados do artefacto<br />

15070. De salientar os<br />

buracos de anexação do<br />

aro.<br />

63


Objectos pessoais.<br />

Este grupo inclui uma grande variedade de artefactos que presumivelmente<br />

foram usados pela tripulação, oficiais e passageiros do navio. Tal como se<br />

esperava eles são de diferentes usos e materiais e por isso fazemos aqui uma<br />

explicação dos mais interessantes ou daqueles que poderão ajudar melhor a<br />

perceber a proveniência do navio e da sua tripulação.<br />

Moe<strong>das</strong> de prata.<br />

Um total de 37 moe<strong>das</strong> de prata foram encontra<strong>das</strong> neste sítio, ou cimenta<strong>das</strong><br />

em pequenos aglomerados ou soltas. Apareceram em todos os quadros mas<br />

com maior concentração nos quadros S1 e S2, onde a maioria dos bens<br />

pessoais foram encontrados. Na generalidade, as condições deste tipo de<br />

artefactos estava muito fraca e foi comum que as concreções que ainda tinham<br />

alguma parte da moeda que subsistia, estavam em tão mau estado que<br />

praticamente nenhuma informação pôde ser delas retirada. A única informação<br />

encontrada até ao momento na maior parte <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> é que elas foram<br />

cunha<strong>das</strong> no México e em Potosi sendo que numa <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> mexicanas se<br />

vê, com muita dificuldade, uma marca de ensaiador com um F, possivelmente<br />

de Francisco de Morales que trabalhou na casa de cunhagem mexicana desde<br />

1607.<br />

Moe<strong>das</strong> de prata do artefacto 15020, os exemplars mais bem conservados do naufrágio.<br />

Esta incomum degradação da prata poderá ter sido provocada pelo contacto<br />

próximo com material orgânico apodrecido ao longo de mais de quatro séculos.<br />

O carregamento de especiarias deste navio tal como fica sugerido pelos<br />

fragmentos de Martabans e jarras grandes pode ter sido a fonte deste ácido<br />

nítrico que exerceu tanta influência sobre esta prata.<br />

64


Contas e pendentes.<br />

Durante a escavação do quadro S2 foram encontra<strong>das</strong> três contas ornamentais,<br />

aparentemente de um colar ou pulseira. Estas contas são feitas de um material<br />

leve de um preto muito escuro, provavelmente ébano ou lignite (um carvão<br />

suave) e esculpi<strong>das</strong> na frente com uma flor de quatro pétalas e linhas diagonais<br />

criando uma moldura à volta da flor. Apresentam duas perfurações<br />

longitudinais que atravessam a peça que servem provavelmente para um fio<br />

que funcione como elo de ligação entre as duas.<br />

Conta ornamental, Artefacto 15064, e desenho mostrando as perfurações<br />

Dois pendentes do mesmo material em forma de mão foram também<br />

encontrados no quadro S2. Estes pendentes representam a “mano fico”,<br />

também chamada figa, um amuleto italiano de origem remota. Representa um<br />

gesto de mão no qual o polegar está entre o dedo indicador e o dedo do meio,<br />

numa óbvia imitação de uma relação sexual heterosexual. Há exemplos<br />

encontrados da era romana, também usada pelos Etruscos. Mano significa mão<br />

e fico significa figa, e tem uma idiomática conotação de calão usada para<br />

referenciar os órgãos genitais femininos.<br />

Duas vistas do mesmo amuleto “Mano fico”, Artefacto 2012, e desenho.<br />

Seja um gesto apotropéico ou usado como um amuleto, a “mano fico” é hoje<br />

em dia usada para protecção mágica contra os maus olhados. Neste aspecto,<br />

faz lembrar outros gestos manuais e imagens de mãos que afastam o diabo,<br />

incluindo a mão hamsa, o eye-in-hand e a mano cornuta (a mão cornuda). Este<br />

popular amuleto está presente em diversas culturas e é bem conhecido dos<br />

portugueses desde os tempos ainda anteriores à descoberta do caminho<br />

marítimo para a Índia. Também se acredita que tem a função de protecção<br />

contra a infertilidade.<br />

65


Ícones religiosos.<br />

Foi encontrado um interessante artefacto no centro do quadro S7 deitado entre<br />

as tábuas do casco em co-relação com uma moeda de prata. É uma pequena<br />

estátua que mostra Jesus Cristo na posição de crucificação, de braços<br />

entendidos, palmas para cima e pernas cruza<strong>das</strong>. Falta a cruz provavelmente<br />

feita de madeira, mas os pregos continuam in-situ em ambas as mãos embora<br />

falte o prego <strong>das</strong> pernas. A estátua é feita de peltre que é uma liga de metal,<br />

tradicionalmente composto por 85 a 99% de estanho, com uma restante que<br />

consiste em 1-4% de cobre, que actua como endurecedor, com a adição de<br />

chumbo para os tipos de peltre mais baixos e uma tinta azulada.<br />

Havia três graus: fino, talheres para comer, com 96-99% de estanho e 1 a 4%<br />

de cobre; Trifle, também utensílios de comer e beber mas de aparência mas<br />

vulgar, com 92% de estanho, 1-4% de cobre e até 4% de chumbo e Lay or Ley<br />

metal, que não é para utensílios para comer ou beber, com mais de 15% de<br />

chumbo.<br />

A estátua de Jesus (Art. 15094) tal como encontrada, depois de conservação e desenho<br />

técnico.<br />

Pela aparência e peso deste artefacto em particular, pensamos tratar-se de<br />

metal Ley, com uma maior concentração de chumbo, parecendo-o mais pesado.<br />

É interessante reparar o grau de detalhe com que a estátua foi elaborada<br />

também na parte de trás da figura, a parte que deveria estar coberta pela cruz<br />

e, por isso, dificilmente visível.<br />

Parte de trás da estátua de Jesus<br />

(Art. 15094) mostrando os detalhes da construção.<br />

66


Instrumentos profissionais.<br />

Os artefactos pertencentes a esta categoria escavados neste sítio durante esta<br />

fase inicial foram 5 compassos de navegação e uma régua.<br />

Os exemplares de instrumentos de navegação deste naufrágio é impressionante<br />

devido à fantástica condição de conservação dos compassos. São feitos de<br />

cobre em todo o corpo, sem, no entanto, os pontos de aço <strong>das</strong> pernas, tão<br />

comuns nos primeiros divisores.<br />

Quatro destes instrumentos são do tipo de utilização com uma mão, tendo a<br />

parte superior curva de modo a serem abertos e fechados apenas com uma<br />

mão enquanto se trabalhava nos mapas náuticos. O outro divisor é de modelo<br />

direito.<br />

Compasso de navegação de uma mão (Art. 15138) e desenho do Art. 15140.<br />

Compasso de navegação de modelo direito (Art. 15130) e desenho.<br />

67


A régua é feita de cobre e apresenta diferentes escalas nos dois lados e um<br />

extremo aplanedo para agarrar com mais facilidade Cada uma <strong>das</strong> escalas<br />

incrementa o tamanho <strong>das</strong> divisões ao se aproximar á parte mais baixa, sendo<br />

as divisões muito perto na parte superior do instrumento e mais separa<strong>das</strong> na<br />

inferior.<br />

Ambos lados da régua (Art. 15129) e desenhos técnicos mostrando detalhes <strong>das</strong> escalas.<br />

A graduação da escala num dos lados é de 1 a 4, três vezes repetida, e embora<br />

não seja claramente visível parece ter um símbolo de “grau” (°) por cima dos<br />

números. A escala no lado oposto da régua não está claramente definida mas<br />

mantém o padrão de divisões variaveis.<br />

Esta régua parece fazer parte de um instrumento de medir arcos ou distancias<br />

angulares e precisa de mais investigação para determinar se é um exemplo de<br />

um instrumento de navegação muito antigo ou se se trata de outro instrumento<br />

de medida.<br />

Selos de chumbo.<br />

Três selos de chumbo foram até ao momento encontrados, dois com marcas<br />

irreconhecíveis e um com a representação do símbolo português, a “esfera<br />

armilar”. Esta imagem foi o emblema pessoal do Rei D. Manuel I, ainda antes<br />

de ser Rei, enquanto Duque de Beja e representa a época dos Descobrimentos<br />

portugueses. Este carimbo provavelmente confirma que este navio transportava<br />

carga oficial vindo da Índia com destino ao Rei de Portugal.<br />

O selo de chumbo<br />

com a“Esfera<br />

Armilar”<br />

portuguesa<br />

(Artefacto No.<br />

15055). Este<br />

achado reforça a<br />

hipótese da<br />

origem portuguesa<br />

do navio.<br />

68


Identificação tentativa.<br />

Baseado no estudo do material do naufrágio nesta fase da escavação, a<br />

natureza dos artefactos, a tipologia <strong>das</strong> cerâmicas e no período de origem <strong>das</strong><br />

moe<strong>das</strong> de prata, leva-nos a pensar que o IDM-003 era um navio português<br />

que afundou no início do século XVII quando regressava da Índia.<br />

A pesquisa no arquivo realizada previamente demonstra as seguintes entra<strong>das</strong><br />

de navios naufragados nesta área:<br />

- N a S a da Consolação, 26/7/1608, Capitão Diogo de Sousa. Queimado para<br />

não ser capturado pelos holandeses. Dinheiro gasto no reforço do sistema de<br />

defesa da Fortaleza. Queimado perto da Cabaceira juntamente com outro<br />

galeão. Nem toda a carga foi retirada do navio.<br />

- Santa Isabel, Portugues, 28/01/1624, Cap. D. Diogo de Castelo Branco e D.<br />

João Coutinho. Ancorado durante o Inverno, muito possivelmente apenas<br />

perdeu a artilharia. Outras fontes relatam que “perdida à entrada da barra<br />

numa tempestade de Inverno, pessoas salvas como a maior parte da carga.<br />

Alguma artilharia e carga perdida.” Não totalmente recuperada (salvouse a<br />

gente e perdeu-se alguma fazenda).<br />

Dos navios acima mencionados, aquele que mais se parece com o IDM-003 é a<br />

N a S a da Consolação, afundado a 26/7/1608, durante uma tentativa dos<br />

holandeses para a tentar roubar. Os registos históricos referem que durante o<br />

cerco holandês à ilha de Moçambique em 1608, os atacantes repetidamente<br />

tentaram roubar a N a S a da Consolação, que estava ancorada na baia e a<br />

maioria da tripulação estava abrigada na Fortaleza de São Sebastião, a<br />

defender a ilha.<br />

Os holandeses sabiam que o navio estava carregado com produtos da Índia e<br />

esperava retomar a viagem até Lisboa, dai ser de grande interesse para eles.<br />

Depois de algumas tentativas falha<strong>das</strong>, os holandeses conseguiram fazer entrar<br />

três navios no canal pela fronteira a Sul, muito próximos da Fortaleza,<br />

beneficiandose <strong>das</strong> marés baixas e conseguiram passar por baixo da mira dos<br />

canhões portugueses, uma vez que os mestres de artilharia não conseguiam<br />

atingir tão baixo. Uma vez dentro da baia, cortaram os cabos da nau e de outro<br />

navio, do qual se desconhece o nome, e começaram a rebocá-los para fora da<br />

baia. Nesse momento, os artilheiros portugueses já tinham conseguido corrigir<br />

as miras e atiraram fogo contra os 3 barcos que roubavam os navios. Quase<br />

afundaram um dos barcos holandeses o que os obrigou a cortar os cabos e a<br />

abandonar os navios para salvar as suas vi<strong>das</strong>. Neste momento, a N a S a da<br />

Consolação foi desviada pelos ventos do Sul para uma área pouco funda em<br />

direcção ao lado Norte do canal e ali encalhou.<br />

69


Debaixo da pressão do cerco, os portugueses não conseguiram organizar uma<br />

operação coerente de recuperação dos dois navios, por isso, o capitão da<br />

Fortaleza, D. Estevão de Ataide, enviou durante a noite um pequeno barco com<br />

8 homens para incendiar os navios e assim evitar que os holandeses pudessem<br />

voltar e retirar o carregamento.<br />

Tal como vem descrito nos documentos históricos, nem tudo foi salvo dos dois<br />

navios, mas a maioria do carregamento e o dinheiro foi usado no reforço do<br />

sistema de defesa da Fortaleza, tal a danificação findo o cerco.<br />

O IDM-003 demonstra sinais claros de ter sido parcialmente salvado. Evidências<br />

disto são a falta de peças de artilharia (apenas um canhão foi até ao momento<br />

encontrado por estar por baixo de pedras de balastro) e peças grandes como<br />

âncoras. Ainda assim, há áreas onde terá sido de muito difícil recuperação<br />

devido à disposição do balastro acima da zona a estibordo do navio.<br />

A composição da amostra dos artefactos deste navio é a típica de um navio<br />

comerciante português que vinha da Índia. Porcelana chinesa, embora ainda<br />

sem muita ocorrência, jarras Martaban para transporte de especiarias, frascos<br />

de cerâmica manufacturados na Índia, contas e pendentes e um selo de<br />

chumbo com a “Esfera armilar”.<br />

Uma futura escavação no resto da área cultural do sítio vai permitir-nos uma<br />

investigação extensiva sobre a construção naval dos primeiros mercantes<br />

portugueses, uma vez que a secção do casco que está por baixo <strong>das</strong> pedras de<br />

balastro parece muito bem preservada.<br />

70


IDM-017 Ilha de Moçambique, 13 dias entre 09/06/05 e 28/06/05<br />

Descrição do sítio e avaliação.<br />

Este naufrágio foi encontrado dia 7 de Junho de 2004 durante uma pesquisa<br />

realizada por magnómetro no banco de São Lourenço, localizado no Sul Este da<br />

ilha de Moçambique. O sitio encontra-se na margem a Noroeste de Nivula, a<br />

zona menos profunda do banco de São Lourenço. O sítio é completamente<br />

enterrado abaixo de 2,5m de areia a 4m de profundidade em média maré.<br />

Nenhuma parte do naufrágio era visível no momento da primeira inspecção. O<br />

magnómetro registou uma área anômala muito forte de cerca de 50x50m<br />

mostrando vários picos dentro destes limites.<br />

Foi aberto um buraco para teste no topo da posição GPS da zona mais forte da<br />

leitura do magnómetro e encontrámos um conglomerado de pelo menos 10<br />

canhões e alguns pernos de ferro. Os canhões encontravam-se muito<br />

cimentados e formavam uma massa que dificultaba tomar as medi<strong>das</strong> de cada<br />

peça com precisão, mas em média têm 3 metros de comprimento e todos são<br />

idênticos entre si. Devido à natureza do sobre carregamento no local (areia<br />

limpa e pesada) o buraco enchia constantemente e a maioria dos mergulhos<br />

foram usados para alargar as margens do local de pesquisa de forma a ir mais<br />

fundo e estabelecer a camada final com material de naufrágio e o nível do<br />

fundo original no momento do acidente. Durante a pesquisa foi encontrado um<br />

anel de ferro por baixo do canhão mais fundo (G8) e sobre as primeiras pedras<br />

de balastro; 2.8m baixo o nível da areia. O anel tem um diâmetro de 0,75m<br />

com 3 barras de ferro liga<strong>das</strong>, duas paralelas na tangente e uma a sair do<br />

centro da circunferência, to<strong>das</strong> na mesma direcção e parti<strong>das</strong>.<br />

Uma micro pesquisa com magnómetro foi feita na área de forma a produzir um<br />

mapa em 3D fixado ás coordena<strong>das</strong> geográficas do sítio e informação<br />

batimétrica da área. Para planear uma futura escavação, ou apenas para definir<br />

onde abrir um buraco, apenas poderemos confiar na informação registada no<br />

terreno pelos desvios magnéticos do local. O mapa mostra uma área anómala<br />

de 90m de comprimento por 40m de largura, praticamente orientada Norte-Sul<br />

(345° - 165°) com vários picos de alta magnitude distribuídos por uma zona<br />

oval. Nós estabelecemos um ponto data na fronteira a Sul da área anómala<br />

(ponto 1) a 30m-165º do ponto “Zero” (canhão G3) e fez uma detecção de<br />

metal que se estendeu por uma linha de 4m de largura sem resultados. A<br />

profundidade da areia tornou os detectores de metal sem utilidade até as<br />

primeiras cama<strong>das</strong> do sobre carregamento serem removi<strong>das</strong>.<br />

Por baixo da massa dos canhões apareceu uma camada de pedras de balastro<br />

que estavam por cima <strong>das</strong> tábuas do casco. Ao nível destas pedras (entre 1,7m<br />

e 2,8m abaixo do fundo), foi aberta uma trincheira na direcção SSE (165º) a<br />

começar pelo canhão G3 e a avançar 15m nesa direcção com uma trincheira de<br />

2m de largura. Apenas as pedras de balastro e a estrutura do casco foram<br />

observados nesta área, a confirmar a hipótese original que uma parte do casco<br />

sobreviveu debaixo de uma camada grossa de areia.<br />

Com esta informação, terminámos a pesquisa do sítio e tornamos a encher a<br />

trincheira de forma a prevenir uma exposição indesejável e degradação<br />

acelerada.<br />

71


Localização geográfica do naufrágio IDM-017 na Ilha de<br />

Mozambique.<br />

72


IDM-017 Desenho do sítio<br />

(tal como a 30 Novembro 2005)<br />

Resposta magnométrica do sítio IDM-017. De salientar o grupo de canhões ao centro..<br />

73


Identificação tentativa.<br />

Baseados na localização deste naufrágio e na tipologia dos canhões de ferro<br />

observados durante a intervenção, estamos inclinados a pensar que se trata do<br />

navio Santa Teresa, a “Capitana” da frota de 1622.<br />

A pesquisa em arquivo previamente elaborada mostra a seguinte entrada:<br />

- Santa Teresa, Capitana portuguesa, 25/07/1622, Capitão Dom<br />

Francisco de Gama. O navio ia em direcção à Índia e foi perdido na barra<br />

de Moçambique por ataque holandês. Tratava-se da nau do Vice Rei,<br />

Conde da Vidigueira, Dom Francisco de Gama. Afundou-se durante a<br />

noite em zonas de areia pouco profun<strong>das</strong>, depois da Ilha de S. Jorge<br />

(depois de ponta Sancule). Apenas o carregamento do convés superior<br />

pode ser salvo, mas o resto da carga foi perdida assim como a artilharia.<br />

O navio foi incendiado de forma a não permitir que os holandeses dele<br />

tirassem partido.<br />

Quando a armada anglo-holandesa percebeu que o São José era indefensável<br />

depois da batalha no Mongincual, deixaram-no sozinho e continuaram a busca<br />

atrás do Santa Teresa e do São Carlos até à entrada da Ilha de Moçambique.<br />

Uma vez dentro da ilha de Goa estes navios encalharam no banco de areia<br />

(hoje Banco de São Lourenço) antes de chegar à protecção dos canhões da<br />

Fortaleza. O Santa Teresa caiu imediatamente para o lado do porto, com a<br />

artilharia a solta e água a entrar por cima da borda do navio. Tal como o padre<br />

D. Jerónimo descreveu “apenas o carregamento do do convés superior pode ser<br />

salva, mas perdeu-se o resto da carga e da artilharia”. Quando a armada angloholandesa<br />

foi vista na Ilha de Goa depois da tentativa falhada de recuperar o<br />

conteúdo do São José, os portugueses incendiaram o navio de forma a evitar<br />

que o inimigo dele tirar partido.<br />

NOTA: A história deste navio, as condições particulares do seu naufrágio e as<br />

características do fundo do mar nesta área, tornam muito provável que ainda<br />

exista uma grande quantidade de artefactos e estrutura do navio de elevado<br />

interesse cultural.<br />

74


Conservação.<br />

Os artefactos recuperados foram conservados e estabilizados numas instalações<br />

temporárias de conservação durante a fase final da construção do Centro de<br />

Conservação Marítima (CCM). Os trabalhos de conservação permitem uma<br />

recuperação de um total de 218 artefactos abaixo descritos, categorizados de<br />

acordo com a constituição do material:<br />

Material Quantidade de Artefactos<br />

Cobre 24<br />

Marfim 6<br />

Lignite 5<br />

Vidro 4<br />

Cerâmica 96<br />

Ferro e peltre 20<br />

Prata 53<br />

Total 218<br />

O total dos artefactos individuais era de 6731 uma vez que os muitos números<br />

de artefactos eram objectos associados, fundamentalmente no caso dos<br />

maciços <strong>das</strong> moe<strong>das</strong> de prata.<br />

Na execução dos trabalhos de conservação, foram usados os seguintes<br />

tratamentos recomendados:<br />

Prata:<br />

De-concreção com ácido clorídrico.<br />

Eliminação dos produtos de corrosão com amoníaco.<br />

Neutralização com Carbonato de Hidrogénio de sódio.<br />

Bronze:<br />

Eliminação <strong>das</strong> concreções e produtos de corrosão com solução de ácido cítrico<br />

e Thiourea.<br />

Neutralização com Sodium Sexquicarbonate<br />

Secagem ao ar.<br />

Selado com cera microcristalina.<br />

Chumbo e peltre:<br />

Tratamento com ácido clorídrico<br />

Lavagem intensa.<br />

Secagem ao ar.<br />

Selado com cera microcristalina.<br />

Cerâmica:<br />

Tratamento com ácido clorídrico e com ferramentas manuais<br />

Desalinização com água<br />

Secagem ao ar.<br />

Aplicação de PVA como selante e consolidante<br />

Restauração com plaster de Paris.<br />

75


Marfim:<br />

Eliminação <strong>das</strong> concreções com ferramentas manuais e pontuais aplicações de<br />

ácido clorídrico.<br />

Consolidação com PVA<br />

Secagem ao ar.<br />

Selado com cera microcristalina.<br />

Vidro:<br />

Eliminação <strong>das</strong> concreções com ácido clorídrico.<br />

Remoção <strong>das</strong> nódoas com peroxido de hidrogenio.<br />

Lavagem intensa.<br />

Secagem ao ar.<br />

Selado com PVA<br />

Lignite:<br />

Eliminação <strong>das</strong> concreções com pontuais aplicações de ácido clorídrico.<br />

Lavagem intensa.<br />

Secagem com álcool<br />

No momento todos os artefactos conservados encontram-se estáveis e<br />

guardados na Ilha de Moçambique para posterior estudo e classificação.<br />

76


Equipamento<br />

Foi usado o seguinte equipamento e periféricos nesta fase da escavação.<br />

! Zanj Explorer Recovery vessel (20m comprimento, acomodação para 14).<br />

! Isis Catamaran Recovery vessel (15m comprimento, acomodação para 8)<br />

! RIB Humber (5.5 m comprimento).<br />

! RIB Omega (4.5 m comprimento).<br />

! Zodiac Mark VI (6 m comprimento).<br />

! 2 x Honda 20 HP motores fora de bordo de 4 tempos.<br />

! 1 x Mercury 25 HP motor fora de bordo.<br />

! 1 x Yamaha 30 HP motor fora de bordo.<br />

! 2 x GPS GARMIN map 168 (with echo sounder) and NMEA interface.<br />

! 2 x GPS GARMIN 128 with NMEA interface.<br />

! GPS Eagle view with NMEA interface.<br />

! Handheld GPS Magellan 3000.<br />

! Echo sounder MAP2000/SAM MODULE.<br />

! Echo sounder GARMIN 160.<br />

! 2 x ELSEC 2000 Metal detectors.<br />

! Aquascan AQUAPULSE Metal detector.<br />

! U/W Digital photo camera Ricoh with housing.<br />

! U/W Digital video camera Sony with housing.<br />

! U/W Digital video camera Panasonic with housing.<br />

! Surface digital camera Ricoh Caplio 3,2 Megapixel.<br />

! 2 x towing sledges for visual survey.<br />

! 16 x full diving gear sets.<br />

! 2 x full diving gear as spare.<br />

! 15 x 16 Lts steel diving bottles.<br />

! 10 x 15 Lts steel diving bottles.<br />

! 1 x 12 Lts aluminium diving bottle.<br />

! Diving compressor BAUER (Electric engine).<br />

! Diving compressor EXPLORER (Diesel engine).<br />

! U/W Scooter Apollo.<br />

! U/W Scooter Submerge.<br />

! 2 x Honda water pumps, 4,5 bar, 1400 Lts/min.<br />

! 1 x LP Compressor Hatz, 7 bar.<br />

! Laptop Compaq Presario, Pentium IV.<br />

! Laptop Toshiba Satellite, Pentium IV.<br />

! Laptop Acer Travel Mate, Pentium IV.<br />

! Laptop Gericom, Pentium IV.<br />

! Desktop Acer + scanner HP.<br />

! CMAPecs Navigation software.<br />

! AxLogger editor software.<br />

! AQLogedit software.<br />

! Surfer 8 software.<br />

! Corel Draw 10 software.<br />

! Adobe Photoshop 7.0 software.<br />

! Microsoft Office suite 2004 software.<br />

! Iridium Satellite phone for data transfer.<br />

77


Pessoal<br />

Para esta operação de escavação foi mobilizada a seguinte equipa:<br />

Equipa.<br />

! Alejandro Mirabal (Arqueólogo/ OPS Manager/ Mergulhador)<br />

! Faure Cambiella (operador de magnómetro / Surveyor/ Mergulhador)<br />

! Manuel Navarro (Supervisor de mergulho)<br />

! Ramiro Pereira (Mergulhador)<br />

! Danijar Morandin (Mergulhador)<br />

! Boris Basnuevo (Mergulhador)<br />

! Lucas Sillem (Mergulhador)<br />

! Carlos Bosch (Registos arqueológicos / Mergulhador)<br />

! Alejandro Raul Mirabal (Desenhador arqueológico/ Mergulhador)<br />

! Alina Reyes (Registos arqueológicos / Administração)<br />

! Grant Ruffel (Capitão Zanj/ Mergulhador)<br />

! Gastón Bernal (Engenheiro Zanj/ Mergulhador)<br />

! Justin Dewey (Marinheiro/ Mergulhador)<br />

! Nicolette Killoran (Cozinheiro Zanj)<br />

! Debbie Killoran (Cozinheiro Isis)<br />

! Domingos Diofelo (Marinheiro Isis/ Mergulhador)<br />

! Otomane Valhale (Motorista/ Mergulhador)<br />

! Manuel Almeida (Conservador)<br />

! Salimo Djuma (Assistente de conservação)<br />

! Wassia Sualehe (Assistente de conservação)<br />

! Sara Guerreiro (Administração)<br />

! Zuleida Russo (Representante PI)<br />

! Zinha Selemane (Cozinheira / empregada doméstica)<br />

! Carlitos Almeida (Cozinheiro)<br />

! Mohanza Abdala (Guarda)<br />

! Mustafa (Guarda)<br />

! Amade Mustafa (Fiscal da Guarda Costeira)<br />

! Mario Lima (Fiscal da Guarda Costeira)<br />

! Maricano Denis (Fiscal da Guarda Costeira)<br />

! Agostinho Assuate (Fiscal do Ministério da Cultura)<br />

! Saide Gelane (Fiscal do Ministério da Cultura)<br />

Backup a tempo inteiro e ajuda temporária no terreno:<br />

! Nikolaus Graf Sandizell (CEO AWW/ Mergulhador)<br />

! Stefan Schins (Director de ven<strong>das</strong>)<br />

! Jens Neiser (AWW Business Consultant/ Accionista AWW / Mergulhador)<br />

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Bibliografia e fontes.<br />

• Ball, Alexander. Letter to the President of Batavia (October 20, 1622),<br />

pag. 132-210.<br />

• Biblioteca Nacional de Lisboa; Fondo General 1871.<br />

• Biblioteca Nacional de Lisboa; Reservados; Caixa 26, nº 153.<br />

• Díaz Gamez, Alfredo. (1998) Naufragio en Inés de Soto: Un hallazgo<br />

de cuatro siglos. Carisub, S.A., Corporación CIMEX, S.A., Ciudad de La<br />

Habana, Cuba<br />

• Domínguez, L. Cerámicas Históricas. Puerto Rico, Instituto de Cultura<br />

Puertorriqueña, 1977.<br />

• Escalante de Mendoza, Juan De. Itinerario de navegación de los<br />

mares y tierras occidentales. 1575. Madrid, Museo Naval, 1985.<br />

• García de Palacio, Diego. Instrucción Náutica para Navegar. 1587.<br />

Madrid, Colección de Incunables Americanos, Siglo XVI, Talleres Graficas<br />

Ultra, S.A., 1944<br />

• Goggin, J.M. Spanish Majolica in the New World. New Haven, Yale<br />

University Press. No. 72, 1968.<br />

• Hurst, John G. (1995) Post-Medieval Pottery from Seville Imported into<br />

North-West Europe. In Trade and Discovery: The Scientific Study of<br />

Artefacts from Post-Medieval Europe and Beyond, British Museum<br />

Occasional Paper 109, edited by Duncan R. Hook and David R.M.<br />

Gaimster, pp.45-54. The British Museum, London<br />

• Lopez-Martin, Javier. (2004), London Metropolitan University (UK),<br />

personal communication.<br />

• Marken, Mitchell W. (1994) Pottery from Spanish Shipwrecks.<br />

University Press of Florida, Gainesville<br />

• Mirabal, Alejandro. (1998) Naufragio en Inés de Soto: Un hallazgo de<br />

cuatro siglos. Carisub, S.A., Corporación CIMEX, S.A., Ciudad de La<br />

Habana, Cuba, pp. 69-86<br />

• Nesmith, Robert I. (1955) The coinage of the first mint of the<br />

Americas at Mexico City 1536-1572. New York. The American<br />

Numismatic Society.<br />

• Nilsson, Jan-Erik, Göteborg 1999, South East Asian Martaban Jar.<br />

• Pearson, Colin. Conservation of Marine Archaeology Objects. London,<br />

Buttenworth and Co, 1982.<br />

• Pinto de Matos, Maria Antonia. (2006) Ceramic expert, personal<br />

communication.<br />

• Proctor, Jorge A. (2006), Senior numismatist, Laguna Hills, California<br />

(USA), personal communication.<br />

• Vinh, Augustine H, (2005), Ceramic expert, lecturer at Ha Noi National<br />

University, Viet Nam, personal communication.<br />

79


Agradecimentos<br />

Queria agradecer a ajuda e o apoio de várias pessoas, que fizeram desta<br />

operação um sucesso.<br />

À Patrimonio Internacional SARL, nomeadamente ao Dr. Jacinto Veloso e à<br />

Veronica Chongo por nos ter proporcionado a ligação e as logísticas necessárias<br />

desde Maputo / Moçambique.<br />

À sede de AWW no Estoril com o CEO Nikolaus Graf Sandizell e Teresa<br />

Mendonça a coordenar as operações da Europa.<br />

Ao Ministério da Cultura de Moçambique por nos ter proporcionado a<br />

ajuda de funcionários necessários às operações, com fiscais que<br />

acompanharam cada passo de recuperação, conservação e processos de<br />

documentação.<br />

À Dra. Margaret Rule, CBE, FSA, Arqueóloga marítima, lecturer e autora<br />

pela sua disponibilidade incansável e brilhante consulta no que concerne ao<br />

processo de escavação.<br />

À Aquascan International em Inglaterra, nomeadamente o managing<br />

director Robert Williams, por nos porporcionar o know-how de magnómetro inhouse,<br />

e pelo relevante equipamento e constantes conselhos.<br />

Ao Escritório representativo da Arqueonautas na Alemanha, onde<br />

Stefan Schins e a sua equipa produzem os meios para financiar este projecto.<br />

Às autoridades locais da Ilha de Moçambique por todo o cuidado e ajuda<br />

e à cooperação no que respeita a todos os assuntos logísticos da expedição.<br />

Aos pescadores da Ilha de Moçambique por todo o seu conhecimento e<br />

ajuda no terreno e à cooperação que providenciaram.<br />

Por último, gostaria ainda de agradecer a cada membro da equipa de<br />

escavação de 2005 pelo seu excelente desempenho e trabalho árduo, não<br />

obstante as más condições meteorológicas e os desafios técnicos enfrentados<br />

em tantos momentos.<br />

O sucesso desta operação foi apenas possível graças a to<strong>das</strong> as pessoas acima<br />

menciona<strong>das</strong>.<br />

Tomo to<strong>das</strong> as responsabilidades pelos erros cometidos neste relatório.<br />

Lic. Alejandro Mirabal Jorge<br />

Arqueólogo / AWW OPS Manager<br />

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