ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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É possível imaginar duas situações <strong>de</strong> contaminação<br />
epist<strong>em</strong>ológica: a situação <strong>em</strong> que ocorra uma invasão dos conceitos<br />
mentais no campo dos conceitos físicos, e a situação <strong>em</strong> que a invasão<br />
conceitual corra no sentido inverso. Porém, ambas as situações po<strong>de</strong>m<br />
ser mostradas como estando <strong>em</strong> contradição com a existência <strong>de</strong><br />
princípios constitutivos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m diferente para o mental e para o físico.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, imagin<strong>em</strong>os uma situação <strong>em</strong> que a contaminação<br />
ocorre dos conceitos mentais para o campo dos conceitos físicos.<br />
Sendo p o enunciado “exist<strong>em</strong> dois peixes no aquário”, e f o enunciado<br />
“existe pelo menos um peixe no aquário”, é possível inferir que “p<br />
implica f”. Supondo que eu acredite que p seja verda<strong>de</strong>iro, pelo princípio<br />
normativo do mental eu <strong>de</strong>veria crer que f é verda<strong>de</strong>iro. Se existiss<strong>em</strong><br />
leis psicofísicas que colocass<strong>em</strong> <strong>em</strong> conexão a “crença que p“ com um<br />
estado neural (cerebral) chamado <strong>de</strong> m, e a “crença que f “ com o<br />
estado neural n, estas leis permitiriam inferir, do fato <strong>de</strong> que eu creio<br />
que p, e então <strong>de</strong>veria crer que f, que se eu me encontrar no estado<br />
neural m, então <strong>de</strong>veria me encontrar no estado neural n. Porém, uma<br />
conexão como esta, “se…então <strong>de</strong>veria”, não t<strong>em</strong> o mesmo sentido no<br />
contexto <strong>de</strong> uma lei física que coloca <strong>em</strong> relação dois estados físicos,<br />
pois, no âmbito <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong>pírica, afirmar “se…então<br />
<strong>de</strong>veria” significa, meramente, afirmar que esperamos que é isto que<br />
ir<strong>em</strong>os encontrar. Ao dizer que “se alguém crê que p, então <strong>de</strong>veria crer<br />
que f”, estamos afirmando algo diferente, ou seja, uma verda<strong>de</strong><br />
necessária, conhecível s<strong>em</strong> uma investigação <strong>em</strong>pírica: estamos<br />
afirmando que exist<strong>em</strong> princípios normativos segundo os quais, <strong>em</strong><br />
presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas condições, o enunciado “qu<strong>em</strong> crê que p<br />
<strong>de</strong>veria crer que f” é necessariamente verda<strong>de</strong>iro, ou seja, não po<strong>de</strong>ria<br />
ser falso (cf. EVNINE, 1991, p. 19).<br />
No âmbito <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong>pírica, uma conexão da forma<br />
“se…então <strong>de</strong>veria” que, no contexto <strong>de</strong> uma lei física, coloca <strong>em</strong><br />
relação dois estados físicos, reflete meramente as nossas expectativas,<br />
e possui o caráter <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> contingente. Isto é, o enunciado “se<br />
alguém está no estado cerebral m <strong>de</strong>veria estar no estado cerebral n”<br />
po<strong>de</strong>ria ser falso, pois reflete meramente uma expectativa <strong>de</strong> encontrar<br />
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