ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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sensações: os enunciados que os expressam não parecem contaminados pela não-extensionalidade, como o são as atitudes proposicionais. Porém, Davidson admite que seria problemático excluir do mental estados e eventos como as dores ou as sensações. Há a possibilidade de incluí-los acidentalmente, pois, tomando como critério para a individuação dos eventos o critério espaço-temporal de Quine 15 , até um evento que intuitivamente seria acolhido como físico, por exemplo, a colisão de duas estrelas no espaço, pode ser individuado por uma descrição mental e deve ser considerado mental (IDEM, 1970b, p. 211). Para explicar isto, é suficiente pensar que o exato momento da colisão sideral pode ser individuado como o exato momento em que eu me dou conta de que um lápis começou a rolar ao longo da minha mesa. Então, utilizando como critério para a individuação dos eventos o critério quineano, que afirma que dois eventos são idênticos quando acontecem no mesmo instante ou acontecem no mesmo ponto no espaço, o mesmo evento “x” pode ser individuado por uma descrição física, ou seja, por uma descrição da colisão estrelar segundo os moldes da ciência física, e pode ao mesmo tempo ser individuado por uma descrição mental, ou seja, por uma atitude proposicional que enuncia o meu dar-me conta de que uma caneta começou a rolar (IBID.). Exemplos de inclusões acidentais como esta dão força à hipótese de que todos os eventos mentais são idênticos a eventos físicos (IBID., p. 212), e ilustram como, na ontologia de Davidson, os eventos não são mentais e físicos em si, mas possuem descrições mentais e físicas. Segundo Davidson, não è correto falar de uma diferença de caráter ontológico entre o mental e o físico: é um lugar comum que haja entre mental e físico uma diferença de categoria, que possa estar baseada, por exemplo, em algo como o caráter privado do mental. O que há, é a anomalia do mental (IBID., p. 223). A crítica de Davidson ao fisicalismo reducionista, portanto, passa pela seguinte pergunta: é possível rejeitar o reducionismo, e, ao mesmo tempo, defender a identidade dos eventos mentais e dos eventos físicos? Davidson assume uma posição crítica 15 Segundo o critério quineano são idênticos os eventos que possuem as mesmas coordenadas espaço-temporais (cf. QUINE, 1989, p. 58). 78
com relação a um naturalismo nu e cru: ele se opõe firmemente à concepção reducionista que domestica o espaço das razões e das capacidades conceituais no interior da natureza concebida como o reino da lei (cf. McDOWELL, 2005, p. 111). 3.1 A POSIÇÃO DE DAVIDSON NO ÂMBITO DAS TEORIAS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE OS EVENTOS MENTAIS E FÍSICOS Ao apresentar a posição que ele quer ocupar no contexto das teorias sobre a relação entre eventos mentais e físicos, Davidson tenta classificá-las contemporaneamente segundo dois critérios: um critério ontológico e um critério epistemológico. Ou seja, do ponto de vista ontológico, as teorias podem afirmar (teorias monistas), ou negar (teorias dualistas), a identidade entre eventos físicos e mentais, e, do ponto de vista epistemológico, elas podem defender a existência de leis estritas para o mental, ou a ausência de tais leis. Neste sentido, as teorias podem ser de quatro tipos: o dualismo nomológico, o dualismo anômalo, o monismo nomológico, e o monismo anômalo: “…para esclarecer a situação, poderíamos dar uma classificação quadripartida das teorias da relação entre eventos mentais e físicos que enfatiza a independência das teses relativas às leis das teses relativas à identidade. De um lado, estão aqueles que afirmam a existência de leis psicofísicas e aqueles que a negam; do outro, estão aqueles que dizem que os eventos mentais são idênticos a eventos físicos e aqueles que o negam. As teorias são, assim, divididas em quatro tipos: monismo nomológico, que afirma que existem leis de correlação e que os eventos correlacionados são um (os materialistas pertencem a esta categoria); o dualismo nomológico, que compreende varias formas de paralelismo, interacionismo e epifenomenismo; o dualismo anômalo, que combina o dualismo ontológico com a ausência geral de leis que correlacionem o mental e o físico (o cartesianismo). E, enfim, há o monismo anômalo, que classifica a posição que eu desejo ocupar” (DAVIDSON, 1970b, p. 213-214, grifos do autor). O dualismo anômalo remete, em ultima análise, ao cartesianismo, e defende a tese de que os eventos mentais e físicos não podem ser idênticos entre si, mesmo assim se encontram causalmente ligados entre si. O processo de causação pode correr do mental para o físico ou do físico para o mental. No primeiro caso, as leis que governam especificamente o mundo mental ou as propriedades mentais são supostas estender seu domínio também para mundo físico ou para as propriedades físicas. No segundo caso, as leis estritas da física passam 79
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me dou conta <strong>de</strong> que um lápis começou a rolar ao longo da minha<br />
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Segundo Davidson, não è correto falar <strong>de</strong> uma diferença <strong>de</strong> caráter<br />
ontológico entre o mental e o físico: é um lugar comum que haja entre<br />
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por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> algo como o caráter privado do mental. O que há, é a<br />
anomalia do mental (IBID., p. 223). A crítica <strong>de</strong> Davidson ao fisicalismo<br />
reducionista, portanto, passa pela seguinte pergunta: é possível rejeitar<br />
o reducionismo, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos eventos<br />
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15 Segundo o critério quineano são idênticos os eventos que possu<strong>em</strong> as mesmas<br />
coor<strong>de</strong>nadas espaço-t<strong>em</strong>porais (cf. QUINE, 1989, p. 58).<br />
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