ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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universal, cuja introdução é considerada por ele desnecessária (IDEM, 1970a, p. 183). 2.4 CAUSAÇÃO E EXPLICAÇÃO CAUSAL A importância do debate sobre os temas da causação e da explicação causal é devida ao fato de que, segundo Davidson, a relação de causação, analogamente à relação de identidade, foi tradicionalmente pensada como implicando a presença de leis gerais. Manter esta suposição implicaria uma grave inconsistência no interior da filosofia de Davidson. Não é difícil intuir a razão disto: um dos pontos centrais de seu pensamento é a tese de que existe uma relação de causalidade entre eventos mentais e eventos físicos, porém, o mental é anômalo, ou seja, não é governado pelas leis estritas da física. De um lado Davidson, como expoente de uma tradição naturalista, mantém a tese de que o mental è parte da natureza física. Nesta luz são compreensíveis teses como a de que os eventos mentais são idênticos a eventos físicos, ou a de que tudo que há são eventos particulares irrepetíveis. De outro lado, a sua afirmação de que o mental é independente das leis das ciências naturais, exige uma explicação de como é possível que, ao mesmo tempo, os eventos mentais estejam ligados aos eventos físicos por uma relação de causalidade. Davidson, do próprio interior da tradição humeana, faz uma crítica desta tradição, enquanto, segundo ele, ela não soube diferenciar com a devida precisão a questão da causação entre eventos, da questão do caráter nomológico da explicação causal (cf. DAVIDSON, 1967b, p. 160). Em resumo, segundo Davidson, não é possível afirmar que todo enunciado singular de causalidade implique por si mesmo a existência de uma lei geral entre as propriedades das quais os eventos que se encontram na relação causal são instâncias. Assumir um universo unicamente de eventos particulares, aos quais os termos singulares podem se referir, permite, segundo 64

Davidson, a elaboração de uma teoria na qual seja concebível a existência de relações de identidade e de causalidade entre eventos mentais e eventos físicos, sem que isto implique a existência de leis estritas psico-físicas. Para Davidson, do fato de saber que um enunciado causal singular, como “a causa b” é verdadeiro, “... não segue que estamos na condição de elaborar uma lei…Tudo que segue é que nós sabemos que deve haver uma lei que governa o caso em questão. E muitas vezes, acredito, a nossa justificação para aceitarmos um enunciado causal singular é a de que nós temos razão para acreditar que uma apropriada lei causal existe, mesmo que nós não saibamos qual seja” (IBID.). As relações causais, para Davidson, são relações entre eventos (IBID., p. 161). As próprias causas são eventos singulares. Isto já é sugerido pela definição que o próprio Hume oferece do conceito de causa no seu Tratado sobre a natureza humana: “podemos definir uma causa como sendo um objeto precedente e contíguo a outro, e onde todos os objetos similares ao primeiro se encontram em relações similares de precedência e contigüidade com os objetos similares ao segundo” (HUME, 2000, p. 351). Esta definição humeana sugere, segundo Davidson, que as causas e os efeitos são entidades que podem ser nomeadas ou descritas por termos singulares. Estas entidades são provavelmente eventos, pois uma pode seguir a outra (cf. DAVIDSON, 1967b, p. 149). A distinção entre os eventos e suas descrições è crucial para entender a distinção davidsoniana entre o problema da relação causal entre eventos, e a outra questão da explicação causal, e, ainda, a questão da presença de leis naturais que governam os eventos. Segundo Hume, não há alguma conexão necessária (lógica) entre os eventos relacionados como causa e efeito, entre os quais há meramente uma relação de contiguidade espacial, uma relação de antecedência ou posterioridade temporal, e, enfim, uma conexão constante (cf. HUME, 2000, p. 687). Porém, sendo que as conexões constantes entre eventos podem ser objeto de descrições, e podem dar 65

Davidson, a elaboração <strong>de</strong> uma teoria na qual seja concebível a<br />

existência <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> entre eventos<br />

mentais e eventos físicos, s<strong>em</strong> que isto implique a existência <strong>de</strong> leis<br />

estritas psico-físicas.<br />

Para Davidson, do fato <strong>de</strong> saber que um enunciado causal<br />

singular, como “a causa b” é verda<strong>de</strong>iro,<br />

“... não segue que estamos na condição <strong>de</strong> elaborar uma lei…Tudo que segue<br />

é que nós sab<strong>em</strong>os que <strong>de</strong>ve haver uma lei que governa o caso <strong>em</strong> questão.<br />

E muitas vezes, acredito, a nossa justificação para aceitarmos um enunciado<br />

causal singular é a <strong>de</strong> que nós t<strong>em</strong>os razão para acreditar que uma apropriada<br />

lei causal existe, mesmo que nós não saibamos qual seja” (IBID.).<br />

As relações causais, para Davidson, são relações entre eventos (IBID.,<br />

p. 161). As próprias causas são eventos singulares. Isto já é sugerido<br />

pela <strong>de</strong>finição que o próprio Hume oferece do conceito <strong>de</strong> causa no seu<br />

Tratado sobre a natureza humana:<br />

“po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir uma causa como sendo um objeto prece<strong>de</strong>nte e contíguo a<br />

outro, e on<strong>de</strong> todos os objetos similares ao primeiro se encontram <strong>em</strong> relações<br />

similares <strong>de</strong> precedência e contigüida<strong>de</strong> com os objetos similares ao segundo”<br />

(HUME, 2000, p. 351).<br />

Esta <strong>de</strong>finição humeana sugere, segundo Davidson, que as causas e os<br />

efeitos são entida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser nomeadas ou <strong>de</strong>scritas por termos<br />

singulares. Estas entida<strong>de</strong>s são provavelmente eventos, pois uma po<strong>de</strong><br />

seguir a outra (cf. DAVIDSON, 1967b, p. 149).<br />

A distinção entre os eventos e suas <strong>de</strong>scrições è crucial para<br />

enten<strong>de</strong>r a distinção davidsoniana entre o probl<strong>em</strong>a da relação causal<br />

entre eventos, e a outra questão da explicação causal, e, ainda, a<br />

questão da presença <strong>de</strong> leis naturais que governam os eventos.<br />

Segundo Hume, não há alguma conexão necessária (lógica)<br />

entre os eventos relacionados como causa e efeito, entre os quais há<br />

meramente uma relação <strong>de</strong> contiguida<strong>de</strong> espacial, uma relação <strong>de</strong><br />

antecedência ou posteriorida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>poral, e, enfim, uma conexão<br />

constante (cf. HUME, 2000, p. 687). Porém, sendo que as conexões<br />

constantes entre eventos po<strong>de</strong>m ser objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições, e po<strong>de</strong>m dar<br />

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