ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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ou seja, são o mesmo evento, se e somente se possuem as mesmas causas e os mesmos efeitos. Por exemplo, se afirmarmos que o sentimento de dor que alguém experimenta numa determinada ocasião é idêntico a um determinado evento fisiológico, como a ativação das fibras-C, a melhor prova da identidade será dada pelas provas das quais dispomos de que a dor tinha as mesmas causas e os mesmos efeitos da ativação das fibras-C. Porque o critério que permite a individuação dos eventos particulares (dois eventos são o mesmo evento quando possuem as mesmas causas e os mesmos efeitos) deve ser, segundo Davidson, claramente distinto do critério que usamos para individuar os objetos materiais, o critério da individuação pelas coordenadas espaciais? O critério escolhido por Quine para individuar eventos está centrado na idéia de que o esquema que utilizamos cotidianamente para a individuação das entidades está baseado no objeto físico observável (cf. QUINE, 1989, p. 58). Neste sentido, para individuarmos qualquer entidade, o critério fundamental que seguimos é, para Quine, o critério da relação espaço-temporal, segundo o qual dois eventos são idênticos se e somente se acontecem no mesmo espaço (cf. DAVIDSON, 1969 p. 175) e no mesmo tempo (IBID., p. 177). Em 1969, Davidson rejeita este critério baseado nas características físicas e observáveis dos objetos, pois parece não poder consentir a distinção dos eventos com precisão suficiente, dando lugar a dificuldades como a seguinte: “se uma esfera de metal se torna mais quente durante um determinado minuto, e durante o mesmo minuto ela roda por 35 graus, deveríamos nós dizer que estes são o mesmo evento?“ (IBID., p. 178). Segundo o critério quineano, que tende a assimilar os eventos a objetos físicos, trata-se do mesmo evento. Segundo Davidson, uma tal afirmação de identidade è falsa. Ele tende, ao contrário de Quine, a evitar a assimilação dos eventos, como tais, aos objetos físicos, sua ontologia é uma ontologia de eventos particulares. Os eventos, como particulares, não são necessariamente materiais, mesmo que haja a possibilidade de 62
descrevê-los de determinadas formas, por exemplo, como eventos físicos ou mentais (cf. EVNINE, 1991, p. 30). Porém, a definição de identidade dos eventos que Davidson escolhe, baseada no critério das mesmas causas e dos mesmos efeitos, não nos diz o que os eventos são. Ainda, faz surgir um problema mais grave: é, numa certa medida, uma definição que traz um defeito de circularidade, por definir os eventos em termos de ulteriores eventos (IBID., p. 28). Podemos, então, legitimamente perguntar se, de fato, o critério das mesmas causas e dos mesmos efeitos, introduzido por Davidson, sirva para individuar os eventos. Apesar das dificuldades acerca da individuação dos eventos, o que é muito importante, para Davidson, é a distinção entre um evento e sua descrição (cf. DAVIDSON, 1969, p. 170-171). As duas frases “Brutus matou César”, e “Brutus apunhalou César” são duas descrições do mesmo evento, a morte de César. Trata-se do mesmo evento, que é descrito de duas formas diferentes. As descrições e as explicações (assim como a indicação de razões) fazem parte das frases, dos enunciados, ou das proposições [propositions], mas não dos eventos sobre os quais frases, enunciados e proposições vertem. Se assim não fosse, qualquer redescricão de um evento seria uma descrição de um novo evento. Ao fazermos uma redescricão de um evento, estamos nos referindo ao mesmo evento. Considerar os eventos como particulares e não como universais, propriedades que podem receber instanciações, responde ao critério occamiano da parcimônia ontológica, não introduzir novas entidades quando estas não são necessárias aos nossos fins. Mas, os eventos que recorrem periodicamente, os eventos “repetíveis”, poderiam ser considerados como eventos universais com diferentes instâncias? Por exemplo, o Campeonato do Mundo de Futebol poderia ser entendido como um evento universal que se repete periodicamente, um evento universal cujas instâncias seriam o Campeonato de 1982, o de 1986, o de 1990, etc.? Davidson prefere pensar simplesmente em eventos particulares não repetíveis, e não em ocorrências de um evento 63
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<strong>de</strong>screvê-los <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas formas, por ex<strong>em</strong>plo, como eventos<br />
físicos ou mentais (cf. EVNINE, 1991, p. 30).<br />
Porém, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos eventos que Davidson<br />
escolhe, baseada no critério das mesmas causas e dos mesmos efeitos,<br />
não nos diz o que os eventos são. Ainda, faz surgir um probl<strong>em</strong>a mais<br />
grave: é, numa certa medida, uma <strong>de</strong>finição que traz um <strong>de</strong>feito <strong>de</strong><br />
circularida<strong>de</strong>, por <strong>de</strong>finir os eventos <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> ulteriores eventos<br />
(IBID., p. 28). Po<strong>de</strong>mos, então, legitimamente perguntar se, <strong>de</strong> fato, o<br />
critério das mesmas causas e dos mesmos efeitos, introduzido por<br />
Davidson, sirva para individuar os eventos.<br />
Apesar das dificulda<strong>de</strong>s acerca da individuação dos eventos, o<br />
que é muito importante, para Davidson, é a distinção entre um evento e<br />
sua <strong>de</strong>scrição (cf. DAVIDSON, 1969, p. 170-171). As duas frases<br />
“Brutus matou César”, e “Brutus apunhalou César” são duas <strong>de</strong>scrições<br />
do mesmo evento, a morte <strong>de</strong> César. Trata-se do mesmo evento, que é<br />
<strong>de</strong>scrito <strong>de</strong> duas formas diferentes. As <strong>de</strong>scrições e as explicações<br />
(assim como a indicação <strong>de</strong> razões) faz<strong>em</strong> parte das frases, dos<br />
enunciados, ou das proposições [propositions], mas não dos eventos<br />
sobre os quais frases, enunciados e proposições vert<strong>em</strong>. Se assim não<br />
fosse, qualquer re<strong>de</strong>scricão <strong>de</strong> um evento seria uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um<br />
novo evento. Ao fazermos uma re<strong>de</strong>scricão <strong>de</strong> um evento, estamos nos<br />
referindo ao mesmo evento.<br />
Consi<strong>de</strong>rar os eventos como particulares e não como universais,<br />
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occamiano da parcimônia ontológica, não introduzir novas entida<strong>de</strong>s<br />
quando estas não são necessárias aos nossos fins. Mas, os eventos<br />
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ex<strong>em</strong>plo, o Campeonato do Mundo <strong>de</strong> Futebol po<strong>de</strong>ria ser entendido<br />
como um evento universal que se repete periodicamente, um evento<br />
universal cujas instâncias seriam o Campeonato <strong>de</strong> 1982, o <strong>de</strong> 1986, o<br />
<strong>de</strong> 1990, etc.? Davidson prefere pensar simplesmente <strong>em</strong> eventos<br />
particulares não repetíveis, e não <strong>em</strong> ocorrências <strong>de</strong> um evento<br />
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