ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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Se este problema não pode ser resolvido, então ao fisicalista não resta outra coisa que rejeitar a psicologia de senso comum, isto é, o quadro de referências através do qual tentamos cotidianamente explicar as ações humanas (ou a rede das atitudes identificadas pelo conteúdo), devido às suas dificuldades de integração numa descrição da ordem natural. A tese fisicalista pode ser resumida do seguinte modo: (1) Ou o fisicalismo pode justificar/fundamentar a concepção do mental do senso comum ou a concepção do mental do senso comum está radicalmente errada. (2) O fisicalismo não poderá justificar/fundamentar a concepção de mental do senso comum. (3) A concepção de mental do senso comum está radicalmente errada (IBID., p. 6). A premissa (1) é compartilhada por todo fisicalista, isto é, qualquer fisicalista considera a (1) como verdadeira. Os fisicalistas defensores do conteúdo dos estados mentais (em geral, os fisicalistas redutivos) tendem a considerar a (2) e a (3) como falsas. Os fisicalistas cépticos sobre a adequação do conceito de conteúdo para os estados mentais (em geral, os fisicalistas eliminativos) tendem a assumir a (2) e a (3) como verdadeiras. O fisicalismo redutivo, ou reducionismo, e o fisicalismo eliminativo, ou eliminativismo, são as duas mais importantes versões do fisicalismo que tentaram lidar com o problema do estatuto da concepção do mental do senso comum, e do conflito entre as leis e os conceitos da ciência física e o vocabulário das atitudes proposicionais, que descreve a ação racional e o comportamento humano nos seus termos intencionais e semânticos. É importante colocar em relevo que esta classificação, que subdivide o fisicalismo em eliminativismo e reducionismo, representa uma enorme simplificação, pois não existe, de fato, uma contraposição nítida entre a eliminação pura e simples e a redução pura e simples. O fisicalismo eliminativo e o fisicalismo redutivo como são apresentados nas próximas seções constituem casos extremos de uma complexa 32

gama de posições fisicalistas, algumas das quais propõem casos mistos de redução parcial e eliminação parcial (IBID., p. 10-11), que não são objeto de estudo desta dissertação. 1.3.1 Fisicalismo eliminativo e fisicalismo redutivo Em geral, segundo Stich, a tese do fisicalismo eliminativo procede de duas premissas (cf. STICH, 1994, p. 2; STICH, 1996, p. 1): 1) Premissa um: as crenças, os desejos, e outras familiares expressões de estados intencionais foram elevados à dignidade de termos teoréticos de uma teoria de senso comum da mente, uma teoria psicológica largamente difundida, muitas vezes chamada de “psicologia do senso comum”, ou “psicologia popular”, que fundamenta o nosso discurso cotidiano sobre os estados mentais. 2) Premissa dois: a psicologia popular é uma teoria seriamente errada, pois muitas das reivindicações que ela faz sobre os estados e processos dos quais surge o comportamento, são falsas (cf. STICH & NICHOLS, 1992, p. 2; cf. STICH, 1994, p. 2; STICH, 1996, p. 1). Destas premissas, o eliminativismo conclui que as crenças, os desejos e outros estados mentais intencionais de senso comum evocados pela psicologia popular não podem fazer parte da ontologia de uma psicologia cientifica madura, de uma ciência madura que explica como a mente/cérebro trabalha e produz o comportamento que observamos. Portanto, os estados intencionais da psicologia de senso comum não existem (IBID.). A tese eliminativista é assim resumida por Stich: “…é difícil imaginar uma doutrina mais radical e provocativa: o que o eliminativismo afirma é que os estados intencionais, aos quais nos referimos nas nossas descrições e explicações cotidianas das vidas mentais e das ações das pessoas, são mitos. Como os deuses de Homero e as bruxas da Idade Media, os pensamentos, ou as crenças, ou os desejos, ou as esperanças, ou os medos, não existem. Estes estados putativos são as colocações mal orientadas de uma teoria seriamente errada, como o flogisto e o fluido calórico e o éter luminífero” (cf. STICH, 1994, p. 1). 33

Se este probl<strong>em</strong>a não po<strong>de</strong> ser resolvido, então ao fisicalista não<br />

resta outra coisa que rejeitar a psicologia <strong>de</strong> senso comum, isto é, o<br />

quadro <strong>de</strong> referências através do qual tentamos cotidianamente explicar<br />

as ações humanas (ou a re<strong>de</strong> das atitu<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntificadas pelo conteúdo),<br />

<strong>de</strong>vido às suas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração numa <strong>de</strong>scrição da or<strong>de</strong>m<br />

natural. A tese fisicalista po<strong>de</strong> ser resumida do seguinte modo:<br />

(1) Ou o fisicalismo po<strong>de</strong> justificar/fundamentar a concepção do mental<br />

do senso comum ou a concepção do mental do senso comum está<br />

radicalmente errada.<br />

(2) O fisicalismo não po<strong>de</strong>rá justificar/fundamentar a concepção <strong>de</strong><br />

mental do senso comum.<br />

(3) A concepção <strong>de</strong> mental do senso comum está radicalmente errada<br />

(IBID., p. 6).<br />

A pr<strong>em</strong>issa (1) é compartilhada por todo fisicalista, isto é, qualquer<br />

fisicalista consi<strong>de</strong>ra a (1) como verda<strong>de</strong>ira.<br />

Os fisicalistas <strong>de</strong>fensores do conteúdo dos estados mentais (<strong>em</strong><br />

geral, os fisicalistas redutivos) ten<strong>de</strong>m a consi<strong>de</strong>rar a (2) e a (3) como<br />

falsas. Os fisicalistas cépticos sobre a a<strong>de</strong>quação do conceito <strong>de</strong><br />

conteúdo para os estados mentais (<strong>em</strong> geral, os fisicalistas eliminativos)<br />

ten<strong>de</strong>m a assumir a (2) e a (3) como verda<strong>de</strong>iras.<br />

O fisicalismo redutivo, ou reducionismo, e o fisicalismo eliminativo,<br />

ou eliminativismo, são as duas mais importantes versões do fisicalismo<br />

que tentaram lidar com o probl<strong>em</strong>a do estatuto da concepção do mental<br />

do senso comum, e do conflito entre as leis e os conceitos da ciência<br />

física e o vocabulário das atitu<strong>de</strong>s proposicionais, que <strong>de</strong>screve a ação<br />

racional e o comportamento humano nos seus termos intencionais e<br />

s<strong>em</strong>ânticos. É importante colocar <strong>em</strong> relevo que esta classificação, que<br />

subdivi<strong>de</strong> o fisicalismo <strong>em</strong> eliminativismo e reducionismo, representa<br />

uma enorme simplificação, pois não existe, <strong>de</strong> fato, uma contraposição<br />

nítida entre a eliminação pura e simples e a redução pura e simples. O<br />

fisicalismo eliminativo e o fisicalismo redutivo como são apresentados<br />

nas próximas seções constitu<strong>em</strong> casos extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> uma complexa<br />

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