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ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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com algumas teses das Meditações Metafísicas (cf. BAKER e MORRIS,<br />

1996, p. 11). Às vezes, a paternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> noções, como a <strong>de</strong> “dualismo<br />

mente-corpo”, ou a <strong>de</strong> “reificação do mental”, a noção <strong>de</strong> que a mente é<br />

uma coisa, foi atribuída a Descartes, s<strong>em</strong> mais n<strong>em</strong> menos, como a sua<br />

marca registrada. Ele foi, geralmente, caracterizado como um partidário<br />

do “dualismo <strong>de</strong> substância”, isto é, como alguém que via o mundo<br />

como formado por uma substância física, chamada <strong>de</strong> “coisa extensa”,<br />

cujos objetos ocupam espaço e obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> a leis naturais, e uma<br />

substância mental, imaterial, chamada <strong>de</strong> “coisa pensante” (cf.<br />

DESCARTES, 1988, p. 123), regida pelas normas da razão humana,<br />

autônomas com respeito às leis que governam a natureza.<br />

No “dualismo <strong>de</strong> substância” as características do mental estão<br />

separadas das características do corpo, a mente po<strong>de</strong> existir na<br />

ausência da matéria: a substância mental e a substância física, que<br />

constitu<strong>em</strong> todo ser humano, são duas “coisas”, duas entida<strong>de</strong>s, dois<br />

gêneros ontológicos que subsist<strong>em</strong> separadamente um do outro, porém,<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po, relacionam-se entre si. O nome <strong>de</strong> Descartes foi<br />

associado, assim, à noção <strong>de</strong> interacionismo mente-corpo, ou<br />

“interacionismo cartesiano” 4 , a visão <strong>de</strong> que os eventos mentais causam<br />

eventos cerebrais, e vice-versa (cf. KIM, 1996, p. 130-132).<br />

Segundo Searle, e segundo Kim (cf. SEARLE, 1984, p. 19; KIM,<br />

1996, p. 211), no <strong>de</strong>bate atual sobre o probl<strong>em</strong>a mente-corpo, o<br />

dualismo da substância foi quase que totalmente abandonado 5 , não<br />

chamado <strong>de</strong> “individualista” (cf. BURGE, 1996, p. 311-312), e que se propõe ver os<br />

fenômenos mentais <strong>de</strong> uma pessoa somente <strong>em</strong> termos do que acontece<br />

internamente a ela, s<strong>em</strong> fazer referência alguma ao entorno físico n<strong>em</strong> ao contexto<br />

social on<strong>de</strong> os fenômenos mentais estão localizados (IBID., p. 358).<br />

4 Segundo Putnam, o interacionismo cartesiano seria um resíduo <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

doutrinas medievais, as quais pensavam a mente imaterial como agindo sobre a<br />

matéria através do espírito, que era visto como um el<strong>em</strong>ento intermediário não<br />

totalmente imaterial, uma matéria muito etérea que possibilitava a relação entre duas<br />

coisas <strong>de</strong> gênero oposto (cf. PUTNAM, 1992, p. 108-109). É neste sentido que po<strong>de</strong><br />

ser lida a teoria <strong>de</strong> Descartes <strong>de</strong> que a mente po<strong>de</strong> influenciar a matéria muito etérea<br />

da glândula pineal, uma pequena glândula endócrina que, situada quase ao centro do<br />

cérebro, intermediaria a relação entre mente e corpo: os movimentos físicos do corpo<br />

moveriam a glândula, que moveria a mente, ou alma, a qual, por sua vez, levaria a<br />

pineal a mover-se, ativando os movimentos corporais.<br />

5 As críticas contra o dualismo da substância requer<strong>em</strong> uma tratação que foge do<br />

escopo <strong>de</strong>sta dissertação. Teses <strong>de</strong> variada natureza que criticam o dualismo<br />

cartesiano foram expressas, por ex<strong>em</strong>plo, por Ryle, Rorty, Putnam, Kim, e Churchland.<br />

Segundo Ryle (cf. RYLE, 1984, p. 15), a tradição que r<strong>em</strong>ete a Descartes consi<strong>de</strong>ra a<br />

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