ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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projeto <strong>de</strong> Davidson, a idéia que o inspira <strong>de</strong> que a eficácia do<br />
pensamento e da intenção no mundo material po<strong>de</strong> conviver com a<br />
liberda<strong>de</strong> da razão com relação às leis naturais, é uma idéia que o<br />
argumento do monismo anômalo não po<strong>de</strong> suportar completamente. A<br />
crítica <strong>de</strong> Kim ao monismo anômalo evi<strong>de</strong>ncia o quanto o conceito<br />
davidsoniano <strong>de</strong> mental como irredutível às leis naturais se aproxime <strong>de</strong><br />
uma noção dualista 38 . Kim caracterizou mesmo o monismo anômalo<br />
como uma solução dualista <strong>de</strong> estilo kantiano 39 (cf. KIM, 1985, p. 385),<br />
por consi<strong>de</strong>rar que a irredutibilida<strong>de</strong> da intencionalida<strong>de</strong> às leis que<br />
governam o mundo natural torna o mental como um domínio autônomo,<br />
que<br />
respon<strong>de</strong> a princípios necessários, e estabelecidos a priori.<br />
Contudo, acredito que a herança que o nosso autor nos <strong>de</strong>ixou vai<br />
muito além da tese do monismo anômalo, no sentido <strong>de</strong> que esta tese<br />
<strong>de</strong>ve ser entendida como estando ligada ao projeto davidsoniano que<br />
consiste <strong>em</strong> construir uma teoria interpretativa da mente e da ação. A<br />
gran<strong>de</strong> contribuição <strong>de</strong> Davidson consistitu <strong>em</strong> seu esforço voltado para<br />
oferecer um quadro sist<strong>em</strong>ático no interior do qual possa ser pensada a<br />
relação causal entre as nossas crenças, <strong>de</strong>sejos, intenções, <strong>de</strong> um lado,<br />
e as<br />
nossas ações, do outro.<br />
Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, a tratação do t<strong>em</strong>a da causalida<strong>de</strong> mental implica o<br />
enfrentamento <strong>de</strong> um caminho constelado <strong>de</strong> obstáculos e complexos<br />
probl<strong>em</strong>as teóricos. Apesar disto, Davidson construiu uma refinada<br />
análise dos conceitos que são utilizados na sua teoria unificada da<br />
mente e da ação. Ele tentou mostrar que para explicar uma ação<br />
38 O monismo anômalo foi também caracterizado por Kim como uma solução muito<br />
próxima do eliminativismo (cf. KIM, 1993, p. 271), por <strong>de</strong>ixar as proprieda<strong>de</strong>s mentais<br />
causalmente e explicativamente impotentes, e <strong>em</strong> geral, s<strong>em</strong> serventia alguma.<br />
39 Não se trataria <strong>de</strong> um dualismo <strong>de</strong> tipo cartesiano, pois não precisamos<br />
necessariamente acreditar <strong>em</strong> uma “mente-substância”, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> um dualismo que vê a<br />
mente como um conjunto <strong>de</strong> estados representacionais “internos”. Po<strong>de</strong>ria tratar-se,<br />
porém, <strong>de</strong> um dualismo que concerne a existência <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s mentais, que se<br />
encontrariam além e acima das proprieda<strong>de</strong>s físicas, apesar da alegação <strong>de</strong> Davidson<br />
<strong>de</strong> que os eventos mentais são eventos físicos. Já foi dito, na terceiro capítulo da<br />
dissertação, que o próprio Davidson caracteriza o seu monismo anômalo como um<br />
dualismo epist<strong>em</strong>ológico (ou um dualismo dos modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição), combinado com<br />
um monismo ontológico. Po<strong>de</strong>ríamos pensar que se, como afirmamos, a teoria da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das ocorrências não po<strong>de</strong> permitir um elo ontológico e epist<strong>em</strong>ológico<br />
suficient<strong>em</strong>ente forte entre o mental e o físico, torna-se ainda mais evi<strong>de</strong>nte o caráter<br />
dualista do conceito <strong>de</strong> mental <strong>em</strong> Davidson.<br />
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