ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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1. O PROBLEMA MENTE-CORPO E O NATURALISMO<br />
A locução “o probl<strong>em</strong>a mente-corpo” r<strong>em</strong>ete a um conjunto <strong>de</strong><br />
questões, que concern<strong>em</strong> um grupo <strong>de</strong> noções e probl<strong>em</strong>as complexos<br />
e imbricados entre si: existe algo que po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> “mente”? O<br />
que é a mente? Quais são suas características? Como a mente po<strong>de</strong><br />
conhecer o que está <strong>em</strong> volta <strong>de</strong>la? Como ela se relaciona com o<br />
mundo material? On<strong>de</strong> os meus pensamentos, <strong>de</strong>sejos, <strong>em</strong>oções,<br />
dores, estão ocorrendo? Alguém po<strong>de</strong> observá-los? Seria a mente algo<br />
radicalmente diferente do corpo? Como os nossos estados e processos<br />
mentais se relacionam com os nossos estados e processos cerebrais?<br />
Supomos, por ex<strong>em</strong>plo, que eu esteja agora experimentando uma<br />
sensação <strong>de</strong> alegria: como esta sensação se relaciona com os<br />
processos eletroquímicos que no mesmo momento estão ocorrendo <strong>em</strong><br />
meus neurônios?<br />
Des<strong>de</strong> Descartes 2 , este probl<strong>em</strong>a foi tradicionalmente concebido<br />
como o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> como seria possível explicar a relação entre duas<br />
diferentes substâncias (cf. SEARLE, 1984, p. 19). O “dualismo da<br />
substância” sustenta a existência <strong>de</strong> duas diferentes substâncias, as<br />
substâncias mentais, que não possu<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s físicas, como<br />
massa ou localização no espaço, e as substâncias físicas, que não<br />
possu<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s mentais, como pensamentos ou experiência<br />
consciente (IBID.). Tal dualismo encontra-se <strong>em</strong> franco <strong>de</strong>sacordo com<br />
o “monismo”, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> uma única substância,<br />
po<strong>de</strong>ndo esta substância ser material (monismo materialista), ou<br />
espiritual (monismo i<strong>de</strong>alista).<br />
A expressão “dualismo cartesiano” correspon<strong>de</strong> a uma <strong>de</strong>terminada<br />
imag<strong>em</strong> da mente e da subjetivida<strong>de</strong> 3 que foi associada pela tradição<br />
2 Esta dissertação não preten<strong>de</strong> abordar a concepção da mente <strong>em</strong> Descartes, n<strong>em</strong><br />
oferecer uma reconstrução histórica das abordagens filosóficas do probl<strong>em</strong>as mentecorpo.<br />
O t<strong>em</strong>a da mente <strong>em</strong> Descartes foi <strong>de</strong>senvolvido, por ex<strong>em</strong>plo, por Frankfurt<br />
(1970), e Farkas (2008).<br />
3 Segundo Putnam, e também segundo Burge, há toda uma tradição cartesiana, que<br />
culmina com B. Russell, (cf. PUTNAM, 1992, p. 40; BURGE, 1996, p. 359), a qual<br />
confere muita importância à noção <strong>de</strong> sujeito individual que surge da indagação <strong>de</strong><br />
Descartes sobre o probl<strong>em</strong>a do conhecimento. Boa parte do trabalho filosófico sobre a<br />
mente teria sido conduzido por esta tradição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista que po<strong>de</strong> ser<br />
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