ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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predicado mental pode fazer parte de algum enunciado nomológico. Ou seja, as relações causais entre eventos mentais e físicos não estão suportadas por relações nomológicas entre propriedades. Neste sentido, desde um ponto de vista naturalista e fisicalista do mental, a leitura forte do monismo anômalo se encontra questionada. Por esta razão, talvez, no debate com Kim Davidson tenta dar um suporte à concepção extensional da relação causal, e se refere à existência de generalizações psico-físicas não estritas, que possuiriam um carater nomológico, e ajudariam a mostrar que as propriedades mentais têm uma eficácia causal. Esta, que podemos considerar uma leitura fraca do monismo anômalo, não é imune às críticas, à medida que Davidson não caracteriza de forma precisa estas generalizações psicofísicas não estritas com carater de lei, portanto não parece poder oferecer uma demonstração realmente convincente de que a existência de tais generalizações confere eficácia causal às propriedades mentais. Certamente, esta questão deveria ser aprofundada através de um estudo mais detalhado da superveniência, à qual Davidson delega, afinal, a defesa da eficácia causal das propriedades mentais, mas isto não entra no objetivo desta dissertação. Um outro ponto a ser tocado é o de que há hoje consenso geral de que o que mais encontramos na ciência são leis não estritas, cheias de excepções (cf. ANTONY, 1994, p. 226; RORTY, 1999, p, 582), e isto pode levar a crer que uma leitura fraca do monismo anômalo, a qual nega a existência somente das leis psicofísicas estritas, mas aceita a existência de leis psicofísicas não estritas, não caracteriza de forma suficientemente clara o âmbito dos conceitos mentais com respeito ao âmbito dos conceitos tratados por ciências como a química ou a biologia, e até a própria física. Neste sentido, por exemplo, podemos perguntar qual seria a função dos princípios constitutivos do mental, o holismo e a normatividade, e se eles oferecem de fato uma proteção contra o reducionismo. Não existem leis psicofísicas estritas, afirma Davidson, portanto não há reducionismo (cf DAVIDSON, 1993, p. 192). 148

Mas afirmar isto não é suficiente para evitar o reducionismo, pois hoje sabemos que as leis estritas carecem até na física. Há uma ulterior questão que acredito possa ser levantada em relação à concepção extensional da causalidade mental que Davidson quer propor. Ao tentar mostrar a imprecisão da leitura de Kim, Davidson expõe a sua própria posição a um tipo de crítica diferente daquela feita por Kim. Davidson admite que não há como não reconhecer que, se um evento pode ser chamado de “mental”, isto depende inteiramente de como o evento pode ser descrito (IBID., p. 190), pois os eventos são mentais somente enquanto descritos (IDEM, 1970b, p. 211). Isto, porém, conjuntamente à outra afirmação de Davidson de que a causalidade é uma relação que concerne os eventos extensionalmente, poderia nos levar a pensar que o fato de que um evento é um evento mental 34 , não pode fazer nenhuma diferença quanto às causas e os efeitos daquele evento. Pois, o que significa dizer que um evento “mental” é eficaz causalmente? Dizendo isto, estamos atribuindo eficácia causal ao evento mesmo, ou à sua descrição como mental? Supomos, por exemplo, estar descrevendo um evento chamado de x como “um evento mental”, pelo enunciado “x é um evento mental”. Ao afirmarmos “o evento mental x possui eficácia causal”, nós estamos atribuindo eficácia causal à descrição de x, ou a x considerado intrinsecamente? Nós podemos afirmar que o que possui eficácia causal é o evento mental x, e não a sua descrição, somente se o enunciado “x é um evento mental” remete a um contexto extensional. Se o contexto não é extensional, cabe a suspeita de que, ao dizermos que x possui eficácia causal, estamos na verdade atribuindo eficácia causal a uma descrição. Se assim fosse, poderiamos então perguntar se os eventos mentais existem realmente. Mark Johnston (cf. JOHNSTON, 1985, p. 420) e Brian McLaughlin (cf. McLAUGHLIN, 1985, p. 336) acenam a esta questão, com opiniões 34 Isto é, pode ser descrito com relatos de atitudes proposicionais que incluem verbos mentais, como crer, desejar, etc. (cf. DAVIDSON, 1970b, p. 210) 149

Mas afirmar isto não é suficiente para evitar o reducionismo, pois hoje<br />

sab<strong>em</strong>os que as leis estritas carec<strong>em</strong> até na física.<br />

Há uma ulterior questão que acredito possa ser levantada <strong>em</strong><br />

relação à concepção extensional da causalida<strong>de</strong> mental que Davidson<br />

quer propor. Ao tentar mostrar a imprecisão da leitura <strong>de</strong> Kim, Davidson<br />

expõe a sua própria posição a um tipo <strong>de</strong> crítica diferente daquela feita<br />

por Kim. Davidson admite que não há como não reconhecer que, se um<br />

evento po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> “mental”, isto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> inteiramente <strong>de</strong><br />

como o evento po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito (IBID., p. 190), pois os eventos são<br />

mentais somente enquanto <strong>de</strong>scritos (IDEM, 1970b, p. 211). Isto,<br />

porém, conjuntamente à outra afirmação <strong>de</strong> Davidson <strong>de</strong> que a<br />

causalida<strong>de</strong> é uma relação que concerne os eventos extensionalmente,<br />

po<strong>de</strong>ria nos levar a pensar que o fato <strong>de</strong> que um evento é um evento<br />

mental 34 , não po<strong>de</strong> fazer nenhuma diferença quanto às causas e os<br />

efeitos daquele evento. Pois, o que significa dizer que um evento<br />

“mental” é eficaz causalmente? Dizendo isto, estamos atribuindo<br />

eficácia causal ao evento mesmo, ou à sua <strong>de</strong>scrição como mental?<br />

Supomos, por ex<strong>em</strong>plo, estar <strong>de</strong>screvendo um evento chamado <strong>de</strong> x<br />

como “um evento mental”, pelo enunciado “x é um evento mental”. Ao<br />

afirmarmos “o evento mental x possui eficácia causal”, nós estamos<br />

atribuindo eficácia causal à <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> x, ou a x consi<strong>de</strong>rado<br />

intrinsecamente?<br />

Nós po<strong>de</strong>mos afirmar que o que possui eficácia causal é o evento<br />

mental x, e não a sua <strong>de</strong>scrição, somente se o enunciado “x é um<br />

evento mental” r<strong>em</strong>ete a um contexto extensional. Se o contexto não é<br />

extensional, cabe a suspeita <strong>de</strong> que, ao dizermos que x possui eficácia<br />

causal, estamos na verda<strong>de</strong> atribuindo eficácia causal a uma <strong>de</strong>scrição.<br />

Se assim fosse, po<strong>de</strong>riamos então perguntar se os eventos mentais<br />

exist<strong>em</strong> realmente.<br />

Mark Johnston (cf. JOHNSTON, 1985, p. 420) e Brian McLaughlin<br />

(cf. McLAUGHLIN, 1985, p. 336) acenam a esta questão, com opiniões<br />

34 Isto é, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito com relatos <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s proposicionais que inclu<strong>em</strong> verbos<br />

mentais, como crer, <strong>de</strong>sejar, etc. (cf. DAVIDSON, 1970b, p. 210)<br />

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