ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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particulares eventos neurais. Existe um leque de potenciais realizações físicas de um determinado evento mental, as quais são dadas por todos aqueles eventos neurobiológicos que podem ser supostos estar acontecendo durante o intervalo de tempo em que se dá o evento mental, por exemplo, enquanto eu noto que uma luz vermelha está piscando (cf. HORGAN & TYE, 1985, p. 435). 4.2 O DEBATE ENTRE DAVIDSON E JAEKWON KIM SOBRE A CAUSALIDADE MENTAL NO MONISMO ANÔMALO Para auxiliar na abordagem do problema da conciliação da anomalia do mental com uma concepção naturalista e fisicalista do mental, esta seção apresenta alguns aspectos 23 do debate entre Davidson e Jaekwon Kim, que expressou uma das críticas mais importantes contra o monismo anômalo. A tarefa principal que Davidson se propõe, no âmbito deste debate, é a defesa de sua tese mais famosa, a tese do monismo anômalo, da acusação de epifenomenalismo, ou seja, da alegação feita por Kim de que, no monismo anômalo, os eventos mentais não possuem eficácia causal no mundo físico. Antes de apresentar a crítica de Kim, é oportuno lembrar brevemente as diretrizes principais do monismo anômalo, como foram apresentadas no terceiro capítulo desta dissertação. O monismo anômalo é composto por três princípios. O primeiro princípio é o princípio de Interação Causal, segundo o qual pelo menos alguns eventos mentais interagem causalmente com os eventos físicos. O segundo princípio é o princípio do Caráter Nomológico da Causalidade, que afirma que, onde há uma relação causal entre eventos, deve existir uma lei estritamente determinística que os concerne. O terceiro princípio é o princípio da Anomalia do Mental, o de que o mental não está sujeito às leis da física, pois não existem leis estritas segundo as quais os eventos mentais podem ser explicados (cf. 23 A referência principal que será considerada nesta dissertação, em relação ao debate entre Davidson e Kim, é o artigo de Davidson “Thinking Causes” (DAVIDSON, 1993). 124

DAVIDSON, 1970b, p. 208). Destas três premissas, Davidson infere a verdade de uma versão da teoria da identidade (IBID., p. 209): a conclusão do argumento é a identidade das ocorrências, ou seja, os eventos mentais são idênticos a eventos físicos. Pois se, pelo terceiro princípio, o mental é anômalo, a lei estritamente determinística que concerne os eventos, ou seja, a lei mencionada no segundo princípio, pode ser somente uma lei física, que coloca em conexão tipos físicos com tipos físicos. Então, os eventos que aparecem na relação binária de causalidade são ambos físicos, sendo que instanciam uma lei física. Portanto, os eventos mentais são eventos físicos. (IBID., p. 223-224). Como foi afirmado na terceiro capítulo da dissertação, o monismo anômalo é um argumento sobre a relação mente-corpo, que defende uma posição fisicalista não-reducionista. É uma forma de monismo fisicalista, pois afirma que os eventos mentais são eventos físicos 24 . É um fisicalismo não redutivo, pois alega que o mental é anômalo, isto é, as propriedades mentais não são governadas pelas leis estritas que governam as propriedades físicas. É uma forma de fisicalismo que afirma que cada evento individual é um evento físico (cf. KIM, 2003, p. 124). Davidson adota uma ontologia mínima, baseada em eventos particulares não repetíveis, individuados por termos singulares, com coordenadas espaço-temporais (cf. DAVIDSON, 1970b, p. 209). Na sua defesa da ontologia monista e da anomalia do mental, Davidson não adota o fisicalismo baseado na identidade dos tipos, mas um fisicalismo baseado numa versão mais fraca da teoria da identidade, chamada de teoria da identidade das ocorrências (tokens), que sustenta que toda ocorrência de um evento mental é uma ocorrência de um evento físico (neural), sem exigir que os tipos dos eventos mentais correspondam a tipos de eventos físicos. Ou seja, toda vez que me encontro num determinado estado mental, este é idêntico a um estado físico (cf. KIM, 2003, p. 124), mas nada garante que o estado físico seja o mesmo em cada ocasião em que eu (ou outra pessoa) esteja naquele mesmo estado mental. Isto é um pouco como descrever o mesmo objeto, ao 24 Todo evento que é subsumido por um tipo mental, isto é, que tem uma descrição psicológica, cai também debaixo de um tipo físico, isto é, tem uma descrição física. 125

particulares eventos neurais. Existe um leque <strong>de</strong> potenciais realizações<br />

físicas <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado evento mental, as quais são dadas por todos<br />

aqueles eventos neurobiológicos que po<strong>de</strong>m ser supostos estar<br />

acontecendo durante o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se dá o evento<br />

mental, por ex<strong>em</strong>plo, enquanto eu noto que uma luz vermelha está<br />

piscando (cf. HORGAN & TYE, 1985, p. 435).<br />

4.2 O DEBATE ENTRE DAVIDSON E JAEKWON KIM SOBRE A<br />

CAUSALIDADE MENTAL NO MONISMO ANÔMALO<br />

Para auxiliar na abordag<strong>em</strong> do probl<strong>em</strong>a da conciliação da anomalia<br />

do mental com uma concepção naturalista e fisicalista do mental, esta<br />

seção apresenta alguns aspectos 23 do <strong>de</strong>bate entre Davidson e<br />

Jaekwon Kim, que expressou uma das críticas mais importantes contra<br />

o monismo anômalo. A tarefa principal que Davidson se propõe, no<br />

âmbito <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>bate, é a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> sua tese mais famosa, a tese do<br />

monismo anômalo, da acusação <strong>de</strong> epifenomenalismo, ou seja, da<br />

alegação feita por Kim <strong>de</strong> que, no monismo anômalo, os eventos<br />

mentais não possu<strong>em</strong> eficácia causal no mundo físico.<br />

Antes <strong>de</strong> apresentar a crítica <strong>de</strong> Kim, é oportuno l<strong>em</strong>brar brev<strong>em</strong>ente<br />

as diretrizes principais do monismo anômalo, como foram apresentadas<br />

no terceiro capítulo <strong>de</strong>sta dissertação.<br />

O monismo anômalo é composto por três princípios. O primeiro<br />

princípio é o princípio <strong>de</strong> Interação Causal, segundo o qual pelo menos<br />

alguns eventos mentais interag<strong>em</strong> causalmente com os eventos físicos.<br />

O segundo princípio é o princípio do Caráter Nomológico da<br />

Causalida<strong>de</strong>, que afirma que, on<strong>de</strong> há uma relação causal entre<br />

eventos, <strong>de</strong>ve existir uma lei estritamente <strong>de</strong>terminística que os<br />

concerne. O terceiro princípio é o princípio da Anomalia do Mental, o <strong>de</strong><br />

que o mental não está sujeito às leis da física, pois não exist<strong>em</strong> leis<br />

estritas segundo as quais os eventos mentais po<strong>de</strong>m ser explicados (cf.<br />

23 A referência principal que será consi<strong>de</strong>rada nesta dissertação, <strong>em</strong> relação ao <strong>de</strong>bate<br />

entre Davidson e Kim, é o artigo <strong>de</strong> Davidson “Thinking Causes” (DAVIDSON, 1993).<br />

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