ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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evento que descrevemos como uma ação é causado por uma razão. No nível dos fenômenos físicos, o mesmo evento, descrito diferentemente, é causado por um conjunto de fatores completamente diferentes. Mas, afirma Davidson, as relações causais subsistem entre os eventos não importa como descritos. Então, um e um único evento, seja este descrito como mental ou como físico, terá as mesmas causas, sejam elas descritas como razões ou como estados ou eventos físicos. Não há, segundo Davidson, um dualismo de fatores causais, de sistemas causais, ou de tipos de causação. Nem há razão de supor, em base ao dualismo das descrições, que existam dois tipos de lei. Se a causa b, algumas descrições de a e b exemplificam uma lei causal estrita. Mas a lei não é nunca uma lei psicofísica, nem pode ser puramente psicológica, pois o mental não constitui um sistema fechado (IBID., p. 243). A resposta de Davidson não dissipa os questionamentos. Para Davidson, no plano epistemológico, uma explicação causal-racional que faz uso de descrições de eventos em termos mentais é bem diferente de uma explicação causal na ciencia física, que tenta expressar regularidades nomológicas dos fenômenos naturais. Porém, no plano ontológico, há uma relação de causalidade que liga os eventos mentais com os os eventos físicos. Mas, desde um ponto de vista naturalista e fisicalista do mental, cabe perguntar se, e como, estes dois níveis de explicação, o epistemológico e o ontológico, podem ser harmonizados. Para ajudar a abordar esta questão, a seção 4.2 apresenta um fragmento do debate entre Davidson e Jaekwon Kim, que afirmou que no monismo anômalo o mental é um epifenomeno, isto é, não possui eficácia causal. Preliminarmente, na seção 4.1, é brevemente apresentado um panorama das críticas que, no âmbito da visão naturalista e fisicalista do mental, foram dirigidas ao monismo anômalo. 118

4.1 A CRÍTICA AO MONISMO ANÔMALO: UM BREVE PANORAMA 4.1.1 Uma crítica ao argumento de Davidson Michael Antony afirma que o monismo defendido por Davidson é extremamente fraco, chegando a ser consistente com algumas formas de dualismo. Antony acredita, inclusive, haver um problema com relação ao argumento que Davidson desenvolve para defender seu monismo anômalo (cf. ANTONY, 2003, p. 2). Segundo Antony, o princípio da anomalia do mental, que afirma que não existem leis estritas na base das quais os eventos mentais podem ser previstos e explicados, não pode levar ao monismo, apesar de Davidson alegar o contrário. Outras suposições de Davidson levam para o monismo, mas independentemente do princípio da anomalia do mental. O caminho para o monismo através destas suposições é muito direto, mas as suposições são insuficientemente defendidas (IBID.). A estrategia de Davidson é a de tentar mostrar que existe alguma lei estrita que governa qualquer evento mental m que interage causalmente com qualquer evento físico p. Uma vez que ele supõe que um evento governado por uma lei estrita possui uma descrição física (cf, DAVIDSON, 1970b, 211, 224), e que um evento que possui uma descrição física é um evento fisico, segue-se que m é um evento fisico (cf. ANTONY, 2003, p. 3). O procedimento através do qual Davidson quer mostrar que a lei que governa m e p é uma lei estrita é o seguinte: pelo princípio de causalidade, m e p estão causalmente relacionados, então, pelo princípio do caráter nomológico da causalidade, segue-se que alguma lei estrita deve governar o caso em questão (IBID.). Davidson, através de um raciocínio que procede por via eliminativa, conclui que esta lei estrita pode ser somente física: desde que, pelo princípio da anomalia do mental, não existem leis estritas psico-físicas, esta lei deve ser uma lei física (cf DAVIDSON, 1970b, p. 224). Porém, esta inferência, segundo Antony, é muito precipitada (cf. ANTONY, 2003, p. 3): por que supor que a única alternativa às leis psico-físicas 119

evento que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os como uma ação é causado por uma razão. No<br />

nível dos fenômenos físicos, o mesmo evento, <strong>de</strong>scrito diferent<strong>em</strong>ente,<br />

é causado por um conjunto <strong>de</strong> fatores completamente diferentes. Mas,<br />

afirma Davidson, as relações causais subsist<strong>em</strong> entre os eventos não<br />

importa como <strong>de</strong>scritos. Então, um e um único evento, seja este <strong>de</strong>scrito<br />

como mental ou como físico, terá as mesmas causas, sejam elas<br />

<strong>de</strong>scritas como razões ou como estados ou eventos físicos. Não há,<br />

segundo Davidson, um dualismo <strong>de</strong> fatores causais, <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<br />

causais, ou <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> causação. N<strong>em</strong> há razão <strong>de</strong> supor, <strong>em</strong> base ao<br />

dualismo das <strong>de</strong>scrições, que existam dois tipos <strong>de</strong> lei. Se a causa b,<br />

algumas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> a e b ex<strong>em</strong>plificam uma lei causal estrita. Mas a<br />

lei não é nunca uma lei psicofísica, n<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser puramente<br />

psicológica, pois o mental não constitui um sist<strong>em</strong>a fechado (IBID., p.<br />

243).<br />

A resposta <strong>de</strong> Davidson não dissipa os questionamentos. Para<br />

Davidson, no plano epist<strong>em</strong>ológico, uma explicação causal-racional que<br />

faz uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> eventos <strong>em</strong> termos mentais é b<strong>em</strong> diferente <strong>de</strong><br />

uma explicação causal na ciencia física, que tenta expressar<br />

regularida<strong>de</strong>s nomológicas dos fenômenos naturais. Porém, no plano<br />

ontológico, há uma relação <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> que liga os eventos mentais<br />

com os os eventos físicos.<br />

Mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista naturalista e fisicalista do mental,<br />

cabe perguntar se, e como, estes dois níveis <strong>de</strong> explicação, o<br />

epist<strong>em</strong>ológico e o ontológico, po<strong>de</strong>m ser harmonizados. Para ajudar a<br />

abordar esta questão, a seção 4.2 apresenta um fragmento do <strong>de</strong>bate<br />

entre Davidson e Jaekwon Kim, que afirmou que no monismo anômalo o<br />

mental é um epifenomeno, isto é, não possui eficácia causal.<br />

Preliminarmente, na seção 4.1, é brev<strong>em</strong>ente apresentado um<br />

panorama das críticas que, no âmbito da visão naturalista e fisicalista do<br />

mental, foram dirigidas ao monismo anômalo.<br />

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