ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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12.04.2013 Views

podemos compreender um particular enunciado sem conhecer o papel que as palavras que o compõem jogam em outros possíveis enunciados da língua. Para interpretarmos um ato lingüístico singular, temos que compreender as disposições não atuadas do falante para outros atos lingüísticos (IBID., p. 255). A descrição física da disposição complexa da capacidade lingüística de Art é a de um estado, um mecanismo efetivo, que atua em seu cérebro. Porém, mesmo que conseguíssemos identificar e descrever em detalhe o mecanismo físico que atua quando Art emite um certo enunciado, não teríamos ainda uma correlação em forma de lei estrita entre o mecanismo físico e o comportamento lingüístico. Um ato lingüístico singular deve ser interpretado no quadro de uma teoria da linguagem do falante, a qual nos diz as condições de verdade de cada enunciado entre um número infinito de enunciados que o falante poderia pronunciar. Estas condições são relativas ao tempo e às circunstâncias da proferência. Na elaboração desta teoria, não é possível apreender os significados das palavras um por um, para depois coligar-los através de determinadas regras. Começamos com o inferir uma inteira estrutura: é a partir da inteira estrutura da linguagem de alguém que passamos a inferir, ou inventar, os significados dos enunciados utilizados. Os significados são construtos arbitrários, constituem o aspecto operativo da estrutura, são uma nossa construção. Esta indeterminação da tradução não representa um insucesso da interpretação, mas é análoga à arbitrariedade da escolha de uma unidade de medida (IBID., p. 256-257). Os enunciados que um falante acredita verdadeiros são determinados por aquilo que ele quer dizer com suas palavras e por aquilo que ele crê sobre o mundo. Não é possível reconstruir a crença e o significado univocamente, a partir do comportamento lingüístico. A interpretação é uma construção que pode proceder pois podemos aceitar uma qualquer entre um certo número de teorias sobre o que alguém quer dizer (IBID., p. 257). Esta construção deve ser holística: o que deve ser interpretado é a inteira estrutura. Por esta razão, não é possível localizar os “correlatos físicos do significado”, não podemos 114

associar alguma parte fixa do cérebro de Art com os critérios do uso de uma palavra. Depois de ter desmontado a máquina, poderíamos somente dizer o que a máquina faria em circunstâncias determinadas, mas não poderíamos determinar uma lei rígida para o seu comportamento. É preciso interpretar a estrutura global do comportamento de Art, atribuindo a priori um amplo grau de coerência e racionalidade. Sem esta atribuição não poderíamos atribuir algum significado. É preciso, também, assumir uma estrutura de crenças e desejos que esteja em concordância com a nossa, para ter uma base para interpretar os desacordos. Todas estas condições não podem ser formuladas num vocabulário puramente físico, então a psicologia não pode ser reduzida às ciências físicas. Os argumentos de Davidson de que a psicologia não pode ser uma ciência são limitados às áreas da psicologia que se referem a atitudes proposicionais, ou seja, a estados e eventos mentais que exibem o caráter da intencionalidade. Além disso, Davidson afirma, cautelosamente, que “seria desonesto resumir estas observações dizendo que a psicologia (a parte da qual nos estamos ocupando) não é uma ciência; a conclusão é mais no sentido de que a psicologia se distingue das outras ciências de um modo importante e interessante” (IDEM, 1974, p. 241). Davidson, ao colocar a psicologia num plano bem diferente de todas aquelas ciências que tomam como modelo a ciência física, parece pelo menos querer conceder à psicologia a qualificação de “ciência” como título honorífico. 115

po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r um particular enunciado s<strong>em</strong> conhecer o papel<br />

que as palavras que o compõ<strong>em</strong> jogam <strong>em</strong> outros possíveis enunciados<br />

da língua. Para interpretarmos um ato lingüístico singular, t<strong>em</strong>os que<br />

compreen<strong>de</strong>r as disposições não atuadas do falante para outros atos<br />

lingüísticos (IBID., p. 255).<br />

A <strong>de</strong>scrição física da disposição complexa da capacida<strong>de</strong> lingüística<br />

<strong>de</strong> Art é a <strong>de</strong> um estado, um mecanismo efetivo, que atua <strong>em</strong> seu<br />

cérebro. Porém, mesmo que conseguíss<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>screver <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>talhe o mecanismo físico que atua quando Art <strong>em</strong>ite um certo<br />

enunciado, não teríamos ainda uma correlação <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> lei estrita<br />

entre o mecanismo físico e o comportamento lingüístico.<br />

Um ato lingüístico singular <strong>de</strong>ve ser interpretado no quadro <strong>de</strong> uma<br />

teoria da linguag<strong>em</strong> do falante, a qual nos diz as condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cada enunciado entre um número infinito <strong>de</strong> enunciados que o<br />

falante po<strong>de</strong>ria pronunciar. Estas condições são relativas ao t<strong>em</strong>po e às<br />

circunstâncias da proferência. Na elaboração <strong>de</strong>sta teoria, não é<br />

possível apreen<strong>de</strong>r os significados das palavras um por um, para <strong>de</strong>pois<br />

coligar-los através <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas regras. Começamos com o inferir<br />

uma inteira estrutura: é a partir da inteira estrutura da linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

alguém que passamos a inferir, ou inventar, os significados dos<br />

enunciados utilizados. Os significados são construtos arbitrários,<br />

constitu<strong>em</strong> o aspecto operativo da estrutura, são uma nossa construção.<br />

Esta in<strong>de</strong>terminação da tradução não representa um insucesso da<br />

interpretação, mas é análoga à arbitrarieda<strong>de</strong> da escolha <strong>de</strong> uma<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida (IBID., p. 256-257). Os enunciados que um falante<br />

acredita verda<strong>de</strong>iros são <strong>de</strong>terminados por aquilo que ele quer dizer<br />

com suas palavras e por aquilo que ele crê sobre o mundo. Não é<br />

possível reconstruir a crença e o significado univocamente, a partir do<br />

comportamento lingüístico.<br />

A interpretação é uma construção que po<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r pois po<strong>de</strong>mos<br />

aceitar uma qualquer entre um certo número <strong>de</strong> teorias sobre o que<br />

alguém quer dizer (IBID., p. 257). Esta construção <strong>de</strong>ve ser holística: o<br />

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