ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...
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Este resultado mostra como é fácil interpretar o comportamento <strong>de</strong><br />
escolha <strong>de</strong> forma a atribuir-lhe um padrão consistente e racional. Se<br />
quisermos <strong>de</strong>screver os comportamentos, t<strong>em</strong>os que pressupor um alto<br />
grau <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> e coerência na estrutura do comportamento<br />
humano, das crenças, dos <strong>de</strong>sejos (IBID., p. 237).<br />
Uma outra consi<strong>de</strong>ração, que não é marginal, é a <strong>de</strong> que, ao<br />
atribuirmos crenças e <strong>de</strong>sejos, utilizamos todas as subtis distinções<br />
disponíveis na linguag<strong>em</strong>. Neste sentido, atribuir uma crença é um<br />
probl<strong>em</strong>a idêntico ao da interpretação do discurso <strong>de</strong> alguém. O<br />
probl<strong>em</strong>a da interpretação do comportamento lingüístico é um probl<strong>em</strong>a<br />
análogo ao probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Ramsey na teoria da <strong>de</strong>cisão. Na teoria da<br />
<strong>de</strong>cisão não po<strong>de</strong>mos inferir das escolhas as crenças e os <strong>de</strong>sejos a<br />
não ser simultaneamente. Analogamente, na interpretação do<br />
comportamento lingüístico se trata <strong>de</strong> inferir cont<strong>em</strong>poraneamente o<br />
significado e as crenças. Ou seja, para interpretar o discurso <strong>de</strong> alguém,<br />
t<strong>em</strong>os que po<strong>de</strong>r saber quando ele acha verda<strong>de</strong>iro um enunciado que<br />
pronuncia. Os enunciados são tidos como verda<strong>de</strong>iros <strong>em</strong> parte por<br />
causa do que o falante quer dizer com suas palavras, ou seja, por causa<br />
<strong>de</strong> seu significado, <strong>em</strong> parte por causa do que ele crê. Portanto, para<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cidir sobre o significado <strong>de</strong> um discurso, t<strong>em</strong>os que construir,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po, uma teoria sobre as crenças da pessoa que o<br />
pronuncia (IBID., p. 238).<br />
Ao elaborarmos uma teoria sobre as crenças do falante t<strong>em</strong>os que<br />
seguir uma estratégia fundamental, que consiste <strong>em</strong> assumir que um<br />
falante que ainda não compreen<strong>de</strong>mos é <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte coerente nas<br />
suas crenças. Somente seguindo esta estratégia torna-se possível<br />
acoplar enunciados do falante com enunciados nossos. É importante,<br />
então, ao fazermos uma interpretação, refletir sobre a inutilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rar as palavras e os enunciados do falante um por um, <strong>de</strong> tomálos<br />
isoladamente, abstraídos da estrutura das crenças, <strong>de</strong>sejos,<br />
intenções do falante. Esta estratégia, aplicada <strong>de</strong> forma sist<strong>em</strong>ática,<br />
torna-se um método <strong>de</strong> tradução. Não po<strong>de</strong>mos dar um sentido aos<br />
erros s<strong>em</strong> ter estabelecido uma base <strong>de</strong> concordância. Compreen<strong>de</strong>r<br />
uma língua significa traduzi-la no nosso sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> conceitos. O mesmo<br />
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