ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ... ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

12.04.2013 Views

teoria das decisões, que é o conjunto das teorias matemáticas, lógicas e filosóficas que governam o processo de tomada de decisão por indivíduos racionais. Se alguém crê que sua reserva de água foi envenenada, por exemplo, resiste ao impulso de beber, mesmo estando com muita sede. Se alguém quer muito comprar um título acionário cujo valor ele acha que vai subir, mas deseja também comprar um apartamento, pode decidir não comprar a ação para guardar o dinheiro para o apartamento. O fato de que a melhor prova dos desejos e das crenças é a ação, sugere uma possibilidade para a elaboração de uma teoria que concerne diretamente as relações entre as ações e que trata os desejos e as crenças como construtos teóricos (IBID.). Frank Ramsey, nos anos vinte, foi o primeiro estudioso que fez uso destas conexões para elaborar uma teoria subjetiva da probabilidade, ou seja, uma teoria probabilística para explicar as nossas ações em função de nossos desejos e crenças. Ele viu que os nossos níveis de crença para com as proposições estão conexos com algumas nossas ações, por exemplos, com as nossas apostas. Por exemplo, se crermos verossímil que um cavalo possa ganhar, ou seja, se a nossa probabilidade pessoal de que este cavalo ganhe for elevada, provavelmente aceitaremos uma aposta, mesmo desvantajosa. Se identificarmos as nossas probabilidades pessoais com as razões de aposta que temos intenção de aceitar, então será possível medi-las. É possível apostar não somente sobre o êxito de eventos como corridas, mas também sobre a verdade de proposições, como “Ribot ganhou a corrida”. É possível fixar as razões de aposta de um determinado numero de proposições: as minhas razões de aposta são atribuições de probabilidade para aquelas proposições. Davidson lembra que Ramsey, considerando que a melhor prova dos desejos e das crenças é a ação, propôs esta sofisticada teoria que concerne as relações entre as ações, considerando como construtos teóricos os desejos e os pensamentos. O procedimento experimental de Ramsey tem o objetivo de abstrair simultaneamente, dos comportamentos de escolha dos indivíduos, os dois fatores dos quais estes comportamentos são resultantes: o grau de crença num determinado resultado (a probabilidade subjetiva do evento, 108

que determina as razões de aposta que o individuo estará disposto a aceitar), e o valor (por exemplo, o valor em dólar) atribuído ao mesmo (intensidade do desejo) (IBID.). A vantagem desta teoria é a de postular uma estrutura de comportamento (uma rede de fatores cognitivos) da qual seja possível inferir crenças e desejos, abandonando a tentativa de querer explicar as ações isoladamente, uma de cada vez: “isto elimina a possibilidade de estabelecer a existência de crenças e atitudes separadamente do comportamento, e, ao mesmo tempo, leva sistematicamente em consideração toda a rede dos fatores cognitivos e motivacionais relevantes” (IBID., p. 235). Esta teoria atribui números para medir os graus de crença e desejo, coisa imprescindível se deve estar apta à previsão, todavia o faz com base de provas puramente qualitativas, como preferências ou escolhas entre alternativas. Segundo Davidson, porém, não podemos colocar esta teoria da decisão no mesmo plano de uma teoria física, pois é estática, não tem algum poder de previsão, devido ao fato de que as crenças e os valores mudam no tempo. Para testar empiricamente a validade da teoria de Ramsey, Davidson elaborou um experimento no qual os sujeitos faziam todas as possíveis escolhas dentro de um campo de alternativas binárias, em que, durante sessões sucessivas, o mesmo conjunto de opções era a eles apresentado repetidamente, sem possibilidade de aprendizagem e sem condicionamento (as alternativas mascaravam a repetição, e os prêmios eram dados no final do experimento). Davidson observou que, com o passar do tempo, as pessoas tornavam-se sempre mais coerentes, sendo que as escolhas irracionais ou intransitivas (quando, por exemplo, o sujeito tinha antes escolhido A sobre B, B sobre C, e C sobre A) eram corrigidas sucessivamente (IBID., p. 235-236). Então, a teoria de Ramsey não oferece as condições para gerar previsões exatas: pois o simples fato de operar uma escolha altera as escolhas futuras. Mas o resultado mais importante, segundo Davidson, de seu experimento, foi o de que a freqüência das escolhas provou uma disposição coerente subjacente, presente nos sujeitos desde o princípio. 109

teoria das <strong>de</strong>cisões, que é o conjunto das teorias mat<strong>em</strong>áticas, lógicas e<br />

filosóficas que governam o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão por<br />

indivíduos racionais. Se alguém crê que sua reserva <strong>de</strong> água foi<br />

envenenada, por ex<strong>em</strong>plo, resiste ao impulso <strong>de</strong> beber, mesmo estando<br />

com muita se<strong>de</strong>. Se alguém quer muito comprar um título acionário cujo<br />

valor ele acha que vai subir, mas <strong>de</strong>seja também comprar um<br />

apartamento, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir não comprar a ação para guardar o dinheiro<br />

para o apartamento. O fato <strong>de</strong> que a melhor prova dos <strong>de</strong>sejos e das<br />

crenças é a ação, sugere uma possibilida<strong>de</strong> para a elaboração <strong>de</strong> uma<br />

teoria que concerne diretamente as relações entre as ações e que trata<br />

os <strong>de</strong>sejos e as crenças como construtos teóricos (IBID.).<br />

Frank Ramsey, nos anos vinte, foi o primeiro estudioso que fez uso<br />

<strong>de</strong>stas conexões para elaborar uma teoria subjetiva da probabilida<strong>de</strong>,<br />

ou seja, uma teoria probabilística para explicar as nossas ações <strong>em</strong><br />

função <strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>sejos e crenças. Ele viu que os nossos níveis <strong>de</strong><br />

crença para com as proposições estão conexos com algumas nossas<br />

ações, por ex<strong>em</strong>plos, com as nossas apostas. Por ex<strong>em</strong>plo, se crermos<br />

verossímil que um cavalo possa ganhar, ou seja, se a nossa<br />

probabilida<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> que este cavalo ganhe for elevada,<br />

provavelmente aceitar<strong>em</strong>os uma aposta, mesmo <strong>de</strong>svantajosa. Se<br />

i<strong>de</strong>ntificarmos as nossas probabilida<strong>de</strong>s pessoais com as razões <strong>de</strong><br />

aposta que t<strong>em</strong>os intenção <strong>de</strong> aceitar, então será possível medi-las. É<br />

possível apostar não somente sobre o êxito <strong>de</strong> eventos como corridas,<br />

mas também sobre a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> proposições, como “Ribot ganhou a<br />

corrida”. É possível fixar as razões <strong>de</strong> aposta <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

numero <strong>de</strong> proposições: as minhas razões <strong>de</strong> aposta são atribuições <strong>de</strong><br />

probabilida<strong>de</strong> para aquelas proposições. Davidson l<strong>em</strong>bra que Ramsey,<br />

consi<strong>de</strong>rando que a melhor prova dos <strong>de</strong>sejos e das crenças é a ação,<br />

propôs esta sofisticada teoria que concerne as relações entre as ações,<br />

consi<strong>de</strong>rando como construtos teóricos os <strong>de</strong>sejos e os pensamentos. O<br />

procedimento experimental <strong>de</strong> Ramsey t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> abstrair<br />

simultaneamente, dos comportamentos <strong>de</strong> escolha dos indivíduos, os<br />

dois fatores dos quais estes comportamentos são resultantes: o grau <strong>de</strong><br />

crença num <strong>de</strong>terminado resultado (a probabilida<strong>de</strong> subjetiva do evento,<br />

108

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!