ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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mesmo que os mesmos eventos, descritos em termos físicos, possam ser explicados e previstos enquanto fenómenos físicos. Então, o desenvolvimento das ciências sociais não poderia ser paralelo ao das ciências físicas: “ao atribuirmos uma crença, um desejo, uma intenção a um agente, estamos operando num sistema de conceitos determinados em parte pela estrutura de crenças e desejos do agente” (IBID.). Para podermos construir uma teoria do comportamento é preciso deduzir o sistema das crenças e das razões do agente, e para fazer isto é preciso pressupor condições gerais de racionalidade e coerência, condições que não possuem eco na teoria física. O nosso esquema de senso comum para descrever e explicar uma ação está apoiado no fato de que é preciso chamar em causa as razões, as crenças, os desejos, os valores, do agente. Mas, na dedução destes estados mentais dos elementos que possuímos, temos que impor, necessariamente, condições de holismo e normatividade. Isto quer dizer que toda tentativa de melhorar o poder de previsão de uma teoria do comportamento comporta levar em conta sempre ulteriores crenças, intenções, desejos do agente, ao infinito. Então, não é possível determinar condições que sejam não só necessárias mas que sejam também suficientes para o agir na base de uma razão, pois não temos a possibilidade de determinar com antecipação as condições do agir humano (IBID., p. 231-232). Para que um desejo ou uma crença expliquem uma ação de forma estritamente nomológica, é preciso descrever apropriadamente o processo causal que leva à ação, e isto não pode ser feito sem considerar elementos de juízo contrastantes e desejos contrastantes, nem sem um cálculo quantitativo que possa incluir todas as crenças e os desejos relevantes. Fazer isto é impossível: não se pode aperfeiçoar o simples esquema explicativo transformando-o num tal cálculo. Para Davidson, “o que nos impede de dar condições necessárias e suficientes para o agir em base a uma razão, nos impede, também, de enunciar leis confiáveis que coloquem em conexão razões e ações...” (IBID., p. 233). A maioria das vezes, nem existe a possibilidade de determinar as condições suficientes, ou seja, de poder afirmar que toda 106

vez que um homem possui estas e aquelas crenças e estes e aqueles desejos e se encontram satisfeitas estas e aquelas condições suplementares, ele vai agir desta ou da outra forma (IBID.). Não há uma lei estrita deste tipo. A afirmação citada não poderia ser nada mais que uma mera generalização estatística, e uma generalização estatística não nos consente de determinar com antecipação e com precisão quando as condições de aplicação estão, ou não, satisfeitas. O que parece ser central na argumentação de Davidson, é o fato de que “duas idéias estão embutidas no conceito de agir com base em uma razão (e, então, o conceito de comportamento em geral): a idéia de causa e a idéia de racionalidade. Uma razão é uma causa racional” (IBID.). Em que sentido a idéia de racionalidade e a idéia de causa estariam embutidas na explicação racional da ação, e na explicação do comportamento em geral? Para Davidson, a causa deve ser uma crença e um desejo à luz dos quais a ação é razoável, sendo que “o modo em que a crença e o desejo trabalham para causar a ação deve encontrar ulteriores, e não especificadas, condições” (IBID.). Ou seja, a explicação através das razões não enfrenta a complexidade dos fatores causais, pois isola somente um fator, não existindo, na teoria, um critério relativo à subsistência das condições antecedentes. Esta forma de explicação tem uma vantagem: podemos explicar o comportamento sem ter que saber muitas coisas sobre sua causa. E uma desvantagem: não é uma forma de explicação científica. É possível, em psicologia, evitar este problema pela substituição de crenças e desejos por eventos observáveis de forma mais direta, supostos causar os desejos e as crenças, como por exemplo luzes intermitentes, reforços e punições, privações, mandos, intenções? Uma tal teoria da ação e do comportamento não pode, segundo Davidson, explicar o comportamento complexo, pois, para este fim, é preciso reconstruir a rede dos pensamentos e das emoções do agente (IBID., p. 234). A conexão holística entre crenças, desejos, e ação, é bem conhecida pelos psicólogos, pelos economistas, e, em geral, pelos estudiosos da 107

vez que um hom<strong>em</strong> possui estas e aquelas crenças e estes e aqueles<br />

<strong>de</strong>sejos e se encontram satisfeitas estas e aquelas condições<br />

supl<strong>em</strong>entares, ele vai agir <strong>de</strong>sta ou da outra forma (IBID.). Não há uma<br />

lei estrita <strong>de</strong>ste tipo. A afirmação citada não po<strong>de</strong>ria ser nada mais que<br />

uma mera generalização estatística, e uma generalização estatística<br />

não nos consente <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar com antecipação e com precisão<br />

quando as condições <strong>de</strong> aplicação estão, ou não, satisfeitas.<br />

O que parece ser central na argumentação <strong>de</strong> Davidson, é o fato <strong>de</strong><br />

que “duas idéias estão <strong>em</strong>butidas no conceito <strong>de</strong> agir com base <strong>em</strong> uma<br />

razão (e, então, o conceito <strong>de</strong> comportamento <strong>em</strong> geral): a idéia <strong>de</strong><br />

causa e a idéia <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong>. Uma razão é uma causa racional”<br />

(IBID.).<br />

Em que sentido a idéia <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong> e a idéia <strong>de</strong> causa estariam<br />

<strong>em</strong>butidas na explicação racional da ação, e na explicação do<br />

comportamento <strong>em</strong> geral? Para Davidson, a causa <strong>de</strong>ve ser uma crença<br />

e um <strong>de</strong>sejo à luz dos quais a ação é razoável, sendo que “o modo <strong>em</strong><br />

que a crença e o <strong>de</strong>sejo trabalham para causar a ação <strong>de</strong>ve encontrar<br />

ulteriores, e não especificadas, condições” (IBID.). Ou seja, a explicação<br />

através das razões não enfrenta a complexida<strong>de</strong> dos fatores causais,<br />

pois isola somente um fator, não existindo, na teoria, um critério relativo<br />

à subsistência das condições antece<strong>de</strong>ntes. Esta forma <strong>de</strong> explicação<br />

t<strong>em</strong> uma vantag<strong>em</strong>: po<strong>de</strong>mos explicar o comportamento s<strong>em</strong> ter que<br />

saber muitas coisas sobre sua causa. E uma <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong>: não é uma<br />

forma <strong>de</strong> explicação científica.<br />

É possível, <strong>em</strong> psicologia, evitar este probl<strong>em</strong>a pela substituição <strong>de</strong><br />

crenças e <strong>de</strong>sejos por eventos observáveis <strong>de</strong> forma mais direta,<br />

supostos causar os <strong>de</strong>sejos e as crenças, como por ex<strong>em</strong>plo luzes<br />

intermitentes, reforços e punições, privações, mandos, intenções? Uma<br />

tal teoria da ação e do comportamento não po<strong>de</strong>, segundo Davidson,<br />

explicar o comportamento complexo, pois, para este fim, é preciso<br />

reconstruir a re<strong>de</strong> dos pensamentos e das <strong>em</strong>oções do agente (IBID., p.<br />

234).<br />

A conexão holística entre crenças, <strong>de</strong>sejos, e ação, é b<strong>em</strong> conhecida<br />

pelos psicólogos, pelos economistas, e, <strong>em</strong> geral, pelos estudiosos da<br />

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