ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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alguém, há três tarefas que temos que cumprir: atribuir a ele estados mentais, atribuir significados às suas produções lingüísticas, e dizer quais ações ele está executando (cf. EVNINE, 1991, p. 39). Dizer quais ações alguém está executando é o que mais está diretamente conexo com os dados empíricos sobre os quais nossa interpretação está baseada. Então, se os significados, os estados mentais e a ação estão inter-relacionados numa rede holística, è a ação que, num certo sentido, providencia os meios de entrada na rede (IBID., p. 40). 3.3 A PSICOLOGIA NÃO É UMA CIÊNCIA O critério do mental é o dicionário das atitudes proposicionais, cujo conteúdo deriva do lugar que ocupam na estrutura dos desejos, crenças e ações. Não poderiamos decodificar o que alguém diz sem compreender suas atitudes com relação ao complexo de seus próprios enunciados. O caráter anomológico das generalizações do mental para o físico é uma razão decisiva, segundo Davidson, para fazer-nos abandonar a tentativa de definir explicitamente conceitos mentais em termos de conceitos comportamentais. As crenças e os desejos se manifestam no comportamento somente enquanto modificados e mediados por outra crenças e desejos, sem limite. A anomalia do mental è, então, uma condição necessária para conceber a autonomia da ação intencional, conjuntamente à sua eficácia no mundo físico: “Se um evento causa outro, há uma lei estrita da qual tais eventos, se oportunamente descritos, são exemplos. Porém, é possível (e típico) conhecer a relacão causal singular sem conhecer a lei ou as descrições relevantes. O conhecimento requer razões, e as razões estão disponíveis sob a forma de generalizações heteronómicas aproximativas, que possuem caráter nómico enquanto suas ocorrências tornam razoável esperar por outras ocorrências concordantes, mas que não são nómicas no sentido de ser aperfeiçoáveis indefinidamente. Aplicando este fato ao conhecimento de identidades, vemos que é possível saber que um evento mental é idêntico a algum evento físico sem sabermos qual (no sentido de que não podemos dar dele uma unívoca descrição física que o faça recair sob uma lei estrita). Mesmo se alguém soubesse toda a história física do mundo, e cada evento mental fosse idêntico a um evento físico, não seguiria que ele poderia prever ou explicar nem um único evento mental (assim descrito, naturalmente)” (DAVIDSON, 1970b, p. 224). Se não é possível explicar e prever o comportamento humano como fazemos com os fenômenos físicos, a explicação da ação racional não é 104

uma tarefa da qual a Psicologia Experimental pode completamente dar conta. Se os fenómenos psicológicos não constituem um sistema fechado, se as generalizações que os subsumem podem ser unicamente generalizações heteronómicas, e se comportamento humano é fundamentalmente intencional, como a Psicologia pode justificar sua pretensão de reconduzir as ações humanas a previsões precisas ou leis estritas? Segundo Davidson, as condições de coerência geral e coesão racional que orientam a explicação e interpretação dos eventos mentais, orientam também a explicação do comportamento lingüístico e do comportamento em geral. Se quisermos atribuir, de um modo compreensível, crenças, desejos, intenções e atitudes, não podemos não supor um alto grau de racionalidade e coerência na estrutura do comportamento, da crença, do desejo. Mesmo que a ação intencional não esgote todo o comportamento, os eventos cessam de ser ações ou comportamentos quando não é possível descrevê-los em termos de intenção. A intencionalidade possui características que a distinguem conceitualmente dos conceitos físicos, sendo um conceito central para o comportamento em geral, e não somente para o comportamento descrito em termos de atitudes proposicionais (IDEM, 1974, p. 229-230). Uma teoria do comportamento adequada, para Davidson, deve reconciliar duas considerações em aparente desacordo. Deve levar em conta que, de um lado, as ações humanas fazem parte da ordem natural, causando e sendo causadas por eventos externos ao homem, e que, do outro lado, os pensamentos, as crenças, os desejos, e a ação voluntária não podem ser reconduzidos dentro das leis estritas da física (IBID., p. 230). Se não há a possibilidade da existência de leis determinísticas do comportamento, então é preciso distinguir a psicologia e as ciências sociais da ciência física. As leis que operam nas ciências sociais são correlações estatísticas que não podem ser aperfeiçoadas de forma ilimitada. Os eventos descritos no dicionário do pensamento e da ação não podem ser incorporados num sistema determinístico fechado, 105

alguém, há três tarefas que t<strong>em</strong>os que cumprir: atribuir a ele estados<br />

mentais, atribuir significados às suas produções lingüísticas, e dizer<br />

quais ações ele está executando (cf. EVNINE, 1991, p. 39). Dizer quais<br />

ações alguém está executando é o que mais está diretamente conexo<br />

com os dados <strong>em</strong>píricos sobre os quais nossa interpretação está<br />

baseada. Então, se os significados, os estados mentais e a ação estão<br />

inter-relacionados numa re<strong>de</strong> holística, è a ação que, num certo sentido,<br />

provi<strong>de</strong>ncia os meios <strong>de</strong> entrada na re<strong>de</strong> (IBID., p. 40).<br />

3.3 A PSICOLOGIA NÃO É UMA CIÊNCIA<br />

O critério do mental é o dicionário das atitu<strong>de</strong>s proposicionais, cujo<br />

conteúdo <strong>de</strong>riva do lugar que ocupam na estrutura dos <strong>de</strong>sejos, crenças<br />

e ações. Não po<strong>de</strong>riamos <strong>de</strong>codificar o que alguém diz s<strong>em</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r suas atitu<strong>de</strong>s com relação ao complexo <strong>de</strong> seus próprios<br />

enunciados. O caráter anomológico das generalizações do mental para<br />

o físico é uma razão <strong>de</strong>cisiva, segundo Davidson, para fazer-nos<br />

abandonar a tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir explicitamente conceitos mentais <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> conceitos comportamentais. As crenças e os <strong>de</strong>sejos se<br />

manifestam no comportamento somente enquanto modificados e<br />

mediados por outra crenças e <strong>de</strong>sejos, s<strong>em</strong> limite. A anomalia do mental<br />

è, então, uma condição necessária para conceber a autonomia da ação<br />

intencional, conjuntamente à sua eficácia no mundo físico:<br />

“Se um evento causa outro, há uma lei estrita da qual tais eventos, se<br />

oportunamente <strong>de</strong>scritos, são ex<strong>em</strong>plos. Porém, é possível (e típico) conhecer a<br />

relacão causal singular s<strong>em</strong> conhecer a lei ou as <strong>de</strong>scrições relevantes. O<br />

conhecimento requer razões, e as razões estão disponíveis sob a forma <strong>de</strong><br />

generalizações heteronómicas aproximativas, que possu<strong>em</strong> caráter nómico<br />

enquanto suas ocorrências tornam razoável esperar por outras ocorrências<br />

concordantes, mas que não são nómicas no sentido <strong>de</strong> ser aperfeiçoáveis<br />

in<strong>de</strong>finidamente. Aplicando este fato ao conhecimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, v<strong>em</strong>os que<br />

é possível saber que um evento mental é idêntico a algum evento físico s<strong>em</strong><br />

sabermos qual (no sentido <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>mos dar <strong>de</strong>le uma unívoca <strong>de</strong>scrição<br />

física que o faça recair sob uma lei estrita). Mesmo se alguém soubesse toda a<br />

história física do mundo, e cada evento mental fosse idêntico a um evento físico,<br />

não seguiria que ele po<strong>de</strong>ria prever ou explicar n<strong>em</strong> um único evento mental<br />

(assim <strong>de</strong>scrito, naturalmente)” (DAVIDSON, 1970b, p. 224).<br />

Se não é possível explicar e prever o comportamento humano como<br />

faz<strong>em</strong>os com os fenômenos físicos, a explicação da ação racional não é<br />

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