ANDREA SCHIMMENTI - Programa de Pós-Graduação em Filosofia ...

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A defesa do caráter anômalo do mental e do radical não-isomorfismo físico-mental encontra-se encentrada na distinção entre o caráter nomológico em sentido forte, e o caráter estatístico das leis, ou o caráter das asserções gerais que, mesmo possuindo a forma lógica de uma lei, não têm um caráter nomológico em sentido estrito. Como já foi observado, para Davidson os enunciados nomológicos colocam juntos predicados dos quais conhecemos a priori a compatibilidade recíproca. Então, sabemos a priori, também, que nos enunciados psico-físicos coexistem predicados incompatíveis. Portanto, estes enunciados não possuem caráter nomológico estrito, e constituem um saber prático que se expressa através de generalizações que são só aproximadamente verdadeiras, ou que são formuladas em termos probabilísticos, e que podem fornecer sustentação para afirmações causais singulares e para explicações de eventos particulares (IDEM, 1970b, p. 217-218). Para Davidson, as generalizações podem possuir caráter homonómico ou caráter heteronómico. Uma generalização homonómica é uma generalização que remete à forma e ao vocabulário da lei estrita, ou seja, é baseada em conceitos que provêm do mesmo domínio conceitual, sendo corrigível dentro deste domínio, e pode ser melhorada e precisada indefinidamente acrescentando ulteriores condições e limitações, expressas no mesmo vocabulário da generalização originaria. Portanto, algumas generalizações homonómicas podem chegar a ter o caráter de lei estrita, quando não são ulteriormente precisáveis e melhoráveis, quando coligam os eventos enquanto descritos como pertencentes a determinados tipos, e oferecem perfeita previsibilidade, perfeita coerência, explicação total. O caráter homonómico de um enunciado, então, requer que este atinja seus conceitos no contexto de uma teoria com elementos constitutivos fortes, uma teoria compreensiva e fechada (IBID., p. 219). As leis homonómicas não podem ser ulteriormente melhoradas quanto à precisão e completude. O que Davidson afirma é que somente a teoria física oferece um sistema fechado e compreensivo no interior do qual são possíveis leis homonómicas. Por sua vez, os princípios que governam a explicação das razões humanas são os princípios de 100

normatividade e holismo do mental, os quais são um sinal da própria anomalia do mental. Por isto, os enunciados psicofísicos, assim como as nossas cognições práticas, são generalizações que não podem possuir caráter homonómico. Eles possuem necessariamente caráter heteronómico, pois sabemos a priori que fazem coexistir predicados incompatíveis. Uma generalização heteronómica não pode ser indefinidamente melhorada e corrigida, pois é formulada através do utilizo de vocabulários conceituais relativos a diferentes domínios (IBID.). O ponto importante acerca do mental é que: “quando usamos os conceitos de crença, desejo, etc., temos que estar preparados, assim que as provas se acumulam, para fazer ajustes na nossa teoria à luz de considerações de cogência complexiva: o ideal constitutivo da racionalidade controla, em parte, cada fase da evolução do que deve ser uma teoria que evolui. A escolha arbitrária de um esquema de tradução impediria estes retoques oportunísticos da teoria; dito de outra forma: a escolha arbitrária de um manual de tradução seria a escolha de um manual aceitável à luz de todas as provas possíveis, e esta é uma escolha que não pode ser feita (…) não é possível assumir uma rigidez de relações nomológicas entre o mental e o físico se concebemos o homem como um animal racional” (IBID., p. 222-223). Somente o sistema fechado da física pode gerar uma descrição unívoca dos eventos físicos, expressa por um vocabulário que pode ser reconduzido a uma lei estrita. O que Davidson chama de lei estrita, é algo que pode ser encontrado somente na física. É uma generalização determinística como a natureza, e trata o universo como um sistema fechado (IDEM, 1993, p. 191). Uma lei estrita deve ser precisa, não deve prever exceções, e pode ser tal somente se atinge seus conceitos no âmbito de uma teoria fechada e compreensiva (IDEM, 1970b, p. 219). Segundo Davidson, não existem leis deste tipo nas ciências especiais, como a biologia, a geologia, a engenharia, a química, a genética, nem podem existir em psicologia. A maioria do conhecimento prático que os biólogos, os geólogos, os psicólogos usam para tentar explicar e predizer os eventos comuns, não envolve leis estritas, nem pode ser reduzido a leis estritas, mas concerne meras generalizações heteronómicas que envolvem relações locais entre propriedades (IDEM, 1993, p. 192-193). Davidson fornece exemplos de generalizações não estritas que podem ser encontradas em geologia: “As montanhas estão 101

normativida<strong>de</strong> e holismo do mental, os quais são um sinal da própria<br />

anomalia do mental. Por isto, os enunciados psicofísicos, assim como<br />

as nossas cognições práticas, são generalizações que não po<strong>de</strong>m<br />

possuir caráter homonómico. Eles possu<strong>em</strong> necessariamente caráter<br />

heteronómico, pois sab<strong>em</strong>os a priori que faz<strong>em</strong> coexistir predicados<br />

incompatíveis. Uma generalização heteronómica não po<strong>de</strong> ser<br />

in<strong>de</strong>finidamente melhorada e corrigida, pois é formulada através do<br />

utilizo <strong>de</strong> vocabulários conceituais relativos a diferentes domínios<br />

(IBID.).<br />

O ponto importante acerca do mental é que:<br />

“quando usamos os conceitos <strong>de</strong> crença, <strong>de</strong>sejo, etc., t<strong>em</strong>os que estar<br />

preparados, assim que as provas se acumulam, para fazer ajustes na nossa teoria<br />

à luz <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> cogência complexiva: o i<strong>de</strong>al constitutivo da<br />

racionalida<strong>de</strong> controla, <strong>em</strong> parte, cada fase da evolução do que <strong>de</strong>ve ser uma<br />

teoria que evolui. A escolha arbitrária <strong>de</strong> um esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> tradução impediria estes<br />

retoques oportunísticos da teoria; dito <strong>de</strong> outra forma: a escolha arbitrária <strong>de</strong> um<br />

manual <strong>de</strong> tradução seria a escolha <strong>de</strong> um manual aceitável à luz <strong>de</strong> todas as<br />

provas possíveis, e esta é uma escolha que não po<strong>de</strong> ser feita (…) não é possível<br />

assumir uma rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> relações nomológicas entre o mental e o físico se<br />

conceb<strong>em</strong>os o hom<strong>em</strong> como um animal racional” (IBID., p. 222-223).<br />

Somente o sist<strong>em</strong>a fechado da física po<strong>de</strong> gerar uma <strong>de</strong>scrição unívoca<br />

dos eventos físicos, expressa por um vocabulário que po<strong>de</strong> ser<br />

reconduzido a uma lei estrita. O que Davidson chama <strong>de</strong> lei estrita, é<br />

algo que po<strong>de</strong> ser encontrado somente na física. É uma generalização<br />

<strong>de</strong>terminística como a natureza, e trata o universo como um sist<strong>em</strong>a<br />

fechado (IDEM, 1993, p. 191). Uma lei estrita <strong>de</strong>ve ser precisa, não<br />

<strong>de</strong>ve prever exceções, e po<strong>de</strong> ser tal somente se atinge seus conceitos<br />

no âmbito <strong>de</strong> uma teoria fechada e compreensiva (IDEM, 1970b, p.<br />

219). Segundo Davidson, não exist<strong>em</strong> leis <strong>de</strong>ste tipo nas ciências<br />

especiais, como a biologia, a geologia, a engenharia, a química, a<br />

genética, n<strong>em</strong> po<strong>de</strong>m existir <strong>em</strong> psicologia. A maioria do conhecimento<br />

prático que os biólogos, os geólogos, os psicólogos usam para tentar<br />

explicar e predizer os eventos comuns, não envolve leis estritas, n<strong>em</strong><br />

po<strong>de</strong> ser reduzido a leis estritas, mas concerne meras generalizações<br />

heteronómicas que envolv<strong>em</strong> relações locais entre proprieda<strong>de</strong>s (IDEM,<br />

1993, p. 192-193). Davidson fornece ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> generalizações não<br />

estritas que po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>em</strong> geologia: “As montanhas estão<br />

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