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JULHO 1935 (com OCR).pdf

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N U M E R O 3<br />

A N N O X I I<br />

J U L H O - 1 9 3 5<br />

P R E Ç O 3 S O O O<br />

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NUMERO 3<br />

ANNO XII<br />

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3 l l u s í r o c à o<br />

D c o s í l e í c o<br />

J U L H O<br />

DE 19 3 5<br />

MENSARIO EDITADO PEIA<br />

SOCIEDADE ANONYMA "O MALHO"<br />

DIRECTOR-GERENTE<br />

ANTONIO A. DE SOUZA E SILVA<br />

Administração e escriptorios: Trav. do Ouvidor, 34<br />

Redacção e officinas: R. Visconde de Itauna, 419<br />

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boa ou má organisaçào de uma casa<br />

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roda do qual gira todo o negocio e. portanto,<br />

deve estar perfeitamente apparelhado<br />

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CASA DOS PIANOS "BRASIL" .<br />

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EPHEMERIDES<br />

DO M<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

1-7-1582 — É iniciada por José de Anchieta, nesta cidade, a Casa de Miseri-<br />

córdia. Seus primeiros hospedes foram 3.000 tripulantes de uma armada pro-<br />

cedente de Castella.<br />

2-7-1769 — É creado, pelo conde de Pavolide, governador de Pernambuco, o I o<br />

hospital que teve o Estado do Ceará.<br />

3-7-1853 — O primeiro bispo do Rio Grande do Sul, D, Feliciano José Rodri-<br />

gues de Araujo Prates, assume suas funcções.<br />

4-7-1789 — Apparece enforcado, na cadeia de Villa Rica (hoje Ouro Preto), o<br />

inconfidente Claudio Manoel da Cosia. Foi encontrado "pendente de uma liga<br />

ou cadarço atado a uma especie de armario".<br />

5-7-1875 — Inauguração dos serviços telegraphicos entre Victoria e a villa da<br />

Serra. A linha extendia-se num percurso de 26k.,700m.<br />

6-7-1847 — Fallece o visconde de S. Leopoldo, a que se devem o I o hospital<br />

e a I a officina typographica daquelîa cidade sulina.<br />

7-7-1877 — É feito barão o Cons. Fr. Ignacio Marcondes Homem de Mello,<br />

que recebe o titulo honorifico em presença do Conde d'Eu e do Cons. José<br />

Coelho de Almeida.<br />

8-7-1826 — Nasce nesta metropole o "Bocage brasileiro : Laurindo Rebello.<br />

Era diplomado em Medicina e servia no Exercito.<br />

9-7-1756 — É instituída a Ordem Terceira de S. Francisco de Paula.<br />

10-7-1839 — O secretario do Instituto de França, saudando a fundação do nos-<br />

so Instituto Historico. diz que "o Brasil <strong>com</strong>eça a sentir toda a sua importân-<br />

cia" e que "<strong>com</strong>eçar pela geographia e historia é <strong>com</strong>eçar bem".<br />

11-7-I7II — É elevada á categoria de cidade a villa de São Paulo, hoje ca-<br />

pital do Estado.<br />

12-7-1860 — Pela I a vez sonte-se ur.i iigeiro tremer do terra om Vigia, F.stadc<br />

do Pará.<br />

13-7-1553 — Ancora na bahia de Todos os Santos o navio que traz o 2 o go-<br />

vernador geral do Brasil, D. Duarte da Costa, o o padro José de Anchieta, o<br />

"Apostolo do Novo Mundo".<br />

14-7-1841 — Fallece no Convento de Sto. Antonio desta capitai frei Velloso,<br />

autor da "Flora Fluminense", famosa. Frei Velloso nasceu em Minas Geraes<br />

em 1742.<br />

15-7-1854 — Inauguração, em Curityba, da I a Assembléa Legislativa do Estado.<br />

16-7-1700 — Posse da Camara de S. José de Ribamar, Ceará, a primeira que<br />

teve o Estado.<br />

17-7-1842 — É lançada a pedra fundamental da Matriz da Gloria, um dos mais<br />

lindos templos desta Capital e que se acha no Largo do Machado.<br />

18-7-1874 — É aberta ao trafico a estação de Queluz (São Paulo), a primeira<br />

a ser ali inaugurada e pertencente á E. F. D. Pedro II.<br />

19-7-1635 — Os hollandezes enviam de Porto Calvo um tambor (parlamentar)<br />

a Mathias de Albuquerque para lhe <strong>com</strong>municar que capitulavam.<br />

20-7-1846 — Installação da villa de Estrella (Rio de Janeiro) e da sua Camara<br />

Municipal.<br />

21-7-1564 — Fallece em Lisboa o fundador da Capitania de São Vicente, Mar-<br />

tim Affonso de Souza.<br />

22-7-1572 — É nomeada D. Brites de Albuquerque para governar a Capitania<br />

de Pernambuco, na ausência do seu filho, D. Duarte.<br />

23-7-1828 — Toma assento no Senado, <strong>com</strong>o representante de Minas, Nicolau<br />

Pereira de Campos Vergueiro, que iniciou em São Paulo o trabalho livre.<br />

24-7-1645 — Apparece um edital de João Fernandes Vieira convocando o povo<br />

pernambucano a pegar em armas contra os hollandezes.<br />

25-7-1864 — Abertura da Escoia Normal da cidade de Recife.<br />

26-7-1858 — Por decreto, que traz o numoro 2.200, é creada a Colonia Militar<br />

de Itapura (São Paulo).<br />

27-7-1823 — Chega a São Luiz do Maranhão o almirante Cockrane. feito Mar-<br />

quez do Maranhão por D. Pedro I o .<br />

28-7-1767 — Larga de Araritaguaba a expedição (a I a ) do capitão-mór João<br />

Martins de Barros, para fundar o presidio de Iguatemy.<br />

29-7-1869 — Inauguração das <strong>com</strong>municações telegraphicas entre Macahé e Bar-<br />

ra de São João.<br />

30-7-1774 — É elevada á categoria de freguezia a igreja de S. Salvador de<br />

Campos dos Goytacazes (R. de J. ) .<br />

31-7-1769 — Um alvará estabelece o monopolio das carias de jogar, impondo<br />

penas graves aos infractores: mu'tas e degredo.


Illustraçao Brasileira<br />

SUMMARIO DOS PRINCIPAES<br />

ASSUMPTOS DESTE NUMERO<br />

A Hora — chronica de Affonso Celso<br />

Historia dum enforcado — conto de Gustavo Barroso<br />

Estatua de Fernão Dias Paes — chronica de Affonso de E. Taunay<br />

Um esposo racional — sketch de Claudio de Souza<br />

Sonha ! — poesia de Pereira da Silva<br />

Um leque historico — chronica ce Max Fleiuss<br />

Os mestres da pintura brasileira — por Flexa Ribeiro<br />

A vida dos cadetes — peio major José Faustino da Fonseca<br />

Potencial Hydraulico Brasileiro — por Carlos Alberto Gonçalves<br />

O Instituto Oswaldo Cruz e a Cultura Scientifica Nacional —<br />

Redacção<br />

Aleijadinho — Uma expressão do génio nosso — Redacção<br />

Artes e Artistas — Redacção<br />

De Mez a Mez — Redacção<br />

Trichromias — Baptista da Costa — Marques Junior<br />

lllustrações — J. Carlos — P. Amaral — Helmut<br />

DA PRÓXIMA EDIÇÃO<br />

A Floresta — chronica de Affonso Celso<br />

Transfigurações — poesia de Carlos Magalhães de Azeredo<br />

O Diccionario Brasileiro da Língua Portugueza — por B. F. Ra-<br />

miz Galvão<br />

Mytho da Pérola — chronica de Alberto de Oliveira<br />

Na encruzilhada — por Hélio Lobo<br />

\ Rebellião dos Franciscanos — por Mario Melo<br />

Os mestres da Arte Brasileira — por Flexa Ribeiro<br />

A Escola Naval do Brasil — por Galdino Pimentel Duarte<br />

Entre estatuas de mármore e desenhos de plantas — Redacção<br />

O Rio de hoje e de ha 30 annos — Redacção<br />

Artes e Artistas — Redacção<br />

De Mez a Mez — Redacção<br />

I Ilustração<br />

Brasileira<br />

F A S C I N A Ç Ã O<br />

Delicada! Suavo! Avolludada! tão suave <strong>com</strong>o as pétalas da rosa.<br />

Tal se nos apresenta a seductora cútis, radiante de mocidade, da linda e<br />

gentil dama, que tem sabido resguardar-se dos males occasionados pelo passar dos<br />

annos. Linhas graciosas, harmonia de fôrmas, um encanto de personalidade tornam<br />

sua presença inconfundivel.<br />

Captiva e conquista pela imposição de uma bolleza sadia e moça, pois, muito<br />

embora os annos teimem em passar velozes, o seu suave encanto continua dandolhe<br />

predomínio absoluto no circulo de suas amigas. E, sendo o amor um eterno<br />

enamorado do bello, todas as attenções lhe pertencem. Feliz e radiante, não encontra<br />

rivaes.<br />

No entanto, nada de extraordinário existia em si que tornasse tão deslumbrante<br />

sua belleza. Fez, apenas, uso constante das maravilhosas drageas W-5, o insuperável<br />

preparado allemão dosado <strong>com</strong> elementos endocrinicos que, agindo por via<br />

interna, promove a renovação das cellulas e capillares, detendo os estragos do tempo<br />

e dando nova vida aos tecidos do derma. A acção deste preparado corrige os<br />

transtornos ovarianos, faz desapparecer rugas, pés de gallinha ou poros abertos, e<br />

elimina eczemas, acnes, e todas as affecções que façam desmerecer a belleza.<br />

As senhoras interessadas encontrarão, no Departamento de Productos Scientificos,<br />

á Av. Rio Branco, 173-2.° andar, Rio de Janoiro, e á Rua São Bonto n.° 49-2."<br />

sndar, em São Paulo, abundante literatura illustrada e descriptiva, havendo, nos<br />

mosmos locaes, uma pessoa especializada para prestar quaesquer informes solicitados.<br />

W-5 é também encontrado nos seguintes agentes depositários:<br />

MANÁOS: Bomfim & Cia.; BELÉM: Albino Fialho & Cia.; S. LUIZ: Jesus N.<br />

Gomes; FORTALEZA: Ferreira Cavalcante & Cia.; RECIFE: J. Costa Rego Jr.;<br />

MACEIÓ E ARACAJÚ: L. C. Braga Netto; BAHIA: Dr. Raul Schmidt & Cia.;<br />

VICTORIA: G. Roubach & Cia.; CAMPOS: Maia & Irmão; BELLO HORI-<br />

ZONTE: Alfredo Santos & Cia.;. JUIZ DE FÓRA: Mario Nogueira da Gama;<br />

SANTOS: V. Morse & Cia.; RIBEIRÃO PRETO: L. Ribeiro de Araujo CAM-<br />

PINAS: F. Vellutini; CURITYBA: Enich Schlemm; PARANAGUÁ: S. Drumond &<br />

Cia.: PORTO ALEGRE: H. Eoaers- PELOTAS: Alberto Kninner.<br />

HAIf VALE<br />

PREVENIR.<br />

DO QUE<br />

REMEDIA<br />

TOHEe<br />

A O<br />

fEU FILHO<br />

EMULSA<br />

DE SC


4 /<br />

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Photo REMBRANDT<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

á * . O CHANCELLER<br />

DA PAZ<br />

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V ><br />

J<br />

t<br />

A paz do Chaco foi, sobretudo,<br />

um fruto da persistência, da ha-<br />

bilidade e do prestigio da diplo-<br />

macia sul-americana.<br />

E o Sr. José Carlos de Macedo<br />

Soares, Ministro das Relações Ex-<br />

teriores do Brasil, tem direito ao<br />

maior quinhão de gloria nesse tri-<br />

umpho sem armas. O proprio chan-<br />

celler Saavedra Lamas assim o re-<br />

conheceu, quando, em entrevista 6<br />

imprensa, na hora em que a inter-<br />

venção dos mediadores parecia um<br />

fracasso imminente, salientou os es-<br />

forços do ministro brasileiro, que,<br />

naquelie momento, concentrava nas<br />

mãos as derradeiras esperanças da<br />

pacificação do Chaco.<br />

Sobejas razões têm, pois, o povo e<br />

o governo do Brasil em considerar<br />

<strong>com</strong>o o chanceller da paz aquelle<br />

em quem as multidões de Buenos<br />

Aires, a imprensa e os proprios di-<br />

plomatas enxergaram o eixo central<br />

das negociações victoriosas de Bue-<br />

nos Aires.


AFFONSO CELSO<br />

EDIÇÃO DA SOCIEDADE A N O N Y M A O M A L H O<br />

O provérbio norte-americano — time is money —<br />

lempo é dinheiro,* vae sendo substituido por este ou-<br />

tro ditame: tempo é mais precioso que dinheiro, por-<br />

quanto dinheiro perdido pôde ser resarcido enquanto<br />

nunca mais se recupera o iempo malbaratado.<br />

Matar o tempo, deseja certa gente.<br />

Não! não se mate o tempo, porque o tempo 6 a vida,<br />

que não se mata sem crime.<br />

Não o procuremos matar, mas bem o empregar, fe-<br />

cundar, achar motivos de agir, de adquirir ou aper-<br />

feiçoar conhecimentos.<br />

Trabalhe-se, ainda que seja para se distrair, aliviar,<br />

aturdir, encher momentos vazios.<br />

O trabalho cura muitas enfermidades, segundo a te-<br />

rapêutica moderna. Sustentou-o num belo livro, intitu-<br />

ado — Servidão e grandeza da moléstia, — uma gran-<br />

de musicista que foi condenada a jazer quasi imove!<br />

no leito, durante cerca de quatro anos, a Snra. Fran-<br />

ce Pastorelli.<br />

Tratou do velho assunto: o que ha de nocivo, de<br />

desagregante, na ociosidade, que por si só pôde ge-<br />

rar moléstias.<br />

Ninguém de deve resignar á inação, salve se consti-<br />

tuo condição absoluta de restabelecimento e a pessoa<br />

se ache deveras fóra do estado de entregar-se a qual-<br />

quer atividade.<br />

O Fugit irreparabilis tempus, de Virgilio, e o Fugit<br />

hora, hoc quod loquor indo est, de Pérsio, que Boi-<br />

leau traduziu no verso:<br />

"Le moment oú je parle est déjá ioin do moi",<br />

mas que nunca se impõem á conciencia de nossa<br />

éra, tão precipitada, tão vertiginosa, quando os es-<br />

petáculos, as sensações se acumulam no instante<br />

que passa num turbilhão.<br />

O antigo costume de se colocar um relogio na tor-<br />

re das igrejas trazia talvez uma intenção religiosa,<br />

lembrando, <strong>com</strong>o afirmam pensadores, que si as ho-<br />

ras, ás vezes, são longas, a vida é curta.<br />

O cintilante beletrista Jean Renouard exarou sobre a<br />

hora ponderações que convém recordar. Assim:<br />

A hora nos a<strong>com</strong>panha sempre <strong>com</strong>o nossa sombra.<br />

Em toda parte, nossos passos lhe estão ligados ao<br />

ritmo regular.<br />

Quando, por acaso, a esquecemos, ela sôa e nos re-<br />

corda a sua presença.<br />

Preside a todos os nossos atos e nos estatúe a exis-<br />

tência.<br />

Tomou, pouco a pouco, nas sociedades modernas, ta-<br />

manha importancia que exerce nelas verdadeira di-<br />

tadura.<br />

Organiza o nosso dia, fiscaliza o nosso labor, tixa o<br />

instante das nossas refeições, mede até a duração do<br />

nosso sono.<br />

É ela querr. nos desperta, quem nos vigia a entrada<br />

na repartição, no escritorio, ou na uzina, quem nos<br />

impele para o caminho de ferro ou o ônibus, quem<br />

r.os arranca do lar. Agarra-nos desde o primeiro gri<br />

to e sô nos abandona no derradeiro suspiro.<br />

Somos seus prisionoiros, mas temos tal habito desta<br />

escravidão que ela se nos tornou indiferente, ou me-<br />

lhor, nós ihe perpetuamos a lembrança, e. em nossa<br />

algibeira, em torno do nosso punho, trazemos o im-<br />

placável tic tac que nos lembra a servidão.<br />

Sabemos que este estribilho nos arrasta para a mor-<br />

te e, entretanto, escutamc-io <strong>com</strong> delicia, porque, por<br />

exigente, por doloroso que seja, não raro, enquanto<br />

ele resôa é a vida que está debulhando.<br />

Sim, ó a vida o eis a razão pela qual a Hora, apesar<br />

de tudo, nos é amiga.<br />

Receiamo-la, maldizemo-la, censuramos-lhe quer a lenti-<br />

dão, quer, ao contrario, a rapidez, e, todavia, ama-<br />

mo-la.<br />

Revoltamo-nos contra a sua injunção, porque a quei-<br />

xa, a proposito oe tudo, nos é de natureza. Em<br />

segredo, porém, bendizemo-la.<br />

Sejam quaes forem as desilusões e sofrimentos tra-<br />

zidos por ela, suplicamos-lhe que não nos esqueça.<br />

Voltados para a hora que já não existe, ou para a<br />

nora que virá ou não. desprezamos aquela que nos<br />

dá quotidianamente o mais maravilhoso dos presen-<br />

tes: a luz do dia.<br />

Estas reflexões têm sempre oportunidade na terra<br />

das protelações, dos adiamentos, de manhãs buro-<br />

cráticos, administrativos, legislativos, judiciários.<br />

Não será o Brasil?


n<br />

FERNÃO 01 AS PAES UME. .<br />

QOVC**AOO* OA* KIMSOL),<br />

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Perystilo do Museu Paulista —<br />

canto dos povoadores e estatua<br />

de Fernão DÍJS Paes.<br />

dação destes restos, rturttô solemne cerimonia relígíosa-patriotica. nota-<br />

• - i<br />

velmente concorrida e em que o Abbade proferiu o mais inspirado e<br />

espontâneo discurso sobre a vida do bandeirante e a significação bra-<br />

sileira doquella festa tão tocante.<br />

Não se conhece retrato algum de Fernão Dias Paes <strong>com</strong>o de ne-<br />

nhum paulista do século XVII. Para a confecção do medalhão de S. Besto<br />

serviu-se o bello esculptor D. Adalberto Gresnigt, do retrato do Dr. Pe-<br />

dro Dias Gordilho Paes Lome, quinto neto do governador das esmeral-<br />

das, e chefe da familia, no sentido nobiliarchico, <strong>com</strong>o tendo a primoge-<br />

nitura da varonia.<br />

Antigo politico na Província do Rio de Janeiro, era o Dr. Ped^o<br />

Gordilho verdadeiro "homem de raça", na accepção franceza da ex-<br />

pressão. e quantos o conheceram guardam de suas maneiras e distincções<br />

de trato inapagavel recordação.<br />

Pelo medalhão de D. Adalberto Gresnigt guiou-se o illustre esculp-<br />

tor Luiz Brizzolara para executar a estatua de Fernão Dias Paes, que lhe<br />

en<strong>com</strong>mendavamos e acha-se á entrada do Museu Paulista.<br />

É de finissimo mármore de Garrara e tem tres metros de altura.<br />

Está situada num grande nicho do bellissimo peristvlo do Museu, tendo<br />

em frente cutra estatua das mesmas dimensões, obra também de Brizzo-<br />

lara e representando outro formidável bandeirante, Antonio Raposo Ta-<br />

vares. Symbolisam es+as duas estatuas os dois grandes cyclos bandeiran-<br />

tes o da caça ao índio, representado por Antonio Raposo e o do ouro<br />

e pedras preciosas em Fernão Dias Paes.<br />

Numa attitude hieratica examina o grande bandairante um minero!.<br />

Do lado direito lhe pende o sacco onde encerrou as esmeraldas achadas<br />

no socavão de Marcos de Azevedo Coutinho.<br />

É um mármore soberbo cheio de vida e força e uma das mais bel-<br />

las obras do illustre esculptor de quem em nosso artigo anterior faiámos.<br />

Na base da estatua de Fernão Dias Paes lê-se a seguinte inscripçoo:<br />

"Fernão Dias Paes Leme, Governador das Esmeraldas (1608-1681) devas<br />

sa terras do Paraná (1636-1660), de Matto Grosso (1658), Minas Ge-<br />

raes e Bahia (1671-1674-1681) do Rio Grande do Sul, e do Uruguay,<br />

prestando serviços immensos á obra do desdobramento do Brasil e da<br />

descoberta das minas".<br />

A 25 de janeiro ultimo prestou a Armada Nacional o mais significa-<br />

tivo preito a memoria de Fernão Dias Paes.<br />

Em nome de sua classe presentes o Interventor Federal em S. Paulo<br />

ráes ao Museu Paulista, uma ancora de bronze, symbouca, o ser apposta<br />

e seus Secretários, quatorze officiaes generaes e numerosíssimas outras<br />

patentes, oftereceu o Ministro da Marinha almirante Protoqenes Guima-<br />

á base do estatua do grande sertanista.<br />

triótica.<br />

E esta oblação se realizou numa cerimonia de notave! elevação pa


f<br />

Vt *<br />

Ete<br />

I',<br />

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JUVENTUDE FORTE DO BRASIL<br />

/<br />

Imponente aspecto do gran»<br />

dioso desfile de quinze mil<br />

athletas pela Avenida Beira<br />

Mar, numa empolgante demons-<br />

tração de pujança physica da<br />

mocidade do Brasil. Ao alto, o<br />

chefe da Nação, entre o Minis-<br />

tro da Guerra e o coronel New-<br />

ton Cavalcanti, applaudindo o<br />

desenrolar dessa sensacional pa-<br />

rada sportiva.


PRAIA DA GAVEA<br />

Photo de Nelson Schufer,<br />

çtarfta,«, »o grond, ARTE PHOTOGRAPHICA<br />

concurso photographico<br />

entre amadores, promo-<br />

vido pelo O Malho.


Thibaud<br />

niciada brilhantemente, conforme registrámos, proseguiu animada<br />

a temporada musical. Como sóe acontecer todos os annos,<br />

<strong>com</strong> a estréa da Companhia Lyrica do Theatro Municipal, attinge a<br />

estação ao seu interesse máximo. A deste anno, que está annunciada<br />

para ter inicio no proximo dia l.° de Agosto, promette-nos algumas<br />

noitadas de verdadeira sensação, entre as quaes podem-se<br />

citar as duas operas Manon, de Massenet, e Romeu e Julieta, de<br />

Gounod, que serão levadas em trancez.<br />

O elenco artístico possue vários nomes nossos conhecidos, alguns<br />

de celebridade mundial, <strong>com</strong>o Cíaudia Muzio, Besanzone Lage, Bidu<br />

ARTE e<br />

Sayão e Gigli. Na direcção da orchestra, os maestros Umberto Barretoni,<br />

Alfredo Padovani e Monsenhor Licínio Refice, que regerá,<br />

em primeira audição no Rio de Janeiro, a sua opera "Cicilia".<br />

A arte brasileira está muito bem representada no elenco da Companhia.<br />

Além de Bidú Sayão, cuja gloria cresce de dia para dia, e<br />

que terá, então, terminado a victoriosa temporada que está fazendo,<br />

actualmente, em Paris, ouviremos a cantora Iracema Failador,<br />

que actuará em uma das operas francezas; Carmen Gomes, que<br />

ainda o anno passado, triumphou, em toda a linha, na Maria Tudor,<br />

de Carlos Gomes; Nice de Araujo Jorge, deliciosa surpresa da ultima<br />

temporada e, por ultimo, Reis e Silva, artista que, ha muito se<br />

impoz ao applauso e á admiração das platéas.<br />

Teremos uma nova edição da Fosca, de Carlos Gomes, e <strong>com</strong>memoraremos<br />

o centenário de Beliini, <strong>com</strong> uma representação extraordinaria<br />

de I Puritani. Tudo isso, porém, são sensações que hão de<br />

vir, por occasião da temporada lyrica. E, emquanto esperamos por<br />

eilas, registremos as que a estação de concertos já nos tem dado,<br />

algumas verdadeiramente magnificas, <strong>com</strong>o Guiomar Novaes, Kreisler<br />

e Jacques Thibaud.<br />

Depois de uma ausência de tres annos, viu Guiomar Novaes, mais<br />

uma vez, o grau de estima em que a tem o nosso publico. E ella<br />

pôde mostrar que continua inteiramente de posse de todos os seus<br />

dons de artista excepcional, pela technica, tão perfeita quanto é<br />

humanamente possível, pela sensibilidade <strong>com</strong>municativa, que faz de<br />

cada ouvinte um fascinado e um enthusiasta.<br />

Ao lado da grande pianista brasileira, dois violinistas universalmente<br />

acclamados: Kreisler e Thibaud, este ultimo em segunda viagem ao<br />

Rio. Violinista fino, <strong>com</strong>o os que mais o sejam, Thibaud arrancou de<br />

Francisco Mignone Bidú Sayão Carmen Gomes Mathilde de Andrade Bailly


seu auditorio acclamações sobre acclamações. Kreisler, muito mais po-<br />

pular entre os nossos habituaes de concertos, graças ao prestigio do<br />

disco, despertou na píatéa um enthusiasmo formidável. Elie mostrou<br />

que os discos não mentem e que a sua arte é maravilhosamente ar-<br />

rebatadora.<br />

Um outro nome aureolado foi o de Janacopulos, a nossa patrícia<br />

que se fez sob o applauso quente das platéas do velho mundo. Della<br />

póde-se dizer que, a proporção que a voz diminue de volume, a arte<br />

augmenta de perfeição. O encanto supremo, a que attingem todas<br />

as suas interpretações, deu a aiguns números do repertorio brasileiro<br />

de canções, uma belleza que ainda não havia sido apprehendida<br />

nem revelada.<br />

Uma estréa promissora foi a do violinista Arnold Vasconcellos. Delle<br />

póde-se dizer que é um bello artista para o grande repertorio, isto<br />

é, o repertorio que, mais do que malabarismos de dedos e de arco,<br />

pede meditação para ser <strong>com</strong>prehendido e arte fina para ser ex-<br />

teriorisado. O artista, que se fez a<strong>com</strong>panhar por outro artista — e<br />

dos grandes, Souza Lima — teve na Sonata de Beethoven, a colla-<br />

boração intelligentissima de Arnaldo Rebello.<br />

A musica symphonica teve seus momentos de triumpho. Na regen-<br />

cia, Francisco Mignone, o artista realmente extraordinário, na sua<br />

tríplice personalidade de pianista, regente e <strong>com</strong>positor; Henrique<br />

Spedini, Joanidia Sodré e Lorenzo Fernandez. Como solistas, apre-<br />

sentaram-se Amélia Petersen, Alonso Annibal da Fonseca e Thomas<br />

Téran.<br />

Ainda <strong>com</strong>o concertistas, tivemos Anna Carolina, artista primorosa,<br />

que dia a dia se aperfeiçoa; Fructuoso Vianna; o menino Paulo Valle,<br />

de talento realmente aproveitável; Rodolpho Josetti, que se apresen-<br />

tou <strong>com</strong> a Sociedade de Musica de Camera, ao lado de Iberê Go-<br />

mes Grosso, Affonso Henrique, Alba Josetti e Daniel Karpilowsky.<br />

Também conquistou justos applausos o professor e violinista Lambert<br />

Ribeiro, o mesmo succedendo ao novel conjuncto clássico — lyrico-<br />

vocal, sob a direcção do maestro David Deutscher e do barítono<br />

Ernesto De Marco, e de cujo primeiro programma se encarregaram,<br />

alem desses dois artistas, mais a senhorita Margarida Magalhães, as<br />

senhoras Anna Maria Fiusa, Teixeira de Azeredo e Muniz Freire.<br />

Tivemos, ainda, uma audição do Guarany, em portuguez, na traduc-<br />

ção do poeta Paula Barros, <strong>com</strong> a interpretação de Alzira Ribeiro<br />

e Demetrio Ribeiro, João Athos e Asdrúbal Lima, todos sob a re-<br />

gencia autorisaaa do nosso bravo maestro Francisco Braga. Final-<br />

mente, uma referencia ligeira a um nome ausente, que está traba-<br />

Guiomar Novaes<br />

lhando e vencendo: Maria de Sá Earp. As noticias que temos delia<br />

registram o successo que acaba de fazer em Bergamo e em Padua,<br />

Itaíia, interpretando Madame Butterfiy e Bohemia, ambas de Puccini.<br />

Além de recenhecerem as suas qualidades de voz, os jornaes salien-<br />

taram-lhe o temperamento, e a "calorosa sensibilidade musical e<br />

dramatica, que lhe perrritte encarnar, <strong>com</strong> eloquencia de notas e<br />

de gestos, o personagem que lhe cabe interpretar".<br />

E' mais um nome brasileiro que se vae enchendo de glorias, para<br />

que nós nos possamos' também encher de orgulho.<br />

Nice A. Jorge Iracema Fallador Reis e Silva Maria Sá Earp


V<br />

Do interior do bello palacio em eslylo mourisco,<br />

onde se acha insíallado o 'Instituto Oswaldo<br />

Cruz", descortina-se uma paizagem encantadora,<br />

de amplos horizontes, campos virentes, casario<br />

distante.


Jp^Sf tit«»<br />

O inSTITUTO OS WALDO CRUZ<br />

í A CULTURA SCIENTIFIC* NACIONAL<br />

0 professor Dr. Cardoso Fontes, director do Instituto Oswaldo Cruz, na<br />

<strong>com</strong>panhia do professor Dr. Miguel Ozorio do Almeida. Os dois grandes<br />

scientistas pousam, especialmente para a ILLUSTRAÇÃO BRASILEIRA.<br />

IV.* /<br />

mvww r<br />

HHIH»I»III~HHHHIH WWHWHW ^ iilllHi<br />

11111111«111»<br />

fllllllfl III<br />

'hhhíi<br />

A fachada do palacio em estylo mourisco, do Insti-<br />

tuto Oswaldo Cruz.<br />

Fü NDADO em 1901, c maior departa-<br />

mento scientifico do Brasil e o pri-<br />

meiro no genero da America do Sul,<br />

o Instituto Oswaldo Cruz continúa perpe-<br />

tuando a fecunda idéa do seu creador.<br />

Na sua bibliotheca, que recebe as me-<br />

mores pubiicações estrangeiras e está<br />

apparelhada <strong>com</strong> a mais <strong>com</strong>pleta biblio-<br />

graphia medica, os cultores brasileiros da<br />

medicina, podem desenvolver amplamente<br />

o seu espirito.<br />

WTOI WW<br />

Oswaldo Cruz, o seu fundador, que honra<br />

o pensamento brasileiro, pela sua faculda-<br />

de de intuição e peia sua efficiencia pra-<br />

tica, adoptou a sabedoria de Hippocra-<br />

tes. "Para conhecer a natureza do homem,<br />

é preciso conhecer a natureza de todas<br />

as cousas". Pode-se qualificar sem receio,<br />

o Instituto Oswaldo Cruz, o mais luminoso<br />

nucieo de conhecimento experimental, que<br />

possue o Brasi' e cuja fama se distende<br />

até a Europa, a America e a Asia.<br />

O REINO DA EXPERIENCIA<br />

A experiencia se refugiou no Instituto Os-<br />

waldo Cruz, para colher os fructos do pen-<br />

samento theorico. Nas suas retortas e nos<br />

seus microscopios, o bacteriologista verifi-<br />

ca as concepções da intelli Desde


ÄÄfi<br />

Laboratorio do Instituto Oswaldo Cruz, o maior estabelecimento de<br />

medicina experimental do Brasil e da America do Sul.<br />

o subterrâneo até as cupoias, desde os laboratorios até o bio-<br />

terio, Manguinhos é uma <strong>com</strong>plicação de machinismos, ins-<br />

tilações, pormenores architectonicos, cuja synthese escapa<br />

ao ieigo.<br />

Ha a distillação de agua por meio de ar <strong>com</strong>primido, o<br />

relogio central electrico e a distribuição da mesma hora<br />

por todos os laboratorios, a serie de balanças de preci-<br />

são, o apparelho que registra ao longe, a temperatura dos<br />

Expressiva visão dos rendilhados mouriscos interiores,<br />

de que se acha abundantemente ornado<br />

o Instituto Oswaldo Cruz.<br />

quartos-estufas. Vemos mais, cs aquarios, piscina de agua<br />

doce e de agua salgada, o gigantesco microtomo, capaz de<br />

cortar em finas fatias, um cerebro inteiro. Observamos tam-<br />

oem, a cortina que escurece o gabinete radiographico, obe-<br />

decendo apenas a um botão electrico, o dictaphone onde se<br />

gravam os protocollos das autopsias, as Memorias do Instituto<br />

Oswaldo Cruz, <strong>com</strong> o seu texto em duas linguas e a riqueza<br />

das illustrações coloridas, mundialmente conhecidas.<br />

Suggestivo aspecto do Instituto<br />

Oswaldo Cruz.<br />

Oswaldo Cruz, o immortal bemfeitor do Brasil,<br />

o creador do Instituto, que traz o seu<br />

glorioso nome. Monumento em Manguinhos.


O bello effeito oriental da cu a mourisca do Instituto Oswaido Cruz<br />

A MARAVILHA SCIENTIFICA DO BRASIL<br />

No palacio mourisco de Manguinhos, a cultura scientifca bra-<br />

sileira possue o seu monumento máximo. Merecem particular<br />

destaque, os apparelhos para a producção de ar e vácuo,<br />

que são canalizados e distribuídos por todos os laboratorios,<br />

a sa!a de leitura, lindamente luxuosa, <strong>com</strong> as estaiactites al-<br />

vas, a contrastarem <strong>com</strong> as admiraveís obras de madeira. O<br />

Instituto Oswaido Cruz ostenta a opulência de uma biblío-<br />

Perspectiva do imponente edifício<br />

do Instituto Oswaido Cruz<br />

iviv<br />

theca, <strong>com</strong> 4 andares de aço, toda illuminada por dentro, 40<br />

mil volumes, outros milhares de revistas. Manguinhos se or-<br />

gulha de possuir ainda, cinematographia de microbios. O<br />

edenico refeitorio, cuja columna de sustentação, é uma bella<br />

3rvore frondente, toda florida de trepadeiras e orchideas<br />

<strong>com</strong>pleta a magestosa impressão. Maravilha scientifica do<br />

Brasil e da America Latina, assim deve ser considerado o<br />

Instituto Oswaido Cruz.


0 RIO<br />

DE 1900 E O RIO<br />

DE HOJE<br />

1 | \ trinta e cinco annos atraz, o Large<br />

de S. Francisco era isto que se vê na<br />

photographia que aqui estampamos ao lado<br />

do aspecto actua! do mesmo logradouro publico.<br />

estatua de José Bonifacio tinha um<br />

jardinzinho, em torno, e um bosque<br />

ao lado. Mas nao tinha ainda as sombras<br />

amaveis dos oitiseiros frondosos, nem havia,<br />

por perto, o borborinho do movimento de<br />

hoje.<br />

^ ^ ^ prédio da Escola Polytechnica já era<br />

velho naquelle tempo. Agora... remoçou,<br />

<strong>com</strong> umas columnas esbeltas que lhe<br />

emprestam um ar distineto. Dos lados, appareciam<br />

as manchas negras dos velhos tectos<br />

e a sombra distante dos muros nus.<br />

Hoje, apparecem, sómente. os perfis dos arranha-céos,<br />

dando ima idéa da cidade moderna<br />

que se desdobra por detraz do Largo<br />

de S. Francisco.


. t m<br />

. I<br />

)<br />

• 4<br />

•/j<br />

i<br />

INHÁ, disse o negro Frarvcisco <strong>com</strong> os grossos lábios<br />

a tremer, o serviço está feito. . .<br />

Dona Joaquina levantou-se da rede em que nervosamente<br />

se balançava no alpendre da casa e<br />

perguntou :<br />

— Chico, ê!e está morto mêsmo de verdade?<br />

— Morto e bem morto!<br />

— Como foi que fizeste?<br />

O negro apontou o mato ressequido que se aden-<br />

sava numa grota próxima:<br />

— Dei ao sinhô um favo de jandaíra que trouxe do serrote<br />

e, enquanto êie chupava o mel, meti-lhe a machadinha no pescoço...<br />

Nem teve tempo de dar um ai. Agora, nós estamos<br />

sós...<br />

Já os lábios não tremiam mais. Estava quasi calmo. A mulher<br />

duvidou:<br />

— Meu negro, você teve mêsmo essa coragem?<br />

— Pois não foi minha sinhá quem mandou?<br />

— Só eu vendo <strong>com</strong> estes olhos que a terra ha de <strong>com</strong>er!<br />

Só eu vendo!. . .<br />

— Vamos ver!. . .<br />

Ambos atravessaram o terreiro da casa sertaneja sob o sol<br />

inclemente dum Janeiro sem chuvas. O chão parecia torrado.<br />

Dos pedregais negros e dos morros pelados desprendiase<br />

um hálito de fornalha. Na mataria esqueletica e empretecida,<br />

as raras cópas virentes dos joaseiros eram <strong>com</strong>o oásis<br />

de verdura. O escravo tentou mudar o curso de seus pensamentos:<br />

— Até o dia de hoje nem um pingo dagua! O ano de 35<br />

foi de seca braba. O de 36, mal chuvido. Se êste não der<br />

inverno, acaba-se tudo!...<br />

Eia continuava calada, perdida numa só idéa. Ganharam o<br />

grotão por uma vereda estreita, um atrás do outro. E deram<br />

<strong>com</strong> o cadáver do português José de Azevedo, vulgo José<br />

de Fama, marido de dona Joaquina, a quai vivia de amores<br />

<strong>com</strong> o escravo Francisco, <strong>com</strong>o sabia toda a gente menos<br />

êie. Estava de bórco, <strong>com</strong> um grande golpe na nuca, por<br />

onde lhe saíra o sangue. As varejeiras zumbiam-lhe em torno.<br />

O negro ficou um tanto afastado, de olhar baixo e mãos ligeiramente<br />

tremulas, sem ânimo de fitar o defunto. Um gavião<br />

soltou perto seu grito estridente de ameaça e fome.<br />

Êie sobresaltou-se. A mulher desceu o declive áspero, arregaçando<br />

a saia, e foi apalpar o corpo.<br />

— Chico, gritou, ainda está quente!<br />

Um latido fino respondeu-lhe. Era da Mimosa, a cachorrinha<br />

branca do José de Fama, que ficára perto do cadaver, meio<br />

oculta na garrancheira, a guardá-lo fielmente.<br />

— Mata êste diabo! ordenou dona Joaquina.<br />

O negro atirou-lhe uma pedra que errou o alvo. A cadela<br />

fugiu espavorida. Êie armou-se <strong>com</strong> um páu e perseguiu-a.<br />

Voltou daí a pouco, resfolegante, a botar<br />

o coração pela boca :<br />

— Bicha desgraçada! Meteu-se peia catinga<br />

e não houve geito de agarrá-la.<br />

A mulher estava desgrenhada, <strong>com</strong> um<br />

calhau ensanguentado na mão. Tremia.<br />

Disse, muito excitada :<br />

— Meu negro, você é bem capaz de botar<br />

ainda nosso amor a perder! O desgraçado<br />

estava vivo! Eu bem que achei êie<br />

quente... Começou a se mexer e eu é<br />

...<br />

3<br />

• v \<br />

ria awix<br />

^ i í í o R C A D O<br />

GUSTAVO EARROSO<br />

Co Acodemto de Ichcs


que acabei de matá-lo! E você deixou escapolir essa maldita cachorra!<br />

Ela pôde ser a nossa perdição... Depois duma pausa, mais tranquila:<br />

— Agora, venha me ajudar a esconder esta carniça...<br />

O escravo obedeceu. Deitaram o defunto numa lóca de pedra,<br />

cobrindo-o <strong>com</strong> terra, iages, seixos rolados e ramos. Limparam o chão.<br />

Amontoaram folhiços e galhadas por cima da loca, escondendo tudo.<br />

Ao terminarem, ele desabafou, enxugando o suor da testa <strong>com</strong> a manga<br />

da camisa de algodão :<br />

— Só o cão é capaz de descobrir. . .<br />

— Só mesmo o cão tinhoso...<br />

E voltaram calados para casa.<br />

Mas, nessa noite em que deviam gozar de ampla liberdade, não puderam<br />

pregar olho. Os uivos pungentes e dilacerantes da Mimosa não<br />

cessaram um instante. Apesar da escuridão, o negro quis varias vezes<br />

levantar-se para ir dar-lhe um tiro. A amante desaconselhava-o :<br />

— Não vale a pena. Você não a matou <strong>com</strong> dia claro, <strong>com</strong>o é que<br />

vai matá-la no escuro. Tangê-la do lugar é o mesmo que nada. Ela<br />

volta daí a pouco e torna a uivar. Só passando a noite lá <strong>com</strong> um páu<br />

e pedras... isso, perto do defunto, você não tem coragem...<br />

Havia certo travo no seu modo de falar. O escravo tremia, álgido, encolhido<br />

na rêde. O uivo doloroso da cadeiinha enchia o mistério negro<br />

da noite. Era o único ente que chorava o infeliz José de Fama.<br />

Mas <strong>com</strong>o sabia chorá-lo!...<br />

Mal entrou, timidamente, pelas frestas das táboas de umburana nas<br />

janelas o primeiro lume da madrugada, os dois levantaram-se decididos<br />

a ir á grota para matar a Mimosa. Abriram a porta e olharam.<br />

Vultos a pé e a cavalo dirigiam-se para onde o animalzinho fiel carpia<br />

seu dono. Era gente que, pela estrada real, demandava o mercado da<br />

cidade próxima e cuja atenção fora despertada por aquêle uivar desesperado.<br />

— Estamos desgraçados, clamou a mulher. Fuja, meu negro, enquanto<br />

é tempo, que eu tenho onde me esconder. . . Você estragou tudo<br />

deixando essa maldita viva!...<br />

Assombrado, o negro saiu pelos fundos da habitação, agachou-se por<br />

trás das cercas de quebra-dêdo dum roçado morto e sumiu-se no carrascal<br />

sêco. Ela foi ao cercado contíguo, selou o magro cavalo do<br />

marido e rumou para a fazenda do poderoso senhor feudal Gonçalo<br />

Nunes Leitão, que lhe não negou asilo e a guardou até sua morte muitos<br />

anos depois. A Justiça pôs gente ao encalço do pobre preto, menos<br />

culpado do que a cruel adúltera, e pegou-o, após difíceis correrias,<br />

numa alfurja da serra do Machado. O júri da cidade de Quixeramobim<br />

condenou-o á morte em Março de 1837, em virtude da bárbara<br />

lei de 10 de Junho de 1835 que dispunha fosse executado sem<br />

apelo nem agravo o cativo que matasse seu senhor. Realizou-se a execução<br />

no dia 30 do referido mês, <strong>com</strong> o protocolo do costume: dobres<br />

de sinos, préstito pelas ruas principais, juiz a cavalo e de luto, e o<br />

porteiro dos auditórios apregoando a sentença.<br />

Na véspera, o tenente-coronel Pedro Jaime de Alencar Araripe, juiz<br />

da execução, verificou que para esta faltava o principal: o carrasco.<br />

Quixeramobim ainda não era bastante importante para possuir um algoz<br />

oficial e, na ocasião, não havia na cadeia municipal condenado al-<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

gum qu# pudesse obrigar ao repugnante oficio. Lembrou se, porém,<br />

que, entre as grades da prisão, conforme o belo costume do<br />

tempo, se achavam muitos pobres matutos recrutados por ordem do<br />

governo afim de seguirem para a campanha contra os Farrapos do<br />

Sul. Foi lá e, no meio dêles, alvorotados, fez esta proposta:<br />

— Ofereço aquêle que se encarregar de enforcar o negro Francisco<br />

soltura imediata, cinco mil reis em prata, uma galinha gorda e uma<br />

garrafa de vinho!<br />

Houve longa indecisão silenciosa, la retirar-se já, descoroçoado, quando<br />

um caboclo atarracado se apresentou :<br />

— Eu faço o serviço, seu Juiz!<br />

— Está bem. Amanhã mandarei buscá-lo.<br />

Quando os outros lhe exprobaram o gesto, o improvizado verdugo replicou<br />

sêcamente:<br />

— O que eu quero é a soltura. Tenho mãe velha, pobre e doente. . .<br />

A forca foi alevantada no alto do Rosário, dominando os arredores.<br />

Todos os proprietários de escravos da redondeza trouxeram seus negros<br />

para assistirem áquêle exemplo salutar. Havia povo <strong>com</strong>o areia<br />

no rio. E o vigário interino Inácio Lobo, confessor da agonia, cantava<br />

em voz alta e fanhosa o salmo L de David :<br />

"Tunc acceptabis sacrificium justiae..."<br />

Quando o corpo do negro se balançou á ponta da corda, João Antonio<br />

de Génova, apelidado João Bagatela, homem que em tudo achava<br />

motivo para uma pilhéria, pôs as mãos ao peito e exclamou: — Fuisset!<br />

Aí, o céu que repentinamente se turvára, apesar da absoluta falta de<br />

chuvas que viera até o equinóxio, <strong>com</strong>eçou a pingar. E logo, <strong>com</strong> o<br />

estrondo pavoroso de cem trovões e os ziguezagues malucos dos relâmpagos,<br />

desabou uma torrente de agua. A multidão debandou, assombrada.<br />

Era um verdadeiro milagre aquêle inverno tardio e inesperado.<br />

Talvez fosse o anuncio de que Deus perdoara áquêle desgraçado.<br />

E o povo, pensando que os poderosos da terra haviam eximido<br />

de justo castigo a mulher duplamente culpada de adúlterio e homicídio,<br />

enquanto era sacrificado sozinho seu mísero cúmplice, se inclinava<br />

a tomá-lo <strong>com</strong>o mártir.<br />

Durante anos, acenderam-se á noite, no local da forca, velas em sua<br />

intenção. Fizeram-se promessas á sua interferencia. Curioso, porem, é<br />

que esqueceram seu nome trivial Francisco e passaram a somente se<br />

referirem a êle <strong>com</strong> a exclamação pilhérica escapa aos lábios trocistas<br />

do Bagatela. Com mais um pouco, o misticismo sertanejo facilmente<br />

o transformaria em bemaventuraao. E São Fuisset teria feito talvez o<br />

papel do Conselheiro ou do Padre Cicero. . .<br />

MEDEIROS E<br />

ALBUQUERQUE<br />

Commemorando a passa-<br />

gem do primeiro anniversario<br />

do fallecimento de Medeiros e<br />

Albuquerque, o saudoso poly-<br />

grapho brasileiro, que por<br />

longo tempo emprestou á<br />

ILLUSTRAÇÀO BRASILEIRA<br />

o brilho de seu talento, a Aca-<br />

demia Brasileira de Letras, da<br />

qual o grande escriptor foi membro des-<br />

tacado e fundador, realisou uma sessão<br />

publica, em que usaram da palavra di-<br />

versos oradores.<br />

Vemos acima a tribuna daquelle máxi-<br />

mo cenáculo das letras nacionaes<br />

occupada pelo académico Cláudio de<br />

Souza quando lia uma pagina magnifi-<br />

ca sobre a personalidade do inesqueci-<br />

vel cultor das letras patrias e em des-<br />

taque uma das ultimas photographias<br />

do grande e saudoso escriptor.


AS TRES<br />

CAPITAES<br />

DO NORDESTE<br />

/^vS aviões, que fazem a carreira da<br />

^^ Capital Federai para o Norte do<br />

Brasil, passam, <strong>com</strong> differença de pou-<br />

cas horas, sobre as tres capitaes nordes-<br />

tinas: Natal, João Pessoa, Fortaleza.<br />

A paizagem do iittoral é uniforme e can-<br />

sativa: coqueiraes verdes, praias bran-<br />

cas, mares azulados. De repente, um<br />

presepe : Natal.<br />

Depois, continua a mesma uniformida-<br />

de: azul do mar, branco da praia, ver-<br />

de do mar, até João Pessoa, <strong>com</strong> as<br />

ruas bem riscadas, os seus pomares bo-<br />

nitos, as suas casas novas e claras.<br />

E após nova extensão de coqueiraes,<br />

praias e mar — Fortaleza, <strong>com</strong> os cata-<br />

ventos alegres, as ruas <strong>com</strong>pridas e di-<br />

reitas, a sua vida, o seu movimento de<br />

cidade grande.<br />

Quando ha secca, a paizagem é a mes-<br />

ma: miséria em Fortaleza, miséria em<br />

João Pessoa, miséria em Natal.<br />

N A T A L<br />

F O R T A L E Z A<br />

J O Ã O P E S S Ô A


L-EI RA<br />

NA TPADIÇAO DAS ARTES GQAPWICAS NACIONAES<br />

Omez de Julho, na historia da imprensa brasileira tem uma<br />

expressão in<strong>com</strong>parável, particularmente grata á esta re-<br />

vista. V *<br />

Foi por esse sétimo mez de um anno sobre o qual já decorreu<br />

rnais de meio século, que <strong>com</strong> a publicação da primitiva ILLUS-<br />

TRAÇÃO BRASILEIRA, as artes graphicas no Brasil tiveram o<br />

marco assignaiador de sua evolução de que a actual ILLUSTRA-<br />

ÇÃO pode ser dita hoje o especimen espoencial.<br />

A primeira ILLUSTRAÇÃO BRASILEIRA, fundada e dirigida por<br />

Henrique Fieiuss, appareceu a I de Julho de 1876, nesta capital,<br />

e sahiu das officinas do Imperial Instituto Artistico, á rua da Aju-<br />

da n. 61, prédio dos padres Paiva, na Chacara da Floresta. Essa<br />

publicação, editada peio ultima vez em Abril de 1878, e cuja<br />

collecção <strong>com</strong>pieta forma dois volumes encadernados, mereceu,<br />

em 1876, uma apreciação que dispensa quaesquor outros enco-<br />

mios e foi a seguinte: m O Imperial Instituto Artistico, estabele-<br />

cido nesta Corte, encetou ultimamente, <strong>com</strong> o titulo de ILLUS-<br />

TRAÇÃO BRASILEIRA, uma primorosa pubiicação que, por seu<br />

merecimento, interessa indubitavelmente a todas as classes da so-<br />

ciedade e muito pode utilizar a este paiz, se lhe não faltarem<br />

auxilio e protecção.<br />

Reconhecendo, pois, quanto uma publicação desta ordem pode e<br />

deve infiuir no desenvolvimento intellectual e progresso moral e<br />

material do Brasil, mediante a vulgarização do que mais importa<br />

ao melhoramento nos diversos ramos das artes e industrias, re-<br />

<strong>com</strong>mendamos a ILLUSTRAÇÃO BRASILEIRA, <strong>com</strong>o obra patrió-<br />

tica que muito honra o nosso paiz. (a) Luis Antonio Pereira ivari-<br />

co (ministro, da Marinho), Visconde do Rio Branco (senador do<br />

Império), Paulino José Soares de Souza (conselheiro de Estado),<br />

José Thomaz Nabuco de Araujo (senador do Império), Francisco<br />

Octaviano de Almeida Rosa (senador do Império), Thomaz José<br />

Coelho de Aimeida (ministro da Agricultura), José Bento da<br />

Cunha Figueiredo (ministro do Império), Barão de Angra (vice-<br />

almirante), Diogo Velho Cavalcante do Albuquerque (ministre<br />

da Justiça), Monsenhor Joaquim Pinto de Campos (deputado ge-<br />

ral), José Feliciano de Castilho (conselheiro), Barão de Wildik<br />

(ministro Interino e cônsul de Portugal), Zacharias de Góes e<br />

Vasconcellos (senador do Império), Manuel Antonio Duarte de<br />

Azevedo (ex-ministro do Justiça), Barão de S. Felix (inspector<br />

geral da Instrucção Publico), João Cardoso de Menezes e Sousa<br />

(conselheiro e deputado).<br />

O Imperial Instituto Artistico recebeu diversas remunerações hon-<br />

rosas nas Exposições de Paris, Vienna e Philadelphia, todas con-<br />

firmadoras do prestigio das ofticinas de que sahiu, precisamente<br />

ha 59 annos, o primeiro numero da primeira ILLUSTRAÇÃO<br />

BRASILEIRA, o que antes de tudo se <strong>com</strong>prehende, dada a auto-<br />

HENRIQUE FLEIUSS<br />

FUNDADOR DA<br />

PRIMEIRA<br />

I L L U S T R A Ç Ã O B R A S I L E I R A<br />

ridade in<strong>com</strong>parável de seu tundador e director, Henrique Fieiuss.<br />

Quando Henrique Fieiuss, em 1858, <strong>com</strong> 35 annos de edade veiu<br />

para o Brasil, as artes graphicas propriamente dizendo, não exis-<br />

tiam. A mais aperfeiçoada tentativa de publicidade illustrada, o<br />

"Corcundão", que appareceu em Recife no anno de 1831, impri-<br />

mia vinhetas abertas a canivete em entrecascas de cajuzeir^, o<br />

<strong>com</strong> a impressão dessas vinhetas realisava a ultima palavra em<br />

imagens impressas... Atè 1860, nas diversas Provindas, as tenta-<br />

tivas de imprensa illustrada não foram além das vinhetas repre-<br />

sentando passarinhos de preferencia e todas gravadas em blocos<br />

de madeira, a ponta de canivete.<br />

Em 1832, o Rio conheceu o seu primeiro periodico illustrado, "O<br />

Martello", e logo surgiu aqui a "Cegarega" e tanto um <strong>com</strong>o<br />

outro não iam aíem desse processo de gravura, por assim dizer,<br />

manual. Quando, em 1859, Henrique Fieiuss inaugurou nesta ci-<br />

dade o seu primitivo estabelecimento, existiam no Rio exactamen-<br />

te duas dúzias de typographias, todas bastante precarias no seu<br />

apparelhamento. No anno seguinte, Henrique Fieiuss fez distribuir<br />

o cartaz-annuncio illustrado que foi o primeiro executado no Rio<br />

de Janeiro, e que era a reclame da "Semana Illustrada", publica-<br />

ção que veiu a ser editada regularmente, aos domingos, ate 1876<br />

o que deve ser considerada <strong>com</strong>o a nossa primeira revista de de-<br />

senho o caricatura digna dessa qualificação. Então as officinas do<br />

"Instituto Artistico" ficavam á rua Direita n. 49, de onde se<br />

transferiram para o largo de S. Francisco de Paula n. 16; dahi para<br />

a rua da Constituição ns. I e 6, e de novo para a rua Direita, esta<br />

vez para o n. 21, o afinal, para o casarão da Chacara da Flo-<br />

resta, de onde sahiu o primeiro numero da primeira ILLUSTRA-<br />

ÇÃO BRASILEIRA. -<br />

Henrique Fieiuss, precursor das artes graphicas no Rio de Janei-<br />

ro e um dos creadores das artes, da caricatura, da lithographia,<br />

xilographia e da imprensa illustrada no Brasil, teve a sua obra<br />

mais perfeita, a sua creação definitiva na ILLUSTRAÇÃO BRA-<br />

SILEIRA, portanto.<br />

O artista e technico illustre, inaugurador da época mais expressi-<br />

va, por mais artística, da nossa historia da gravura e do desenho<br />

impresso, de cujo mérito e fecundidade <strong>com</strong>o desenhador de<br />

"charges" e retratista de vultos proeminentes dão conta impres-<br />

sionante os 15 volumes encadernados da "Semana Illustrada" em<br />

que apenas teve a coliaboração de Flumen Junius, Pinheiro Gui-<br />

marães, Aurelio de Figueredo, e por menos tempo a de Angelo<br />

Agostini, — nasceu na Allemanha, na cidade de Colonia, a 28 de<br />

Agosto de 1823, e falleceu nesta capital, na casa da rua Humay-<br />

tá n. 32, a 15 de Novembro de 1882, depois de viver 24 annos<br />

no Brasil, onde constituiu familia e onde nasceram os seus filhos,<br />

um dos quaes é o Dr. Max Fieiuss, secretario perpetuo do Institu-<br />

to Historico e Geographico Brasileiro.


M E L A N C H O L I A<br />

MARQUES JUNIOR<br />

(Da Galeria particular do Pro!. Eliseo Visconli]


"Hsle pequeno monumento de aríe, de linhas delicadas<br />

e graciosas, é uma das obras da irresistivel vocação<br />

artisiica de Valentim da Fonseca e Silva, aquelle admi-<br />

ravel "Mestre Valentim", que foi uma das mais puras<br />

glorias do Brasil colonia.<br />

ES7ATUA 9<br />

RUNOLOA<br />

NO BHAZIL<br />

NO Vt'CE HEIM *.to<br />

kurz OE VASCWCN.',<br />

Í7C3<br />

ESTATUA FEITA W<br />

POR<br />

WIEKTIM DA FONSECA ESIW<br />

IM TUA AL OE MIN4S GERÍCS<br />

COIIHECIOO<br />

POR<br />

MESTRE VALENTIM<br />

No seu modesto pedestal e nas suas proporções sem re-<br />

levo, é natural que ella não conste das guias de turismo,<br />

nem attraia a attenção dos devotos da estatuaria. Mas o<br />

trecho do Jardim Botânico que lhe serve de moldura é<br />

risonho e bucolico, e ella gosa o prestigio da tradição,<br />

pois, alem de ter sahido das mãos do mestre insigne, é<br />

A PRIMEIRA<br />

ESTATUA<br />

FUNDIDA<br />

NO BRASIL<br />

a primeira estatua que se fundiu no Brasil. Mestre Valentim


ATO ÚNICO (Salão de residencia particular)<br />

UM ESPOSO Pi AC ION AL<br />

CENA PRIMEIRA<br />

P A T O L A E C A R O L I N A<br />

PATOLA — Oh, as mulheres, as mulheres! A nada prestam atenção. A nada,<br />

a nada, a nada...<br />

CAROLINA — (que lê um jornal). Não nado assim, que se cansa e naufraga.<br />

PATOLA — Por que não protesta, por que não contesta?<br />

CAROLINA — É muita testa para uma só cabeça.<br />

PATOLA — Faz trocadilhos e chalaça quando lhe exponho a teoria cientifica<br />

que vou adotar nesta casa.<br />

CAROLINA — Estou lendo a noticia do jogo de ontem.<br />

PATOLA — É isso! Foot-ball, foot-bail, box, corridas, chás dançantes... Não<br />

pensam na familia, nos filhos.<br />

CAROLINA — Não temos filhos!<br />

PATOLA — E de quem é a culpa?<br />

CAROLINA — Hom'essa! É a mim que você pergunta isso? Na minha familia<br />

todas as mulheres são filhentas.<br />

PATOLA — O esteril sou eu, então?<br />

CAROLINA — Seu bisavô teve apenas tres filhos, seu avô dois, e seu pai só<br />

essa beleza que é você. — A raça foi minguando e deu em zero.<br />

PATOLA — Vamos acabar <strong>com</strong> esta troca de frazes de espirito.<br />

CAROLINA — Troca? Você é generoso consigo mesmo.<br />

PATOLA — Deixe esse jornal.<br />

CAROLINA - (<strong>com</strong> ar de enfado, deixando o jornal). Pronto, meu rei e senhor<br />

!<br />

PATOLA — A teoria que lhe quero expor...<br />

CAROLINA — Mas você já a expoz cincoenta vezes. Está toda ali naquele<br />

cartaz...<br />

PATOLA — Oh! O cartaz virado pelo avesso. Quem fez aquilo?<br />

CAROLINA — Eu. porque estou cançada de ouvir e ler essa teoria.<br />

PATOLA — (Vira o cartaz, e lê o que nele está escrito). Deve te-lo sempre<br />

diante dos olhos e ler sem cessar suas sentenças: "Trabalhe <strong>com</strong><br />

atenção! Não despe r dice a matéria prima. Produza o máximo<br />

no menor tempo, <strong>com</strong> ordem e hygiene. Comunique qualquer irregularidade<br />

da machina. Pense sempre no serviço que está executando.<br />

Ame seu <strong>com</strong>panheiro do trabalho. A Confiança mutua<br />

no esforço é indispensável." (a sorrir enlevado). Aqui está<br />

um programa. Veja!<br />

CAROLINA — Você tem conciencia de ter seguido aqueles principios, de ter<br />

procurado, por exemplo, produzir o máximo no menor tempo,<br />

quando não checamos nem ao menos a ter um filho de sete<br />

mezes?<br />

PATOLA — Perdão, não se trata disso. Já organizei a racionalização do trabalho,<br />

de acordo <strong>com</strong> o centro cientifico de Genebra, em cento<br />

e cincoenta fabricas Só minha casa ainda não pude racionalizar.<br />

CAROLINA — Talvez porque a


A GRANDE INTERPRETE DOS<br />

POETAS DA AMERICA<br />

De regresso a sua Patria, depois do uma excursão triumphal, Berta Sin-<br />

germann. a grande artista bem amõda do nosso pub'ico, esteve mais uma<br />

vez, no Brasil, dando aigunios ho r as de profunda emoção á sociedade<br />

carioca quo tanto a admira.<br />

A notavei declamadora, que so fez a maior interprete dos nossos poetas<br />

e que conquistou um logar de especial relevo enire os artistas da Ame-<br />

rica, não quiz sahir pelo Brasii, sem deixar-nos uma lembrança da sua<br />

passagem pelo Rio que ella tanto ama e que lhe retribue esse sentimento<br />

<strong>com</strong> uma admiração exhaltada e vibrante.<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA -<br />

PATOLA —<br />

Porque ficaram sabendo que nem daqui a dois séculos serão pagos.<br />

E tanto ó assim que o Congresso acabou <strong>com</strong> a economia<br />

fonética, única que dispúnhamos para pagar aos credores extornos.<br />

. .<br />

Isso é ieria. Vamos ao que serve. Preciso saber quanto tempo<br />

gasta a cosinheira em descascar as batatas, e em cada um dos<br />

trabalhos de cosinha...<br />

Em escolher o arroz, em limpar as vagens, em cortar os xuxús.<br />

Isso mesmo. Verifique também, se ela se coça emquanto cosinha,<br />

para eliminarmos tal fator de desperdício de tempo.<br />

É melhor verificarmos logo se ha pulgas. Anda-se mais depressa.<br />

Perfeitamente. (Aos saltos). Bravos!... Bravos!... (bate palmas).<br />

Que alegria é essa?<br />

Você acaba de exceder-me, racionalizando desde logo a tarefa.<br />

De fato. é mais pratico vêr logo se ha pulgas!<br />

Que mais devo fazer?<br />

Verificar a condutibilidade de calor das panelas para aproveitamento<br />

<strong>com</strong>pleto das calorias e redução da despeza de <strong>com</strong>bustível<br />

.<br />

Mas se pusermo-nos a pensar em tudo isso. acabaremos sem apetite,<br />

meu marido!<br />

Por que se cosinha aqui em panelas?<br />

Porque toda gente cosinha em panelas e em casa de meus pais<br />

também se fazia assim.<br />

Pois seus pais, seus avós. procediam Irracionalmente. ..<br />

Espere ahi... Cuidado <strong>com</strong> a família!...<br />

Devemos usar a marmita de pressão, que uma vez aquecida, conserva<br />

o calor fóra do fogo. Economizamos no primeiro mês, <strong>com</strong><br />

a marmita, trinta mil reis de gás.<br />

E no segundo mês estourou a marmita, a agua fervendo levou o<br />

nariz da cosinheira e Daqámos 500 mil reis de hospital e medico. . .<br />

Foi excelente!<br />

Excelente?<br />

Sim porque me permitiu corrigir os defeitos da marmita e crear<br />

o nariz de folha de Flandres, para protejer o nariz das cosinheíras.<br />

Daqui a alguns anos, quando tudo estiver racionalizado...<br />

- As cosinheiras andarão <strong>com</strong> nariz de folha de Flandres, <strong>com</strong> orelhas<br />

de alumínio, o <strong>com</strong> couraças de ferro... Vae ser uma<br />

beleza!<br />

(emquanto Carolina fala). As mulheres... as mulheres... Nada<br />

levam .a serio... (ouve-se a campainha da porta).<br />

ADELAIDE —<br />

CAROLINA —<br />

ADELAIDE —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA --<br />

CAROLINA —<br />

PATOLA —<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

ADELAIDE<br />

CAROLINA<br />

ADELAIDE<br />

CAROLINA<br />

ADELAIDE<br />

CAROLINA<br />

ADELA'DE<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLNA •<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

OS M E S M O S<br />

<strong>com</strong><br />

ção.<br />

<strong>com</strong><br />

CENA SEGUNDA<br />

E A D E L A I D E (creada)<br />

(está vestida <strong>com</strong> uma túnica impermeável. Traz mascara<br />

tica. Mal pode andar. Respira <strong>com</strong> dificuldade).<br />

Que monstro é esse? É você, Adelaide?<br />

(faz gestos afirmativos). Sou eu, patroa!<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

antise-<br />

É a Adelaide vestida racionalmente. Está toda impermeável e<br />

mascara antisetica para eslerilizar a inspiração e a expira-<br />

Quando tiver que atender á porta e por-se em contacto<br />

elementos exteriores possíveis portadores de germes infec-<br />

ciosos, usará aquela mascara. Vá ver quem bate! (Adelaide sáe).<br />

Já perdemos quatro creadas por causa dessas extravagancias.<br />

Adelaide que entrou hoje, vae despedir-se hoje mesmo. (Caem<br />

em cena a capa impermeável, a mascara e a touca da creada,<br />

Carolina e Patola dão um salto, assustados).<br />

Olhe! São as roupas racionalizadas da creada. Esporou, apenas<br />

alcançar a porta para tugir. Pensou que você enlouqueceu.<br />

Os aoostolos foram sempre tidos por malucos (ouve-se a campainha<br />

).<br />

Vou eu ver quem bate. {sáe e volta pouco depois). Se não é<br />

um doido, pouco fa'ta. Deu-me este cartão em que só ha estes<br />

algarismos: 1240.<br />

Como doido? O nemem mais sensato do mundo. É meu caro<br />

1240.<br />

— Algum preso que traz ainda o numero da Detenção?<br />

— Qual preso!... Corro a abraçal-o (sáe).<br />

CENA TERCEIRA<br />

C A R O L I N A E A D E L A I D E<br />

— (entrando abaixada e <strong>com</strong> mil cautelas). Patroa, patroa!<br />

— Que ó ?<br />

— Não pude fugir por causa do maluco que está na porta, e diz<br />

que se chama 1240. Vou sair pela cosinha.<br />

— (a rir). Você assustou-se á toa.<br />

— É que a senhora não ouviu a conversa deies. O patrão disse ao<br />

maluco: Oh, 1240 dê cá um abraço. O maluco respondeu-lhe: A<br />

meus braços, I . 100.. .<br />

— Esse negocio de números ainda não <strong>com</strong>preendi, também!<br />

— Seu marido perguntou: Como vai o duzentos reis, filho do mil<br />

reis! O outro respondeu: Bem obrigado, ontem ainda jantou <strong>com</strong><br />

o 4.500... Só faltaram dizer: Como vai o tostão? Casou-se ontem<br />

<strong>com</strong> uma prata de dois mii reis. Estão doidos! Fuja, patroa!...<br />

(sáe e. correr).<br />

CENA QUARTA<br />

C A R O L I N A E P A T O L A<br />

Que nova invenção é essa de números?<br />

t a familia decimal, isto é a família racional. Por o-.te cartão<br />

por exemplo (lê o cartão) 1240, vi que se trata do filho de 4.<br />

neto de 2. bisneto de Um. Ele não quiz entrar porque vae 6<br />

casa do 2482. que está rnuito mal, sob os cuidados do doutor<br />

18400 e do grande cirurgião Um milhão e quatrocentos mil.<br />

(afastando-se). Não entendo nada.<br />

Por que se chama você Carolina? Por que me chamam Patola?<br />

Per que se deram nomes ás pessoas?<br />

(áoarte). Querem ver que está doide mesmo?<br />

— Por que?<br />

• (receiosa). Não sei... para que se soubesse quem eram., Mas<br />

acalma-se, sim? Você é bomzínho...<br />

• (a rir). Pensa que estou doido? (gargalhada excessiva). Quiá...<br />

quiá . . . quiá . . .<br />

• (áparte) Meu Deus! Eslá mesmo doido!<br />

CENA QUINTA<br />

OS MESMOS E ADELAIDE (que de rastros, junto dos bastidores<br />

puxa a saia de Carolina)<br />

ADELAIDE — Fuja, patroa!... Eie está variado! (desaparece).<br />

PATOLA — Não estou doido, minha filha. £ coisa simplicíssima.<br />

CAROLINA — (amavel). Eu sei, mou bom! •<br />

PATOLA — Queremos apenas simplificar a famiiia. É o caso das panelas. Em<br />

todas as famílias havia panelas.<br />

ADELAIDE — (que reaparece, na mesma atitude). Famiiia é panela! Está doido,<br />

patroa! Veia se e!e rasga dinheiro, experimente, patroa! (sáe).<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CENA SEXTA<br />

C A R O L I N A E P A T O L A<br />

(assustadíssima). Bôa idéa (dá uma nota de dez mil reis a Patola).<br />

Você quer rasgar esta nota?<br />

Você quer convencer-se que não estou doido? Pois guarde esse<br />

dinheiro. Fiquei na paneia, não foi?<br />

Foi, meu bom.<br />

Não está de acordo?<br />

Estou sim, a familia é mesmo uma paneia.<br />

Panela, coisa nenhuma. Deixe de tolices. Disse-me você que se<br />

cozinhava em panelas porque nossos pais assim fizeram. Quanto<br />

aos nomes das pessoas, dá-se a mesma coisa. Chama-se uma<br />

pessoa Frederico, Antonio, Moisés, ou Simfronio, sem nenhuma razão<br />

lógica. Pela racionalização vamos dar a cada pessoa um numero<br />

pelo sistema decimal.


ENTRE<br />

DUAS<br />

ENSEADAS<br />

A Praia Vermelha e<br />

um pedaço do Rio,<br />

perdido entre duas enseadas<br />

e espremido entre<br />

dois morros. Tem<br />

a melodia do mar cantando<br />

de dois lados.<br />

Será por isso que lhe<br />

deram o nome de<br />

Praia da Saudade?<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

PATOLA<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

Ah, é isso?<br />

Tomemos por exemplo, quatro irmãos. Serão I. 2. 3. 4. Adotando-se<br />

o sistema decimal o filho do numero um será o numero<br />

10, o filho de 10 será 100, o filho de 100 será mil, e assim por<br />

diante. O filho de dois. será vinte, o neto duzentos, o bisneto<br />

dois mil. — Quando me disserem aqui está o dois mil, seu que é<br />

filho de duzentos, neto de vinte e bisneto de dois. Não é espantoso?<br />

(aliviada). Parece...<br />

Simples, simplicíssimo. Li este carião e nestes números ví toda<br />

a ficha genealógica do visitante. E por isso corri a abraça-lo, exclamando:<br />

Oh. 1240 digno filho...<br />

De cento e vinte o quatro...<br />

Exatamente. Veja <strong>com</strong> é intuitivo meu sistema,<br />

(a rir). Sim. é verdade, mas acode-me uma duvida...<br />

Já sei... Os filhos que não chegam a termo. As creanças que<br />

morrem ao nascer?... São frações decimaes. Tantos filhos e<br />

tantas frações.<br />

Não é isso. Os filhos naturaes...<br />

Não tinha pensado nisso, (reflete). Espere lá! Achei. Põe-se um<br />

expoente ao alto da cabeça pai. quero dizer do numero do pai,<br />

corno se faz <strong>com</strong> os números ao quadrado.<br />

Isso é genial. Haverá maridos ao quadrado e ao cubo...<br />

Vou, agora, a um deposito de adubo animal que estou racionalizando.<br />

Mas nisso não ó possivel aumentar a produção.<br />

Como não é? Dou ao gaoo umas pilulas reguladoras, pondo a<br />

inteligência ao serviço da natureza. A*é logo. (sáe).<br />

CENA SÉTIMA<br />

C A R O L I N A E G U S T A V O<br />

Esse meu marido! Vamos, agora, fazer um sinal ao Gustavo, (vae<br />

á janela, *az um sinal). Entra Gustavo.<br />

Teu marido custou a sair. Estou ha uma hora na esquina. Cada<br />

vez mais páu. não?<br />

Nem imagina. Insuportável. Agora, nem o gado escapa! Não fa-<br />

lemos dele. porém. Vem abraçar-me.<br />

Mou amor!<br />

Diga alguma coisa aiegre para distrair-me...<br />

Sabes auem morreu?<br />

Ora, é isso que você acha alegre?<br />

Minha tia rica . . .<br />

(a rir). Ah, bem. ..<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO --<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO —<br />

CAROLINA —<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

CAROLINA<br />

GUSTAVO<br />

Mortinha... e por causa das duvidas, enterrada. Somos cinco<br />

sobrinhos e resolvemos unanimemente enterra-la quanto anres.<br />

Como vocês queriam bem a sua tia...<br />

Toca cincoenta contos a cada um.<br />

Pensei que fosse mais!<br />

Eu. também. Não se pode ter confiança na familia. Foi por isso<br />

que eu dei o "fóra"<br />

vantagem.<br />

na familia. Só apareço quando ha aigjma<br />

Você vae empregar esse dinheiro, <strong>com</strong> muito juizinho. Não f


Leque representando a entrega das<br />

credenciaes por sir Charies Stuart —<br />

Offerta da Viscondessa de Cavalcanti<br />

ao Instituto Historico.<br />

DADIVAS valiosas fez a Viscondessa de Cavalcanti, em<br />

1926, ao Instituto Historico e Gcographico Brasileiro,<br />

destinadas ao Museu daquella associação, creado por<br />

suggestão de Francisco Adolpho Varnhagen (depois Visconde<br />

de Porlo-Seguro) em 1851.<br />

A Viscondessa de Cavalcanti, mercê de Deus, viva e vigorosa,<br />

foi um dos mais legítimos ornamentos femininos dos salões do<br />

segundo reinado, sendo nos dias que correm fidedigna informante<br />

dos successos daquella época.<br />

Amélia Machado Coelho de Castro, filha do Dr. Constantino<br />

Machado Coelho de Castro e de dona Marianna Barbosa de<br />

Assis Machado, casou-se <strong>com</strong> o politico do Império, Diogo<br />

Velho Cavalcanti de Albuquerque, em 1888 Visconde de Cavalcanti,<br />

que presidiu as províncias do Piauhi, Ceará, Pernambuco,<br />

foi ministro da Justiça, dos Estranjeiros, Agricultura,<br />

conselheiro do Estado extraordinário e <strong>com</strong>missario geral da<br />

delegação brasi!eira na exposição de Paris em 1889. Entre<br />

outros predicados de que se pôde orgulhar a Viscondessa é<br />

uma senhora de alto valor intellectuel, tendo escripto um Catalogo<br />

das medalhas brasileiras e das estrangeiras referentes<br />

ao Brasil, da sua collecção numismatica. Constitue uma obra<br />

admiravelmente impressa em Paris no anno de 1910 (officinas<br />

de Maçon, Protat Frères), dividida em dois volumes; o primeiro<br />

de textos descriptivos, o segundo da reproducção das<br />

medaihas.<br />

Trabalho de indispensável consulta no assumpto que versa.<br />

Mas entre as offertas da distinctissima titular, duas se destacam<br />

por seu grande valor.<br />

A de um quadro pintado em Pernambuco, sob o dominio hollandez,<br />

por Franz Post, e um leque encerrando uma allegoria<br />

á entrega das credenciaes de sir Charles Stuart em 1825.<br />

No quadro de Post lê-se num impresso, collocado na parte superior<br />

do verso da moldura:<br />

"Frederik Muller & C°. — Amsterdam.<br />

112 — Catalogue do Géographie de 1894 — Brésil —<br />

1155 — Vue au Brésil — Vue d'un panorama prise d'une<br />

colline sur le sommet de laquelle on voit les ruines d'une<br />

chapelle, style Rénaissance, dont surtout l'entrée décorée<br />

de sculptures captive l'oeil. On voit au fond de lá ruine<br />

les restes d'un autel avec des peintures. Un peu<br />

plus bas, l'entrée d'une rue à grandes maisons qui se<br />

perdent derrière la chapelle, sur l'avant-plan des habitants<br />

teis qu'un planteur, un soldat portugais, etc. Au<br />

loin la vaste plaine par ci par là se découvrent entourées<br />

de verdure un mouiin — è sucre, une flaque<br />

d'eau, etc.<br />

Tableau à l'huile, signé F. POST 400 Toile — Hauteur.<br />

85; largeur 113 cent.<br />

Un des plus importants tableaux que nous connaissions<br />

du peintre. Le lieu répresenté sera facile á déterminer<br />

vu les détails qui font supposer le boulevard d'une ville.<br />

T/M LtQirt<br />

MAX FLEIUSS<br />

y<br />

Secre/or/o do Instituto Historico<br />

e Ceographico<br />

François Post ac<strong>com</strong>pagna le Comte Jean Maurice de Nassau — Siegen<br />

au Brésil et appartenait à la suito de ce gouverneur. Il y peingnit<br />

plusieurs paysages d'après nature, entre 1637-1640. Ce beau<br />

Tableau en est un.<br />

O leque de maior importancia (pois foram offertados dois) é o que representa<br />

a entrega das credenciaes de sir Charles Stuart, o plenipotenciário<br />

imposte por Jorge Canning a dom João VI.<br />

Dossa allegoria o Barão do Rio Branco, por gentil acquiescencia da Viscondessa,<br />

mandou fazer uma cópia, existente numa das salas do Palacio Itamarati.<br />

No grupo das figuras destacam-se a de Stuart, dom Pedro I, tendo<br />

á direita a rainha Maria da Gloria (depois dona Maria Segunda, de Portugal)<br />

a imperatriz Maria Leopoldina, a grande propugnadora da nossa Independencia,<br />

e, em plano mais afastado, os très plenipotenciários do Tratado<br />

de 29 de Agosto de 1825 — Luiz José de Carvalho e Mello (Visconde da<br />

Cachoeira) no momento ministro aos Estrangeiros, Francisco Villela Barbosa<br />

(l.° Marquez de Paranaguá) ministro da Marinha e José Egydio Alvares de<br />

Almeida (Barão, Visconde e Marquez de Santo Amaro) que foi depois o<br />

primeiro presidente do Senado do Império e ministro dos Estrangeiros.<br />

Vê-se ainda no leque um anjo sustentando uma lapide <strong>com</strong> estes dizeres —<br />

Reconhecimento do Império do Brasil e da sua Independencia.<br />

É esse, talvez, o único retrato do Marquez de Santo Amaro. Não se conhece<br />

outro e não ha, neste particular, referencia alguma nem no fichário do Instituto<br />

Historico, nem no monumental catalogo da Exposição da Historia do<br />

Brasil, realizada em 1881, e preparado peio Sr. Ramiz Galvão.<br />

Ha alguns annos, por en<strong>com</strong>menda do Senado Federal, um esculptor, parecenos<br />

de nome Landucci, fez um busto de Santo Amaro para aquella casa de<br />

Congresso.<br />

Segundo a photographia desse busto, e que temos á vista, o trabalho não<br />

merece louvores e nada tem de semelhante <strong>com</strong> a figura pintada no leque<br />

offerecido pela Viscondessa de Cavalcanti.<br />

É, pois, objecto verdadeiramente precioso e que vale por um documento<br />

historico.<br />

Leque <strong>com</strong> uma allegoria a D. Pedro I —<br />

Offerta da Viscondessa de Cavalcanti ao<br />

Instituto Historico.


Sonha que um dia ha de chegar Aquella<br />

Que imaginas mais lyrica e mais bella<br />

Que as virgens dos vitraes,<br />

A Bem-Amada que será tão pura<br />

Que faria da tua desventura<br />

A inveja dos demais ...<br />

Sonha que ha formas intimas de vida<br />

Em que pôde a tu'alma embevecida<br />

Esquecer as agruras,<br />

Como as almas anonymas dos parias,<br />

Contemplando as estrellas solitarias<br />

Das noitadas escuras,<br />

Sonha que além de todo descortino<br />

Existe um mundo incognito e divino,<br />

Sem motivos de tédio<br />

E palavras de syllabas agudas<br />

E beijos <strong>com</strong>o os osculos de Judas<br />

E males sem remedio ...<br />

Sonha que nenhum sonho se esboroa;<br />

Que a Vida é bella, a Humanidade bóa<br />

E faz tudo o que diz;<br />

Pois se tiveres a desdita immensa<br />

De perder a virtude dessa crença,<br />

Nada no Mundo te fará feliz!<br />

A. J. P E R E I R A D A S I L V A


Corredor externo<br />

/Ph o/os Rembrondll<br />

RESIDENCIAS CARIOCAS<br />

Sala de entrada<br />

Fachada principal do rc;idencia<br />

Alfredo Schwarlz,<br />

cm Copacabana.<br />

Recanto de um dos aposentos


POUCOS thernas de<br />

nado tanto, <strong>com</strong>o<br />

arte me terão apaixo-<br />

a paysagem. Especialmente<br />

a brasileira, onde sempre me en-<br />

contrei em desaccordo <strong>com</strong> os mestres que a<br />

tem tratado. E desde Agostinho da Motta até.<br />

precisamente, Baptista da Costa. Por vezes va-<br />

rias tenho eu falado na interpretação da na-<br />

tureza brasileira, accentuando a variada diffi-<br />

cuidade que a nossa paysagem offerece para<br />

ser convenientemente interpretada. Posso assim<br />

dizer que tenho certa intimidade <strong>com</strong> esse gé-<br />

nero de arte...<br />

Para mim toda paysagem é um ser vivo. Ser-<br />

espiritual que apenas se serve dos aspectos ma-<br />

teriaes da natureza, <strong>com</strong>o a alma de nosso cor-<br />

po, para falar, significar, agir, amar... A pai-<br />

sagem habita em nós. Ella é sempre um pano-<br />

rama da alma que os nossos oihos podem con-<br />

templar. Deste ponto de mira, a paysagem é<br />

mais do que a figura...<br />

Mas reconheço, por isso mesmo, que ella se<br />

apresenta, entre nós, cheia do peripecias optif<br />

mas e technicas que ainda não tiveram so-<br />

lução.<br />

O problema mais difficil que se offerece é na-<br />

turalmente o da luz. Por vicio literário, todos<br />

acreditam que um paiz tropical deve, evidente-<br />

mente, possuir muita luz. No entanto qualquer<br />

observador seguro, e livre das convenções vi-<br />

suaos, poderá examinar, aqui, no Rio de Ja-<br />

neiro, á bahia de Guonabara, e nas horas de<br />

céu límpido, de ar lavado, extrema visibilidado,<br />

<strong>com</strong>o todos os actores do drama paysagistico.<br />

montanhas, valias, aguas, horizontes altos, ca-<br />

sario descendo os morros, <strong>com</strong>o tudo está ve-<br />

lado por um zaimph cinza, levemente perolado<br />

de finas irisações de azul, ou de castanho, ou<br />

do verde, ou de lilás osvaescentes. Os volumes<br />

buem nesse incorporeo véo movediço cuja vi-<br />

bração de gris se osmancha o se adensa, lon-<br />

ge, ephemero, mas persistente o translúcido,<br />

descendo pela encosta dos montes até á fím-<br />

bria das aguas onde se espicha em nevoaça<br />

que os burgalhões das praias, refrangendo a<br />

luz; fazem parecer escamados de claridade.<br />

Apesar dessa verificação visual, os nossos pay-<br />

sagistas jámais viram outra coisa senão verdes<br />

crus, vermelhos allucinantes, roxo batata, o mais<br />

chromismos extremistas.<br />

Busto de Baptista da Costa existente na<br />

sala de congregação da Escola Nacional<br />

de Bellas Artes, trabalho do esculptor<br />

Correia Lima.<br />

BAPTISTA DA COSTA E A PA YSAGEM BRASILEIRA<br />

Por FLÉXA RIBEIRO<br />

prof. cathedralico da Escola Nccional de Bellcs Aries<br />

Director do Curso de Arte Decorativo


VOLTA AO CURRAL — J. Baptista da Costa<br />

(Museu da Escola de Bellas Artes).<br />

De tal sorte, a paysaqem brasileira continua esperando o seu Corot. ou<br />

mesmo o seu Césanne.<br />

De todos os paysagistas nacionaes nenhum conseguiu maior fama, no<br />

genero, <strong>com</strong>o Baptista da Cesta. Realmente, se <strong>com</strong>pararmos os mes-<br />

tres que o antecederam, e em especial Agostinho da Mota, havemos de<br />

verificar que é considerável a distancia, do ponto de vista nacional.<br />

Fui grande amigo de Baptista da Costa, homem do prol no caracter,<br />

do lealdade pura, cuja memoria estimo sem interregno. Mas não me<br />

sinto impedido, por isso mesmo, de fazer-lhe justiça.<br />

Na arte do pintor brasileiro poderemos determinar tres fases bem cara-<br />

cteristicas; a) fase de pesquisa technica; b) *ase photochromatica de<br />

possessão de todos os recursos materiaes da reproducção das formas<br />

coloridas; c) fase regressiva, de inquietação pelo reconhecimento dos<br />

desvios <strong>com</strong>mettidos.<br />

Só num estudo de maiores progressos, seria possivel desenvolver-se todos<br />

estes capítulos. Por ora. poderei dizer que na primeira fase, Baptista da<br />

Costa, singelamente, sem influencia estrangeira, sem habilidade, tenta<br />

<strong>com</strong> certo êxito o flagrante da natureza. E varias de suas paysagens,<br />

<strong>com</strong>o a Volta ao Curral, do Museu da Escola Nacional de Bellas Artes,<br />

attestam que ©lie transpunha o que via <strong>com</strong> espontaneidade, num en-<br />

levo mys*ico de primeira impressão. Os seus verdes são húmidos, frescos,<br />

ás vezes, nas relvas, nos capins altos, fofos, tocados do pequeninos ar-<br />

repios na ondulação das terras, ha frémitos das brisas inquietas. Mas<br />

mesmo nesta primeira pauta, os céus não fogem, descem em cortina<br />

fechando o horizonte, não se encurvam no esbatimento cerúleo e impe-<br />

netrável.<br />

Na fase seguinte, a technica se aperfeiçoa para desgraça do pintor.<br />

O que havia de sentido e natural se perde; e apparece uma especie de<br />

pericia scientifica. de métier, que o leva a copiar tudo <strong>com</strong> deplorável<br />

precisão material. As tintas se empastam inertes; a epidorme da matéria<br />

ó dada sem differenciação. Desse estado é bem caracteristico o quadro<br />

que se reproduz, e que figura na Escola Nacional de Bellas Artes —<br />

Sapucaieiras engalanadas.<br />

A paysagem passa, então, para a categoria documentaria. As arvores,<br />

os arbustos podem ser identificados por um botânico. Além disso, ou<br />

por isso, mesmo o pintor se esmera infelizmente em bem pintar os porme-<br />

nores dos individuos vegetaes: e a paysagem se transforma numa triste no-<br />

menclatura botanica, <strong>com</strong>o se o mestre estivesse a serviço de um na-<br />

turalista. Como que as massas, os densos das folhagens desappareceram<br />

nas próprias minúcias. Além do mais, a luz não tem unidade <strong>com</strong> a<br />

cor: o pintor sabia de cór os themas picturaes no sentido pictoresco: o.<br />

sem sentir, reproduzia uma realidade ideal, que se não conformava <strong>com</strong><br />

a identidade da natureza. Por que assim procedesse, sua paysagem con-<br />

tinuava escura, de um sombrio lethargico: a vida brasileira parecia cons-<br />

tantemente ameaçada de um cataclismo. Para chegar a essa especie de<br />

standardização da habilidade, Baptista da Costa apagou ato os seus pre<br />

ciosos dons de poeta, que tão sentidos e <strong>com</strong>movidos se manifestaram<br />

na primeira hora de sua inspiração artística.<br />

Esqueceu que tanto na paysagem de horizonte limitado, <strong>com</strong>o principal-<br />

mente na panoramica, o que flagrancía o momento optico são preci-<br />

samente as massas. Na natureza não ha linhas, sómente volumes. Para<br />

dar a sensação do movimento — vibração luminosa e colorida —<br />

não se pode effectuar — o roteiro do pormenor. Devemos deixar<br />

para a photographia aquelle mistér minudente: a retina deve surpre-<br />

hender a synthese chromatica na evolução prismatica das massas vistas<br />

dentro da atmosphera luminosa.<br />

Nos últimos annos o mestre brasileiro, parecia retomar o tonus da pri-<br />

meira fase: e, <strong>com</strong> a larga experiencia, tentava uma revisão <strong>com</strong>pleta<br />

tanto no seu apparelho optico, <strong>com</strong>o na sua destresa manual. E houve<br />

evolução na technica. Baptista da Costa <strong>com</strong>eçava, entbo, a <strong>com</strong>prehen-<br />

der o quanto tinha vivido estranho aos verdadeiros processos de paysa-<br />

gem, no sentido dos grandes creadores, desde Poussin até os impressio-<br />

nistas, ou, se quizerem, até o discutido Utrillo.<br />

Apesar desse acordar tardio, ninguém negará a acção poderosa que teve<br />

Baptista da Costa na arte brasileira: e isso basta para o seu renome e<br />

para perpetuar sua influencia na penosa evolução da pintura nacional.


m •fciiWKV^<br />

mrtv.JHi<br />

V -.:- A<br />

fJs Rochas òe Dília Dolha<br />

NA immensa planura, cnde os pinheiros abrem, aqui<br />

e ali, as frondes de parasoes, o viajante depara,<br />

de repente, <strong>com</strong> aqueiia estranha cidade, negrejando ao<br />

ionge. Mais de perto, aquillo que parecia um amontoado<br />

de casas, assemelha-se a um rebanho de monstros prehis-<br />

loricos, parados, requentando-se ao so!. De perto, o as-<br />

pecto muda, mas não é menos maravilhoso: é um agglo-<br />

merado de rochas, de forma caprichosa, parecendo uma<br />

reunião de castelios em ruina, erguendo setteiras e tor-<br />

reões contra os céos tranquillos.<br />

Um curioso capricho da natureza, -formando um estranho<br />

scenario, na desolação da pianura ondulante.<br />

São as rochas de Vilia Velha, no Paraná.<br />

As chuvas, as intemperies, a longa e paciente mão da<br />

eternidade foi talhando r.a pedra desenhos vários: deuses<br />

primitivos, monstros sagrados, casteiios medievaes, arcos<br />

de triumpho, ruinas de cathedraes, estatuas de animaes<br />

totemicos.<br />

O silencio e a solidão aue rodeiam essa obra da natureza<br />

dão um toque de mysterio ás sombras que cahem das rochas.<br />

Urr>a folha que se mexe, um reptil que se agita, um<br />

rufio de asas, quaiquer ruido parece uma profanação nesse<br />

iogar ermo e morto. O espirito sente-se arrastado<br />

para o desconhecido. Que vertigem de pensamentos fugazes<br />

e sensações rapidas!<br />

Mas o sol brilha no céo e o clima ameno é uma caricia<br />

suavíssima.


CARLOS ALBERTO GONÇALVES<br />

Dos Serviços Commerciaes do<br />

Ministério do Exterior<br />

POTENCIAL<br />

HYDROELECTRICO<br />

BRASILEIRO<br />

O<br />

Brasil, graças á sua conformação erohydrographica,<br />

figura entre os paizes<br />

mais bem aquinhoados em relação á<br />

energia hydrauiica.<br />

Estima-so em cerca de 50 milhões de C. V. o<br />

potencial formado pelos seus cursos d'agua, em-<br />

bora, presentemente, se esteja ofticialmente<br />

constatado e estudado um conjuncto de<br />

16.678.000 C. V. Com tão valiosa fonte de<br />

energia natural que servirá de base a importantes<br />

industrias, sentiu-se a necessidade da creação<br />

de um serviço especializado destinado á defeza<br />

dessa grande riqueza nacional.<br />

Peio Decreto n. 23.016 — de 8 de Julho de<br />

1933, foi creado o Serviço de Aguas — subordinado<br />

ao Departamento Nacional da Producção<br />

Minera! — ao qual cabe a tarefa de estudar<br />

e avaliar as reservas de energias representadas<br />

pelo potencial hydrauÜco existente no paiz.<br />

Este serviço constitue o orgão <strong>com</strong>petente do<br />

Governo Federal para examinar technica e administrativamente<br />

os pedidos de concessão ou<br />

autorizações para o aproveitamento da energia<br />

hydrauiica, para a producção, transformação,<br />

transmissão e distribuição da força hydro-ele-<br />

Uma usina localisada no S. Francisco, aproveitando<br />

a oncrgia da Cachoeira do Paulo<br />

Arronco.<br />

Cachoeira de "Santa Fé", no Estado de Paraná.<br />

ctrica e também para regulamentar e fiscalizar, de modo especial e permanente,<br />

tacs serviços.<br />

Outra finalidade importantíssima do Serviço de Aguas do Brasil, é estudar<br />

o regimen dos rios cujo conhecimento é indispensável á reaiização<br />

de uma série de obras hydraulicas, <strong>com</strong>o : abastecimento e saneamento<br />

de cidades, navegação, irrigação e drenagem, defesa contra inundações,<br />

etc.<br />

Pelo Decreto n. 24.643 — de 10 de Julho de 1934, foi approvado<br />

o "Codigo das Aguas no Brasil" pelo qual ficaram incorporados ao património<br />

nacional, <strong>com</strong>o propriedade imprescriptivel e inalienavel, todas<br />

as quédas existentes em rios do dominio publico.<br />

Dado o crescente progresso verificado na industria hydro-electrica do<br />

paiz no decorrer dos últimos annos, taes medidas governamentaes são<br />

plenamente justificadas, pois muito cooperam para o bem estar collectivo.<br />

E' muito significativo o progresso constatado na industria hydro-eiectrica<br />

do Brasil. Foi só em 1883 que se instaíiou a primeira usina electrica no território<br />

nacional, <strong>com</strong> a potencia de 70 H. P.<br />

Em 1889, <strong>com</strong> o advento da Republica, existiam apenas duas installações<br />

hydro-electricas. Em 1920, 204; em 1930, 541; em 1934, 573 <strong>com</strong><br />

a potencia de 834.612 H. P.<br />

Para produzir a energia fornecida presentemente pelas quédas d'agua<br />

ás industrias do Brasil, seriam necessarias 6.250.000 toneladas de carvão<br />

por anno, no valor de 625.000 contos de réis!


AVALIAÇÃO DA ENERGIA HYDRAULICA DO BRASIL<br />

Da accordo <strong>com</strong> os estudos realizados pelo Serviço de<br />

Estados<br />

Amazonas<br />

Pará<br />

Maranhão . ...<br />

Piauhy<br />

Ceará<br />

R. G. do Norte<br />

Parahyba<br />

Pernambuco . . .<br />

Alagoas<br />

Sergipe<br />

Bahia<br />

E. Santo ......<br />

Rio de Janeiro .<br />

São Paulo ....<br />

Paraná<br />

Santa Catharina<br />

R. G. do Sul .<br />

Minas Geraes .<br />

Matto Grosso .<br />

Goyaz<br />

Total<br />

Dezembro de 1934. Em C. V.<br />

INDUSTRIA DA ELECTRICIDADE<br />

(Janeiro de <strong>1935</strong>)<br />

NO BRASIL<br />

Aguas até<br />

C. V.<br />

582.000<br />

368.880<br />

45.640<br />

I I.500<br />

I . 180<br />

II.000<br />

235.000<br />

I.223.000<br />

99.275<br />

543.096<br />

2.407.396<br />

I.497.052<br />

I63.508<br />

245.334<br />

5.827.625<br />

I.316.387<br />

I.I00.000<br />

15.678.I12<br />

Potencia dos motores<br />

Estados Empresas Usinas Primários em H. P.<br />

Acre 4 8 279<br />

Amazonas II 10 3.622<br />

Para 24 18 15.995<br />

Maranhão 8 7 1 .565<br />

Piauhy 8 8 1 034<br />

Ceará 37 33 7.803<br />

R. G. Norte 22 19 2.488<br />

Parahyba 34 33 2.941<br />

Pernambuco 89 76 29.287<br />

Alagoas 30 28 4.962<br />

Sergipe 21 22 2.683<br />

Bahia 42 46 31.118<br />

E. Santo 27 28 10.855<br />

Rio do Janeiro 48 57 235.222<br />

Districto Federa! 2 2 16.232<br />

São Paulo 134 417.968<br />

Paraná 33 35 22.1 lo<br />

Santa Catharins 18 21 18.775<br />

R. G. Sul 1 ! 5 125 51.643<br />

Goyaz 21 22 1.888<br />

Minas Geraes 249 293 127.923<br />

Matto Grosso II 10 2. 143<br />

Total 952 1.035 1.010.546<br />

Deste total, 834.612 H. P.. pertencem ás installações hydraulicas e 1 175.934<br />

H. P. és installações thermicas.<br />

(I)<br />

Acre<br />

Amazonas<br />

Pará<br />

Barragem da "Usina Chaminé<br />

M , no Paraná, do grupo das<br />

Empresas Eléctricas Brasileiras.<br />

S. A.<br />

LOCALIDADES DOTADAS DE FORÇA E LUZ NOS ESTADOS DO<br />

Estados<br />

Maranhão ....<br />

Piauhy<br />

Ceará<br />

R. G. do Norte<br />

Parahyba<br />

Pernambuco . ..<br />

Alagoas<br />

Sergipe<br />

Bahia<br />

E. Santo<br />

Rio do Janeiro<br />

Districio Federal<br />

São Paulo ....<br />

Paraná<br />

Santa Catharina<br />

R. G. do Sul .<br />

Goyaz<br />

Minas Geraes .<br />

Matto Grosso .<br />

BRASIL EM I.' DE JANEIRO DE <strong>1935</strong><br />

Numero de localidades<br />

<strong>com</strong> electricidade<br />

Total 1.778<br />

OS TERRITORIOS MAIS RICOS EM ENERGIA HYDRAULICA<br />

Congo<br />

França e Coionias<br />

Brasil<br />

Estados Unidos . .<br />

índia Ingleza ....<br />

China<br />

Canadá<br />

U. R. S. S<br />

Noruega<br />

Suécia<br />

Afganistão<br />

Total do mundo : 454.000.000 H. P.<br />

6<br />

I I<br />

25<br />

8<br />

8<br />

42<br />

25<br />

"37<br />

95<br />

32<br />

22<br />

58<br />

58<br />

108<br />

I<br />

452<br />

44<br />

Ó0<br />

137<br />

29<br />

508<br />

12<br />

90.000.000<br />

69.500.000<br />

50.000.000<br />

38.000.000<br />

27.000.000<br />

,.....' 20.000.000<br />

18.000.000<br />

17.000.000<br />

9.500.000<br />

8.000.000<br />

8.000.000<br />

Portugal e Coionias ....',...!.. 8.000.000<br />

India Nerlandeza<br />

7.500.000<br />

Argentina<br />

5.000.000<br />

Japão<br />

Mexico<br />

5.000.000<br />

5.000.000


• • W r ' -•• ^ffà*** „„•••„i, .<br />

A carreira das armas, mais do que outra qualquer, tem sua psyché especial e<br />

aquelles que a abraçaram nas varias situações, e em todas as épocas, sabiam<br />

bom o que os aguardava e delles se esperava: — vida de renuncias, de obediência,<br />

de disciplina, de devotamento, de abnegação, de desinteresse, de sacrifícios<br />

e de trabalhe obscuro.<br />

O conjuncto destas virtudes, especificas da carreira das armas, constitue o espirito<br />

militar, o qual é de certa maneira a razão de ser. a essencia e a alma daquella<br />

vida.<br />

E se é certo que, nos tempos que correm, o abastardamento de algumas profissões<br />

leva os que as adoptaram a occultarem-na, esquecendo-se mesmo das virtudes<br />

que deviam praticar; seria caso alarmante si tal acontecesse <strong>com</strong> os militares<br />

a quem estão confiadas tarefas gloriosas, únicas e intransferíveis que affectam<br />

aos mais altos interesses nacionaes: — defesa da soberania da Patria e<br />

garantia de sua integridade, as quaes repousam no brio, na lealdade, na dedicação,<br />

no espirito de sacrifício e na coragem das suas forças armadas, que sem<br />

taes qualidades não existem.<br />

Para se adaptar a uma profissão onde tanto so tem a dar e tão pouco a receber,<br />

<strong>com</strong>o <strong>com</strong>pensação material, impõe-se um aprendizado especial onde se habituem<br />

óquellas virtudes e sacrifícios que seu futuro estado lhes exigirá, quando<br />

inclusive deverão servir de exemplos aos seus subordinados.<br />

"Les premiéres leçons ont une haute influence sur toute notre carriére", disse o<br />

experiente General De Brack.<br />

A Escola Militar foi sempre o cadinho por excellencia onde se procurou fundir<br />

<strong>com</strong> esmero a alma dos educadores dos soldados. A sua vida intima decorreu<br />

Salto de obstáculo<br />

2SST-<br />

o W CADETE^<br />

4-»<br />

MAJOR JOSÉ FAUSTINO FILHO<br />

Do Estado Maior do Exercito e Professor<br />

da Esco/o de Intendendo.<br />

em torno deste escopo, embora variassem suas condições de épocas, locaes o<br />

recursos materiaes.<br />

REGIMEN ESCOLAR<br />

De inicio era a Academia Militar um externato que em nada differia das academias<br />

civis. Contra isto se insurgiram alguns ministros. O Conselheiro Manoel<br />

Felizardo no seu vehemente relatorio de i85l dizia: O aquartelamento não diminuindo<br />

a instrucção theorica, acostuma os jovens militares á obediencia. inspira-lhes<br />

hábitos da vida a que se destinam e torna-lhes familiares os exercicios<br />

de suas respectivas armas e pratica da economia dos corpos".<br />

O Marquez de Caxias, em 1856 ainda clama: "E porque a capital da Provincia<br />

offereça muitos objectos que provocam a distracção dos alumnos de seus estudos,<br />

especialmente não estando elles aquartelados em <strong>com</strong>munidade, o que,<br />

além daquella circunstancia, fal-os perder hábitos militares, e o conhecimento<br />

dos preceitos da disciplina do exercito".<br />

D regimen escolar estabelecido pelo primitivo regulamento, a carta de lei de<br />

1810, é seguido ainda hoje em muitos dos seus sábios preceitos.<br />

antigas administrações cuidavam muito das questões didacticas e disciplinais,<br />

descuraram-se porém do conforto que necessitavam aqueiles de quem exigiam<br />

um trabalho intellectual tão intenso.<br />

As Escolas Militares sempre tiveram por séde velhos casarões <strong>com</strong> architecturas<br />

inexpressivas e por vezes destoantes aa própria paysagem, <strong>com</strong>o acontecia no<br />

9mmoldurado magestoso da Praia Vermelha. Dentro delles o ambiente era de<br />

<strong>com</strong>pleto desconforto, <strong>com</strong> carência de luz artificial, falta d'agua e de hygiene.<br />

Ainda ha poucos annos, a Escola do Realengo apresentava aspecto fúnebre <strong>com</strong><br />

os cotos de vela por sobre as mesas dos que estudavam; porquanto, embora<br />

existisse intailação electrica, a economica illuminação consistia em duas fracas<br />

lampadas em cada alojamento.<br />

A prescripção do regimen escolar <strong>com</strong> que nunca os alumnos se conformaram foi<br />

a do portão só ficar desimpedido após o jantar; e contra ©lia empregam os<br />

mais interessantes truques. O sahir <strong>com</strong> uniforme de copeiro ou em trajes civis<br />

fingindo paisano foi recurso de que usaram o abusaram. E casos houve em que<br />

ao ser o travesti assim surprehendido pelo Offlcial de dia appareníava calma<br />

allegando haver "provável confusão <strong>com</strong> um irmão a quem acabava de visitar"...<br />

Na hora da revista o defensor do ausente põe á prova a sua argúcia, verificando<br />

por qual das <strong>com</strong>panhias <strong>com</strong>eça a tomada das faltas, pois deve <strong>com</strong>parecer<br />

a duas delias. E, quando do toque de silencio, para evitar as surpresas da<br />

"incerta", deita um judas na cama do faltoso.<br />

O TROTE<br />

Para honra da actual geração de cadetes desappareceu da Escola o tratamento»<br />

indelicado que davam aos recem-matriculados, não passando muitas vezes de<br />

simples exploração em proveito proprio quando a titulo de protecção escalavamn'os<br />

para ordenanças que deviam emprestar-lhes a roupa, supprir d'agua seus moringues,<br />

preparar-lhes o café ou chimarrão e ceder-lhes a sobremesa, pois "a<br />

falta de habito poderia ser causa duma indigestão".<br />

A serenata junto aos túmulos de notáveis brasileiros enterrados em S. João Baptista<br />

e a cuja homenagem os bichos eram obrigados a <strong>com</strong>parecer, transformou-se<br />

na prova de coragem da visita nocturna ao Cemiterio do Murundú.<br />

O tratamento a ser dispensado aos bichos chegou a constar dum jocoso regulamento<br />

que foi publicado no livro "Cacos de Garrafas" da autoria de Augusto


Sá, cujo artigo 23° declarava que o bicho — "Terá direito a não ter direito a<br />

coisa alguma".<br />

VOCABULARIO<br />

A vida em <strong>com</strong>munidade numa sã alegria de espíritos cultos que <strong>com</strong> verve<br />

glosam os acontecimentos creou certas gyrias que ca Escoia passaram para o<br />

linguajar das ruas, onde subindo para outros espheras se incorporaram ao vocabulário<br />

nacional, que é aliás <strong>com</strong>o se formam e enriquecem os idiomas.<br />

Da pinturesca gyria dos codotes provieram termos hoje muito em voga e dos<br />

quaes se desconhece a origem. Boia — surgiu para ironisar os escassos feijões<br />

que boiavam nos vastos caldeirões. Pistolão — vem do augmenlativo de pistola<br />

por via da situação em que os próceres se vêem, quando alguém de importância<br />

põe-lhes a arma ao peito em favor dum protegido. Sebo — nasceu da listra<br />

gordurosa que se forma na golla dos casacos surrados, e applicou-se a todo o<br />

traje civil. Larangeira — significa quem se pianta num logar e dali não se afasta.<br />

É o que aconiece ao alumno pobre e sem parentes no Rio que não arreda<br />

pé da Escola. Bilontra — ao contrario é o namorador que se esmera no trajar<br />

e passeia muito.<br />

Escovado — é o esperto que s.^be tirar partido das si ; uações; escovando um<br />

sebo velho banca o bilontra. Desapertar — é o acto de recorrer-se a alguma<br />

coisa de outrem para sahir-se duma entaladela, quer seja pelo emprestimo ou<br />

pela bateção, pois bater ó o apoderar-se dum objecto do que se precisa após<br />

uma batida, não sendo considerado crime desde que não chegue sua falta a<br />

causar prejuízo de vulto a seu dono. Lostibia — é o local onde se vendem<br />

<strong>com</strong>esaínas e lostibeiro quem as negocia. Troço — serve para designar qual<br />

quer objecto do qual não occorre o nome. Trepação — é falar mal da vida<br />

aíheia.<br />

E vão assim os cadetes iedamente enriquecendo o nosso vocabulario.<br />

DIVERSÕES<br />

Por assustado entendem-se assaltos successivos que, aos dois e tres, se faz á<br />

residencia duma familia conhecida, iniciando-se um baile, o qual, em breve,<br />

pelas proporções que toma, assusta... aos donos da casa.<br />

O caroço é um baile só de homens, verdadeiras garapa-dansante, cuja denominação<br />

provém da seguinte phrase, que teria sido dita por um bilontra: —<br />

Um assustado sem moças é um caroço; — o que quer dizer uma coisa diíficil<br />

de digerir. É geralmente organizado peíos larangeiras no sabbado seguinte<br />

ao soldo quando corre uma "vaquinha" para gratificar os músicos e <strong>com</strong>prar<br />

c capilé, a groselha e o paraíy <strong>com</strong> que se prepara a garapa, bebida quasi<br />

sem álcool que, não matando o bicho, dá, por isso mesmo, sustancia ás pernas.<br />

O caroço foi sempre a única escola de dansa dos cadetes que a consideram a<br />

melhor da cidade, exactamente pola ausência de damas, o que facilita o aprendizado<br />

por não haver "encabulações".<br />

Á elle só se admittem convidados duplamente cotados, isto é, merecedores do<br />

conceito dos cadetes e que tenham cahido <strong>com</strong> a respectiva cota.<br />

O caroço deu mestres de dansas e duas importantes creações genuinamente<br />

nacionaes, glorias de que os cadetes podem se ufanar. Foi ahi que nasceram o<br />

Maxixe e a Cerveja marca barbante.<br />

O cadete REIS entre outras phantasias chorecgraphicas lançou o Maxixe, que<br />

desde logo mereceu muitos applausos e geral acceitação. Da Escoia Militar<br />

da Praia Vermelha passou aos Clubs: Mczart,' Casino Fluminense, Democráticos<br />

e Tenentes, destes para as revistas de anno e acabou sendo lançado em Paris<br />

pelos emeritos cansarinos Duque e Gaby.<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

Vida no<br />

acampamento<br />

A Cerveja marca barbante provém dum aperfeiçoamento introduzido na bebida<br />

que os indios preparam <strong>com</strong> cascas de abacaxy e caroços de milho, postos<br />

por % alguns dias em infusão num pote d'agua e a que denominam —<br />

Aluá —.<br />

O cadete melhorou o systema pondo o miiho em infusão na calda do abacaxi<br />

numa garrafa arolhada. Com a fermentação a rolha era expellida e dahi<br />

a necessidade de amarral-a <strong>com</strong> barbanle, donde provém a denominação dada<br />

ás bebidas zurrapas.<br />

O cadete reprovado no exame de habilitação é desligado, diz-se então que desappareceu<br />

da Escola por ter embarcado no "Carro de fogo".<br />

Os que deile escapam dão um caroço a phantasia onde surgem alguns bellissimos<br />

vestidos de baile.<br />

As Bellas Artes sempre foram carinhosamente cultuadas na Escola Militar por<br />

amadores eximios.<br />

As sociedades "Club Acadêmico", "Recreio Instructivo", "Amor á Tribuna",<br />

"Emancipadora ", "Phénix Litteraria", "Sibliotheca Acadêmica", além de outras,<br />

marcaram época <strong>com</strong>o cantos onde se aprimoravam as intelligencias<br />

nas lidas literarias e scientificas, e os cadetes sempre mantiveram pelo menos<br />

uma boa revista mensai.<br />

Ahi estão para <strong>com</strong>provai-o as collecções da Revista da Sociedade Litteraria,<br />

idem da Phénix Litteraria e do Club Acadêmico, Revista Acadêmica, idem da<br />

Familia Acadêmica Via Lucis, Marte Annuario e Revista da Escola Militar, esta<br />

ainda hoje em franca prosperidade.<br />

"Cacos de Garrafas" creou <strong>com</strong> suas parodias e versos chistosos uma literatura<br />

um tanto original de que esta sextilha é um exemplo:<br />

No triste pateo da Escola<br />

Lesto vulto em corrióla<br />

Tentou baldada evasão!...<br />

E a sentinella, velando,<br />

Passeia só, murmurando:<br />

— "Não sahe ninguém no portão"!<br />

Cs amadores da arte dramatica não só frequentavam as torrinhas do Lyrico,<br />

de casaca e calças brancas, <strong>com</strong>o também representavam no rheatro da Escola,<br />

que a!iás era visitado por artistas notáveis e maestros de nomeada. Adalgisa<br />

Gabby, Pardi, Sarah Bernhardt, ''amagno, Batistini Camara, Rossi, Ecallci Loli,<br />

Borguimamo, Wancauterem, Nodir.a Boli e tantos outros ali estiveram e deixaram<br />

suas photographias <strong>com</strong> lisonjeiros autographos. No theatrinho do Padre Miguel<br />

houve um beneficio onde foi levada á scona "A Ceia dos Cadetes", a<br />

mais bella parodia que já se fez da Ceia dos Cardeaes, escripta pelo então<br />

cadete Artrur Oscar Loureiro e a <strong>com</strong>edia 'Officiai de dia" da autoria do<br />

rabiscador destas reminiscências.<br />

OS EXERCÍCIOS<br />

O publico habituou-se a applaudir os Cadetes quando se apresentam na Parada<br />

de 7 de Setembro, envergando o seu vistoso uniforme de gala. Ha que<br />

sentir também o seu enthusiasmo debaixo do chapelão de abas largas em pleno<br />

campo de instrucção. Enérgicos, convictos, sequiosos dos ensinamentos que<br />

recebem, não ha cansaço que os esmoreça. Si querei vel-o no auge da alegria<br />

ide ás manobras de fim de anno e vedo a ardorosa dedicação <strong>com</strong> que se<br />

desempenham do, para elles, mais bello mistér.<br />

D enthusiasmo sadio <strong>com</strong> que suarentos ajudam a tirar uma viatura do atoeiro<br />

ou conduzem elles proprios suas montadas ao banho no rio proximo.


Após um tiro real.<br />

m v m*<br />

• N /h<br />

\' ' ><br />

E após uma dura jornada de trabalho, si a noite é enluarada, o pinho vibra<br />

a<strong>com</strong>panhando o canto sonoro partido de peitos varonis.<br />

Ha aulas theoricas que lhes trazem enfado e alguns delles escapam mal respondem<br />

á chamada; a pratica porém lhes desperta particular interesse. Para<br />

o proprio desenvolvimento nunca julgam sufficiente a instrucção physica regulamentar<br />

e nas horas vagas praticam todos os sports, para acquisição dc<br />

cujo material criam associações; antigamente era o "Centro Esportivo", hoje<br />

é a "Athíetica ". Nas <strong>com</strong>petições <strong>com</strong> as congeneres sempre levou a palma<br />

e lá se acham ornamentando seus salões os prêmios mais recontes.<br />

Aqueües que deviam patentear o valor do passado, tomaram destino ignorado;<br />

o que sempre occorro quando a Escola se fecha ou muda o'e séde.<br />

Das diversas bibíictnecas aii esforçadamente organizadas só duas tiveram destino<br />

condigno, a do "Recreio Instructivo" que dou origem á considerável bibliotheca<br />

do Club Militar e as do "Club Acadêmico" e "Bibiiotheca Acadêmica"<br />

que se fundiram em Porto Alegre na hoje florescente "Sociedade Bibliothecaria".<br />

"Acre Toninha", "Odette". "Republica", "Gallo Capão" e "Ubirajara eram<br />

balieiras que corriam em regatas locaes, algumas adquiridas, outras, porém,<br />

construídas nos estaleiros da Urca <strong>com</strong> maioria prima batida pelas circumvisinhanças.<br />

Um sport houve arriscado e emocionante o que só por cadetes foi praticado.<br />

Trata-se da ascensão ao Pão de Assucar. Não obstante as diíficuldades que<br />

apresentava, não havia festa nacional que não fosse annunciada polo hasteamento<br />

da bandeira brasileira naquelle marco gigantesco.<br />

Pedro II teve dali quando de sua partida para o exilio a saudação da Escola<br />

n'um — Salve — em bandeira branca de 7 metros de altura e as festas a<br />

Julio Roca tiveram nota dominante na sua illuminação.<br />

Não se sabendo ontão o que mais admirar, si o<br />

gosto artístico ou a temeridade na conducção do<br />

material, que só podia ir amarrado ás costas ou<br />

seguro pelos dentes, pois mãos e pés offereciam<br />

poucas unhas <strong>com</strong> que agarrar-se ao Íngreme penhasco.<br />

CIVISMO<br />

As idéas nobres encontram sempre nos Cadetes seus<br />

paladinos enthusiastas.<br />

A favor da liberdade dos escravos elles muito trabalharam,<br />

pondo-se em contacto <strong>com</strong> Patrocínio, João<br />

Coff o Luiz Gama por intermedio do filho deste,<br />

alumno Benedicta Gama. Visitando a "Emancipadora"<br />

a cantora Nodina Boli Bolicioff deu-lhe um grande<br />

auxilio pecuniário. A propaganda republicana encontrou<br />

ali campo propicio, principalmente devido á<br />

perseguição quo os poderes públicos moviam ao<br />

Exercito. O monumento aos heróes da Retirada da<br />

Laguna ha do vencer porque foi gorado na Escoia<br />

Militar.<br />

O mais bello dos emprehendimentos, porém, partidos<br />

daquella mocidade sadia e estuante de generosidade,<br />

ó o da caridade bem <strong>com</strong>prehendida que<br />

<strong>com</strong>eça por casa e se exerce portas a dentro para<br />

<strong>com</strong> os proprios collegas segundo o nobilitante principio<br />

de que quem recebe mesada deve <strong>com</strong> ella<br />

auxiliar áquelles que não a tem. E elles a praticam<br />

pela forma mora! mais elevada, sem osteniaçào. ás<br />

occultas, do modo a não meiindrar ao recebedor, quo<br />

fica ignorando de que mãos paríiram as generosas o tocantes offerendas. A<br />

caridade sob Ião elevado aspecto o <strong>com</strong> tal delicadeza de sentimentos concretizou-se<br />

na hoje pujante "Obra do Estudante Pnbrc".<br />

OS EXAM ES<br />

O acto mais solemr.e da vida do Cadete, aquello que mais o preoccupa, é o<br />

ajuste <strong>com</strong> os lentes ao findar o anno. Os dias de exame valem pelo de juízo<br />

final. Os "Cacos de Garrafas lhes consagram muitos verses, donde destacamos<br />

este flagrante expressivo:<br />

No emtanto, o lente argue o continua...<br />

E após, fitando o pobre que já sua,<br />

— Na pedra sem falar!...<br />

Lhe diz — <strong>com</strong> ar de fúnebre respeito:<br />

— "Não sabe?... Stá bem... Stou satisfeito...<br />

— E queira se assentar".<br />

E ri-se então a tropa <strong>com</strong> despeito.<br />

Contente, ao ver o lente satisfeito<br />

— Com aros do contrario!...<br />

A Escola Militar gosa da justa fama de ser uma instituição genuinamente democratica,<br />

onde só se apura e reconhece a aristocracia do mérito individual,<br />

das virtudes e do saber.<br />

No proximo art ; go de Setembro trataremos do "Correio Aereo Militar".<br />

Desfile na Avenida Rio Branco


A Santíssima Trindade, esculpiura do<br />

Aleijadinho, exislenle na Igreja de S.<br />

Francisco ae Assis, de Ouro Preto.<br />

O propheia Jeremias, esculptura exis-<br />

— lente em Congonhas do Campo. —<br />

ALEIJADINHO - UMA EXPRESSÃO<br />

DO GÉNIO NOSSO<br />

A arle do Aleijadinho revela aos olhos dos esthetas o clarão de um<br />

génio. Talhando <strong>com</strong> as mãos tremulas contaminadas pela moléstia in-<br />

curável que lhe rasgava a carne emquanto conseguia o milagre de esculpir<br />

os seus Santcs, Manuel Antonio Lisboa, sem estudos creava entre lagrimas<br />

e dramaticas amarguras as maravilhas de pedra e de madeira que se en-<br />

contram em Congonhas do Campo, em Ouro Preto e em outras cidades<br />

mysticas e conventos mineiros.<br />

A galeria dolorosa de "Os Passos" traz a historia enevoada de purpu-<br />

ra e tormento da vida de Jesus. O Aleijadinho <strong>com</strong>o se fosse o nosso Mi-<br />

guel Angelo reviveu na pedra a via crucis penosa do Redemptor. As figu-<br />

ras que <strong>com</strong>põem o "dramatis personae" notadamente as dos algozes das<br />

Virgens, das mulheres piedosas que o a<strong>com</strong>panhavam na peregrinação<br />

pelas escarpas accidentadas do Golgotha reçumam de vida e de natura-<br />

lidade, umas exprimindo o odio e a maldade emquanto as demais pore-<br />

jam desventuradas supplicas e dores profundas, sem se falar na de Jesus<br />

onde elle poz todo o segredo de sua arte, a maravilha de sua esthesia,<br />

<strong>com</strong>o creador de symbolos da Vida e da Morte.


Convém salientar a expressão sibilina dos prophetas do Testamento,<br />

desde aquelle estranho Jeremias, de Congonhas, até o Propheta Nahum,<br />

atormentado pelas suas parabolas sobre a vinda do Senhor da Terra e<br />

do'Céo. Também o Aelijadinho soube dar o maior relevo á figura de<br />

Isaias, o maior de todos os sábios do tempo, <strong>com</strong>pondo <strong>com</strong> redobrado<br />

amor a sua physionomia suave e generosa de dons e de graças.<br />

Entre outras obras notáveis do primeiro esculptor ncsso, daquelle que<br />

sem academias e escolas, soube realizar os maiores trabalhos de talha e<br />

de esculptura, podemos destacar também o púlpito da egreja de São Fran-<br />

cisco de Assis, de Ouro Preto, verdadeira maravilha da arte de Manuel<br />

Antonio Lisboa e a Santíssima Trindade da mesma nave, duas obras que<br />

immortalizariam, se não existissem outras, o génio, o talento desse artista<br />

admiravel que vivera por todos os tempos, <strong>com</strong>o uma das mais altas ex-<br />

pressões do génio da esculptura em nosso paiz.<br />

O que se encontra em certas naves mysticas das cidades mortas de<br />

iflinas attestando a sua passagem vale por uma affirmação perpetua de<br />

sua intelligencia e de seu devotamento ás artes. Como se augmentasse<br />

mais nelle, <strong>com</strong> a propagação da moléstia tremenda que lhe ankilosava<br />

as mão creadoras, a sua intelligencia. trabalhando muitas vezes, quando<br />

os dedos cahiram, <strong>com</strong> o escopro amarrado ás mãos, cs seus últimos tra-<br />

balhos são os mais lindos, porque justamente contém as mais altas de-<br />

monstrações de sua extrema sensibilidade <strong>com</strong>o artista.<br />

Damos aqui uma documentação perfeita do que elle nos legou atravez<br />

do tempo. Estes trabalhos poderão attestar por todas as épocas a gran-<br />

deza de seu merecimento, tamanha que até muitas têm sido as biogra-<br />

phias sobre o seu mérito de artista.<br />

Púlpito da Igreja de S. Francisco de Assis<br />

em Ouro Preto, obra do Aleijadinho.<br />

O propheta Isaias, esculptura do Aleijadinho,<br />

em Congonhas.


A LUTA DAS EXTREMAS<br />

O mez do junho foi sacudido, dentro do territorio<br />

nacional, por agitações de caracter extremista, que.<br />

por vezes, se tingiram de sangue. Verificou-se o<br />

choque entre elementos da extrema direita e da<br />

extrema esquerda, nas ruas do Petropolis. UT. mor-<br />

to e vários feridos, entre pardidarios da Alliança<br />

Nacional Libertadora e da Acção Integralista Bra-<br />

sileira.<br />

O conflicto desfechou numa greve de consoquencias<br />

economicas lamentaveis. E em torno da g r eve, feriu-<br />

se nova luia de que resultou a morte de um poli-<br />

ciai.<br />

Sommando tudo isso, o governo achou azado o mo-<br />

mento de intervir, seriamente, para reprimir o surto<br />

extremista. Principiaram as primeiras medidas gover-<br />

namentaes. Agora, resta aguardar as consequências<br />

dessas medidas.<br />

Não hão o'e ser poucas e interessam profundamente<br />

á Nação, não apenas pelo seu aspecto, mas sobretudo<br />

pela sua face social.<br />

A CONFIRMAÇÃO DO VETO<br />

A Camara dos Deputados approvou o "veto" do<br />

Presidente da Republica ao abono dos funccionarios<br />

civis. Em torno desse acto. gastaram-se muita tinta,<br />

muita eloquencia e muitos dias. A espectativa. no<br />

meio da população foi inlensa. Uma verdadeira tor<br />

cida, <strong>com</strong>o se diz na gyria sportiva.<br />

Finalmente, a votação, que foi secreta, revelou, mais<br />

uma vez, a victoria do governo. Mas por tão pequena<br />

margem de votos, que foi uma consolação<br />

para muita gente.<br />

De qualquer maneira, os funcionários públicos continuarão<br />

aguardando melhores dias para verem majorados<br />

os seus vencimentos.<br />

CONGRESSO DE EDUCAÇÃO<br />

Reuniu-se durante o mez de junho, o Congresso de<br />

Educação, na Capital da Republica. Aproveitaram-<br />

se, para isso, as férias joaninas.<br />

Vieram professores o professoras do vários Estados.<br />

Leram-se o discutiram-se theses pedagógicas impor-<br />

tantes. Houve solemnidades empolgantes. No anno<br />

que vem, dar-se-á bis.<br />

O CAMBIO CONTINÚA VIL<br />

Não obstante as medidas drasticas adootadas pelo<br />

Ministério da Fasenda, o cambio continuou a oscillar,<br />

entre 88$000 e 91 $000 por libra esterlina.<br />

Sabe-se, agora, atravéz dos dados apresentados á<br />

Camara pelo Sr. Horácio Lafer, quo a balança <strong>com</strong>-<br />

Antonio Carlos<br />

Presidente da Camara dos Deputados<br />

NO BRASIL<br />

mercial, nestes primeiros cinco mezes do anno, cahiu,<br />

<strong>com</strong>o nunca se verificara, nestes últimos quinze an-<br />

nos. Continuando os mesmos indices, vamos ter uma<br />

quéda de exportação maior do que de 1932, anno<br />

da revolução paulista.<br />

Se não houver algum facto imprevisto que melhore<br />

as condições financeiras creadas no momento, o go-<br />

verno não disporá de cambio, sequer, para satis-<br />

fação dos seus <strong>com</strong>promissos externos.<br />

FERVOR PACIFISTA<br />

O regresso do char.celler José Carlos de Macedo<br />

Soares ao Brasil reavivou o movimento pacifista que<br />

se vinha fazendo, em surdina, nas instituições cui-<br />

turaes.<br />

O minisiro das Relações Exteriores foi recebido <strong>com</strong><br />

um enthusiasmo excepcional e após a sua chagada,<br />

seguiram-se manifestações de caracter pacifista, pro-<br />

movidas pelas escoias e por centros intellectuaes.<br />

Esse movimento teve uma consequência politica de<br />

caracter internacional: uma proposta de desarma-<br />

mento continental levada á Camara pelo deputado<br />

Salles Filho.<br />

CONFRATERNIZAÇÃO<br />

Para trazer o Sr. José Carlos de Macedo Soares ao<br />

Brasil, veiu ao Rio de Janeiro o cruzidor "Veinte<br />

y cinco de Mayo".<br />

A presença da sua luzida officiaiidado na Capital<br />

Federal deu origem a novas manifestações de cor-<br />

dialidade argentino-brasileira.<br />

Souza Mello<br />

Director da Cartoira Cambial<br />

Julho de <strong>1935</strong><br />

Na mesma occasião, vieram ao Rio vários jornalis-<br />

tas argentinos, e a imprensa carioca procurou res-<br />

gatar uma pequena parte da divida o« hospitalida-<br />

de que os periodistas brasileiros contractaram junto<br />

aos seus collegas do Prata.<br />

TRATADOS COMMERCIAL<br />

O tratado <strong>com</strong>mercial assignado <strong>com</strong> os Estados<br />

Unidos foi o primeiro a despertar protestos e es-<br />

tranheza.<br />

A <strong>com</strong>missão technica da Camara, que o examinou,<br />

ao re<strong>com</strong>mendal-o á approvação dos representan-<br />

tes da Nação, fel-o em termos curiosos: devia-se<br />

approvar o tratado, porque não convir.ha perturbar<br />

a tradicional cordialidade reinante entre o Brasil o<br />

os Estados Unidos, mas o convénio. e r a nefasto aos<br />

in*eresses nacionaes...<br />

Depois, veiu o tratado <strong>com</strong>mercial concluído em<br />

Buenos Aires, entre a Argentina e o Brasil.<br />

Ainda não foi submettido ao Legislanvo, mas tem<br />

despertado uma certa agitação: protestos na So-<br />

ciedade Nacional de Agricultura, na Sociedade Ru-<br />

ral de S. Paulo, e em varias outras associações de<br />

classe. Protestos na Camara dos Deputados e até<br />

no Consolho de Commercio Exterior.<br />

O mais interessante de tudo isso é quo o convénio<br />

<strong>com</strong> os Estados Unidos foi publicado na imprensa<br />

do Brasil, no dia seguinte ao da sua a f signatura em<br />

Washington.<br />

E o de Buenos Aires, ninguém ainda lb.9 conhece o<br />

texto por inteiro...<br />

Gustavo Capanema<br />

Ministro da Educação


Illustração Brasileira<br />

A BABEL CHINEZA<br />

Demonstrando a permanencia da confusão politica da<br />

China, os cruzadores Haich e Haishen, que pertencem<br />

ao governo de Cantão, revoltaram-se e dirigiram-se<br />

para a Hong-Kong, <strong>com</strong> o intuito de <strong>com</strong>plicar<br />

as relações internacionaes, <strong>com</strong> a Inglaterra.<br />

As tripulações prenderam os respectivos <strong>com</strong>mandantes.<br />

As mesmas naves de guerra desertaram cm 1933,<br />

da esquadra do governo de Nankin.<br />

A HUNGRIA E AS SUAS REIVINDICAÇÕES<br />

O primeiro ministro Goemboes falou no Parlamento<br />

e garantiu que a Hungria não renunciará á egualdade<br />

de direitos, <strong>com</strong> relação ao serviço militar obriçatorio.<br />

Exige ainda a Hungria, revisão do Tratado<br />

de Paz. -<br />

O SIÃO DESEJA UMA MARINHA DE GUERRA<br />

O ins+incto da guerra chegou á Conchinchina, no<br />

reino do Sião. Os arsenaes de Hakodate, que ficam<br />

no Japão, receberam agentes do governo sianêz, que<br />

se informaram sobre a construcção, do vários encouraçados.<br />

O Sião quer possuir uma marinha do<br />

Guerra.<br />

AS VIAGENS AEREAS PELA ESTRATOSPHERA<br />

Pela quinta vez, o famoso aviador Wiley Post, levantou<br />

vôa da Califórnia, em direcção a New-York, viajando<br />

pelas camadas rarefeitas da atmosphera. Uma<br />

pane no motor, forçou Wiley Post a descer no aeroporto<br />

de Wichita. O grande az aereo, quer estabelecer<br />

a praticabilidade das viagens pela estratosphera.<br />

NO EXTERIOR<br />

A CONFERENCIA INTERNACIONAL DO<br />

TRABALHO<br />

Realizou-se em Genebra, a Conferencia Internacional<br />

do Trabalho, para tratar da questão do salario e da<br />

sua adaptação á vida economica moderna. O depu-<br />

tado Crisostomo de Oliveira, delegado operário do<br />

Brasil, pediu a próxima reunião da Conferencia do<br />

Trabalho, na America.<br />

A RENASCENÇA MILITAR DA ALLEMANHA<br />

O exercito aüemão prosegue a reforma dos seus cor-<br />

pos. As autoridades lançaram um appelio aos jovens,<br />

nascidos entre 1910 e 1913, para que se apresentem<br />

ao serviço militar e demonstrem assim a sympathia<br />

nacional, pela denuncia do Tratado de Versailles. Em<br />

Berlim, mais de 350.000 recrutas logo se offereceram,<br />

o mesmo succedendo <strong>com</strong> as outras classes.<br />

TROTZKY ESTÁ NA SUÉCIA<br />

Leão Trotzky, antigo e celebre <strong>com</strong>missario dos ne-<br />

gocios de guerra, das Republicas Soviéticas, abando-<br />

nou o refugio da França e entrou furtivamente na<br />

Suécia. Julga-se que Trotzky decidiu residir fóra de<br />

Paris, definitivamente.<br />

CASAM ENTO AEREO<br />

Em Versailles, depois do casamento civil, o professor<br />

de athleiismo Henri Becguerel e a senhorita Simone<br />

Poullain decidiram effectuar o acto religioso, no es-<br />

paço. Na <strong>com</strong>panhia de um padre da Igreja Livre,<br />

dos padrinhos e dos convivas, voaram e casaram-se<br />

no ar. É o primeiro casamento dc avião quo se realiza<br />

na França.<br />

O TRATADO NAVAL ANGLO- GERMÂNICO<br />

O tratado naval anglo-germanico, causou sensação<br />

em toda Europa. O accordo . feriu sensivelmente, a<br />

opinião publica da França, que vê nello um novo mo-<br />

tivo de inquietação mundial. A I to I ia considera as<br />

relações navaes angio-germanicas. em separado, <strong>com</strong>o<br />

uma violação da Conferencia de Strosa.<br />

OS JAPONEZES AGEM NO NORTE DA CHINA<br />

A Inglaterra tí os Estados Unidos se alarmaram este<br />

mez, <strong>com</strong> a nova attitude japoneza, no Norte da<br />

China. O governo nipponico fez intimações á China,<br />

para quo suspenda as actividades contra o Japão,<br />

nas províncias limitrophes da Grande Muralha. O<br />

general e ministros da guerra chinez Hoyn-Ching apre-<br />

sentou satisfações ao governo de Tokio.<br />

O DRAMA DE HAUPTMANN<br />

Innocente ou culpado? Eis o drama de Hauptmann,<br />

que apaixona a opinião publica dos Estados Unidos.<br />

A defesa apresenta 145 argumentos, para desfazer a<br />

accusação e livrar Richard Hauptmann, da condem-<br />

nação de raptor e assassino do filhinho de Lindberq.<br />

O PRESAGIO DE 1937<br />

O ministro da Tchesclovaquia Benes, visitou a Rússia<br />

e fez sensacional vaticínio, sobre a situação da Eu-<br />

ropa. cada vez mais critica. Na entrevista concedida<br />

á imprensa soviética, elle declarou que si o mundo<br />

europeu resistir, até 1937, ficará garantida a paz.<br />

O ARYANISMO E O JUDAÍSMO<br />

O conselheiro prussiano Conti, realizou uma confe-<br />

rencia sobro o problema racial, na Escola de Altos<br />

Estudos Políticos. O conferencista garante que exis-<br />

tem na Aliemanha. 300.000 judeus de sangue puro,<br />

500.000 judeus orthodoxos e 750.000 judeus mixtos.<br />

O conselheiro Conti faz saber, que a Aliemanha deve<br />

augmentar a sua população, de mais de oito milhões<br />

de habitantes.<br />

OS SOVIETS NA ESTRATOSPHERA<br />

Tendo <strong>com</strong>o tripulação, os scientistas Cristof Zille,<br />

Jury Prilotaky e Alexandre Vergio, o balão estratos-<br />

pherico, U. R. S. S. — I — Bis, emprehendeu um<br />

vôo de estudo, ás altas regiões do espaço. O aeros-<br />

tato subiu a 17.000 metros de altura.<br />

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CURIOSIDADES<br />

D O B R A S I L<br />

OS PAPA-GERIMUNS<br />

A proposito da nossa nota sob este titulo, sahida nas "Curiosidades do Brasil" do<br />

primeiro numero da "lllustração Brasileira", recebemos do Sr. Clementino Camara,<br />

de Natal, a seguinte versão sobre a o r igom da expressão '"papa-gerimuns". <strong>com</strong> que<br />

se costuma designar os filhos do Rio Grande do Norte:<br />

No que tange ó expressão — papa-gerimuns — a lenda corrente é a seguinte:<br />

Vendo um dia o <strong>com</strong>mandante da tropa de "linha" uma viçosa aboboreira no pateo<br />

interno do quartel, ordenou que fosse cuidadosamente regada. Era um capricho<br />

daquelle homem que, embora soldado, não desadorava o cultivo da terra.<br />

A aboboreira cresceu sob os cuidados dos soldados que queriam ser sympathicos<br />

a seu superior. Fructificando abundantemente a leguminosa, foram os gorimuns conservados<br />

até a maturidade. Ninguém lhes punha a mão. Eram do <strong>com</strong>mandante.<br />

Chegou o dia do soldo. Pachorrento, ordenava aquelle militar que as praças, que<br />

tivessem família, levassem uma abobora para casa. Era um pequeno mimo só de<br />

valia extrínseca, <strong>com</strong> o qual estimulava a conducta dos subordinados, pois só os<br />

bem procedidos o mereciam.<br />

Despeitados, os que não eram contemplados saniam alardeando que os outros eram<br />

pagos <strong>com</strong> gerimum — nome pelo qual aqui ó conhecida a abobora.<br />

E assim a lenda divulgou-se por todo o paiz.<br />

A NAVEGAÇÃO DO ARAGUAYA<br />

A cerimonia da inauguração da navegação a vapor naquelle rio brasileiro deu-se<br />

aos 28 de maio do I868, a trinta léguas da capital de Goyaz, <strong>com</strong> a assistência<br />

do Presidente de Matto Grosso. General Couto de Magalhães, e dos Sr. Dr. João<br />

Bonifacio Gomes de Siqueira. Frederico Debney de A. Brotero, J. R. de Moraes<br />

Jardim, Antonio Honorio Ferreira, Theodoro Rodrigues de Moraes, Luiz Gonçalves<br />

de Lima, João Thomaz Carvalhaes, Dr. João de Araujo Oliveira Lopes.<br />

O vapor "Araguay-nerú-assú", baptisado polo Rmo. B. da Costa e Oliveira, iniciou<br />

as viagens no Araguaya, cruzando-o em varias direcções, ao som do hymno nacional.<br />

Vibraram no ar acclamações festivas ao Imperador, ao Ministro da Marinha. Conselheiro<br />

Affonso Celso de Assis Figueiredo, e ao da Agricultura, Cons. Pinto de<br />

Souza Dantas. Pelo grande emprehendimento bateram-se <strong>com</strong> calor os seguintes<br />

senhores: Capitão-general D. João Manoel de Menezes, o Conde de Castelnau, o<br />

bispo D. J. Gonçaives de Azevedo, arcebispo da Bahia, o Dr. Antonio Florêncio<br />

Pereira do Lago e o Dr. Joaquim de Almeida Leite e Moraes, ex-presidente de<br />

Goyaz.<br />

A LENDA DO MATTE<br />

Corria, no XVI o século, que São Thomé estivera no Brasil e que a elle se devia a<br />

introducção do matte <strong>com</strong>o bebida e <strong>com</strong>o remedio. Tendo grassado uma epidemia<br />

entre as tabas dos selvicolas, os doentes, que presavam bastante o Apostolo<br />

christão, accorriam a elle para pedir que os curasse. São Thomé, de bom grado,<br />

abençoava-os e dizia-lhes: — Meus filhos, vós tendes em vossa casa o remedio. É a<br />

herva matte. Bebei a infusão desta herva. Com ella sereis curados, e os que não<br />

estiverem doentes ficarão immunisados contra a peste.<br />

São Thomé ensinou aos ir.dios a preparação do chá delicioso e deu-lhes a beber.<br />

A principio, a ilex paraguayensis era tida pelos indígenas por herva venenosa. Os<br />

pagés aproveitavam-na no preparo de amavios e filtros de amor.<br />

A BANDEIRA DA REPUBLICA DE PERNAMBUCO<br />

Em carta, datada ae 20 de Novembro de I886, e escripta em Washington. José<br />

Augusto Ferreira da Costa, ministro do Brasii nos Estados Unidos, dá conta da<br />

incumbência honrosa que lhe attribuiram. A entrega de um involucro contendo uma<br />

copia a aquarella da Bandeira de Pernambuco (I8I7), apresentada, ao Governo<br />

americano, por Antonio Gonçalves da Cruz, chamado "o Cabugá".<br />

Annexa, vem a explicação dos symbolos do pavilhão revolucionário.<br />

As très estrellas representam os Estados de Pernambuco, Parahyba e Rio Grande do<br />

Norte, que haviam adherido ao movimento pela Confederação. O iris tem très<br />

cores, significando a paz, a amisade e a união, que a Republica do Equador promettia<br />

aos Povos. O sol symbolisa o pae dos Pernambucanos, que são chamados<br />

"filhos do Sol".. A cruz é uma reminiscência da terra de Santa Cruz.<br />

OS MINEIROS NA GUERRA DO PARAGUAY<br />

Em I865, na Assembléa Provincial de Minas, o desembargador Pedro de Alcantara<br />

Cerqueira Leite, enalteceu, da tribuna, a heroicidade dos Mineiros. Segundo aquelle<br />

jurista, ao ser declarada a guerra entre o Brasil e o .Paraguay, o Estado de<br />

Minas enviou para o Rio, afim de seguirem para o campo da lucta, nada menos<br />

de 2.839 voluntários, além de 289 soldados da Força Poiiciai. A Brigada de Minas<br />

era <strong>com</strong>mandada pelo Cel. José Antonio da Fonseca Galvão. Mais tarde, em<br />

maio de I868, novos contingentes mineiros partiram para a querra: 2.877 quardas<br />

nacionaes e I.II0 recrutas. De 1865 a 1868, ascendia a 6.250 o numero de <strong>com</strong>batentes.<br />

Terminada a lucta, verificou-se que Minas mandara para a campanha do<br />

Paraguay mais de 15.000 homens.<br />

UM CONTEMPORÂNEO DE D. PEDRO I o<br />

Vive em Curityba, á rua Vde. de Guarapuava n° 412. um macrobio, Benedicto dos<br />

Santos, natural da Lapa. Veiu ao mundo em I8I0. Filho dos escravos Lucio e Clara<br />

dos Santos. Quando tinha cinco annos, foi mandado a um rico senhor, João<br />

Guedes Ferreira. Aos I8 annos, foi <strong>com</strong>prado por Simão Guimarães, aos serviços<br />

; do qual ficou até a Abolição. Depois da data aurea, passou a viver <strong>com</strong>o cosinheiro<br />

de um engenheiro allemão. Casou-so aos 32 annos <strong>com</strong> uma M mina M de nome<br />

Maria Ignez. De seu consorcio nasceram cinco filhos. Sobrevivem apenas dois.<br />

Benedicto, que móra <strong>com</strong> um neto, chamado Euclides, diz que M não chegou a ver<br />

o I o Imperador do Brasil"« mas "que já ora taludo quando se proclamou o Império".<br />

Em seu pensar, D. Pedro I "era muito differente de D. Pedro II", que elle "teve


Illustração Brasileira<br />

o prazer" de ver em Curityba, havendo-lne mesmo beijado a máo. Benedicto esiá<br />

bem conservado.<br />

JORNAES REPUBLICANOS EM MINAS<br />

Ao tempo da Monarchia, circulavam nas Alterosas estas folhas de caracter republicano:<br />

"O Jequitinhonha", em Diamantina, sob a direcção de Joaquim Felicio dos Santos.<br />

Ali sahiu em folhetim a sua 'Historia do Brasil no anno 2.COO'.<br />

O "Colombo", em Campanha, de 1879 a 1885, dirigido por Lucio de Mendonça,<br />

poeta e jurisperito, e Honorio Ferreira Brandão. Seu proprietário era Manoel de<br />

Oliveira Andrade.<br />

"BÔA NOVA", em Diamantina, que rinha por principaes redactores Francisco Sá,<br />

Josephino Pires e Gustavo de Almeida. Francisco Só, que ainda vive, iliustrou-se<br />

na Politica, tendo sido deputado, senador e ministro.<br />

"O Contemporâneo", que se editava em Ouro Preto.<br />

«svv<br />

ooeroos<br />

C POSTAL 6-LARA-RIO<br />

ONOVOnQURINO<br />

QUC CONTEM MOLDCS<br />

EH<br />

TÄMANMO NATURAL<br />

PAM TOOOS OS<br />

MOOCLOS<br />

FOKNECEDOflt S DE SUA MAGESTADE<br />

O "COLOMBO DO<br />

ITATIAYA"<br />

O Barão Homem de Mel-<br />

lo assim cognominou o Dr.<br />

Franklin Massena, enge-<br />

nheiro mineiro, fallecido<br />

em 1878. Foi o Dr. Fran-<br />

klin quem primeiro cal-<br />

culou a altitude exacta<br />

das Agulhas Negras: . . .<br />

2.994 metros. O trabalho<br />

foi feito pelo processo da<br />

triangulação. O Dr. Fran-<br />

klin estabelecera um ob-<br />

servatorio astronomico no<br />

Itatiaya, no ponto chama-<br />

do "Casa da Invernada",<br />

e ali trabalhou durante os<br />

dias 13. 14, 15, 16 e 17 de<br />

julho de 1867 no deside-<br />

ratum de operar outras<br />

medições. Elie determinou<br />

a altitude do logar onde<br />

se encontrava em 2.181<br />

metros e a longitude em<br />

i°,37' e 2",85, a oéste do<br />

meridiano do Rio de Ja-<br />

neiro, e a latitude em<br />

22°,29' e 49",79 sul.<br />

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BRASIL ECONÔMICO<br />

EXPOSIÇÃO DA BORRACHA<br />

A borracha brasileira foi, é e será sempre a meihor do mundo. Por<br />

isso mesmo, houve época em que dominou o mundo. Mas os interessados<br />

não se conformaram <strong>com</strong> isso. li <strong>com</strong>eçaram a plantar borracha<br />

— .a nossa borracha que elles vinham aqui buscar e daqui levavam<br />

para os seus paizes. Resultado: a borracha brasileira <strong>com</strong>eçou a desvalorisar-se.<br />

Embora continuasse a ser a melhor, os interessados se<br />

iam utilisando da outra, a "imitação", e a nossa cahiu deploravelmente.<br />

Afinal, chegou o dia da superproducção lá fóra e consequente<br />

restricção de plantio. Foi um novo alento á borracha do<br />

brasil, que de tempos a esta parte principia a experimentar melhoras<br />

na sua procura. E é essa situação animadora, que as ultimas cihas<br />

registram, <strong>com</strong>o se vê deste resumo: Em 1932, exportámos 6.224<br />

Toneladas. Em 1933, a exportação foi de 9.453 toneladas, e de<br />

i 1.124, em 1934.<br />

Essa tonelagem correspondeu aos preços seguintes :<br />

1932 10.626 contos<br />

1933 21.687 "<br />

1934 33.534 "<br />

A proporção que vinha augmentando a tonelagem de exportação,<br />

augmentava também o preço por tonelada, que, de 1:707$000, em<br />

• 932, passou a 2:294$0Ò0, em 1933, e a 3:015$000 em 1934.<br />

Embora lentamente, ha uma reacção, que devemos desejar seja cada<br />

vez maior.<br />

O IMBUSEIRO<br />

O imbuseiro é uma arvore preciosa para o sertanejo do Brasil. Duranie<br />

as seccas as mais terríveis, elle conserva-se copado e verde.<br />

Sob sua sombra, os animaes repousam e aiimentam-se de suas folhas,<br />

flores e fructos.<br />

As flores, aromaticas e brancas, tomadas em infusão, constituem ex-<br />

cellente remedio contra resfriados e bronchites.<br />

Os fructos servem de aliménto. Com elles prepara-se um vinho mui-<br />

to agradavel e uma <strong>com</strong>pota gelatinosa muito apreciada entre os<br />

sertanejos.<br />

E ainda durante as seccas, que os necessitados, depois de terem se<br />

fartado <strong>com</strong> os fructos do imbú, cavam no chão, moldes quadrados,<br />

que forram <strong>com</strong> cortiça da arvore e onde expremem o succo dos<br />

fructos. Com o calor do sol e a irradiação do solo, forma-se em<br />

poucas horas, em cada molde, uma gelatina rósea, transparente e<br />

muito consistente, que é enrolada em uma folha de papel, forman-<br />

do rolos cylindricos, que são fáceis de transportar. Essa gelatina é<br />

um alimento passavel, conhecido <strong>com</strong>o • esteira de imbú e que se<br />

conserva indefinidamente.<br />

I N T E R C A M B I O<br />

ANGLO-BRASILEIRO<br />

Durante os nove primeiros mezes de 1934, foi de cerca de 50% o<br />

augmento das acquisições feitas no Brasil pelo <strong>com</strong>mercio importa-<br />

dor inglez, em relação ao movimento do anno anterior. Sem 'íevar<br />

em conta o café, cuja exportação maxima se encaminha para os Es-<br />

tados Unidos, é hoje a Grã Bretanha o paiz que mais <strong>com</strong>pra ao<br />

Brasil. Dessa maneira, a Inglaterra deslocou para o terceiro logar os<br />

nossos clientes da Allemanha, e, para o quarto, os da França.<br />

Imagine-se se não fosse tão vasto e ião operoso, <strong>com</strong>o é, o domínio<br />

colonial inglez!<br />

MADEIRAS DO BRASIL<br />

Em 1934, o Brasil exportou 136.138 toneladas de madeiras diversas,<br />

no valor approximado de 28.000:000$000. Na proporção da nossa<br />

riqueza florestai, essa exportação é pequena, embora consigne um<br />

augmento de 34.221 toneladas, sobre o anno de 1933.<br />

Em superfície florestal, o Brasii é o segundo paiz do mundo! Nossas<br />

mattas e florestas occupam uma area superior a 390 milhões de hectares.<br />

Vê-se, portanto, que é essa uma formidável fonte de renda ainda<br />

por explorar. E' um verdadeiro fundo de reserva para o futuro desta<br />

terra inesgotável.


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