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a questão da ética eudemônica - Antiguidade Clássica

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de ser o melhor. Esse quadro <strong>da</strong> luta entre os dois enxames de abelhas, envolvendo dois reis<br />

rivais, simboliza a batalha trava<strong>da</strong> em Ácio, no I a.C., entre Otávio e António (Geo. IV, 88 -<br />

94).<br />

Não existe, no mundo <strong>da</strong>s abelhas, a força destruidora do Amor, to<strong>da</strong>via o mesmo não<br />

se pode dizer <strong>da</strong> Morte, as abelhas têm uma vi<strong>da</strong> breve, mas sua raça é imortal como a dos<br />

deuses. A peste pode destruir as colméias, mas as abelhas podem ser reproduzi<strong>da</strong>s por um<br />

processo que Aristeu aprendera, a Bugonia - at genus immortale manet (Geo. IV, 208), “mas a<br />

raça permanece imortal”, ou seja, um conceito de geração espontânea, pois elas podem nascer<br />

<strong>da</strong> carcaça de um animal imolado.<br />

O mel era, entre os antigos, o sustento celeste, a pura alimentação dos deuses. Desta<br />

forma, Vergílio o tratou de aéreo mel: aerii mellis caelestia dona (Geo. I, 1), pois segundo<br />

antiga tradição, o mel caía do céu com o orvalho sobre as flores e as plantas, e as abelhas o<br />

recolhiam <strong>da</strong>li (Arist., Hist. Anim . V , 22 , 4 ; Plínio, N.H., XI , 12 , 30 ; Verg. Buc. 4 , 30 ;<br />

Georg. I, 131), (apud Riccomagno, Leone. Georgiche, Libro Quarto, Firenze, Vallecchi<br />

Editore, 1953: 21).<br />

Afirma-se que a organização <strong>da</strong>s abelhas foi um modelo utópico, ou melhor, uma<br />

tendência para fazer coincidir a utopia com a reali<strong>da</strong>de do regime de Augusto. Verifica-se a<br />

intenção, segundo Gentili (1977: 296), de fazer do mundo <strong>da</strong>s abelhas uma alegoria de perfeita<br />

socie<strong>da</strong>de romana, por meio do termo com que Vergílio designava os filhotes paruos Quirites<br />

(Geo. IV, 200 - 202).<br />

A abelha, na Grécia, era considera<strong>da</strong> um animal sacerdotal de tal forma que as próprias<br />

sacerdotisas de Elêusis e de Éfeso se chamavam abelhas. Por parecer que morriam no inverno<br />

e ressurgiam na primavera, as abelhas se apresentam diversas vezes como símbolo de morte e<br />

de ressurreição (Deméter, Perséfone). Na ver<strong>da</strong>de, apenas desapareciam no inverno, pois não<br />

saíam de suas colméias. Os gregos representaram a abelha por Melissa, que, segundo Brandão<br />

(1991: 102), é um derivado de (méli), mel, abelha. Assim, o vocábulo designa igualmente<br />

certas sacerdotisas e, em sentido figurado, poeta.<br />

Por vezes, a abelha foi identifica<strong>da</strong> com Deméter na religião grega, em que podia<br />

simbolizar a alma desci<strong>da</strong> aos infernos; <strong>da</strong> mesma forma, pode simbolizar ain<strong>da</strong> a eloquência,<br />

a poesia e a inteligência. A vi<strong>da</strong>, a organização do trabalho, a vitória sobre o amor e sobre o<br />

destino, sua elevação moral, a realização dos ideais arcaicos, enfim, não pode ser humano,<br />

porém divino, segundo Vergílio, pois as abelhas têm uma parcela <strong>da</strong> divina inteligência, <strong>da</strong>s<br />

emanações celestes: esse apibus partem diuinae mentis (Geo. IV, 220).<br />

A ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s abelhas oferece um exemplo de monarquia inspirado pelo próprio Júpiter,<br />

pois o motivo, que anima esses pequenos animais, é a glória de gerar o mel: generandi gloria<br />

mellis! (Geo. IV, 205). Segundo Grimal (1992: 106), essa glória lembra o sentimento de<br />

dignitas, o motor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política para Mecenas. Elas são virtuosas e disciplina<strong>da</strong>s, servindo<br />

de modelo aos contemporâneos de Vergílio.<br />

Elas são infatigáveis, pois trabalham constantemente, transformando a natureza (Geo.<br />

IV, 158-159) e (Geo.IV, 184-188), de tal forma que suas virtudes lembram os velhos costumes<br />

romanos, mores antiqui. Assim, as abelhas vergilianas, com suas coletivas virtudes, omnibus<br />

una quies operum, labor omnibus unos (Geo. IV, 184 ), seu patriotismo, abnegação e devoção<br />

a seu rei, provavelmente, se referem ao caráter do velho romano.<br />

O poeta ilustra a apicultura com o mito de Orfeu e Eurídice emoldurado pelo de<br />

Aristeu. Inseri<strong>da</strong> na história de Aristeu, está a tragédia de Orfeu, nos versos 453 a 527. Pelo<br />

mito, observa-se a desventura do amor, demonstrando a impotência do homem diante do<br />

destino. O apicultor Aristeu é apontado como a causa <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> esposa de Orfeu (Geo. IV<br />

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