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A história da Pesca com Mosca - Mosca N'Água

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A <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong><br />

Por: Alejandro Antúnez (Índio) alejandro@moscanagua.<strong>com</strong>.br<br />

Provavelmente existam tantos motivos para pescar quanto o número de pescadores<br />

espalhados pelo mundo. Mas quando falamos de pesca recreativa, podemos arriscar a<br />

dizer que esta é uma ativi<strong>da</strong>de de lazer (ou hobby) pratica<strong>da</strong> por aqueles que procuram<br />

uma porta de escape para a pressão do dia a dia, principalmente pelas pessoas que<br />

habitam nos grandes centros urbanos. Podemos afirmar que esta ativi<strong>da</strong>de de lazer vai<br />

além <strong>da</strong> captura do peixe propriamente dita, <strong>da</strong>do que é pratica<strong>da</strong> em ambientes<br />

naturais abertos, de uma beleza única. Isto é particularmente válido na <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong><br />

<strong>Mosca</strong>.<br />

Também é ver<strong>da</strong>de que a pesca nos reconecta mentalmente <strong>com</strong> o nosso passado,<br />

quando dependíamos desta ativi<strong>da</strong>de para nossa sobrevivência.<br />

Seja qual for o motivo, a pesca nos fornece um espaço para poder relaxar, desviando<br />

nossa mente <strong>da</strong> rotina diária. É neste contexto que faremos uma recapitulação <strong>da</strong><br />

historia <strong>da</strong> pesca esportiva, particularmente <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>. Como veremos, este<br />

é um esporte <strong>com</strong> mais de 500 anos de <strong>história</strong>, que espero achem tão fascinante<br />

quanto eu quando <strong>com</strong>ecei a coletar o material e pesquisar sobre ca<strong>da</strong> detalhe deste<br />

artigo. Pensei inicialmente poder condensar a <strong>história</strong> <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca em 2 ou<br />

máximo 4 páginas, mas acabei escrevendo um artigo <strong>com</strong> mais de 20 páginas, que não<br />

teria coragem de recortar sem omitir algumas informações relevantes. Mesmo assim<br />

sinto que devo ter deixado de fora alguns fatos importantes que incluirei em futuras<br />

revisões.<br />

Origens <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> vara e anzol na antigui<strong>da</strong>de: 7000 A.C. - 300 D.C.<br />

Ilustração Egípcia de aprox. 4,000 A.C. - É a imagem mais<br />

antiga que retrata a pesca <strong>com</strong> uma vara.<br />

Não sabemos a ciência certa quando<br />

o homem <strong>com</strong>eçou a pescar, mas<br />

sabemos através de alguns indícios<br />

que esta ativi<strong>da</strong>de se remonta pelo<br />

menos a uns 30,000 a 40,000 anos<br />

A.C. junto <strong>com</strong> a aparição dos<br />

primeiros anzóis. Ilustrações egípcias<br />

que <strong>da</strong>tam do anos 4,000 A.C.<br />

representam claramente cenas de<br />

pesca utilizando varas <strong>com</strong> uma linha<br />

ata<strong>da</strong> na ponta e um anzol.<br />

Na socie<strong>da</strong>de egípcia, a pesca<br />

esportiva era pratica<strong>da</strong> pelos reis, príncipes e plebeus. Existem outras ilustrações sobre<br />

a prática <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> fins recreativos nos túmulos de Saqqara pertencentes ao “Antigo<br />

império” assim <strong>com</strong>o em outros sítios do “Novo Império”. O museu do Cairo reúne uma<br />

ampla coleção de objetos relacionados <strong>com</strong> a pesca, entre eles varas e anzóis em vários<br />

formatos, que indicam o grau de sofisticação que atingiu este esporte no antigo Egito.


Foram os gregos, mas especificamente o poeta Theocrito (ou Teócrito), que no ano 300<br />

A.C. escreve a primeira obra literária que descreve a pesca <strong>com</strong> uma vara e um anzol.<br />

Ele relata um estilo de pesca “utilizando uma isca pendura<strong>da</strong> na extremi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vara<br />

que atraía enganosamente o peixe”, existem bons motivos para pensar que este relato<br />

descreve à pesca <strong>com</strong>o ativi<strong>da</strong>de de lazer já que a classe social à qual pertencia<br />

Theocrito definitivamente não precisava pescar para sobreviver.<br />

Ao redor do ano 200 A.C. os<br />

chineses introduziram as<br />

linhas de se<strong>da</strong> e anzóis<br />

feitos em metal. Ao redor do<br />

mesmo século, os<br />

macedônios pescavam <strong>com</strong><br />

iscas artificiais feitas <strong>com</strong><br />

pêlos e penas, cabe<br />

ressaltar que os anzóis<br />

feitos em metal só<br />

<strong>com</strong>eçariam a ser fabricados<br />

na Europa três séculos<br />

depois, durante <strong>da</strong> era de<br />

ferro.<br />

Em 200 D.C. Claudius Aelianus, escritor e professor de retórica romano relatou no seu<br />

livro “Natura Animalium” um estilo de pesca no rio Astracus praticado pelo povo <strong>da</strong><br />

Macedônia utilizando iscas artificiais feitas <strong>com</strong> lã e penas que imitavam um inseto<br />

específico <strong>da</strong> região, outro fato interessante do relato é a descrição que faz dos peixes<br />

capturados por estes pescadores <strong>com</strong>o “motejados <strong>com</strong> pintas pretas no exterior”, o que<br />

leva a pesar que os peixes fossem trutas. Este é um dos primeiros relatos de pesca <strong>com</strong><br />

ou uso de iscas artificiais. Alguns autores interpretam estas criações feitas em lã e<br />

penas, <strong>com</strong>o os precursores do que conhecemos hoje em dia <strong>com</strong>o “jigs”. Já outros<br />

vêm neste texto a primeira descrição de uma “mosca” e provavelmente um dos primeiros<br />

relatos do estilo de pesca que conhecemos hoje em dia <strong>com</strong>o “<strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>”.<br />

Cena de pesca em embarcações <strong>com</strong> linhas de pesca e<br />

anzóis. Imagem extraí<strong>da</strong> de um vaso cerimonial <strong>da</strong> Cultura<br />

Moche (ou Mochica) 100 A.C. – 700 D.C.<br />

Mosaico descoberto em 1933 em Leptis-Magna próximo de Trípoli (Líbia)<br />

Data do 100-200 D.C. Retrata uma cena de pesca <strong>com</strong> uma vara flexível.<br />

Observe o desenho do ”copo” ou rede para a retirar o peixe <strong>da</strong> água.<br />

Na América do sul pré-colombiana,<br />

por volta de 100 anos A.C. o povo<br />

Moche, retratou nas suas cerâmicas<br />

cenas de pesca <strong>com</strong> o uso de linhas<br />

e anzóis. Cenas de pesca que ain<strong>da</strong><br />

podem ser presencia<strong>da</strong>s ao norte<br />

do Peru, onde os pescadores<br />

artesanais continuam empregando<br />

as mesmas técnicas de pesca no<br />

mar em pequenas embarcações<br />

feitas <strong>com</strong> juncos. Para o povo<br />

Moche, a pesca estava longe de ser uma ativi<strong>da</strong>de recreativa, era sim uma importante<br />

ativi<strong>da</strong>de econômica e de subsistência.


Ain<strong>da</strong> na América Latina, uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de pesca <strong>com</strong> vara chama<strong>da</strong> de “pin<strong>da</strong>siririca”<br />

(pindá-anzol e siririca-ficcão) era pratica<strong>da</strong> pelos índios <strong>da</strong> Amazônia na pesca<br />

do tucunaré, matrinxã e do apapá. A vara era feita <strong>com</strong> a madeira pin<strong>da</strong>íba, e a linha de<br />

tucum trançado no extremo <strong>da</strong> qual se atava uma espécie de “streamer” feito <strong>com</strong> pena<br />

de arara que revestia o anzol de osso ou madeira. A isca era arremessa<strong>da</strong> n'água e<br />

recolhi<strong>da</strong> <strong>com</strong> toques, imitando um pequeno peixe ferido ou em fuga. Lamentavelmente<br />

não existem documentos que nos permitam <strong>da</strong>tar <strong>com</strong> precisão esta técnica de pesca,<br />

mas o fato de ter sido praticado pelos indígenas <strong>da</strong> Amazônia nos leva a pensar que<br />

esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de pesca <strong>com</strong> isca artificial existe no nosso continente desde a i<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> pedra poli<strong>da</strong> 1 .<br />

O surgimento <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> - Europa <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de-Média<br />

Primeira página do Tratado original escrito<br />

pela freira Dama Juliana Bernes em 1496.<br />

pesca o arco e falcoaria.<br />

Ao <strong>com</strong>eço do século XIII, um romance germânico<br />

escrito por Wolfram von Eschenbach menciona a<br />

captura de trutas e graylings utilizando “um anzol<br />

emplumado” (vederanglel). A partir de 1360 outros<br />

manuscritos mencionam este estilo de pesca<br />

<strong>com</strong>o o preferido entre os plebeus.<br />

Ao inicio do século XV, um segundo manuscrito<br />

germânico mantido até hoje na abadia bávara de<br />

Tegernsee, descreve pelo menos dez diferentes<br />

tipos de moscas para capturar carpas, pike,<br />

bagres, lota, salmão, trutas e grayling.<br />

Um dos marcos mais importantes acontece na<br />

Inglaterra, em 1425. Dame Juliana Berners<br />

abadessa do convento beneditino em Sopwell<br />

publica vários manuscritos, que seriam impressos<br />

setenta anos mais tarde em 1496 sob o título “The<br />

Boke of Saint Albans”. Este livro ensinava aos<br />

cavalheiros <strong>da</strong> nobreza sobre alguns dos<br />

passatempos reservados a eles, tais <strong>com</strong>o a caça,<br />

Um dos tratados deste livro, o “Treatyse of Fysshynge wyth an Angle” (Tratado sobre a<br />

pesca <strong>com</strong> vara), é absolutamente decisivo para o desenvolvimento futuro não só <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> mosca, mas de pesca esportiva em geral.<br />

O tratado não estava voltado unicamente às técnicas e métodos de pesca, mas também<br />

abor<strong>da</strong>va questões sobre a relação do pescador <strong>com</strong> a natureza. Este documento<br />

influenciou enormemente o desenvolvimento do esporte pelos seguintes dois séculos e<br />

se tornou fonte de inspiração para os futuros escritores. O livro sugeria que o pescador<br />

1 José Verissimo, A PESCA NA AMAZÔNIA, pag 106, LIVRARIA CLÁSSICA DE ALVES


esportivo deveria ser um admirador <strong>da</strong> natureza, filosofo e idealista. O esporte deveria<br />

ser desenvolvido até atingir a perfeição e o ver<strong>da</strong>deiro pescador deveria fabricar seu<br />

próprio material, incluindo varas, linhas e iscas. Quanto mais difícil for a captura do<br />

peixe, maior seria a satisfação do pescador.<br />

Um fato interessante, é que o livro descreve em detalhes <strong>com</strong>o pescar truta e salmão<br />

utilizando moscas artificiais. Dame Juliana Berners tinha descoberto, entre outras coisas,<br />

uma regulari<strong>da</strong>de sazonal dos insetos que habitavam os rios e lagos. Sua conclusão foi<br />

que em grande parte os peixes escolhiam seu alimento em função <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de<br />

destes insetos desenvolvendo doze padrões de diferentes “moscas”, uma para ca<strong>da</strong><br />

mês do ano.<br />

Outras provas apontam que esta pratica esportiva não estava limita<strong>da</strong> ao solo inglês.<br />

Além dos manuscritos alemães dos séculos XIII e XV mencionados anteriormente,<br />

temos dois importantes manuscritos espanhóis que <strong>da</strong>tam do século XVI:<br />

No primeiro, escrito em 1539 por Fernando<br />

Basurto sob o titulo: “Diálogo dirigido ao Senhor<br />

Don Pedro Martinez de Luna Conde <strong>da</strong> Morata”,<br />

existe um pequeno tratado chamado “Tratadico<br />

de la <strong>Pesca</strong>”. Nele se descrevem métodos de<br />

pesca, receitas de atado e seu uso, bastante<br />

diferentes aos expostos por Dame Juliana 50<br />

anos antes, o que é um indicador de que a pesca<br />

recreativa evoluiu simultaneamente em diferentes<br />

partes do antigo continente. Curiosamente o<br />

diálogo trata de um encontro entre um grupo de<br />

caçadores e um velho pescador onde ca<strong>da</strong> um<br />

tenta convencer o outro que seu esporte é o mais<br />

<strong>com</strong>pleto. Trata-se de um diálogo muito similar ao<br />

que utilizaria 100 anos depois Izaac Walton. No<br />

seu livro “The Complete Angler”.<br />

O segundo, é o “Manuscrito de Astorga”, escrito<br />

por Juan Bergara em 1624. Esta é uma obra<br />

muito diferente ao ”Tratadico”, pois contem uma<br />

lista de “moscas” e os insetos que elas imitam. As<br />

33 receitas que formam parte do manuscrito<br />

Cópia <strong>da</strong> primeira página do Manuscrito<br />

de Juan Bergara - 1624<br />

Fonte: Club de pescadores Deportivos<br />

rio Arga www.rioarga.org<br />

estavam organiza<strong>da</strong>s por mês, e de acordo <strong>com</strong> a ordem cronológica de aparição dos<br />

insetos durante o ano. O detalhe inclui a cor <strong>da</strong>s penas, o corpo de se<strong>da</strong>, o “ribbing” de<br />

se<strong>da</strong> para a segmentação do corpo e até a cabeça. As penas descritas podem ser<br />

acha<strong>da</strong>s até hoje na província de León (Gallos de León), região <strong>da</strong> Espanha <strong>com</strong> uma<br />

grande tradição mosqueira.<br />

Uma observação importante, é que nesta época a pratica esportiva <strong>da</strong> pesca está muito<br />

relaciona<strong>da</strong> <strong>com</strong> a igreja e a nobreza europeia. Provavelmente pelo caráter espiritual e<br />

também pela questão de posse <strong>da</strong> terra e dos rios.


Europa do século XVII - Inglaterra<br />

150 anos após a publicação do tratado de Dame Juliana Berners, a Inglaterra se tornou<br />

de certa maneira o epicentro do desenvolvimento <strong>da</strong> pesca esportiva, e em particular <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> mosca. Podemos de fato atribuir aos Ingleses o título de ter desenvolvido<br />

muitos dos conceitos básicos sobre os quais se ergue o esporte: Além do<br />

desenvolvimento técnico (o conceito de “casting”, carretilhas, atado <strong>da</strong>s moscas, etc.) os<br />

ingleses sentaram as bases do conjunto de valores que todo pescador <strong>com</strong> mosca<br />

deveria respeitar: “A pratica esportiva <strong>da</strong> pesca, <strong>com</strong> o um veículo de crescimento<br />

pessoal e em harmonia <strong>com</strong> a natureza”.<br />

Um dos marcos acontece em 1653, <strong>com</strong> a publicação <strong>da</strong> primeira edição do livro de<br />

Izaak Walton: “The Compleat Angler” 2 , <strong>com</strong> o subtítulo: “The Contemplative Man’s<br />

Recreation” (O pescador <strong>com</strong>pleto – A recreação do homem contemplativo). Através <strong>da</strong><br />

conversa entre as duas personagens, o Sr. Piscator (o pescador) e o Sr. Venator (o<br />

caçador), Izaak Walton nos passa uma boa visão de <strong>com</strong>o era pratica<strong>da</strong> à pesca <strong>com</strong><br />

vara na época. A tradição, defini<strong>da</strong> anteriormente por Dame Juliana Berners é clara: A<br />

pesca foi feita para diversão. Como outra mostra de clara <strong>da</strong> conexão <strong>com</strong> a obra de<br />

Dame Juliana, a primeira edição do “The Complete Angler” incluía uma referência às 12<br />

moscas do “Treatyse of Fysshynge wyth an Angle”<br />

Primeira página <strong>da</strong> edição especial do livro “The Complete Angler”, 200 anos após a<br />

publicação <strong>da</strong> primeira edição em 1653.<br />

O livro “The Complete Angler” também pode ser chamado do primeiro “manual <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>deira pesca esportiva”. Ele descreve não só os hábitos alimentares de peixes e<br />

seus locais de descanso, mas também <strong>com</strong>o atraí-los utilizando diversos tipos de iscas,<br />

e inclusive a forma de cozinhar e servir as capturas. Este livro já foi publicado em cerca<br />

2 Veja o vídeo de James Prosek -­‐ "The Complete Angler"


de 400 novas edições em várias línguas, e tornou-se um dos clássicos <strong>da</strong> literatura<br />

sobre a pesca esportiva.<br />

Em 1676, o livro original foi ampliado por Charles Cotton, para incluir uma seção<br />

específica sobre pesca <strong>com</strong> mosca incluindo uma lista <strong>com</strong> mais de 65 moscas<br />

exclusivas para a pesca <strong>da</strong> truta. Na época de Cotton, já tinham sido observa<strong>da</strong>s<br />

diversas variações regionais nos padrões dos insetos. Esta seção do livro foi<br />

considera<strong>da</strong> até o século XIX, <strong>com</strong>o um progresso significativo na diversificação <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> mosca.<br />

O equipamento de pesca do século XVII era ain<strong>da</strong> muito primitivo e não muito diferente<br />

do empregado no século XV. As varas eram feitas de madeira, bastante longas e<br />

desajeita<strong>da</strong>s para os padrões de hoje em dia. A linha de pesca era fabrica<strong>da</strong> <strong>com</strong> crinas<br />

de cavalo retorci<strong>da</strong>s e ata<strong>da</strong>s geralmente na ponta <strong>da</strong> vara. Na déca<strong>da</strong> de 1660<br />

<strong>com</strong>eçaram a surgir os primeiros anzóis fabricados <strong>com</strong> aço, mais resistentes e<br />

temperados ao calor. Os artesãos que manufaturavam agulhas se instalaram em<br />

pequenas ci<strong>da</strong>des <strong>com</strong>o Redditch, que se tornara um dos grandes centros na<br />

manufatura de anzóis. A posterior industrialização, tornou possível a produção em<br />

grande escala de anzóis mais finos e leves <strong>com</strong> uma quali<strong>da</strong>de homogênea. As guias de<br />

metal <strong>da</strong>s varas apareceram no final do século XVII, esta invenção permitia um melhor<br />

controle <strong>da</strong> linha na hora de “trabalhar” o peixe fisgado, mas não tinha efeito nenhum na<br />

distância do arremesso devido a má quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s linhas utiliza<strong>da</strong>s. As guias eram<br />

pouco confiáveis e acostumavam se desprender <strong>da</strong>s varas sob pressão, motivo pelo<br />

qual foram pouco adota<strong>da</strong>s no <strong>com</strong>eço.<br />

A evolução <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca durante<br />

o século XVIII<br />

Apesar de que Dane Juliana e Walton/Cotton terem<br />

mostrado grande interesse pelos insetos que servem<br />

de alimento para os peixes, o primeiro livro dedicado<br />

à arte do atado só foi publicado em 1747. ”The Art of<br />

Angling” (A arte <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> vara) escrito por<br />

Richard Bowlker . Ele não só enumera uma lista de<br />

moscas (algumas desenha<strong>da</strong>s por ele), mas também<br />

demonstra certo conhecimento sobre entomologia e<br />

proporciona instruções básicas sobre o uso <strong>da</strong>s<br />

mesmas. Uma destas, é a primeira menção à técnica<br />

de apresentação “rio acima”. Seu filho Charles<br />

Bowlker continuou a obra do pai, chegado a publicar<br />

um total de 16 edições até 1854.<br />

O progresso no século XVII também ficou evidente no<br />

material de pesca e na sua <strong>com</strong>ercialização.<br />

Vejamos por exemplo as varas, no final do século<br />

XVII <strong>com</strong>eçaram a aparecer diferentes tipos de varas<br />

Página do ”The Art of Angling” – Edição<br />

de 1826 <strong>com</strong> ilustrações de moscas<br />

Fonte: “Two Centuries of Soft-hackled Flies” -<br />

Sylvester Nemes


assim <strong>com</strong>o o material empregado na sua construção. Elas continuavam sendo muito<br />

longas: Em geral entre 15 e 17 pés (aprox. entre 4.5 e 5 metros). A medi<strong>da</strong> padrão era<br />

de 12 pés (3.6 m) para as linhas feitas <strong>com</strong> crinas de cavalo que terminavam em dois ou<br />

mais pelos. As varas de 9 pés (2.7 m) eram para as linhas mais finas que terminavam<br />

num único pelo, elas eram feitas para à pesca <strong>com</strong> moscas “pequenas” e as de 17 pés<br />

(5 m) para a pesca de salmão. O bambu <strong>com</strong>eçou a ser utilizado na construção <strong>da</strong>s<br />

ponteiras destas varas, especialmente <strong>da</strong>s utiliza<strong>da</strong>s na pesca do salmão.<br />

Em relação às linhas de pesca, a revolução industrial favoreceu muito a produção em<br />

massa, evitando que ca<strong>da</strong> pescador tivesse que transar suas próprias linhas de pesca.<br />

As novas linhas eram em formato cônico, permitido arremessos <strong>com</strong> maior precisão e<br />

distância. Perto do fim do século <strong>com</strong>eçam a aparecer as primeiras linhas <strong>com</strong>binado<br />

crinas de cavalo e se<strong>da</strong>. As linhas ain<strong>da</strong> eram caras e bastante frágeis, pois o atrito <strong>com</strong><br />

as guias as desgastava rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Carretilha do final do século<br />

XVIII - Com eixo central fino e<br />

ação simples<br />

As carretilhas só passaram a ser realmente úteis quando a<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s linhas <strong>com</strong>eçou a melhorar. As primeiras<br />

carretilhas eram utiliza<strong>da</strong>s simplesmente para armazenar a<br />

linha e eram chama<strong>da</strong>s de “wheel” (ro<strong>da</strong>) ou mais<br />

<strong>com</strong>umente de ”winch” (guincho). A carretilha foi<br />

menciona<strong>da</strong> pela primeira vez em 1651 no livro de Thomas<br />

Baker “The Art of Angling”. As ilustrações <strong>da</strong> época<br />

mostravam uma carretilha <strong>com</strong> um desenho bizarro feita em<br />

madeira muito utiliza<strong>da</strong> na pesca do salmão na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

de “trolling”. Considerando o tamanho <strong>da</strong>s trutas, a<br />

utili<strong>da</strong>de de uma carretilha era discutível. Se ain<strong>da</strong><br />

consideramos a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s linhas, deixar um peixe<br />

tomar “linha” não era uma boa ideia, logo a técnica mais<br />

utiliza<strong>da</strong> para ”trabalhar” e “cansar” o peixe, era<br />

simplesmente utilizar a capaci<strong>da</strong>de de flexão <strong>da</strong> vara e ir<br />

trabalhado o peixe <strong>da</strong> beira do rio, sob o risco <strong>da</strong> linha se<br />

cortar a qualquer momento.<br />

As primeiras carretilhas eram de péssima quali<strong>da</strong>de, o bronze geralmente empregado na<br />

sua construção era pesado e frágil.<br />

Em relação às moscas, no final do século XVIII muitos pescadores passaram a adquirilas<br />

nas lojas especializados, no lugar de atá-las eles mesmos. Se <strong>com</strong>para<strong>da</strong> <strong>com</strong> a<br />

evolução <strong>da</strong>s varas e linhas, as moscas eram praticamente as mesmas que utilizaram<br />

Walton e Cotton, mas a inovação nesta área também não demoraria muito em chegar. O<br />

<strong>com</strong>ércio em geral evoluiu muito colocando todo tipo de material ao alcance dos<br />

consumidores, a modo de exemplo, uma firma chama<strong>da</strong> Ustonson <strong>com</strong>eçou a fornecer<br />

uma ampla lista de materiais, na sua lista de clientes encontrava-se o rei George IV <strong>da</strong><br />

Inglaterra.


Século IX- XVIII – Japão<br />

Enquanto a pesca <strong>com</strong> mosca continuava seu desenvolvimento na Europa, em paralelo<br />

(e praticamente de maneira isola<strong>da</strong>) a pesca <strong>com</strong> fins recreativos seguia seu próprio<br />

curso isolado de desenvolvimento no Japão.<br />

Já existiam desde a época feu<strong>da</strong>l duas escolas de pesca <strong>com</strong> mosca em água doce:<br />

Dobu (ou Korogashi) e Tenkara. Ambas utilizavam uma longa vara e uma linha ata<strong>da</strong> no<br />

extremo, <strong>da</strong> mesma maneira <strong>com</strong>o era feito na Europa nos séculos XVI e XVII<br />

A segun<strong>da</strong> escola Tenkara é a<br />

forma tradicional de pesca <strong>com</strong><br />

mosca no Japão, A origem do<br />

nome (テンカラ, "vindo ou<br />

caído do céu") tem várias<br />

interpretações possíveis, a mais<br />

aceita está relaciona<strong>da</strong> <strong>com</strong> a<br />

maneira delica<strong>da</strong> de apresentar<br />

a mosca ou “kebari” na<br />

superfície dá água (“ke”-pena e<br />

“bari”–anzol). Vista desde a<br />

perspectiva do peixe, a mosca<br />

pareceria estar literalmente<br />

”caindo do céu”. O termo<br />

Tenkara ficou popularizado<br />

recentemente, mas o estilo<br />

ain<strong>da</strong> continua sendo conhecido em algumas regiões do Japão <strong>com</strong>o "kebari tsuri"<br />

(literalmente: <strong>Pesca</strong>ndo <strong>com</strong> “mosca”).<br />

<strong>Mosca</strong> ou “kebari”<br />

utiliza<strong>da</strong> no Tenkara<br />

Suzuki Harunobu Cena de pesca do Período Edo 1768-69<br />

Fonte:Musem of Fine Arts -Boston<br />

O Tenkara tem uma longa historia apesar de ter sido muito pouco<br />

documenta<strong>da</strong>. Sabe-se que era pratica<strong>da</strong> desde os séculos VIII e<br />

IX por pescadores <strong>com</strong>ercias na região <strong>da</strong>s montanhas para a<br />

pesca de trutas (Amago e Yamame), uma variante deste estilo era<br />

pratica<strong>da</strong> na zona <strong>da</strong>s planícies para a pesca de Ayu pelos<br />

senhores feu<strong>da</strong>is <strong>com</strong>o uma forma de passatempo e ensino do<br />

Bushido durante os tempos de paz. Em 1878 temos a primeira<br />

referência escrita ao Tenkara num livro titulado “Diário <strong>da</strong><br />

escala<strong>da</strong> do monte Tateyama” que inclui um relato de um<br />

pescador de trutas yamame desta região.<br />

O Tenkara foi originalmente concebido para a pesca de pequenas trutas (Amago e<br />

Yamame) e do char (Iwana) em pequenos riachos de montanha onde eles raramente<br />

atingem um tamanho superior a 40 cm. Dado que os peixes e os rios são relativamente<br />

pequenos não há necessi<strong>da</strong>de de fazer longos arremessos ou de usar carretilhas para<br />

armazenar longas linhas de pesca. Uma vara <strong>com</strong>pri<strong>da</strong> de bambu e uma longa linha<br />

permitiam apresentar a mosca <strong>com</strong> extrema precisão em qualquer ponto do arroio.


Século XIX – A era Vitoriana e a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca nos<br />

Estados Unidos<br />

A <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> continuou seu desenvolvimento na Inglaterra durante o século XIX<br />

e em particular durante a era Vitoriana (1837-1901) <strong>com</strong> o surgimento dos clubes de<br />

pesca e um número crescente de publicações sobre atado e técnicas de pesca. No sul<br />

<strong>da</strong> Inglaterra a pesca <strong>com</strong> “mosca seca” <strong>com</strong>eça a adquirir uma reputação elitista <strong>com</strong>o<br />

o único método aceito de pesca em águas calmas e claras do Rio Teste e os outros rios<br />

calcários (chalk streams) concentrados nos con<strong>da</strong>dos de Hampshire, Surrey, Dorset e<br />

Berkshire. Nestes rios, as algas crescem até a superfície, e era necessário desenvolver<br />

uma técnica que mantivesse a mosca e a linha na superfície <strong>da</strong> água. Este conceito foi o<br />

ponto de parti<strong>da</strong> dos posteriores desenvolvimentos <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca seca.<br />

Frederick M. Halfrod (1844-1914)<br />

Edward MacKenzie Skues (1858–1949)<br />

Em 1841 George Pulman publica o livro “Vade<br />

Mecum of Fly-Fishing for Trout”. Em geral, Pulman<br />

sempre tem recebido o crédito de ser o primeiro em<br />

definir um método <strong>com</strong>pleto de pesca <strong>com</strong> mosca<br />

seca. Anos depois, em 1886 Frederick M. Halfrod<br />

consoli<strong>da</strong>, define e argumenta a supremacia deste<br />

método de pesca <strong>com</strong>o o único aceitável e “ético de<br />

pescar trutas nos “chalk streams” ingleses. Ele, mais<br />

do que ninguém, ficou associado ao advento <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> mosca seca e ao desenvolvimento e<br />

atado <strong>da</strong>s iscas próprias para esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de. Seus<br />

seis livros, <strong>com</strong>binados <strong>com</strong> sua poderosa<br />

personali<strong>da</strong>de, tiveram uma enorme influência neste<br />

período <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>: “Floating<br />

Flies and How to Dress Them” (1886), “Making a<br />

Fishery” (1895), “Dry Fly Entomology” (1897), “Dry<br />

Flyfishing in Theory and Practice” (1899), “Modern<br />

Development of the Dry Fl”y (1910), e “The Dry Fly<br />

Man's Handbook “(1913).<br />

No entanto, não existia na<strong>da</strong> que impedisse o uso de<br />

mocas molha<strong>da</strong>s (wets) nestes rios calcários <strong>com</strong>o foi<br />

<strong>com</strong>provado posteriormente por George Edward<br />

MacKenzie Skues. Antigo colaborador de Halford no<br />

desenvolvimento dos métodos de pesca <strong>com</strong> mosca<br />

seca, Skues desenvolveu as técnicas de pesca <strong>com</strong><br />

wets e ninfas. Para o espanto dos puristas, Skues<br />

escreveu dois livros: Minor Tactics of the Chalk<br />

Stream (1910) e The Way of a Trout with a Fly (1921),<br />

ambos livros influenciaram significativamente o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> moscas do tipo wet.<br />

Ao norte <strong>da</strong> Inglaterra e na Escócia muitos<br />

pescadores preferiam a pesca <strong>com</strong> wets, um dos


grandes proponentes desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de foi escocês W.C. Stewart, que escreveu em<br />

1857 o livro “The Practical Angler”. Neste livro, Stewart também defendia a técnica de<br />

pesca “rio acima” <strong>da</strong>do que oferecia várias vantagens, a primeira era a aproximação por<br />

traz do peixe fora do ângulo de visão, a segun<strong>da</strong> vantagem era que permitia imitar<br />

melhor a deriva do inseto rio abaixo, por último, uma vez capturado o peixe ele<br />

“perturbaria” menos os outros peixes que poderiam se encontrar rio acima. Stuart<br />

também opinava que o tamanho, formato e aparência <strong>da</strong> mosca eram mais importantes<br />

do que a imitação perfeita do inseto.<br />

Os colonizadores ingleses que chegaram ao continente norte-americano durante os<br />

séculos XVIII e XIX trouxeram naturalmente <strong>com</strong> eles o conhecimento e interesse pela<br />

pesca <strong>com</strong> mosca. O esporte já teria criado raízes firmes no final do século XVIII, e se<br />

pensa que para então já tenham existido lojas especializa<strong>da</strong>s na ven<strong>da</strong> de material e<br />

equipamentos para a <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> (ou simplesmente Fly). Devido ao espírito de<br />

liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ex-colônias as atitudes e métodos do Fly estavam longe de serem tão<br />

rígidos quanto na Inglaterra, e os estilos de pesca <strong>com</strong> moscas secas e wets foram<br />

ambos rapi<strong>da</strong>mente adotados e a<strong>da</strong>ptados as condições de pesca locais. Como<br />

veremos na sequência, o espírito americano imprimiu um novo ritmo ao<br />

desenvolvimento do esporte.<br />

Durante o século XIX, a pesca <strong>com</strong> mosca passou por mu<strong>da</strong>nças dramáticas no que se<br />

refere ao desenvolvimento do equipamento, assim <strong>com</strong>o pelo crescente interesse pela<br />

entomologia e a criação de novos desenhos ou “padrões” de moscas. Criou-se se certa<br />

maneira o misticismo que rodeia este estilo de pesca até hoje em dia. Grande parte do<br />

desenvolvimento obedece ao crescente interesse dos americanos pelo esporte,<br />

interesse que traria um grande impulso e <strong>da</strong>ria origem a muitas inovações.<br />

Em relação as varas, a tendência durante o século XIX continuou sendo a diminuição<br />

do <strong>com</strong>primento e a incorporação de novos materiais e técnicas de construção <strong>da</strong>s<br />

varas. Em 1845 um fabricante de violinos americano <strong>da</strong> Pensilvânia, Samuel Phillipe, fez<br />

a primeira vara colando tiras de bambu (ou em inglês split cane). Esta técnica foi<br />

inovadora, pois ela permitia através <strong>da</strong> construção melhorar as quali<strong>da</strong>des mecânicas do<br />

material em termos de resistência e flexão. Anos depois, elas <strong>com</strong>eçaram a ser<br />

produzi<strong>da</strong>s em massa pelos americanos Charles Orvis e Hiram Leonard. Ao longo do<br />

tempo, as varas de bambu foram adquirindo características superiores de arremesso e<br />

peso, a tal ponto que na vira<strong>da</strong> do século, os Ingleses passaram a importá-las dos<br />

Estados Unidos. As varas inglesas <strong>da</strong> época eram longas, pesa<strong>da</strong>s e rígi<strong>da</strong>s, assim as<br />

varas americanas vieram não só para substituir as inglesas, mas também para<br />

preencher o espaço necessário para o desenvolvimento <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> ninfa. Anos<br />

depois em 1872, os irmãos William e John James Hardy <strong>com</strong>eçaram a fabricar na ci<strong>da</strong>de<br />

inglesa de Alnwick varas de bambu nos mesmos padrões de quali<strong>da</strong>de.<br />

Além do desenvolvimento do efeito “multiplicador”, o desenho <strong>da</strong>s carretilhas tinha<br />

mu<strong>da</strong>do muito pouco desde a época de Walton e modelos do inicio do século XIX eram<br />

bastante inadequado. O mercado era dominado por carretilhas <strong>com</strong> cilindros <strong>com</strong>pridos<br />

e o eixo fino. Acredita-se que seja o fabricante americano de relógios, George Snyder de<br />

Paris, Kentucky quem tenha <strong>com</strong>eçado a produzir as primeiras carretilhas de quali<strong>da</strong>de


entre 1805 e 1810. Em 1891 a Hardy patenteia o “Perfect<br />

Reel”. O desenho de Foster Hardy resistiria ao teste do<br />

tempo e, embora tenha havido uma ou duas pequenas<br />

alterações, o mesmo modelo básico é fabricado ain<strong>da</strong> hoje.<br />

Ao longo de sua <strong>história</strong>, a Hardy foi responsável por alguns<br />

dos importantes avanços no desenho de carretilhas tais<br />

<strong>com</strong>o introdução de rolamentos, e a carretilha <strong>com</strong> eixo<br />

largo o ”Large Arbor” (1911).<br />

Assim <strong>com</strong>o aconteceu <strong>com</strong> as varas e carretilhas, as linhas<br />

de pesca também tiveram uma rápi<strong>da</strong> evolução <strong>com</strong> a<br />

introdução <strong>da</strong>s linhas de se<strong>da</strong> oleosas, elas permitiram<br />

triplicar a distância do arremesso. A pesca <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> tal<br />

<strong>com</strong>o a conhecemos hoje em dia, estava <strong>com</strong>eçando a<br />

tomar forma.<br />

Página do Livro “Fly –Fisher Entomology”<br />

de Alfred Ronald -Edição de 1836 <strong>com</strong><br />

ilustrações de insetos e suas imitações<br />

“Perfect Reel” <strong>da</strong> Hardy -1891<br />

Em paralelo <strong>com</strong> a e evolução do material, a <strong>Pesca</strong><br />

<strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> estava também se tornando uma<br />

ciência. Alfred Ronald foi o primeiro autor a apontar<br />

a importância de entender o ciclo de vi<strong>da</strong> dos insetos<br />

e a sua correspondência <strong>com</strong>o fontes potenciais de<br />

alimento para os peixes. Seu livro “Fly Fishers<br />

Entomology” publicado em 1836 foi a primeira<br />

descrição entomológica dos insetos na natureza e<br />

seus equivalentes imaginários nas “moscas”. O livro<br />

de Ronald preciosamente ilustrado despertou o<br />

interesse pelo estudo dos insetos, e rapi<strong>da</strong>mente os<br />

pescadores passaram a se preocupar em imitar <strong>com</strong><br />

a maior precisão possível os insetos dos quais dos<br />

peixes se alimentavam.<br />

Estados Unidos 1900-1945 – A era de Ouro americana - Escola Catskill<br />

e a introdução <strong>da</strong> truta marrom<br />

Por volta de 1850 O Fly <strong>com</strong>eçou a tomar relevância nos Estados Unidos principalmente<br />

nas regiões orientais do país. Em 1887 foi publicado o livro “Fly Fishing and Fly-Making”<br />

de John LI. Keene. O objetivo era mostrar que os Estados Unidos tinham atingido a um<br />

nível de desenvolvimento superior do que os europeus poderiam imaginar e que, apesar<br />

<strong>da</strong> sua entra<strong>da</strong> tardia na <strong>história</strong> <strong>da</strong> pesca, o refinamento <strong>da</strong>s varas, carretéis e linhas<br />

tinha sido levado por eles muito à frente <strong>da</strong> Europa, principalmente <strong>da</strong> Inglaterra. Este


notável conjunto de inovações deslocaria o centro de gravi<strong>da</strong>de do desenvolvimento do<br />

esporte para os Estados Unidos.<br />

Os rios Neversink e Beaverkill localizados nas montanhas Catskill no estado de Nova<br />

Iorque se tornaram o equivalente americano dos rios calcários ingleses, e são hoje em<br />

dia os rios clássicos para a pesca <strong>com</strong> mosca nos Estados Unidos.<br />

Na Europa e na Inglaterra os pescadores de Fly visavam <strong>com</strong>o objetivo a truta marrom.<br />

No entanto esta espécie não existia nos Estados Unidos, no seu lugar, os americanos<br />

pescavam a truta de arroio (brook trout) nos estados do leste e o steel-head e a truta<br />

cutthroat (garganta corta<strong>da</strong>) no lado oeste.<br />

Com a crescente populari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pesca, os suprimentos de trutas declinaram em<br />

particular o <strong>da</strong> truta de arroio. A necessi<strong>da</strong>de marcou o início do desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

técnicas de introdução e manejo de espécies “estrangeiras” ou exóticas. Durante os<br />

anos 1880 algumas trutas <strong>com</strong>eçaram a serem importa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Europa para repovoar os<br />

rios americanos, as primeiras trutas marrons foram importa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Alemanha.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que as trutas marrons, e posteriormente as arco-íris, eram introduzi<strong>da</strong>s<br />

nos rios americanos, a pesca se torna ca<strong>da</strong> vez mais difícil. A técnica de pesca “rio<br />

abaixo” usando moscas wets se tornou ineficiente. Estas “novas” trutas não eram fáceis<br />

de enganar e os pescadores se viram obrigados a reavaliar seus equipamentos e<br />

técnicas de pesca.<br />

O escritor Theodore Gordon foi quem<br />

sabe uma <strong>da</strong>s pessoas que mais<br />

contribuiu ao desenvolvimento <strong>da</strong> pesca<br />

<strong>com</strong> mosca nos Estados Unidos. Ele<br />

era uma pessoa solitária que por volta<br />

de 1905 se estabeleceu em Neversink,<br />

NY para poder atar suas moscas e<br />

pescar tranquilo. Ele escrevia artigos<br />

que publicados nas revistas Forest and<br />

Stream (EUA) e Fishing Gazette<br />

(Inglaterra) sob o pseudônimo de<br />

“Badger Hackle”. Ele também se<br />

correspondia frequentemente <strong>com</strong><br />

Halford e Skues. Através desta<br />

correspondência <strong>com</strong> dois dos grandes<br />

homens do Fly, ingleses lhe permitia se<br />

manter atualizado sobre o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca<br />

na Inglaterra.<br />

Theodore Gordon (1854-1915)<br />

No fim do século XIX, Gordon obteve umas 50 moscas de Halford ata<strong>da</strong>s para às<br />

condições dos rios ingleses. Como todo bom atador, Gordon <strong>com</strong>eçou a atar suas<br />

próprias moscas utilizando as técnicas de Harlford, mas imitando as moscas dos rios<br />

onde ele pescava. Gordon acabou criando muitos padrões únicos, entre os mais


famosos o “Gordon Quill”, ele também desenvolveu os chamados “bumble-puppies”.<br />

Estas moscas foram os predecessores dos padrões “bucktail”.<br />

Gordon sentou os alicerces <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Escola “Catskill” que acabou tendo um enorme<br />

impacto no atado de moscas nos Estados Unidos. O fanatismo inglês pelas moscas<br />

secas nunca chegou aos Estados Unidos, onde tudo pelo contrário, ouve sempre um<br />

espaço aberto para experimentar novas possibili<strong>da</strong>des. Como resultado as moscas<br />

americanas sempre foram mais “robustamente” ata<strong>da</strong>s do que suas contraparti<strong>da</strong>s<br />

britânicas.<br />

Outro americano que adquiriu um lugar<br />

de destaque na <strong>história</strong> do Fly é George<br />

Michel Lucien LaBranche. Em 1914<br />

publicou seu primeiro livro: “The Dry Fly<br />

and Fast Waters”. Ele é considerado por<br />

esta e outras razões <strong>com</strong>o o homem que<br />

popularizou a pesca <strong>com</strong> mosca seca<br />

nas águas rápi<strong>da</strong>s dos Estados Unidos.<br />

Ele difere em vários aspectos <strong>da</strong>s teorias<br />

de Halford, que foram especificamente<br />

cria<strong>da</strong>s para os chalk stream ingleses.<br />

A técnica de pesca de LaBranche diferia<br />

em vários aspetos <strong>da</strong> Escola “Catskill”, a<br />

principal diferencia estava no tamanho e<br />

na aparência mais “cabelu<strong>da</strong>” <strong>da</strong> mosca,<br />

que aumentava sua flutuação tornando-a<br />

mais visível ao peixe. LaBranche<br />

formava parte do grupo de pessoas que<br />

desenvolveram as técnicas de pesca do<br />

salmão utilizando moscas secas.<br />

Da esquer<strong>da</strong> à direita: Lucien LaBranche (1875-1961) e<br />

Edward Hewit (1866-1957)<br />

Em geral, nesta época surgiu nos Estados Unidos uma maior diversi<strong>da</strong>de de tipos de<br />

pesca e moscas do que na Inglaterra. A modo de exemplo, um tipo especial de moscas<br />

wets, chama<strong>da</strong>s de bucktails e streamers, foram desenvolvi<strong>da</strong>s nos Estados Unidos<br />

durante os anos 1920 <strong>com</strong>o refinamentos <strong>da</strong>s wets clássicas. Os pescadores<br />

americanos observaram que moscas wets <strong>com</strong> corpos dourados ou prateados eram<br />

confundi<strong>da</strong>s <strong>com</strong> presas. Gradualmente apareceu uma grande varie<strong>da</strong>de de padrões de<br />

bucktails (ou também <strong>com</strong>o são chama<strong>da</strong>s hairwing flies) e de streamers (featherwing<br />

flies) que de um jeito ou outro acabam imitando pequenos peixes de diferentes espécies<br />

e em diferentes estágios de crescimento.<br />

Outro americano, Edward Ringwood Hewitt também exerceu uma grande influência no<br />

progresso <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> no período entre as duas grandes guerras. Ele foi<br />

contemporâneo de LaBranche e defendia o desenvolvimento <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca (e do<br />

pescador) em três fases: 1) Capturar tantos peixes quanto seja possível 2) Capturar o<br />

maior peixe 3) A captura do Peixe mais difícil . Ele também defendia a importância <strong>da</strong><br />

“apresentação” <strong>da</strong> mosca, e sustentava que era sempre melhor carregar um número<br />

reduzido de moscas e saber apresenta-las corretamente. Assim <strong>com</strong>o Gordon , Edward


mantinha correspondência <strong>com</strong> Halford e Skues através <strong>da</strong> qual se mantinha atualizado<br />

sobre os desenvolvimentos ingleses na pesca <strong>com</strong> moscas secas e ninfas,<br />

respectivamente. Na obra escrita por Edward, ressaltam dois livros: A Trout and Salmon<br />

Fisherman for Seventy-five Years (1948).<br />

Mas este período entre as guerras não foi dominado<br />

exclusivamente pelos americanos, alguns notáveis<br />

ingleses contribuíram ao progresso do esporte. Um<br />

deles, era o britânico Frank Sawyer, administrador de<br />

um rio e inventor de moscas que são um marco<br />

histórico no desenvolvimento do Fly, tais <strong>com</strong>o, a<br />

ninfa Pheasant Tail.<br />

Outro pioneiro <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> nos Estados<br />

Unidos foi James E. Leisenring. Como os anteriores,<br />

ele trocava correspondência <strong>com</strong> Skues e no período<br />

<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> guerra publicou o livro Tying the Wet Fly<br />

(1941) apesar de ser um livro pioneiro em termos <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> moscas wets e ninfas o autor e sua obra<br />

só receberam o devido crédito muito tempo depois.<br />

James introduz o conceito de flymph para representar<br />

o estado de transição <strong>da</strong> ninfa para o adulto (ou<br />

eclosão).<br />

James E. Leisenring<br />

Frank Sawyer (1906 – 1980)<br />

Os rios <strong>da</strong>s montanhas Catskill continuaram<br />

ocupando um lugar importante no desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca nos Estados Unidos até o<br />

final do século XX. Muitas pessoas contribuíram no<br />

esforço para identificar os insetos e desenvolver<br />

moscas para imitá-los. O trabalho desenvolvido<br />

nesta região sentou as bases de to<strong>da</strong> escola de<br />

imitação americana. Seguido de um processo de<br />

aperfeiçoamento e otimização do número de<br />

imitações até chegar a uma lista de<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 10 padrões para o atado.<br />

O período pós-guerra 1945-1960<br />

É precisamente neste momento que a <strong>história</strong> <strong>da</strong><br />

pesca <strong>com</strong> mosca, pode ser dividi<strong>da</strong> em "antes e<br />

depois". A Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial traz consigo o surgimento de novos e<br />

revolucionários materiais tais <strong>com</strong>o o grafite, boro e as ligas ultraleves utiliza<strong>da</strong>s na<br />

indústria aeroespacial. Estes materiais iriam se juntar a outros já existentes para trazer<br />

uma série de inovações no material de pesca. Estas inovações junto <strong>com</strong> a populari<strong>da</strong>de


alcança<strong>da</strong> pelo esporte colocariam os Estados Unidos numa posição privilegia<strong>da</strong> para<br />

produzir importantes inovações.<br />

Ao redor de 1946 a fibra de vidro irrompe na indústria <strong>da</strong>s varas para Fly, as varas<br />

fabrica<strong>da</strong>s <strong>com</strong> este material eram confiáveis, econômicas e <strong>com</strong> um desempenho<br />

muitas vezes superior as similares de bambu, sem contar que elas podiam ser<br />

fabrica<strong>da</strong>s em massa.<br />

A fibra de vidro assim <strong>com</strong>o as resinas<br />

sintéticas já tinham sido descobertas ao início<br />

dos anos 90. Mas estes materiais só<br />

<strong>com</strong>eçaram a ser utilizados na construção de<br />

varas posteriormente, e meio que por<br />

acidente. O Dr. Arthur M. Howald era na<br />

época diretor técnico de uma empresa e<br />

estava trabalhando num projeto de canos de<br />

fibra de vidro para o exército, mas ele<br />

também era um grande aficionado à pesca.<br />

Quando quebrou a ponteira de uma fina vara<br />

de bambu, ele decidiu experimentar<br />

substituindo-a por uma feita <strong>com</strong> fibra de<br />

vidro, observando os incríveis resultados<br />

partiu para um projeto de construção de uma<br />

vara <strong>com</strong>pleta feita de fibra de vidro. Em<br />

1946, o projeto foi parar na mesa <strong>da</strong><br />

Shakespeare Rod Co. Quem acabou lançado<br />

pouco tempo depois o primeiro modelo<br />

<strong>com</strong>ercial chamado de “Wonder Rod”. O<br />

processo de fabricação destas varas é ain<strong>da</strong><br />

conhecido <strong>com</strong>o processo “Howald”.<br />

Encarte de revista <strong>da</strong> “Wonder Rod - 1952<br />

Mas as varas de pesca não foram as únicas em experimentar um vertiginoso<br />

desenvolvimento. O Nylon que já tinha sido inventado em 1930 veio substituir os líderes<br />

feitos <strong>com</strong> se<strong>da</strong>, oferecendo maior resistência e transparência. O Nylon também traçou o<br />

caminho para a substituição <strong>da</strong>s antigas linhas de pesca feitas <strong>com</strong> crinas de cavalo e<br />

se<strong>da</strong> trança<strong>da</strong>. Nos anos 50 a Scientific Anglers de Midland, Michigan já fabricava uma<br />

linha <strong>com</strong> um núcleo de Dacron e revesti<strong>da</strong> por uma cama<strong>da</strong> de poliami<strong>da</strong>. Este novo<br />

tipo de linha não precisava dos cui<strong>da</strong>dos extremos que requeriam as linhas de se<strong>da</strong> ao<br />

mesmo tempo em que deslizavam melhor entre guias <strong>da</strong>s varas de pesca. Os desenhos<br />

foram sendo aprimorados para oferecer diferentes tipos de distribuição do peso ao longo<br />

<strong>da</strong> linha.<br />

Todo este desenvolvimento técnico e material esteve a<strong>com</strong>panhado de um crescente<br />

interesse por entender a natureza. Como resultado deste processo, temos um período<br />

de uma abun<strong>da</strong>nte produção de material bibliográfico. Os livros dedicados à entomologia<br />

pretendiam <strong>da</strong>r explicações mais concretas sobre a natureza e <strong>com</strong>portamento dos


insetos, ao mesmo tempo em que as técnicas de<br />

atado, arremesso e apresentação também eram<br />

aperfeiçoa<strong>da</strong>s.<br />

Se abríssemos uma caixa de moscas dos anos<br />

1950, viríamos um conjunto de padrões de uso<br />

geral, não a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s as condições específicas de<br />

pesca para as quais elas deveriam de servir. Por<br />

aquela época, muitos dos aspetos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos<br />

insetos ain<strong>da</strong> eram desconhecidos assim <strong>com</strong>o a<br />

arte de imitá-los através do atado. A literatura<br />

viria para preencher esta lacuna no<br />

conhecimento:<br />

• Em 1947 Art Flick publica seu livro mais<br />

importante “Stream-side guide to naturals<br />

and their imitations” nele descreve vários<br />

tipos de “Mayflies” naturais e os modelos<br />

para imitá-las.<br />

Capa <strong>da</strong> revista Field & Stream dos anos 50.<br />

As publicações passam a promover destinos<br />

de e bens de consumo voltados para a pesca<br />

• Em 1950 Vincent Marinaro publica “A<br />

Modern Dry Fly Code” e posteriormente em 1976 “In the Ring of the Rise”.<br />

Ambos livros tiveram um tremendo impacto conceitual. O primeiro livro abria um<br />

novo panorama para imitação de iscas incorporando os insetos terrestres e suas<br />

imitações. Estes insetos constituíam uma parte importante <strong>da</strong> dieta <strong>da</strong>s trutas<br />

nos rios do centro-sul <strong>da</strong> Pensilvânia nos quais Vincent pescava frequentemente.<br />

O segundo livro trouxe o conceito <strong>da</strong> ”Janela de Visão” que influenciou muitas<br />

<strong>da</strong>s técnicas de apresentação <strong>da</strong> época. Marinaro insistiu na importância <strong>da</strong><br />

“silhueta” <strong>da</strong> mosca criando as chama<strong>da</strong>s asas “torácicas” muito utiliza<strong>da</strong>s hoje<br />

em dia.<br />

• Em 1952 foi publicado na Inglaterra o livro “Angler’s Entomology” escrito por<br />

John Robert Harris, este livro continha uma descrição moderna e muito bem<br />

ilustra<strong>da</strong> de todos os insetos que serviam de alimentos para as trutas nas ilhas<br />

britânicas.<br />

• Em meados dos anos 50, aparece o primeiro livro que tratava <strong>da</strong>s eclosões de<br />

insetos dentro de um determinado ecossistema. Ernest George Schwiebert<br />

publica em 1955 seu livro “Matching the Hatch” contendo <strong>com</strong> uma descrição<br />

sistemática e precisa dos insetos que habitam as águas americanas. Este<br />

famoso estudo estava muito à par dos livros publicados na Inglaterra e Irlan<strong>da</strong>.<br />

Entre 1950 e 1954 o centro de atenção <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> nos Estados Unidos<br />

<strong>com</strong>eça a mu<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s montanhas Catskill para o vale Cumberland na Pensilvania. E<br />

posteriormente para o oeste aos estados de Montana e Califórnia, onde se desenvolve<br />

uma nova cultura mais eclética e irreverente. Os atadores do oeste Americano<br />

<strong>com</strong>eçaram a desenvolver os grandes attractors, wets e moscas secas que longe de


imitar o alimento natural dos peixes exploravam o instinto impulsivo de alimentação dos<br />

peixes.<br />

Os mosqueiros de San Francisco desenvolveram durante este período as linhas de<br />

pesca shooting-head, mais apropria<strong>da</strong>s para arremessar iscas maiores a grandes<br />

distâncias nos rios mais largos do oeste americano.<br />

Tempos modernos 1970-2000<br />

A teoria, pratica e equipamento sofrem uma tremen<strong>da</strong> influencia <strong>da</strong>s ilhas Britânicas, de<br />

certa maneira o esporte volta a suas origens, na Inglaterra.<br />

Em 1973, aconteceria um novo salto tecnológico na construção <strong>da</strong>s varas <strong>com</strong> a entra<strong>da</strong><br />

do grafito. A Fenwick Rod Co. de Wetminster, Califórnia fez o primeiro protótipo e<br />

lançamento <strong>com</strong>ercial. Estas varas eram extremamente rápi<strong>da</strong>s, confiáveis e resistentes,<br />

causando um profundo efeito no mercado que perdura até hoje. Mesmo <strong>com</strong> a posterior<br />

entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s varas de boro em 1980, as varas de grafito continuaram se aperfeiçoando<br />

passado a serem fabrica<strong>da</strong>s em diferentes “graus”.<br />

Como acontece <strong>com</strong> a entra<strong>da</strong> de qualquer nova tecnologia, a anterior não é<br />

<strong>com</strong>pletamente substituí<strong>da</strong> ou abandona<strong>da</strong>. Assim, nos anos 80 temos um<br />

ressurgimento do espírito dos anos 60 e muitos pescadores passam a apreciar<br />

novamente as finas varas fabrica<strong>da</strong>s a mão <strong>com</strong> o bambu Tonkin (Arrun<strong>da</strong>lia amabilis)<br />

segundo o método “split-cane” e alguns outros ain<strong>da</strong> preferem a antiga e nobre vara<br />

fabrica<strong>da</strong> <strong>com</strong> fibra de vidro.<br />

Nos anos 80 também testemunhamos<br />

uma explosão <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong><br />

<strong>com</strong>o um esporte global, praticado em<br />

qualquer lugar e época do ano. Este<br />

apelo de marketing provoca um<br />

intenso desenvolvimento <strong>com</strong>ercial,<br />

não só do equipamento mas também<br />

<strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por serviços de turismo e<br />

do surgimento de guias profissionais.<br />

A pesca em água salga<strong>da</strong> também se<br />

desenvolve rapi<strong>da</strong>mente e se torna<br />

extremamente popular <strong>com</strong> turistas<br />

procurando troféus em destinos<br />

turísticos tais <strong>com</strong>o México, Costa<br />

Rica, Cuba e Venezuela.<br />

Marlim de 52 kg capturado no “Fly “na Bahia de Mag<strong>da</strong>lena,<br />

México<br />

Entre os anos 80 e 90 e <strong>com</strong>o resultado de um processo de seleção genética, os<br />

atadores de moscas podem contar pela primeira vez na <strong>história</strong> <strong>com</strong> uma abun<strong>da</strong>nte<br />

oferta de materiais de primeira quali<strong>da</strong>de, especialmente dos colares ou hackles de


galos. Começa também o surgimento de uma nova geração de materiais de atado<br />

sintéticos que abrem novas perspectivas na elaboração de iscas.<br />

Mas o esporte também <strong>com</strong>eça a adquirir um apelo ca<strong>da</strong> vez mais forte em prol <strong>da</strong><br />

conservação. A famosa frase de Lee Wulff dos anos 40: “Os peixes são demasiado<br />

valiosos para ser capturados uma vez só” <strong>com</strong>eça a tomar força e o lema de “catch and<br />

release” (Pesque e solte) se torna ca<strong>da</strong> vez mais frequente entre os pescadores<br />

esportivos e vira o lema dos pescadores do século 20 <strong>com</strong>o um meio para reduzir a<br />

depre<strong>da</strong>ção de algumas espécies esportivas.<br />

No final de século 20, o esporte já se tornou global ultrapassando as fronteiras <strong>da</strong>s ilhas<br />

Britânicas e dos Estados Unidos. Os pescadores passam a procurar não só destinos<br />

mais longínquos mas também espécies de ca<strong>da</strong> vez mais exóticas. Novos<br />

equipamentos, técnicas e literatura foram desenvolvi<strong>da</strong>s criando um novo universo <strong>da</strong><br />

<strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> em expansão.<br />

Origens <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca na América Latina<br />

O surgimento <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> no nosso continente está intimamente relacionado<br />

<strong>com</strong> a introdução e a<strong>da</strong>ptação dos salmonídeos. As primeiras introduções ocorreram ao<br />

início do século XX na Argentina (1904) e no Chile (1905) e posteriormente na<br />

Colômbia, Equador e Peru em 1920, Venezuela (1930), Bolívia (1940) e Brasil (1949).<br />

Após esta primeira fase, a prática do Fly estendeu-se para outras espécies nativas de<br />

água doce tais <strong>com</strong>o o tucunaré, traíra, matrinxã e dourado, assim <strong>com</strong>o para a pesca<br />

de espécies de água salga<strong>da</strong> tais <strong>com</strong>o o robalo, ubarana-rato (bonefish), atum e o<br />

marlim. Sendo hoje em dia somos um dos continentes mais privilegiados em termos de<br />

varie<strong>da</strong>des de peixes para a pratica do Fly.<br />

Introdução dos salmonídeos na América do Sul<br />

Argentina e Chile – Entre 1850 e 1880 houveram varias iniciativas de imigrantes, donos<br />

de estâncias, de empresa priva<strong>da</strong> e dos governos argentino e chileno de introduzir<br />

salmonídeos a partir de ovos trazidos diretamente do hemisfério norte. Dado o alto valor<br />

<strong>com</strong>ercial, o objetivo inicial era a<strong>da</strong>ptar estas espécies para estabelecer populações<br />

estáveis de trutas na patagônia, tanto para a pesca esportiva <strong>com</strong>o para a alimentação.<br />

Estas primeiras experiências foram basicamente um rotundo fracasso.<br />

Entre 1883-1888 Dona Isidora Goynechea de Cousiño (Viúva do Industrial do carvão<br />

Luis Cousiño) conseguiu realizar o sonho do marido instalando a primeira piscicultura de<br />

trutas Fario no rio Chivilingo a partir de ovos trazidos diretamente <strong>da</strong> Europa. Utilizado a<br />

assessoria técnica de um especialista escocês, eles conseguiram introduzir <strong>com</strong> êxito<br />

algumas destas trutas nos rios do Golfo de Arauco. Lamentavelmente Dona Isidora<br />

acabara falecendo em 1897 em Paris, sem puder apreciar os resultados <strong>da</strong> sua obra.


Durante suas varias expedições à Patagônia, o<br />

argentino Francisco Pascasio (Perito) Moreno teria<br />

sido o primeiro em avaliar a possibili<strong>da</strong>de de incorporar<br />

estas espécies nos rios e lagos <strong>da</strong> região. Segundo os<br />

registros oficiais argentinos, a primeira introdução <strong>com</strong><br />

êxito de trutas aconteceu em 1904 graças aos esforços<br />

dos americanos John W. Tit<strong>com</strong>b e posteriormente<br />

Eugene Tulián, ambos contratados pelo governo<br />

argentino para realizar a visão de Perito Moreno. A<br />

primeira introdução foi a partir de ovos de truta de<br />

arroio (Salvelinus fontinalis), truta de lago (Cristovomer<br />

namaycush), salmão encerrado (Salmo salar sebago)<br />

e whitefish (Coregus clupeaformis) trazi<strong>da</strong>s do estado<br />

de Nova Iorque, USA. Os primeiros alevinos foram<br />

soltos nos lagos Nahuel Huapi, Traful, Espejo e<br />

Gutierrez. Nos anos posteriores, houve outras<br />

importações adicionais de ovos <strong>da</strong>s mesmas espécies<br />

vindos dos Estados Unidos, Canadá, França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha, e foram<br />

adiciona<strong>da</strong>s novas espécies tais <strong>com</strong>o: trutas arco-íris, marrons e algumas espécies de<br />

salmões do pacífico e do atlântico.<br />

Em 1905, quase que simultaneamente <strong>com</strong> a primeira introdução de sucesso na<br />

Argentina, o governo chileno en<strong>com</strong>en<strong>da</strong> ao biólogo e conservacionista Federico Albert<br />

Taupp e <strong>com</strong> o suporte dos piscicultores Rodolfo Wilde e Pedro Golus<strong>da</strong> a construção<br />

de uma piscicultura no rio “Blanco”, um afluente do Aconcangua. Os primeiros ovos <strong>da</strong>s<br />

espécies salmão salar, salmo truta e irridens foram importados <strong>da</strong> Alemanha, os peixes<br />

foram distribuídos em vários rios do sul do Chile. Em 1910 foram registra<strong>da</strong>s as<br />

primeiras capturas de exemplares vindos desta piscicultura, confirmado o êxito do<br />

projeto. Após este primeiro sucesso o governo decidiu construir entre 1910 e 1914<br />

outras pisciculturas nos rios Maullín, Cautín e Lautaro para expandir os alcances do<br />

projeto para outros rios do Chile, sempre sob a assessoria de Pedro Golus<strong>da</strong>. Em 1924<br />

o Chile <strong>com</strong>eça a experimentar <strong>com</strong> a introdução de salmões provenientes do Alaska:<br />

Orconchynchus tachsryscha, Orconchynchus nesca, Orconchynchus kisutch entre<br />

outros.<br />

Quase 100 anos após todos estes esforços, cinco espécies de salmonídeos estão<br />

firmemente estabeleci<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as bacias fluviais <strong>da</strong> Patagônia, <strong>com</strong> populações<br />

residentes que <strong>com</strong>pletam 100% dos seus ciclos de vi<strong>da</strong> em água doce. As espécies<br />

mais <strong>com</strong>uns são a Arco-Íris, a Marrom e a truta de Arroio. As outras duas: O Salmão<br />

encerrado e a Truta de Lago, existem em áreas mais restritas.<br />

Já as espécies anádromas 3 tais <strong>com</strong>o o salmão Chinook, o Coho e o do Atlântico<br />

connseguiram de a<strong>da</strong>ptar às bacias chilenas. Originalmente introduzi<strong>da</strong>s para a criação<br />

3 Wikipedia: (Anádroma) Anádromos são os peixes ou outros animais aquáticos que se reproduzem em água doce<br />

mas se desenvolvem até à forma adulta no mar<br />

Francisco Pascasio (Perito) Moreno<br />

(1852-1919)


em cativeiro, alguns exemplares conseguiram escapar ocupando alguns rios de água<br />

doce (Corcovado, Pico e Futaleufú na província de Chubut) e inclusive migraram através<br />

do estreito de Magalhães chegando até a bacia do rio Santa Cruz. Neste rio, tem sido<br />

identifica<strong>da</strong> uma espécie anádroma <strong>da</strong> truta Arco-Íris chama<strong>da</strong> de Stealhead. cuja<br />

origem se remonta as primeiras introduções de trutas Arco-Íris provenientes <strong>da</strong><br />

California, USA. As correspondentes espécies anádromas <strong>da</strong> truta Marrom (ou Sea<br />

Trout) sustentam as pesca esportiva nos Rios Gallegos, Santa Cruz e Rio Grande no<br />

extremo sul <strong>da</strong> patagônia conheci<strong>da</strong> <strong>com</strong>o a “Tierra del Fuego”.<br />

A introdução <strong>da</strong> truta no Brasil - A introdução de salmonídeos no Brasil teve <strong>com</strong>o<br />

objetivo o incremento <strong>da</strong> pesca esportiva e do turismo, justifica<strong>da</strong>s principalmente, pela<br />

ausência de espécies ícticas nativas nas regiões de montanha. Cabe ressaltar, que a<br />

diferença dos outros países, no Brasil a introdução sempre esteve limita<strong>da</strong> à truta arcoíris.<br />

Após concluídos os estudos de viabili<strong>da</strong>de, o<br />

médico veterinário Dr. Ascânio de Faria<br />

recebeu em 1949 o primeiro lote de ovos<br />

embrionados de truta arco-íris, provenientes<br />

<strong>da</strong> Dinamarca. O local escolhido para a<br />

primeira soltura de alevinos foi o Planalto do<br />

Sertão <strong>da</strong> Bocaina, Bacia do Rio Bracuí,<br />

município de Bananal, SP. Dos 5.000 ovos<br />

embrionados importados inicialmente,<br />

apenas metade sobreviveram e foram<br />

introduzidos nos rios Jacu Pintado e Bonito<br />

(formadores do rio Bracuí). No ano seguinte,<br />

1950, foi criado o Posto de Biologia e de<br />

Criação de Trutas, à margem do rio Jacu<br />

Estação experimental de Salmonicultura em<br />

Campos do Jordão - SP<br />

Pintado. Em maio do mesmo ano, foram recebidos mais ovos embrionados <strong>da</strong><br />

Dinamarca, que foram incubados nas instalações deste posto e os alevinos liberados em<br />

alguns rios <strong>da</strong>s bacias do Bracuí e Mambucaba, ambos na vertente Atlântica <strong>da</strong> Serra<br />

<strong>da</strong> Bocaina.<br />

O Sucesso <strong>da</strong> aclimatação <strong>da</strong> truta na Serra <strong>da</strong> Bocaina incentivou pesquisas para sua<br />

introdução em outras regiões do país. Em 1952 se iniciaram os trabalhos de introdução<br />

<strong>da</strong> truta no Rio Macaé (RJ) e em 1953 pesquisadores <strong>da</strong> Ex-Divisão de Proteção e<br />

Produção de Peixes e Animais Silvestres iniciaram pesquisas <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> água em<br />

alguns rios <strong>da</strong> região de Campos do Jordão (SP). Posteriormente em 1983, se iniciaria o<br />

povoamento de rios no Estado do Rio Grande do Sul, novamente <strong>com</strong> o intuito de<br />

incentivar a pesca esportiva e o turismo a região.<br />

O posterior interesse <strong>com</strong>ercial incentivou a introdução <strong>da</strong>s trutas em ambientes de<br />

cativeiro, hoje em existem no Brasil arredor de 120 truticulturas distribuí<strong>da</strong>s nos estados<br />

do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro


e Espírito Santo, e duas estações de pesquisa experimentais: a Estação Nacional de<br />

Truticultura, em Lajes (SC); e a Estação Experimental de Salmonicultura “Dr. Ascânio de<br />

Faria” do Instituto de <strong>Pesca</strong> <strong>da</strong> Secretaria de Agricultura de São Paulo, localiza<strong>da</strong> em<br />

Campos do Jordão (SP).<br />

Dos primeiros pescadores ao apogeu <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca no hemisfério sul<br />

No inicio do século XX já era possível encontrar pescadores <strong>com</strong> mosca nos rios e lagos<br />

andinos. Não é de surpreender que os primeiros pescadores desta disciplina fossem os<br />

Ingleses e seus descendentes radicados no Chile e na Argentina.<br />

Nestes primeiros anos, a técnica preponderante de pesca era ain<strong>da</strong> o “bait”, no entanto<br />

uma geração importante de pescadores, principalmente argentinos e americanos, iriam<br />

provocar uma mu<strong>da</strong>nça radical que acabaria tornando a patagônia um dos principais<br />

destinos mundiais <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>.<br />

José Evaristo (Bebé) Anchorena e seu<br />

inseparável <strong>com</strong>panheiro de pesca Jorge<br />

Dónovan foram os primeiros pioneiros na<br />

pesca <strong>com</strong> mosca na Argentina. Mas ela<br />

só adquiriu proporções internacionais<br />

após 1955 <strong>com</strong> a visita dos americanos<br />

Joe Brooks e Charles Radziwill que<br />

trouxeram na bagagem to<strong>da</strong> uma nova<br />

geração de equipamentos, moscas e<br />

técnicas que serviram <strong>com</strong>o base para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong><br />

neste país. Assim <strong>com</strong>o os americanos 50<br />

anos antes, os Argentinos absorveram e<br />

a<strong>da</strong>ptaram estas técnicas e as moscas a<br />

suas condições particulares de pesca nos<br />

rios e lagos Patagônicos.<br />

Na bagagem Brooks e Radziwil trouxeram<br />

a primeira mosca “blonde” que em março<br />

de 1961 “Bebé” utilizaria para fisgar na<br />

boca do Rio Chimehuín a famosa truta de<br />

11 quilos que criou a famosa “Febre <strong>da</strong><br />

Boca” e alimentaria aquela corri<strong>da</strong> pela<br />

pesca dos grandes peixes na Patagônia.<br />

Posteriormente, outros importantes<br />

convi<strong>da</strong>dos, entre eles Mel Krieger (1928-<br />

2008), iriam promover ain<strong>da</strong> mais a<br />

patagônia argentina e chilena <strong>com</strong>o um<br />

dos principais destinos mundiais <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong><br />

Da esquer<strong>da</strong> à direita: “Bebé” Anchorena, Jorge<br />

Dónovan, Joe Brooks e Charles Radziwil<br />

“Bebe” Anchorena e a famosa “La de los once” o recorde<br />

mundial capturado no dia 2 de março de 1961 na Boca do<br />

Rio Chimehuín<br />

<strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> ao mesmo tempo que contribuíram ao desenvolvimento sustentável desta<br />

ativi<strong>da</strong>de esportiva.


Os pioneiros <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> no Brasil–<br />

No Brasil o Paulo César Domingues <strong>da</strong> Silva é apontado <strong>com</strong>o um dos primeiros<br />

<strong>Pesca</strong>dores <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> do nosso país. Conforme entrevista concedi<strong>da</strong> ao site<br />

www.pesca<strong>com</strong>mosca.<strong>com</strong>.br Paulo César indica que ele <strong>com</strong>eçou a ter conhecimento<br />

desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de pesca por volta do final dos anos 40 através de publicações<br />

americanas <strong>com</strong>o a Outdoor Life, Sports Afield e Field & Stream. Além dos livros<br />

“<strong>Pesca</strong>ndo <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>” e Histórias de um <strong>Pesca</strong>dor”, Paulo César publicou em 1993 um<br />

vídeo chamado “O ABC do Fly” que foi um grande marco de divulgação desta prática no<br />

Brasil.<br />

Paulo César junto <strong>com</strong> Carlos Roberto “Beto” Sal<strong>da</strong>nha talvez tenham sido dois dos<br />

grandes percursores <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca no nosso país. Beto Sal<strong>da</strong>nha em conjunto<br />

<strong>com</strong>o o Karkour Seyoufi (mais conhecido <strong>com</strong>o “Gregório”) são hoje em dia os dois<br />

consagrados “rodmakers” do Brasil, <strong>com</strong>o são chamados os construtores de “caniços”<br />

ou varas de bambu.<br />

Em nossas pescarias, Beto nos acostuma deleitar <strong>com</strong> suas <strong>história</strong>s sobre a introdução<br />

deste esporte no Brasil. Segundo o Beto, o interesse por esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de pesca<br />

apareceu por volta do ano de 1962, quando caiu nas suas mãos uma edição <strong>da</strong> revista<br />

Field & Stream (Publicação americana, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1895) <strong>com</strong> um artigo sobre a pesca<br />

<strong>com</strong> mosca. Em 1968 ele conseguiu <strong>com</strong>prar o primeiro equipamento para a pesca <strong>com</strong><br />

mosca de um americano que estava de volta para seu pais de origem. Já tendo<br />

observado a a<strong>da</strong>ptação e disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> truta no Macaé de Cima ele partiu para sua<br />

primeira aventura <strong>com</strong> um mínimo de conhecimento sobre a pesca <strong>com</strong> Fly.<br />

Mais recentemente, Rubens de Almei<strong>da</strong>, o “Rubinho”, trouxe para TV a pesca <strong>com</strong><br />

mosca e foi um grande vetor de desenvolvimento e divulgação deste esporte.<br />

Ain<strong>da</strong> há muitos pescadores, instrutores e “atadores de moscas” que foram<br />

fun<strong>da</strong>mentais para o esporte no Brasil, entre os quais ressaltar além dos já<br />

mencionados: A<strong>da</strong>lberto Francisco de Oliveira “Betinho”, Gustavo dos Reis Filho “Gugu”,<br />

Luiz Fernando Pinheiro (†9 de Maio, 2011), Marco Valério <strong>da</strong> Costa e Gerson Kavamoto,<br />

entre outros.<br />

Com base nas informações de emissão de licenças de pesca amadora no Brasil, estimase<br />

que hoje em dia existam entre 10 e 12 mil praticantes de Fly no Brasil. Um numero<br />

ain<strong>da</strong> reduzido se <strong>com</strong>parado <strong>com</strong> o total de pescadores estimado em 287 mil 4 . Mas é<br />

um segmento que ano após ano vem conquistando ca<strong>da</strong> vez mais adeptos.<br />

4 Total de licenças de pesca amadora entre Maio de 2010 e Junho 2011, Fonte: Ministério de Turismo e Ministério<br />

<strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> e Aquicultura (MPA).


A <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> hoje em dia<br />

A <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> é hoje em dia um esporte amplamente difundido em todos os<br />

continentes: Desde a antiga Europa ao continente Asiático, as Américas e inclusive o<br />

continente Africano. Esta é uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de <strong>com</strong> mais de 500 anos de historia, que<br />

ain<strong>da</strong> está em constante evolução onde novos materiais técnicas de pesca e atado são<br />

descobertos a ca<strong>da</strong> ano, mas sempre mantendo suas tradições e origens trazendo de<br />

volta as formas clássicas de pesca <strong>com</strong> vara de bambu ou a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de pesca<br />

japonesa, o Tenkara.<br />

Cena moderna de pesca, novas gerações estão <strong>com</strong>eçando a descobrir io esporte – <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> Fly no Rio<br />

Chimehuín Alto – Província de Neuquén, Argentina<br />

A <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> também está abandonando aos poucos seu caráter elitista,<br />

permeando uma ampla varie<strong>da</strong>de de peixes além dos clássicos salmonídeos <strong>com</strong>o a<br />

truta, o grayling e o salmão. Mas ela ain<strong>da</strong> conserva o espírito esportivo e o caráter<br />

conservacionista inspirado nos primeiros textos escritos por Dame Juliana Berners.<br />

A evolução <strong>da</strong> pesca <strong>com</strong> mosca: Além <strong>da</strong> Truta e do Salmão – A partir de 1993,<br />

<strong>com</strong>eçou-se a descobrir que existiam uma varie<strong>da</strong>de incrível de peixes de água doce<br />

que atacavam streamers , imitações de formigas, içás, gafanhotos e outros insetos.<br />

Desde então, muitas outras espécies de peixes presentes na América do sul são<br />

pesca<strong>da</strong>s utilizando moscas, entre eles: Dourados, tucunarés, matrinxãs, piabanhas,<br />

piraputangas, bass, pirapitinga, bicu<strong>da</strong>s, cachorras, corvinas, jatuaranas, aruanãs,<br />

apaiarís, lambaris, tilápias, pacus, tabaranas, trairas, trairões, jacundás e até surubins. E<br />

hoje em dia podemos afirmar que o esporte está em pleno processo de<br />

desenvolvimento, incluindo o desenho de novas iscas para todos esses peixes nativos<br />

de água doce.


Com o passar dos anos descobriu-se que a pesca <strong>com</strong> mosca se a<strong>da</strong>pta também à<br />

captura de muitos peixes esportivos de água salga<strong>da</strong> e logo se verificou que eles<br />

superavam em tamanho, força, violência e rapidez os peixes de água doce. Descobriuse<br />

peixes tanto nas baías, praias, lagoas e oceano que mordiam um streamer ou popper<br />

<strong>com</strong> voraci<strong>da</strong>de e que testavam o equipamento e perícia do mosqueiro ao máximo.<br />

Robalos, ubaranas, guaibiras, enchovas, cavalas, xaréus, ubaranas-rato (bonefish),<br />

marlim, tarpão e cernambiguaras entre outros, eram adversários que o pescador de<br />

água doce nunca imaginou encontrar.<br />

Novos equipamentos, moscas, nós e técnicas para enfrentar também os gigantes de alto<br />

mar tiveram que ser inventados e desenvolvidos. Hoje em dia, peixes muitas vezes<br />

pesando acima de 50 kg são apanhados no mar <strong>com</strong> equipamento de mosca.<br />

Exemplos de outras espécies de água doce captura<strong>da</strong>s no Fly – No Sentido horário: Dourados e Piraputangas (Paso<br />

de la Pátria– Rio Paraná) , Pirapitinga (Goiás ) e Tucunaré (Rio Negro, Amazonas)


Fontes bibliográficas e outros documentos de consulta<br />

-­‐ A Flyfishing History – Dr. Andrew Herd: www.flyfishinghistory.<strong>com</strong><br />

-­‐ Bibliografía <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>: www.thefullwiki.org/Bibliography_of_fly_fishing<br />

-­‐ Museu britânico <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>: www.fishingmuseum.org.uk<br />

-­‐ Museu americano <strong>da</strong> <strong>Pesca</strong> <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong>: www.amff.<strong>com</strong><br />

-­‐ História <strong>da</strong> la pesca con <strong>Mosca</strong> en Chile: www.chileoutfitters.cl<br />

-­‐ Historia de la pesca con <strong>Mosca</strong> en Argentina:<br />

www.pesca-con-mosca.<strong>com</strong>/mayo/bebe.asp<br />

www.aapm.org.ar<br />

-­‐ Aux origines de la Pêche à la Mouche – Joan Michel:<br />

http://peche-mouche-seche.<strong>com</strong>/origines.htm<br />

-­‐ The History of Fishing for Trout with Artificial Flies in Britain and America: A Chronology<br />

of Five Hundred Years, 1496 to 2000. - Gordon M. Wickstrom<br />

-­‐ História <strong>da</strong> truta no Brasil: http://forellenhof.<strong>com</strong>.br/truta/historia.php<br />

-­‐ Histórico de la introducción de Salmonídeos en Argentina:<br />

www.linea4.<strong>com</strong>.ar/articulos/historicos/sueno.htm<br />

-­‐ <strong>Pesca</strong>ndo <strong>com</strong> <strong>Mosca</strong> - Paulo César Domingues <strong>da</strong> Silva.<br />

-­‐ A <strong>Pesca</strong> na Amazônia – José Verissimo – Livraria Clássica de Alves<br />

-­‐ Plumas, Se<strong>da</strong> y Acero – Las <strong>Mosca</strong>s del Manuscrito de Astorga – José Luis García<br />

Gonzalez<br />

-­‐ “Two Centuries of Soft-hackled Flies” - Sylvester Nemes<br />

-­‐ Introdução <strong>da</strong> truta no Brasil e na Bacia do RIo Macaé, estado do Rio de Janeiro:<br />

Histórico, legislação e Perspectivas – Henrique Lazzarotto & Érica Péllegrini Caramaschi<br />

(Dezembro - 2009)<br />

-­‐ A trajetória <strong>da</strong> truticultura no estado de São Paulo no período de 1949-1999 – Hélio<br />

Ladislau Stempniewski (Maio - 2009)<br />

Entre em contato: alejandro@moscanagua.<strong>com</strong>.br<br />

www.moscanagua.<strong>com</strong>.br<br />

© <strong>Mosca</strong> N’água<br />

São Paulo, Versão 5.1 - Abril de 2013

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