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FILOSOFIA DA TEORIA POLÍTICA: ALGUNS MOMENTOS

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cadernos ufs - filosofia<br />

INTRODUÇÃO<br />

Como bem se sabe, há uma série de dificuldades da utilização da razão<br />

para conhecer o mundo empírico. Convém lembrar, porém, o que já se tornou<br />

óbvio: qualquer interpretação é seletiva e, logo, em alguma medida ela é<br />

aleatória 1 . Não por outro motivo, é possível o surgimento de novas ciências.<br />

A geografia, por exemplo, enquanto campo de conhecimento específico, é<br />

uma ciência relativamente nova, não porque a modificação da paisagem pela<br />

sociedade – no caso da chamada “geografia humana” – ou os acidentes<br />

geográficos e as estruturas geológicas são recentes. O mesmo ocorre com<br />

diversas novas ciências. Obviamente, a novidade não está naquilo que podemos<br />

chamar de mundo empírico, de mundo sensível, de fenômeno ou por<br />

qualquer equivalente. O surgimento de novos campos do conhecimento ocorre,<br />

em grande medida, devido às mudanças da percepção do mundo pelo<br />

homem: aquilo que era ignorado ou era percebido como algo que prescindia<br />

de sistematização, passa a ser considerado importante e, na medida em que<br />

não se pode tratar do tema com profundidade dentro de categorias já utilizadas<br />

para pensar outros assuntos, surge o interesse pela criação de uma nova<br />

ciência.<br />

A discussão não é diferente para a política. Podemos identificar momentos<br />

específicos a partir dos quais se passa a buscar uma organização social<br />

planejada, a partir do que se tenta estabelecer uma técnica na política. Assim,<br />

o tema original da política é a organização social e o desenvolvimento dessa<br />

questão levou às considerações sobre o funcionamento das instituições, sobre<br />

as relações entre os povos e, por fim, sobre uma paz universal ou uma<br />

ordem global – dependendo das tradições teóricas que temos em mente.<br />

As considerações sobre a “natureza da alma” ou sobre o modo de agir<br />

do ser humano estão aí incluídas nesse primeiro momento, já que não se trata<br />

apenas de lidar com instituições que funcionam como um autômato, como<br />

um mecanismo de relógio que garante a convivência social de modo eficaz.<br />

Dificilmente se consegue estudar as concepções políticas de Platão sem ter<br />

de considerar aspectos mais gerais de suas obras, referentes à virtude e ao<br />

conhecimento, por exemplo. Mais adiante serão apresentadas outras considerações<br />

acerca do desenvolvimento histórico da política como uma área do<br />

conhecimento independente, mas vale notar aqui que justamente pela dificuldade<br />

de se separar a política da ética e esta da metafísica, a teoria política<br />

será, por longo tempo, desenvolvida pelos mesmos autores e interpretada<br />

pelas mesmas categorias da filosofia mais geral, que tratava da contemplação<br />

do universo.<br />

1 O clássico texto de Thomas Khun, A Estrutura das Revoluções Científicas. (2003), apesar de lidar muito pouco<br />

com as “ciências humanas”, é uma discussão elucidativa e fornece exemplos históricos acerca de como a<br />

ciência passa a enxergar algo novo no mundo. Esse processo, claro, não ocorre nos moldes de uma revelação<br />

súbita; ele envolve diversos outros elementos, entre os quais estão as relações no interior da comunidade<br />

científica.

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