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LÍNGUA PORTUGUESA GRAMÁTICA - Sistema UNO

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Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

MÓDULO DE<br />

<strong>LÍNGUA</strong> <strong>PORTUGUESA</strong> <strong>GRAMÁTICA</strong><br />

Autoras: Maria Luiza M. Abaurre e<br />

Marcela Nogueira<br />

Pontara<br />

TÓPICO<br />

1<br />

Elementos mórficos, 2<br />

TÓPICO<br />

2<br />

Formação de<br />

palavras (I): radicais<br />

gregos e latinos, 10<br />

MÓDULO<br />

Morfologia:<br />

A construção das palavras<br />

Quando nos envolvemos com o aprendizado das línguas<br />

naturais, normalmente voltamos nossa atenção para o seu<br />

vasto conjunto de palavras, apostando, ingenuamente,<br />

que, quanto maior for o número de palavras que conhecermos,<br />

maior será nosso domínio dessa língua. Logo descobrimos<br />

não ser bem essa a realidade, uma vez que a<br />

aquisição de uma língua envolve, além da familiaridade<br />

com o significado das suas muitas palavras, a compreensão<br />

das suas estruturas. E as estruturas lingüísticas começam<br />

a atuar na própria formação das palavras. O estudo<br />

da morfologia nos ensinará como são formadas as palavras<br />

dentro dos quadros de uma dada língua natural.<br />

▲ Obra “Juízo Final”, 1912, de Wassily Kandinsky, pintura à água e tinta-da-china<br />

em vidro, 33,6 x 45,3 cm. Museu Nacional de Arte Moderna, Centro George<br />

Pompidou, Paris (Livro Kandinsky, quadro 52).<br />

3<br />

MUSEU NACIONAL DE ARTE MODERNA, CENTRO POMPIDOU, PARIS<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

487


T Ó P I C O<br />

1. A construção<br />

das palavras e seus<br />

sentidos, 2<br />

2. O que é uma<br />

Gramática? 2<br />

3. A estrutura interna<br />

das palavras, 3<br />

4. Os mofermas, 3<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

1<br />

1. A CONSTRUÇÃO DAS PALAVRAS<br />

E SEUS SENTIDOS<br />

PLURALIDADE CULTURAL<br />

A disciplina gramatical é uma criação da era helenística<br />

(…). A época helenística (…) cuida não da criação, mas<br />

da preservação. A cultura é, acima de tudo, a memória<br />

do passado, e se baseia, assim, em ensino e aprendizagem.<br />

E o estudo de poetas e oradores de expressão<br />

bela e correta é atividade do filólogo [o que ama a palavra].<br />

(…)<br />

Era para facilitar a leitura dos primeiros poetas gregos<br />

que os gramáticos publicavam comentários e tratados<br />

de gramática [do grego téchne grammatiké, “a arte de<br />

ler e escrever”, a partir de grámma, “letra”], que cumpriam<br />

duas tarefas: estabelecer e explicar a língua desses<br />

autores (pesquisa) e proteger da corrupção essa língua<br />

“pura” e “correta” (docência), já que a língua quotidianamente<br />

falada nos centros do helenismo era considerada<br />

corrompida. E, servindo à interpretação e à critica,<br />

realiza-se o estudo metódico dos elementos da língua<br />

e compõe-se o que tradicionalmente seria qualificado<br />

propriamente como gramática.<br />

NEVES, M. H. M.<br />

A Vertente Grega da Gramática Tradicional.<br />

São Paulo: Hucitec/Ed. UnB/Fapesp, 1987.<br />

O texto localiza na Grécia Antiga o surgimento,<br />

na cultura ocidental, da preocupação explícita<br />

com os estudos da língua escrita. Na verdade, é o<br />

contexto cultural da época helenística, também<br />

mencionado no texto, que explica por que a gramática,<br />

além de restringir-se à escrita, limitava<br />

suas preocupações apenas à língua grega literária<br />

de autores antigos. Não interessavam aos filósofos<br />

que discutiam a gramática nem as modalidades<br />

orais da língua grega, nem suas variedades<br />

coloquiais. Também não havia o menor interesse<br />

por outras línguas que não o grego (lembre-se de<br />

que os povos “bárbaros”, para os gregos, eram<br />

justamente aqueles que não falavam a língua grega…),<br />

uma vez que o objetivo maior dos estudos<br />

gramaticais era o de fornecer elementos para que<br />

os filólogos (os “amantes da palavra”) pudessem<br />

Elementos mórficos<br />

elucidar, interpretar e comentar criticamente os<br />

textos clássicos.<br />

Em um certo sentido, pode-se dizer que a chamada<br />

gramática normativa, conforme ainda é concebida<br />

e ensinada nos dias de hoje, continua a manter<br />

os mesmos objetivos que a acompanham desde<br />

o seu surgimento entre os pensadores gregos<br />

da cultura helenística. Volta-se essencialmente<br />

para o estudo das chamadas classes de palavras e<br />

suas regras de combinação na modalidade escrita<br />

culta da língua. Como na época em que surgiu, a<br />

gramática continua, hoje, preocupada com o estabelecimento<br />

das regras do “bem escrever”, embora,<br />

justiça lhe seja feita, tenha também passado,<br />

com o tempo, a interessar-se pelo estabelecimento<br />

de regras do “bem falar”.<br />

2. O QUE É UMA <strong>GRAMÁTICA</strong>?<br />

Entende-se por Gramática de uma língua o estudo<br />

das palavras, de suas classes e de suas flexões<br />

(Morfologia); de suas funções e relações nas<br />

sentenças da língua (Sintaxe); de seu significado<br />

literal, de sua organização em um léxico e das relações<br />

de sentido que entre elas aí se estabalecem,<br />

bem como o significado das sentenças (Semântica).<br />

Os estudos gramaticais incluem também<br />

a identificação dos fonemas da língua, suas<br />

possibilidades de combinação em sílabas e a relação<br />

que eles mantêm com os grafemas na escritra<br />

alfabética (Fonologia).<br />

A Fonologia, a Morfologia, a Síntaxe e a Semântica<br />

constituem os chamados níveis de descrição<br />

lingüística.<br />

Quando a uma gramática interessa apenas a descrição<br />

das formas da língua nos níveis fonológico,<br />

morfológico, sintático e semântico, temos uma gramática<br />

descritiva. Quando a descrição se faz com<br />

o objetivo de determinar as formas “corretas” e excluir<br />

as consideradas “erradas”, temos uma gramática<br />

normativa, isto é, aquela que prescreve as normas<br />

do bem falar e escrever.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

488 489<br />

Morfologia<br />

— Eles me deram isso — continuou Humpty Dumpty<br />

pensativamente, enquanto cruzava um joelho sobre o<br />

outro e colocava em torno deles as mãos entrelaçadas —<br />

como presente de desaniversário.<br />

— O quê, me desculpe? — indagou Alice, perplexa.<br />

— Não estou ofendido — disse Humpty Dumpty.<br />

— Quer dizer, o que é um presente de desaniversário?<br />

— Um presente dado quando não é nosso aniversário,<br />

é claro.<br />

Alice refletiu um pouco. — Acho que gosto mais de<br />

presentes de aniversário — concluiu finalmente.<br />

CARROLL, L. Através do espelho e o que Alice encontrou lá.<br />

In: Aventuras de Alice. 3. ed. Trad. Sebastião Uchoa Leite.<br />

São Paulo: Summus, 1980.<br />

3. A ESTRUTURA INTERNA<br />

DAS PALAVRAS<br />

Vamos conhecer, agora, como são formadas as<br />

palavras na Língua Portuguesa. Começaremos pela<br />

definição de “palavra”:<br />

Palavra é uma unidade lingüística de som e significado<br />

que entra na composição dos enunciados da língua.<br />

As palavras podem ser, na maioria das vezes,<br />

decompostas em elementos menores, os morfemas.<br />

Observe, por exemplo, os dois conjuntos, I<br />

e II, abaixo:<br />

Figura 1<br />

2005 PAWS, INC. ALL RIGHTS RESERVED /<br />

DIST. BY ATLANTIC SYNDICATION<br />

DAVIS, Jim. Garfield. Correio Popular, 27/11/1997.<br />

I<br />

Gordo, gordinho, gordura, gorducho, gordão,<br />

engordar.<br />

Falo, falamos, falam, falei, falaram, falaria,<br />

falasse, falásseis, falar.<br />

II<br />

Desenrolar, desmontar, desrespeitar, desfazer,<br />

desmentir.<br />

Atualmente, felizmente, docemente, barbaramente,<br />

estupidamente.<br />

No conjunto I há partes idênticas, comuns às palavras<br />

de cada grupo: gord– e fal–. Estes são os radicais<br />

dessas palavras. A estes radicais acrescenta-se,<br />

em cada caso, um morfema diferente, responsável<br />

pelas diferenças de significação entre as palavras.<br />

Já no conjunto II, os mesmos morfemas, o prefixo<br />

des– e o sufixo –mente, foram acrescentados a radicais<br />

diferentes, determinando, em cada caso, um sentido<br />

diferente para as palavras. Os exemplos mostram que<br />

muitas vezes as palavras são divisíveis em elementos<br />

mórficos menores, os morfemas, que são unidades<br />

mínimas de significação lexical ou gramatical.<br />

Existem também palavras constituídas de um único<br />

morfema. Essas palavras não podem, portanto, ser<br />

divididas em elementos mórficos menores. Alguns<br />

exemplos são: “feliz”, “mar”, “que”, “sempre”, “papel”.<br />

Na seção seguinte, vamos estudar os diferentes<br />

tipos de morfemas que entram na formação das<br />

palavras da Língua Portuguesa.<br />

4. OS MORFEMAS<br />

Embora muitas palavras sejam indivisíveis (flor,<br />

giz, dois, mal, em), outras podem ser analisadas em<br />

elementos menores, portadores de sentido próprio<br />

(menin + o, menin + a + s, est + a + s, fal + a + mos, in<br />

+ cert + a, fam + os + a, constitucion + al). Essas unidades<br />

elementares de significação que entram na constituição<br />

das palavras da língua são os morfemas.<br />

Existem, na língua, palavras constituídas apenas de<br />

um morfema (flor) e palavras constituídas de mais<br />

de um morfema (des + esperad + a + mente).<br />

Morfema (do grego morphe, “forma”) é a menor<br />

unidade lingüística que possui significado próprio.<br />

Há diferentes tipos de morfemas. Observemos, por<br />

exemplo, os morfemas que constituem a palavra feliz<br />

+ e + s. O primeiro deles, o radical feliz, é considerado<br />

uma forma livre, pois também pode ocorrer isoladamente,<br />

sem os demais morfemas. Esse radical serve<br />

de base para a formação de outras palavras da língua,<br />

como felic + idade, felic + ita + r, feliz + mente.<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino


Já os demais elementos mórficos, a vogal de ligação<br />

[e] e o morfema de plural [s], aparecem na constituição<br />

de várias outras palavras da língua (audaz<br />

+ e + s, capaz + e + s) e nunca ocorrem isoladamente,<br />

razão pela qual são considerados formas presas.<br />

Os morfemas, com relação ao tipo de significação<br />

que traduzem, são classificados em lexicais e<br />

gramaticais. Diz-se que os morfemas lexicais (também<br />

denominados semantemas ou lexemas) têm<br />

uma significação “externa”, porque possuem referentes<br />

extralingüísticos, ou seja, fazem referência a<br />

entidades ou conceitos da realidade objetiva ou subjetiva<br />

(Ricardo, dor, luz).<br />

Os morfemas gramaticais, por outro lado, têm<br />

uma significação “interna” ao sistema lingüístico.<br />

Dentre estes últimos incluem-se, por exemplo, os<br />

morfemas que marcam as categorias gramaticais de<br />

gênero [a] e de número [s], na Língua Portuguesa,<br />

e outros morfemas, como os artigos, as preposições,<br />

as conjunções, e demais elementos funcionais, marcadores<br />

de relações específicas que se estabelecem<br />

entre os constituintes das orações.<br />

Morfemas que entram na constituição<br />

das palavras<br />

Radical<br />

É o morfema que corresponde ao sentido básico da<br />

palavra.<br />

Em alguns casos, pode ser depreendido por comparação<br />

entre várias palavras de uma mesma família<br />

(grupo de palavras que se organizam a partir de<br />

um mesmo radical e que mantêm, por esse motivo,<br />

um vínculo semântico).<br />

Veja que nos exemplos abaixo os radicais aparecem<br />

sublinhados:<br />

Pedra, pedrinha, pedreira, pedregulho, pedrada,<br />

pedregoso.<br />

Estudar, estudamos, estudarei, estudante, estudio,<br />

estudioso.<br />

As palavras da língua que são formadas, como nos exemplos<br />

acima, a partir de um mesmo radical, constituindo<br />

as famílias de palavras, são chamadas de cognatas.<br />

Desinências<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

São os morfemas que correspondem às flexões das<br />

palavras variáveis.<br />

Essas flexões podem ser de gênero e de número<br />

nos nomes (substantivos, adjetivos e pronomes),<br />

onde vêm indicadas pelas desinências nominais, e<br />

de modo-tempo e número-pessoa nos verbos, onde<br />

vêm indicadas pelas desinências verbais. Exemplos<br />

(sublinhados):<br />

Desinências nominais: menina, meninas, cansada,<br />

cansadas, esta, estas.<br />

Desinências verbais: namorar, namoramos,<br />

namorávamos, namorassem, namoraríamos<br />

Vogal temática<br />

É um moferma vocálico que se acrescenta a determinados<br />

radicais antes das desinências.<br />

Ao radical acrescido de uma vogal temática dáse<br />

o nome de tema. Os temas podem ser nominais<br />

ou verbais.<br />

Há nomes que não apresentam a vogal temática<br />

(oxítonas terminadas em vogais e consoantes: sofá,<br />

café, cipó, saci, caju, amor, papel, feliz).<br />

Vogais temáticas nominais: são as vogais átonas<br />

finais –a, –o e –e que ocorrem em palavras paroxítonas<br />

ou proparoxítonas. Essas vogais temáticas<br />

formam as classes nominais das palavras de tema<br />

em –a (bal-a), –o (camp-o) e –e (serpent-e).<br />

vogal temática –a: poet+a; artist+a; mes+a;<br />

escol+a; bol+a; patet+a;<br />

vogal temática –e: cort+e; sort+e; dot+e; pot+e;<br />

estudant+e; inteligent+e;<br />

vogal temática –o: menin+o; caval+o; amig+o;<br />

alun+o; bonit+o; magr+o.<br />

As vogais temáticas nominais não indicam o gênero<br />

gramatical, uma vez que podem ocorrer tanto em<br />

palavras de gênero masculino como de feminino: “o<br />

artista”, “o poema”, “a virago”, “a corte”.<br />

A desinência nominal indicadora de gênero feminino,<br />

–a, é a que se acrescenta aos temas nominais<br />

constituídos de radical mais vogal temática [–o]: “o<br />

menino” (radical: menin–; vogal temática: –o) – “a<br />

menina” (radical: menin–; desinência nominal de<br />

gênero feminino: –a). Nesses casos, para a formação<br />

do feminino, desaparece a vogal temática –o do<br />

tema nominal, e a desinência de gênero acrescentase<br />

diretamente ao radical.<br />

Todos os verbos, no entanto, têm uma vogal temática,<br />

que os classifica em conjugações.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

490 491<br />

Vogais temáticas verbais: são as vogais [–a], [–e]<br />

e [–i] que, acrescidas aos radicais verbais, formam<br />

as classes verbais a que denominamos conjugações:<br />

vogal temática –a (primeira conjugação):<br />

am-a-r, am-a-va, am-a-rão, am-á-ssemos;<br />

vogal temática –e (segunda conjugação):<br />

beb-e-r, beb-e-rá, beb-e-ssem, beb-ê-ramos;<br />

vogal temática –i (terceira conjugação): fug-i-r,<br />

fug-i-rmos, fug-i-rem, fug-i-remos.<br />

O estudo das desinências nominais e verbais faz<br />

parte da chamada morfologia flexional.<br />

Afixos<br />

São morfemas que, acrescentados a um radical,<br />

alteram sua significação básica. São utilizados pela<br />

língua nos processos de derivação lexical, motivo pelo<br />

qual seu estudo faz parte da chamada morfologia<br />

derivacional. Subdividem-se em prefixos e sufixos,<br />

segundo a posição que ocupam com relação ao<br />

radical da palavra.<br />

Prefixos<br />

Os prefixos são morfemas que se acrescentam<br />

antes do radical, modificando seu sentido básico.<br />

Veja:<br />

Impossível, desarticular, contradizer, expor,<br />

opor, semicírculo.<br />

Sufixos<br />

Os sufixos são morfemas que se acrescentam<br />

depois do radical, modificando ou especificando o<br />

seu sentido básico. Os sufixos podem também alterar<br />

a classe gramatical a que os radicais pertencem<br />

originalmente.<br />

Figura 2<br />

Mudança ou especificação do sentido básico:<br />

papel, papelada; folha, folhagem; pedra, pedraria;<br />

rocha, rochedo; laranja, laranjal; ferro,<br />

ferrugem.<br />

Mudança de classe gramatical: lembrar (verbo),<br />

lembrança (substantivo); trair (verbo),<br />

traição (substantivo); úmido (adjetivo), umidade<br />

(substantivo); livre (adjetivo), livremente<br />

(advérbio).<br />

Vogais e consoantes de ligação<br />

São elementos mórficos que fazem a mediação<br />

entre determinados radicais e determinados sufixos.<br />

São desprovidos de significação gramatical própria,<br />

e sua função é simplesmente a de efetuar a<br />

ligação entre outros morfemas.<br />

Vogal de ligação: bárbaro, barbaridade (a vogal<br />

de ligação, i, que ocorre entre o radical e o<br />

sufixo –dade, otimiza a seqüência silábica na<br />

juntura do radical e do sufixo, pela criação da<br />

sílaba ri.<br />

Outros exemplos: gasômetro; auriverde.<br />

Consoante de ligação: café, cafeteira; tricô,<br />

tricotar (consoante de ligação: t); chaleira (consoante<br />

de ligação: l); cajazeira (consoante de<br />

ligação: z).<br />

As consoantes de ligação costumam ocorrer entre<br />

um radical oxítono terminado em vogal e um<br />

sufixo iniciado por vogal.<br />

WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de S. Paulo, 14/6/1999.<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

2005 KING FEATURES SYNDICATE /<br />

INTERCONTINENTAL PRESS


Atividades<br />

1 Em um texto intitulado “Uma nação de desmemoriados”,<br />

o jornalista Augusto Nunes escreveu o seguinte<br />

parágrafo:<br />

No Brasil, o que é histórico costuma desmancharse<br />

nas chamas da indiferença, do desamor ao passado,<br />

do menosprezo pelo antigo. O casarão de Ouro Preto<br />

consumido pelo fogo deveria ficar como está: os<br />

destroços ergueram um monumento à nação dos<br />

desmemoriados. Num país velhaco, o velho e a<br />

velharia vivem a curtíssima distância: retoque-se a<br />

última vogal e se acrescente um trio de letras. Vale<br />

para gente, prédios, cidades.<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

NUNES, A. Jornal do Brasil, 20 abr. 2003.<br />

a) Considerando o que você aprendeu sobre as palavras<br />

cognatas, identifique, no texto, uma passagem em que<br />

o autor faz uso de termos formados a partir de um<br />

mesmo radical.<br />

O trecho em que aparecem os termos cognatos é: “Num país velhaco,<br />

o velho e a velharia vivem a curtíssima distância”.<br />

b) Qual é o radical a partir do qual foram formadas as<br />

palavras cognatas?<br />

O radical é velh–.<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

Observe atentamente a tira abaixo para responder às questões 2 e 3.<br />

2 Na tira acima, observa-se a utilização do sufixo –inho<br />

para caracterizar o restaurante citado e tudo o mais que<br />

se refere a ele. É comum atribuir ao diminutivo um valor<br />

afetivo. É esse o sentido que podemos identificar na tira?<br />

Justifique sua resposta.<br />

Não. Na verdade, a utilização do diminutivo, associada ao prefixo<br />

super, indica afetação e não afetividade.<br />

c) Qual é o sentido de cada uma das palavras formadas<br />

a partir desse radical?<br />

velho: tudo que não é novo, que tem muito tempo de vida ou de<br />

existência.<br />

velharia: tudo o que é visto como antiquado, superado, ultrapassado,<br />

obsoleto.<br />

Observação importante: apesar da semelhança fonética, “velhaco”<br />

não é cognato de “velho”. O termo, segundo Houaiss, deriva<br />

do espanhol bellaco, “homem de má vida”.<br />

d) Forme outras palavras a partir do mesmo radical.<br />

Velhusco, velhinho, envelhecer, envelhecido, etc.<br />

GALHARDO, Caco. Os pescoçudos. Folha de S.Paulo, 16/5/2001.<br />

3 Ao apresentar como “contra” o fato de tudo ser absolutamente<br />

“super inho” no restaurante citado, o cartunista<br />

se vale do afixo de diminutivo, além do prefixo<br />

super, para expor sua opinião. Qual é ela?<br />

O cartunista ironiza, por meio da linguagem, as pessoas que demonstram,<br />

pelo seu comportamento e por sua maneira de falar, uma afetação<br />

exagerada.<br />

FOLHA IMAGEM<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

492 493<br />

O poeta brasileiro Manoel de Barros já foi chamado de<br />

“alquimista do verbo” devido a seu trabalho minucioso e<br />

sensível com as palavras. Leia, abaixo, um de seus poemas,<br />

e responda às questões de 4 a 7.<br />

VII<br />

No descomeço era o verbo.<br />

Só depois é que veio o delírio do verbo.<br />

O delírio do verbo estava no começo, lá onde a<br />

criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.<br />

A criança não sabe que o verbo escutar não funciona<br />

para cor, mas para som.<br />

Então se a criança muda a função de um verbo, ele<br />

delira.<br />

E pois.<br />

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer<br />

nascimentos –<br />

O verbo tem que pegar delírio.<br />

BARROS, M. de. Uma didática da invenção.<br />

In: O livro das ignorãças. 9. ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 15.<br />

4 O primeiro verso do poema faz alusão a uma célebre<br />

citação. Identifique-a.<br />

Trata-se da citação bíblica “No princípio era o verbo”.<br />

5 Qual é a palavra criada pelo poeta?<br />

Descomeço.<br />

6 Explique por meio de quais mecanismos gramaticais essa<br />

construção se tornou possível.<br />

A palavra “descomeço”, empregada com valor de substantivo, é formada<br />

por des- (prefixo de origem latina) + começ (radical) + o (vogal<br />

temática).<br />

7 Indique pelo menos três outros substantivos da língua<br />

portuguesa que são construídos com o emprego do<br />

prefixo des-.<br />

O prefixo des-, de origem latina, pode ter valor de oposição, de negação<br />

ou de falta, como em desconfiança, deslealdade, desabrigo, desamor,<br />

desafeto, desabafo, desacato, desproporção, desabono, descobrimento<br />

etc.<br />

Com base na tirinha a seguir, responda às questões 8, 9 e 10.<br />

LAERTE. Classificados, livro 2. São Paulo: Devir, 2002. p. 13.<br />

8 Explique, do ponto de vista morfológico, a construção<br />

da palavra “engavetamento”.<br />

A palavra “engavetamento” é formada por en- [prefixo de origem latina<br />

que, nesse caso, significa “colocar em”] + gaveta (radical) + mento<br />

[sufixo também de origem latina].<br />

9 Procure identificar pelo menos duas definições para essa<br />

palavra, de preferência, as mais possivelmente relacionadas<br />

à situação descrita na tirinha.<br />

Engavetamento é o ato ou efeito de engavetar, pôr dentro da gaveta<br />

de um cômodo. Engavetamento também pode ser a colisão entre<br />

meios de transporte, com produção de acidente que interrompe o<br />

movimento dos veículos.<br />

10 O tema dessa tirinha é, tecnicamente falando, o efeito<br />

do sentido literal produzido pela palavra “engavetamento”.<br />

A partir dos elementos verbais e visuais apresentados,<br />

procure explicitar o efeito de humor produzido<br />

pela palavra “engavetamento”.<br />

O emprego de engavetamento tem um duplo sentido: trata-se do comentário,<br />

bastante óbvio, que explica por que os carros encontramse<br />

parados, enfileirados. Há algo e/ou alguém que produziu um impedimento<br />

do fluxo dos veículos. Trata-se, também, da explicação<br />

literal do acidente, no qual um caminhão de mudança deixa escapar<br />

a gaveta de um móvel que transportava, a qual atinge um motoqueiro<br />

que passava ao lado. Pode-se dizer que o humor é produzido,<br />

principalmente, pelo emprego do sufixo –mento na formação do substantivo<br />

engavetamento que descreve, nesse caso, o ato de acertar<br />

uma gaveta na cabeça de um motorista no trânsito.<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

LAERTE


11 Leia o texto a seguir:<br />

Bio passa pé<br />

CTNBio: Comissão Técnica Nacional de Biossegurança,<br />

subordinada ao Ministério de Ciência e<br />

Tecnologia.<br />

Ibama: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis, subordinado ao Ministério<br />

do Meio Ambiente.<br />

Exercícios<br />

Leia o texto abaixo para responder às questões 1 e 2.<br />

A leitora Elza Marques Martins me escreve uma carta<br />

divertida estranhando que “brasileiro” seja o único<br />

adjetivo pátrio terminado em “eiro”, que, segundo ela, é<br />

um sufixo pouco nobre. Existem suecos, ingleses e<br />

brasileiros, como existem médicos, terapeutas e<br />

curandeiros. As profissões de lixeiro, coveiro e carcereiro<br />

podem ser respeitáveis, mas o “eiro” é sinal de que elas<br />

não têm status. É a diferença entre jornalista e jornaleiro,<br />

entre músico ou musicista e roqueiro, timbaleiro ou<br />

seresteiro. Há o importador e o muambeiro. “Se você<br />

começou como padeiro, açougueiro ou carvoeiro” —<br />

escreve Elza — “as chances são mínimas de acabar como<br />

advogado, empresário, grande investidor ou latifundiário,<br />

a não ser que se dê ao trabalho político antes”. Aliás, há<br />

políticos e politiqueiros. Continua Elza: “Eu nunca vou<br />

chegar a colunável ou socialite se comecei como faxineira<br />

ou copeira. Você pode ser católico, protestante, maometano,<br />

budista ou oportunista ou então macumbeiro.” Mas<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

O projeto de lei sobre biossegurança, aprovado<br />

na Câmara, saiu diferente do consenso resumido pelo<br />

antigo relator do projeto Aldo Rebelo e, segundo especialista<br />

na área, inviabiliza o plantio da soja transgênica<br />

no Brasil em novas áreas. O novo relator do<br />

projeto, Renildo Calheiros, acabou cedendo em questão<br />

que muda tudo: a decisão vinculante da CTNBio.<br />

No projeto de Rebelo, a CTNBio poderia deliberar<br />

sobre pesquisa, produção e comercialização. Agora,<br />

a parte da comercialização e produção terá que passar<br />

também pelo crivo do Ibama. E, se houver divergências,<br />

o tema passará pela aprovação do Conselho<br />

Nacional de Biossegurança (CNBS), formado por 15<br />

ministros que tomam a decisão final do governo.<br />

RACY, S. Direto da fonte.<br />

O Estado de S. Paulo, 6 fev. 2004. p. B2.<br />

Complementares<br />

a) De acordo com o texto, por que o projeto de lei<br />

aprovado pela Câmara inviabiliza o plantio de soja<br />

transgênica no País?<br />

Porque, segundo o projeto aprovado, as questões da comercialização<br />

e da produção da soja transgênica devem passar pela apreciação<br />

do Ibama, órgão responsável pelas questões ambientais<br />

no Brasil. Em caso de veto do Ibama, o tema deve passar pela<br />

aprovação de um conselho formado por 15 ministros. Para os<br />

interessados no plantio do produto, haverá, portanto, maior fiscalização<br />

e, conseqüentemente, maior burocracia.<br />

b) Explique, do ponto de vista dos estudos morfológicos,<br />

a formação do substantivo biossegurança e do<br />

adjetivo transgênico(a).<br />

O substantivo biossegurança é formado por bio- (prefixo de origem<br />

grega) + s (consoante de ligação) + segur(ar) (radical) +<br />

-ança (sufixo), enquanto o adjetivo transgênico é formado por<br />

trans- (prefixo de origem latina) + gen(e) (radical) + -ico (sufixo<br />

de origem grega formador de adjetivos).<br />

a leitora nota que o dono do banco é banqueiro, enquanto<br />

o funcionário é bancário, o que pode ser um julgamento<br />

inconsciente de caráter feito pela língua.<br />

Elza — que por sinal se considerava uma harpeira<br />

até começar a tocar numa sinfônica e virar harpista —<br />

me sugere uma campanha nacional para passarmos a nos<br />

chamar de “brasilinos, brasileses, brasilenses, brasilianos,<br />

brasilitanos, brasilitas, brasileus, brasilotos ou brasilões”,<br />

o que aumentaria muito nossa auto-estima e nossas<br />

chances de chegar ao mundo maravilhoso dos<br />

americanos, belgas e monegascos.”<br />

VERISSIMO, L. F. Jornal do Brasil, 7/10/1995.<br />

1 (UFU-MG) Construa um parágrafo, explicando o sentido<br />

que a leitora Elza atribui ao sufixo “-eiro”.<br />

2 (UFU-MG) Ainda com base no texto de Verissimo, explicite<br />

a razão pela qual dono de banco é denominado banqueiro,<br />

enquanto o funcionário é bancário.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.<br />

Ensino Médio Uno Modular Gramática Módulo 3<br />

494 495<br />

Leia os poemas abaixo para responder à questão 3.<br />

Texto 1<br />

Amor é fogo que arde sem se ver<br />

Amor é fogo que arde sem se ver;<br />

É ferida que dói e não se sente;<br />

É um contentamento descontente;<br />

É dor que desatina sem doer;<br />

É um querer mais que bem querer;<br />

É solitário andar por entre a gente;<br />

É nunca contentar-se de contente;<br />

É cuidar que se ganha em se perder;<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

É servir a quem vence, o vencedor;<br />

É ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

Nos corações humanos amizade,<br />

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

Texto 2<br />

CAMÕES, L. de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1989, p.123.<br />

Soneto do amor maior<br />

Maior amor nem mais estranho existe<br />

Que o meu, que não sossega a coisa amada<br />

E quando a sente alegre, fica triste<br />

E se a vê descontente, dá risada.<br />

E que só fica em paz se lhe resiste<br />

O amado coração, e que se agrada<br />

Mais da eterna aventura em que persiste<br />

Que de uma vida mal-aventurada.<br />

Louco amor meu que, quando toca, fere<br />

E quando fere vibra, mas prefere<br />

Ferir a fenecer – e vive a esmo<br />

Fiel à sua lei de cada instante<br />

Desassombrado, doido, delirante<br />

Numa paixão de tudo e de si mesmo.<br />

MORAES, V. de. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 202.<br />

3 (UFF-RJ, adaptada) Vinicius de Moraes (século XX) e Luís<br />

de Camões (século XVI) se aproximam, nesses sonetos,<br />

em relação à forma poética. Compare os poemas de<br />

Vinicius de Moraes e Camões, destacando:<br />

a) Do soneto de Camões, uma antítese, isto é, uma figura<br />

pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras<br />

ou dois pensamentos de sentido contrário, construída<br />

pela formação de nomes que tenham o mesmo radical.<br />

b) Do soneto de Vinicius de Moraes, uma antítese construída<br />

pela formação de nomes com radicais diferentes.<br />

4 (UFJF-MG, adaptada) O trecho a seguir foi extraído de<br />

um ensaio de Roberto Pompeu de Toledo, publicado na<br />

revista Veja, de 7 de agosto de 2002. A partir de sua<br />

leitura, responda à questão.<br />

A ressurreição tem futuro?<br />

Há coisas incompreensíveis no mundo. Que se<br />

está dizendo? Que banalidade é essa? Claro que há<br />

coisas incompreensíveis. Na verdade, a maior parte<br />

das coisas é incompreensível – a vida e a morte, a<br />

origem e o fim... Não. Sossegue o leitor que não é<br />

dessas altas questões que se vai tratar aqui. É de caso<br />

mais pedestre, extraído da atualidade – o caso do<br />

jogador de beisebol americano Ted Williams, morto<br />

há poucas semanas, aos 83 anos, e cujo corpo foi<br />

congelado, à espera de que, descoberta a cura da<br />

doença que o matou, seja ressuscitado.<br />

(...)<br />

Considere a relação de sentido entre o prefixo e o radical<br />

da palavra destacada abaixo:<br />

“Há coisas incompreensíveis no mundo.”<br />

Assinale a opção em que a forma grifada não mantém a<br />

mesma relação de sentido com o radical:<br />

a) “A imortalidade é antiga aspiração”<br />

b) “Na verdade, a maior parte das coisas é incompreensível...”<br />

c) “... hipótese improvável, pois, por mais que venha<br />

crescendo, o congelamento...”<br />

d) “Os que morrem jovens e têm o corpo congelado<br />

estarão poupados de alguns dos incômodos sofridos<br />

por Williams”<br />

e) “Implantado o cérebro em outro corpo ...”<br />

5 (Fuvest-SP) As palavras adivinhar, adivinho e adivinhação<br />

têm a mesma raiz, por isso são cognatas. Assinalar a<br />

alternativa em que não ocorrem três cognatos:<br />

a) alguém – algo – algum<br />

b) ler, leitura – lição<br />

c) ensinar – ensino, ensinamento<br />

d) candura – cândido – incandescência<br />

e) viver – vida – vidente<br />

6 (PUC-RJ) A palavra engrossar apresenta o mesmo<br />

processo de formação de:<br />

a) embalançar d) encobrir<br />

b) abstrair e) perfurar<br />

c) encaixotar<br />

7 (Unifenas-MG) Assinale a alternativa em que o vocábulo<br />

não pertence à mesma família etimológica da palavra<br />

legista.<br />

a) legítimo d) legisperito<br />

b) legal e) legível<br />

c) legislar<br />

<strong>Sistema</strong> de Ensino

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