I Memorial do ICHS - ICHS/UFOP
I Memorial do ICHS - ICHS/UFOP
I Memorial do ICHS - ICHS/UFOP
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
I M e m o r i a l d o I C H S<br />
pode ser sintetizada na questão: como o discurso evangélico tem se comporta<strong>do</strong> nos<br />
momentos politicamente decisivos? Em nossa hipótese, esse discurso tem-se mostra<strong>do</strong> nos<br />
momentos de mobilização política (a exemplo <strong>do</strong>s processos eleitorais) como um discurso<br />
propagandístico, 89 assumin<strong>do</strong> as características e elementos <strong>do</strong> discurso político. O nosso<br />
trabalho é dividi<strong>do</strong> em três partes. Primeiro, apresentaremos os pressupostos teóricos da<br />
pesquisa, destacan<strong>do</strong>-se as noções de discurso, relação falante-ouvinte em Maingueneau (2002);<br />
discurso constituinte em Maingueneau e F. Cossutta (1995) e Maingueneau (2002); discurso<br />
evangélico, liga<strong>do</strong> ao estabelecimento e manutenção da ordem político-social (Bourdieu 1992),<br />
e discurso político (estrutura e relação com a <strong>do</strong>xa Cossutta e Maingueneau, 1995). Na medida<br />
em que levantamos a hipótese de que o discurso evangélico, no perío<strong>do</strong> em questão, passa a<br />
orientar-se por uma finalidade persuasiva ligada ao fazer-fazer, realizaremos, também, a<br />
apresentação de um aporte sobre o uso da argumentação, basean<strong>do</strong>-nos em Charaudeau (1993)<br />
e Menezes (2001). Na segunda parte, apresentaremos o corpus a ser examina<strong>do</strong> e na terceira<br />
parte realizaremos a análise propriamente dita.<br />
Francisco Elias Simão Merçon 90<br />
A CONSTRUÇÃO DO ETHOS KAFKIANO<br />
Se considerarmos o Curso de Lingüística Geral, de Ferdinand de Saussure, como possivelmente a<br />
primeira publicação a prezar por uma abordagem da linguagem que abolisse o referente de seus<br />
estu<strong>do</strong>s, que, por sua vez, se pautaram na estrutura imanente da linguagem, podemos dizer<br />
que, há pelo menos nove décadas, desde o surgimento dessa obra capital, há um projeto<br />
ininterrupto de constante revisão epistemológica no campo <strong>do</strong> que atualmente é conheci<strong>do</strong><br />
como teoria semiótica. Rompida com a concepção ainda preconizada pelos gramáticos de<br />
Port-Royal, a saber, a de que a linguagem é uma mera expressão <strong>do</strong> pensamento, a concepção<br />
saussuriana vai incitar em outros lingüistas, como por exemplo, o dinamarquês Louis<br />
Hjelmslev, um ponto de vista diferente com relação ao mo<strong>do</strong> de conceber a linguagem. A<br />
partir de então a linguagem não seria mais nem representação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, nem <strong>do</strong> pensamento.<br />
Ela diria respeito, portanto, a um mo<strong>do</strong> de olhar e classificar o mun<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com as<br />
particularidades de cada cultura, cada língua, ou seja, um mo<strong>do</strong> de dar forma e senti<strong>do</strong> ao caos<br />
que se encontra no mun<strong>do</strong> natural.<br />
Num diferente nível hierárquico, pois que já se tem como pressuposta a linguagem, os diversos<br />
textos que circulam ao nosso re<strong>do</strong>r são também um mo<strong>do</strong> de dar forma ao mun<strong>do</strong>, porém de<br />
maneira ainda mais específica e concreta, que, por sua vez, interessarão ao semioticista <strong>do</strong><br />
ponto de vista <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que eles manifestam.<br />
Após tais considerações, resta afirmar que o presente trabalho parte, portanto, da construção<br />
de senti<strong>do</strong> da novela A Metamorfose, <strong>do</strong> escritor tcheco Franz Kafka, ten<strong>do</strong> como apoio a teoria<br />
semiótica greimasiana, bem como recentes reformulações, para se chegar à instância<br />
enunciativa da obra, mais próximo daquilo que comumente é conheci<strong>do</strong> como ethos kafkiano.<br />
89 Segun<strong>do</strong> P. Charaudeau (1999), os discursos propagandísticos (como o discurso político e o discurso publicitário) têm por finalidade a<br />
persuasão e a sedução <strong>do</strong> outro para um fazer-fazer na sociedade, isto é, um sujeito comunicante na posição de benfeitor endereça-se a<br />
um sujeito interpretante na posição de beneficiário agin<strong>do</strong> sobre este para que realize uma ação. No caso <strong>do</strong> discurso político eleitoral,<br />
essa ação é o voto e, no limite, que o sujeito interpretante possa se tornar um co-enuncia<strong>do</strong>r discursivo.<br />
90 Mestran<strong>do</strong> em Semiótica (FFLCH/USP – bolsista CNPQ)<br />
- 91 -