I Memorial do ICHS - ICHS/UFOP
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I M e m o r i a l d o I C H S<br />
ABASTECIMENTO ALIMENTAR EM GOIÁS NO SÉCULO XIX: ESCASSEZ,<br />
CARESTIA E FOME<br />
Sônia Maria de Magalhães 55<br />
Em Goiás, da mesma forma que se verificou em outras regiões, imperavam a falta, a penúria, a<br />
carestia e, costumeiramente, a fome propriamente dita. Desde os tempos mais remotos, os<br />
goianos habituaram-se a buscar suprimentos alimentícios nas matas para completar a sua dieta,<br />
diante da insuficiente produção de alimentos. Praticava-se a agricultura em pequenas<br />
propriedades, sobretu<strong>do</strong> em sítios, empregan<strong>do</strong>, na maioria das vezes, somente a força de<br />
trabalho familiar, carente de recursos para investir na compra de equipamentos capazes de<br />
melhorar a produção. A extensão de terra denominada mato grosso de Goiás abrigava grande<br />
número de sítios dedica<strong>do</strong>s à produção de alimentos. As fazendas, ao contrário <strong>do</strong>s sítios, eram<br />
unidades maiores e apresentavam grande potencial produtivo. Nelas, empregava-se largamente<br />
o trabalho escravo e, apesar de se dedicarem à agropecuária, especializaram-se mais na criação<br />
de ga<strong>do</strong>, atividade econômica mais rentável. Havia um pre<strong>do</strong>mínio dessas propriedades,<br />
principalmente no sertão <strong>do</strong> Paranã e em Formosa.<br />
Embora surtissem alguns efeitos, as ações administrativas, apenas paliativas, mostraram-se<br />
ineficazes no combate às crises alimentícias. A ação <strong>do</strong>s atravessa<strong>do</strong>res, a sazonalidade<br />
climática, a falta de estímulo à agricultura, a ausência de técnicas, a falta de braços, os altos<br />
impostos, as dificuldades de comércio e transporte são fatores que se cruzam e entrecruzam<br />
para justificar aquela realidade.<br />
Por intermédio <strong>do</strong> cruzamento de informações contidas nos relatórios <strong>do</strong>s Presidentes de<br />
Província, <strong>do</strong>s relatórios militares, da literatura <strong>do</strong>s viajantes estrangeiros e das noticias<br />
contidas no jornal A Matutina Meyapontese é possível conhecer um pouco melhor os<br />
mecanismos de produção e consumo de alimentos em Goiás ao longo <strong>do</strong> oitocentos.<br />
Carlo Monti 56<br />
TRANSIÇÃO PARA LIBERDADE<br />
Apresentar as relações que se estabeleciam entre senhor e escravo em meio ao processo de<br />
alforria. As cartas de liberdade não são consideradas como o fim das obrigações devidas pelos<br />
escravos e sim como o momento inaugural de um novo tipo de relacionamento entre senhor e<br />
escravo. Estes vínculos mantinham o escravo alforria<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> ao seu ex-senhor de algum<br />
mo<strong>do</strong>. A continuidade de um relacionamento entre ex-proprietário e liberto pode ser vista<br />
como a reprodução <strong>do</strong> padrão de <strong>do</strong>minação anterior, nesse caso, as alforrias revelariam a<br />
política escravista. Cartas de liberdade, testamentos e inventários registra<strong>do</strong>s no termo de<br />
Mariana entre os anos de 1750 e 1779, são as fontes trabalhadas. O conjunto <strong>do</strong>cumental<br />
passou por análise quantitativa (SPSS) e qualitativa, seguin<strong>do</strong> os parâmetros da história<br />
econômica e social. A literatura sobre as liberdades em Minas Gerais permitiu a prática de<br />
análises comparativas.<br />
55 Mestre e <strong>do</strong>utoranda em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP - Campus de Franca / SP).<br />
56 Doutoran<strong>do</strong> USP-SP. Prof. e Coord. da Especialização em História <strong>do</strong> “Centro Universitário Barão de Mauá”.<br />
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