I Memorial do ICHS - ICHS/UFOP
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I M e m o r i a l d o I C H S<br />
porém isso não significa que socialmente não havia brechas para que elas pudessem<br />
desenvolver uma participação política. Agripina foi um bom exemplo dessa possibilidade de<br />
poder feminino, mesmo que limita<strong>do</strong>, na esfera política. Contu<strong>do</strong>, a participação da mulher em<br />
decisões políticas não foi bem vista por Tácito. Utilizan<strong>do</strong>-se, assim, dessa crítica para reforçar<br />
a imagem de Nero como um governante fraco, <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por sua mãe e empregan<strong>do</strong>, em larga<br />
medida, a analogia: mulher com poder de influência nas decisões <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> igual a um mau<br />
governo.<br />
CONSTRUÇÕES RETÓRICAS NOS ANAIS DE TÁCITO:<br />
A OPOSIÇÃO SÊNECA/TIGELINO<br />
Fábio Oliveira Araújo 34<br />
Nosso trabalho está basea<strong>do</strong> na obra Anais <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r latino Tácito e tem como recorte<br />
temporal o principa<strong>do</strong> de Nero, que compreende o perío<strong>do</strong> de 54 a 68 d.C. É sabi<strong>do</strong> que, na<br />
Antigüidade Clássica, a História era um gênero de discurso e, como tal, era tratada no âmbito<br />
da retórica. Partin<strong>do</strong> dessa premissa, temos consciência de que Tácito lança mão de uma<br />
grande diversidade de instrumentos retóricos para construir sua obra. Para que esta alcançasse<br />
o seu objetivo, a saber, uma obra na qual os futuros impera<strong>do</strong>res pudessem buscar exemplos<br />
de boas e más condutas de um governante. A partir daí, acreditamos que, se o aspecto moral é<br />
marcante em seus escritos, isso se deve a uma concepção pragmática de história, em que a<br />
representação de determina<strong>do</strong>s episódios históricos visa a estabelecer uma identidade cultural<br />
com seus leitores e propor regras de conduta no contexto <strong>do</strong> Principa<strong>do</strong>.<br />
Em nossa comunicação pretendemos compreender e analisar o artifício narrativo que Tácito<br />
constrói em torno <strong>do</strong> principa<strong>do</strong> de Nero, utilizan<strong>do</strong> como personagens centrais Sêneca e<br />
Tigelino. Nossa hipótese é que Tácito utiliza esses <strong>do</strong>is personagens para convencer o leitor de<br />
que a influência que eles exerciam sobre Nero foi preponderante para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />
governo <strong>do</strong> jovem Impera<strong>do</strong>r, passan<strong>do</strong> de um governo modera<strong>do</strong> com Sêneca – moderação<br />
tanto em seu comportamento político quanto social - a um governo desregra<strong>do</strong> sem nenhuma<br />
prudentia política e social com Tigelino. A partir daí, a necessidade da leitura da obra tacitena ser<br />
feita ten<strong>do</strong> em mente a existência desse “filtro”, que nos leva a ter uma interpretação enviesada<br />
da participação de Sêneca e Tigelino no consilium princepis. Outro ponto que corrobora nossa<br />
hipótese advém <strong>do</strong> levantamento quantitativo <strong>do</strong>s assassinatos e suicídios cita<strong>do</strong>s pelo<br />
historia<strong>do</strong>r no perío<strong>do</strong> neroniano. Vemos um significativo aumento desses eventos durante os<br />
anos compreendi<strong>do</strong>s entre 62 e 66 (a parte <strong>do</strong> texto referente ao anos de 67 e 68 está<br />
desaparecida).<br />
34 Graduan<strong>do</strong> em História (<strong>ICHS</strong> – <strong>UFOP</strong>) e bolsista <strong>do</strong> PIBIC/CNPQ - <strong>UFOP</strong><br />
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