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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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objetivida<strong>de</strong> do registro. A objetivida<strong>de</strong> do registro fotográfico foi objeto <strong>de</strong> crítica<br />

recorrente, ainda no século XIX. Peter Burke (2001, p. 13) apresenta as opiniões <strong>de</strong> vários<br />

autores, entre eles o norte-americano Lewis Hine, que ironiza tal perspectiva <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong><br />

ao afirmar que "embora as fotografias não possam mentir, os mentirosos po<strong>de</strong>m fotografar".<br />

A metáfora usada permite a<strong>de</strong>ntrar na pretensa objetivida<strong>de</strong> do jornalista Armando<br />

Brussolo: longe <strong>de</strong> qualquer relação com a “passiva máquina”, a obra do jornalista expôs a<br />

intenção <strong>de</strong> “servir <strong>de</strong> subsídio a história” ao reunir artigos e fotos na coletânea. A<br />

historicização da experiência <strong>de</strong> 1932 articula-se a pretensa objetivida<strong>de</strong> dos fatos sob a<br />

perspectiva do método histórico. O livro foi produzido a partir do objetivo expresso <strong>de</strong> se<br />

tornar <strong>um</strong>a referência para a compreensão da guerra tanto para os leitores do jornal, quanto<br />

para as gerações vindouras. Entretanto, percebe-se nas marcas do relato que o autor partilhou<br />

da significação do evento ao narrá-lo por meio do uso da linguagem e das suas figuras. A obra<br />

<strong>de</strong> Brussolo é, sobretudo, <strong>um</strong> diário <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> <strong>um</strong> repórter na zona <strong>de</strong> batalha. Assim, o<br />

autor comenta suas impressões pessoais dos fatos. Inevitavelmente, apresenta <strong>um</strong>a versão dos<br />

fatos comprometida por visões <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> indivíduos e do grupo social em que estava<br />

inserido.<br />

O jornalista trabalhava no vespertino paulistano que, na época, era dirigido por<br />

Casper Líbero (<strong>de</strong> 1918 a 1943, ano da morte do jornalista), a quem o autor <strong>de</strong>dica o livro. A<br />

Gazeta passou a circular, em São Paulo, a partir <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1906, sob a direção <strong>de</strong><br />

Adolfo Campos <strong>de</strong> Araújo. Após sucessivos proprietários, Casper Líbero comprou o jornal<br />

que estava à beira da falência. Diferente <strong>de</strong> muitos jornalistas da época, que viam na carreira<br />

<strong>um</strong> trampolim para se alcançar cargos políticos 43 , Casper Líbero lançou <strong>um</strong>a nova perspectiva<br />

aos profissionais do jornalismo e fez da profissão seu instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> ação na socieda<strong>de</strong>. O<br />

diretor ficou conhecido pelo seu empreen<strong>de</strong>dorismo e por seus projetos <strong>de</strong> vanguarda que,<br />

para muitos, tornaram A Gazeta no mais mo<strong>de</strong>rno jornal vespertino da América Latina entre<br />

as décadas <strong>de</strong> 1920 e 1940 (HIME, 2003, 2004) 44 .<br />

43 A nova forma <strong>de</strong> produção dos jornais - incorporando fórmulas inéditas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> textos, bem como<br />

novida<strong>de</strong>s gráficas – inaugurada na década <strong>de</strong> 1930, está relacionada ao fim da fase do jornalismo políticopartidário<br />

do século XIX. Francisco Rüdiger (2003) analisa que, com a forma político-partidária, o jornalismo<br />

tornou-se <strong>um</strong> meio <strong>de</strong> formação doutrinária da opinião pública. Nesse contexto, a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> jornal se<br />

tornou <strong>um</strong> meio <strong>de</strong> ascensão política. Assim, “a classe política transformou a imprensa em agente orgânico da<br />

vida partidária” (p. 35).<br />

44 A afirmação sobre a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> A Gazeta não é diretamente proporcional à popularida<strong>de</strong> do periódico,<br />

pois o jornal <strong>de</strong> maior circulação era o carioca Correio da Manhã e o <strong>de</strong> maior prestígio em São Paulo era O<br />

Estado <strong>de</strong> São Paulo. Segundo Gisely Valentim Vaz Coelho Hime (2003, 2004), as publicações da época<br />

consi<strong>de</strong>ravam A Gazeta como o jornal mais mo<strong>de</strong>rno da América Latina, consi<strong>de</strong>rando os aspectos editorial,<br />

material e administrativo. O projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do jornalista-empresário Casper Líbero visou acompanhar<br />

o processo <strong>de</strong> evolução da socieda<strong>de</strong> abordando temas diversos (como as colunas voltadas a mulheres, aos<br />

esportes e a crianças); comprando novo maquinário e construindo novo espaço físico (o primeiro edifício<br />

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