FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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É nesse sentido que nos propusemos a analisar as obras dos autores citados,<br />
consi<strong>de</strong>rando que cada <strong>um</strong> apresenta sua versão dos fatos, falando em nome da verda<strong>de</strong>.<br />
Procura-se perceber a projeção do sujeito ao registrar suas lembranças e como nesse jogo, em<br />
que lembrança e esquecimento dialogam, se atribui sentido ao acontecimento.<br />
3.1 Armando Brussolo: imagens do soldado-herói<br />
Armando Brussolo era repórter do jornal A Gazeta em 1932, quando foi inc<strong>um</strong>bido<br />
da missão <strong>de</strong> escrever as notícias da guerra <strong>constitucionalista</strong> a partir da zona <strong>de</strong> operações<br />
militares. Seu livro trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> diário produzido durante as hostilida<strong>de</strong>s e foi publicado<br />
pouco tempo após o final do conflito. Tudo pelo Brasil fez parte do primeiro grupo <strong>de</strong><br />
publicações sobre o movimento paulista, aten<strong>de</strong>ndo ao ávido interesse da população.<br />
Publicado no mesmo ano da guerra, que se encerrou na meta<strong>de</strong> do segundo semestre do ano<br />
<strong>de</strong> 1932, o livro foi rapidamente esgotado, exigindo <strong>um</strong>a nova edição. A velocida<strong>de</strong> com que<br />
as casas editoriais e livrarias trabalhavam é <strong>um</strong> claro indício do enorme interesse do público<br />
em torno da compreensão do dramático acontecimento.<br />
O diário do repórter apresenta o cotidiano no campo <strong>de</strong> batalha. Ao narrar o<br />
nascimento do livro, Armando Brussolo relata as orientações dadas pelo secretário do jornal:<br />
o repórter <strong>de</strong>via envolver-se no ambiente dos combates do grupo revolucionário, assistindo,<br />
<strong>de</strong> preferência, a alguns combates. Devia evitar qualquer referência a manifestações <strong>de</strong><br />
covardia, <strong>de</strong>screvendo para os leitores, distantes do campo <strong>de</strong> batalha, a impressão exata da<br />
guerra por meio das “reportagens vividas” (BRUSSOLO, 1932, p. 10). As recomendações do<br />
secretário, apresentadas no início do livro, indicam a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> relato favorável aos<br />
paulistas, o que não impediu que o repórter afirmasse:<br />
Sendo trabalho <strong>de</strong> <strong>um</strong> repórter, claro está que suas páginas apenas contêm<br />
factos <strong>de</strong>spidos <strong>de</strong> commentarios.<br />
Limitamo-nos a ser <strong>um</strong>a passiva machina photographica. E nossa objectiva<br />
tratou <strong>de</strong> focalizar e fixar episodios interessantes e que viessem a servir <strong>de</strong><br />
subsídio à história que, no futuro, se escreverá sobre o movimento<br />
<strong>constitucionalista</strong> esposado por São Paulo e Matto Groso. Nada mais (p. 11).<br />
O jornalista tece com o leitor <strong>um</strong> pacto <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e imparcialida<strong>de</strong> na narrativa,<br />
buscando negar a presença <strong>de</strong> interpretações pessoais. Ao comparar-se com <strong>um</strong>a “passiva<br />
máquina fotográfica”, salienta a noção com<strong>um</strong> <strong>de</strong> que as “câmeras não mentem”. De fato, a<br />
invenção da fotografia, no século XIX, <strong>de</strong>spertou entusiasmo com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
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