12.04.2013 Views

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPÍTULO 3<br />

IMAGENS DA GUERRA:<br />

NARRATIVAS CONSTITUCIONALISTAS<br />

Um acontecimento ou <strong>um</strong>a situação vivida não po<strong>de</strong> ser transmitida a outrem sem<br />

que seja narrado. Ao contar suas experiências, o narrador transmite o que foi vivenciado,<br />

selecionando e organizando dos acontecimentos <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminado sentido. A<br />

narrativa é o trabalho <strong>de</strong> cristalização da linguagem em imagens que remetem à experiência e<br />

é a forma que o narrador po<strong>de</strong> expor sua versão sobre os fatos.<br />

Nesse capítulo, escolhemos três narradores da revolução <strong>constitucionalista</strong> <strong>de</strong> 1932:<br />

o repórter Armando Brussolo; o coronel Eucly<strong>de</strong>s Figueiredo e retomamos o relato do<br />

combatente Paulo Duarte. Na narrativa <strong>de</strong> cada autor o passado aflora à consciência na forma<br />

<strong>de</strong> imagem-lembrança. Assim, no texto cada <strong>um</strong> refaz, repensa e reconstrói o passado, tendo<br />

como base as lembranças que são construídas com os materiais que estão a disposição <strong>de</strong> cada<br />

autor no conjunto <strong>de</strong> representações que provocam a consciência presente (HALBWACHS,<br />

1990 e BOSI, 1994). A base para os escritos é a memória, cada autor relaciona a lembrança do<br />

passado mediante a sua inserção social e ao momento da escrita – o que é especialmente<br />

relevante, consi<strong>de</strong>rando que todos os escritores conheciam o <strong>de</strong>sfecho da guerra 42 .<br />

Ecléa Bosi (1994, p. 68) afirma que a função da lembrança é conservar o passado do<br />

indivíduo em sua relação com o grupo: “O material indiferente é <strong>de</strong>scartado, o <strong>de</strong>sagradável,<br />

alterado, o pouco claro ou confuso simplifica-se por <strong>um</strong>a <strong>de</strong>limitação nítida, o trivial é<br />

elevado à hierarquia do insólito; e no fim formou-se <strong>um</strong> quadro total, novo, sem o menor<br />

<strong>de</strong>sejo consciente <strong>de</strong> falsificá-lo”.<br />

42 Ecléa Bosi (op.cit, p. 68) trata do conceito a lembrança fazendo referência a William Stern que afirma que “a<br />

lembrança é a história da pessoa e seu mundo, enquanto vivenciada”. Segundo a autora, Stern refere-se ao estrato<br />

objetivo da lembrança (“história”, “mundo”), mas subordina-o manifestadamente a subjetivida<strong>de</strong> (“seu”,<br />

“vivenciada”).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!