12.04.2013 Views

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vitória não implica no reconhecimento da “<strong>de</strong>rrota”. O autor não se coloca como “<strong>de</strong>rrotado”;<br />

era <strong>um</strong> fugitivo que não se entregou e continuava a buscar soluções. Enten<strong>de</strong>-se que para<br />

Paulo Duarte, enquanto houvesse alguém investindo na luta <strong>constitucionalista</strong>, não se podia<br />

consi<strong>de</strong>rá-la <strong>de</strong>rrotada.<br />

Atrás, ia ficando a praia <strong>de</strong> Guaraú, ao fundo da qual se estendia, <strong>de</strong>safiador,<br />

o vulto maciço da serra ver<strong>de</strong> que havíamos vencido durante a noite. Neste<br />

momento, a montanha escura já nos separava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ditadura que havíamos<br />

combatido tenazmente, mas vencedora, nos perseguia. À nossa frente, o<br />

Oceano Atlântico, belo, ensolarado, como <strong>de</strong> braços abertos e nos convidar.<br />

E principiamos a avançar, r<strong>um</strong>o ao sul, que, para nós, era o r<strong>um</strong>o da<br />

liberda<strong>de</strong> e da ação... (DUARTE, 1947, p. 346).<br />

As metáforas com elementos da natureza: a noite e a montanha escura são associadas<br />

à ditadura, “vencida durante a noite” ou “combatida tenazmente”. O autor reveste <strong>de</strong> tom<br />

poético a <strong>de</strong>scrição do momento, em que as novas conjunturas permitiram-lhe repensar a luta<br />

e significar sua posição, que foi valorizada ao i<strong>de</strong>ntificar no “outro” elementos negativos e,<br />

em si, <strong>um</strong> baluarte da liberda<strong>de</strong>.<br />

O oceano simboliza o afastamento do território ditatorial e a idéia <strong>de</strong> nova fase. Ao<br />

encontrá-lo, o autor verbaliza a sensação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e as pretensões <strong>de</strong> ação. A mesma<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> reflexão é expressa ao se falar sobre a Constituição: a principal ban<strong>de</strong>ira da guerra.<br />

Em alto mar, o autor comenta ter encontrado <strong>um</strong> farol que tinha em sua base escrita a palavra<br />

“Constituição”; e <strong>de</strong>screve sua impressão: “Para o alto subia a tôrre, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, à noite, <strong>um</strong>a luz<br />

guiava os viajantes do mar. Em baixo, base <strong>de</strong>ssa luz, doze letras que guiaram São Paulo na<br />

mais dolorosa rota <strong>de</strong> sua história” (p. 351).<br />

Depois que embarcaram, <strong>de</strong>cidiram passar pelo litoral <strong>de</strong> Florianópolis porque o mar<br />

da região era mais tranquilo. Surpreen<strong>de</strong>ram-se com <strong>um</strong>a patrulha em lancha policial, cujo<br />

capitão reconheceu Eucly<strong>de</strong>s e foram presos, enviados para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, para juntarem-se<br />

aos outros presos na Casa <strong>de</strong> Correção. Era o fim da guerra para Paulo Duarte.<br />

Após <strong>um</strong> período na prisão, foram enviados para o exílio na Europa, on<strong>de</strong> se escreveu<br />

o livro, cheio <strong>de</strong> ressentimentos, rancores e críticas. É nesse contexto que se compreen<strong>de</strong> as<br />

expressões como a “mais dolorosa rota da história”, que é diferente da <strong>de</strong>scrição da guerra<br />

feita no prefácio pelo autor, quinze anos <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> “o mais belo capítulo da história <strong>de</strong> São<br />

Paulo”.<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!