FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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lenda, <strong>de</strong>smoralizavam-se, <strong>de</strong>pois do recuo <strong>de</strong> Cruzeiro, <strong>de</strong>sfaziam-se como o fundo<br />
lamacento das trincheiras com as enxurradas dos morros” (DUARTE, 1947, p. 238).<br />
Depois da retirada do Túnel, a Força Pública per<strong>de</strong>u completamente o ânimo.<br />
Qualquer motivo era momento <strong>de</strong> exacerbar as insatisfações. Paulo Duarte teve notícias, por<br />
exemplo, dos combatentes que se reuniram em torno <strong>de</strong> <strong>um</strong> soldado ferido e o cercaram <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> carinho exagerado, comentando que os pequenos sofriam a loucura dos gran<strong>de</strong>s. Para o<br />
autor, “era o preparo preliminar da traição no ânimo dos soldados!” (p. 309). O autor comenta<br />
que, aos poucos, eram impregnados por <strong>um</strong>a atmosfera <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong>s, em que já não era<br />
mais possível saber quem eram os bons e quem eram os traidores.<br />
O que muitos <strong>constitucionalista</strong>s consi<strong>de</strong>raram traição se cons<strong>um</strong>ou com <strong>um</strong> ofício<br />
que o G.Q.G. enviara ao inimigo nos últimos dias <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1932: era a proposta <strong>de</strong><br />
armistício. O doc<strong>um</strong>ento gerou discussão no alto comando, tendo alguns comandantes<br />
consi<strong>de</strong>rado-o como <strong>um</strong> “nefelibatismo tolo” e <strong>de</strong> “eloqüente (sic) pusilanimida<strong>de</strong>”<br />
(DUARTE, 1947, p. 308).<br />
Em reunião com comandantes e oficiais, o coronel Eucly<strong>de</strong>s fez a leitura das propostas<br />
<strong>de</strong> armistício. Só então os soldados da frente conheceram seu conteúdo. O autor afirma que, a<br />
partir da leitura do doc<strong>um</strong>ento, via-se a <strong>de</strong>sorientação e o atalhamento em que tudo se<br />
resolveu, sendo <strong>um</strong> processo feito às escondidas.<br />
O pedido <strong>de</strong> armistício apresentara-se por diversos <strong>de</strong>spachos; no primeiro<br />
contexto era <strong>um</strong>a confissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota e quem se confessa <strong>de</strong>rrotado não tem<br />
autorida<strong>de</strong> para discutir a paz. Na segunda redação, novas modificações, e<br />
nova na terceira e na <strong>de</strong>finitiva, aquele doc<strong>um</strong>ento lamentável já em mãos do<br />
inimigo [...]. Iríamos ser esmagados completamente, pois o inimigo não era<br />
tolo e, por muito fraco que estivesse, se sentiria fortalecido com a confissão<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong>a fraqueza maior. (DUARTE, 1947, p. 315)<br />
Os que propuseram o armistício <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram-se alegando que o haviam feito com<br />
boas intenções. O coronel Maia falou em nome <strong>de</strong>les: “Como militar vira o nosso<br />
esmagamento pelas armas inimigas, cujos recursos não se podiam comparar à nossa miséria<br />
<strong>de</strong> elementos materiais. Por isso, não hesitara em propor [...] para evitar a São Paulo a <strong>de</strong>rrota<br />
completa e os horrores da invasão” (DUARTE, 1947, p. 316-317).<br />
Em resposta a essa afirmação, Paulo Duarte, tomando a palavra em nome daqueles<br />
que eram contra o armistício, disse que, diante do exposto, a guerra continuaria, pois os<br />
<strong>constitucionalista</strong>s ainda não se sentiam <strong>de</strong>rrotados e ali estavam dispostos a lutar contra a<br />
invasão e a <strong>de</strong>sonra. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das <strong>de</strong>cisões do alto comando, o grupo li<strong>de</strong>rado pelo<br />
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