12.04.2013 Views

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>tonações”.<br />

Nesse clima segue a narrativa <strong>de</strong> Paulo Duarte, <strong>de</strong>screvendo o ambiente em que os<br />

<strong>constitucionalista</strong>s conviviam com o fogo inimigo, com dias sangrentos, com a falta da<br />

munição e, muitas vezes, com retiradas sem resistência ou justificativas válidas. Segundo o<br />

autor, a falta <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> abatia mais os soldados do que as mutilações <strong>de</strong> alguns companheiros:<br />

tornava indigna a perda <strong>de</strong> cada combate e a perda <strong>de</strong> territórios anunciava a iminência da<br />

<strong>de</strong>rrota.<br />

A gran<strong>de</strong> tragédia parecia inevitável. Não era crível manter o Cruzeiro, a não<br />

ser que <strong>um</strong> fator imprevisto viesse a nosso favor.<br />

Um crítico da História disse que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto Robespierre, só se o<br />

impossível acontecesse a França fôra (sic) capaz <strong>de</strong> salvar-se. E o impossível<br />

aconteceu com o surgimento <strong>de</strong> Napoleão.<br />

Para salvar o eixo principal da guerra paulista, só se também o impossível<br />

acontecesse...<br />

O Túnel! Tantos sacrifícios! Tantos mortos! Tanto sangue, tanta amargura!<br />

Tudo perdido!...<br />

O comando da Divisão já estava redigindo a or<strong>de</strong>m da retirada. A or<strong>de</strong>m da<br />

retirada do Túnel! O comandante <strong>de</strong>via estar sofrendo muito... (DUARTE,<br />

1947, p. 218-219)<br />

As imagens heroicas da guerra moldaram a visão i<strong>de</strong>alista da guerra civil. Paulo<br />

Duarte almejava <strong>um</strong>a vitória que produzisse <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r, <strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro herói nacional,<br />

fosse civil ou militar, mas que entrasse com a força moral <strong>de</strong> <strong>um</strong> Napoleão. Mas a <strong>de</strong>rrota se<br />

aproximava, além das ameaças externas; o Túnel estava comprometido por dissensões<br />

internas. Diante do <strong>de</strong>scalabro moral e da iminência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>rrota pouco honrosa, iniciou-se<br />

o processo <strong>de</strong> luto: enten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>rrota da revolução por meio da i<strong>de</strong>ntificação das traições e<br />

dos traidores. Quando Paulo Duarte e seus companheiros ainda estavam em Vila Queimada,<br />

começaram a chegar as informações: “As coisas lá pelas outras frentes, ao que pareciam,<br />

andavam mais inquietadoras ainda. Notícias más. Falava-se em traição da Força Pública. Não<br />

acreditei. Neste gênero <strong>de</strong> guerra é muito relativa a profun<strong>de</strong>za dos i<strong>de</strong>ais” (DUARTE, 1947,<br />

p. 160).<br />

Conforme <strong>de</strong>monstra o autor, a traição vinda do Túnel era <strong>um</strong> agravante, pois o Túnel<br />

era o símbolo das esperanças dos <strong>constitucionalista</strong>s, sendo <strong>um</strong> dos seus principais redutos,<br />

on<strong>de</strong> se combateu a Força Pública <strong>de</strong> São Paulo. Paulo Duarte explicou o que significava,<br />

para os paulistas, a participação da Força Pública nessa luta e o peso das notícias que<br />

abalavam os <strong>constitucionalista</strong>s.<br />

85

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!