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FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista

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A concepção <strong>de</strong> que expor as tropas a tantos riscos era <strong>um</strong> ato <strong>de</strong> inconsequência foi<br />

compartilhada pelo coronel Herculano <strong>de</strong> Carvalho ao se referir à matraca, que acreditava<br />

que, na presunção <strong>de</strong> iludir o adversário, na verda<strong>de</strong>, procuravam iludir a si mesmos. Segundo<br />

ele, permitir que os soldados se expusessem às balas adversárias, às granadas e aos aviões que<br />

portavam metralhadores, tendo como armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa instr<strong>um</strong>entos insuficientes e<br />

ina<strong>de</strong>quados, já não era h<strong>um</strong>ano, era loucura (HERCULANO apud CAPELATO, 1981).<br />

O uso da matraca não foi criticado por muitos memorialistas. Paulo Duarte consi<strong>de</strong>ra<br />

que essa invenção foi <strong>um</strong>a necessida<strong>de</strong> diante das circunstâncias, <strong>um</strong>a iniciativa dos louváveis<br />

engenheiros da escola politécnica. Era tratada como <strong>um</strong>a arma para enganar o adversário, daí<br />

o lado “cômico” do fato. Contudo, nada se podia constatar a respeito dos efeitos <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> persuasão sobre os adversários. Por outro lado, é possível concordar que a utilização da<br />

matraca po<strong>de</strong> ter tido <strong>um</strong> efeito psicológico positivo nos <strong>constitucionalista</strong>s, que <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a<br />

forma se sentiram criativos, animados e acreditaram na utilida<strong>de</strong> do invento. Entretanto,<br />

consi<strong>de</strong>ra-se que foi <strong>um</strong>a medida inconsequente, e mesmo <strong>de</strong> irresponsabilida<strong>de</strong>, motivada<br />

talvez pelo <strong>de</strong>spreparo em lidar com a guerra, que expôs os soldados a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sastre, pois a<br />

reação inimiga aos “tiros” se tornava mais impetuosa.<br />

A partir das críticas <strong>de</strong> alguns comandantes e da historiografia, conclui-se que a<br />

matraca, por fim, abalou a reputação dos <strong>constitucionalista</strong>s, sendo <strong>um</strong> exemplo negativo da<br />

falta <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> recursos dos revoltosos, que sem planejamento entraram na guerra<br />

acreditando que essa não seria duradoura e tiveram que improvisar, arriscando vida e saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voluntários que foram conquistados pela propaganda do movimento.<br />

Paulo Duarte manifestou-se irritado com a <strong>de</strong>sorganização do movimento<br />

<strong>constitucionalista</strong>. Àqueles que não colaboravam com a luta eram lançadas palavras <strong>de</strong><br />

extrema indignação quando se percebeu que os raros recursos se tornavam ainda mais restritos<br />

porque eram <strong>de</strong>sigualmente distribuídos.<br />

Uma ânsia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespêro (sic) nos atormentava. Não pu<strong>de</strong> jantar direito,<br />

irrito-me n<strong>um</strong> hotel do Cruzeiro a presença dos oficiaizinhos da retaguarda,<br />

comendo alegremente na melhor súcia <strong>de</strong>sse mundo. Vinham, <strong>de</strong> automóvel,<br />

jantar em Cruzeiro para espairar (sic) o tédio da guerra. Gasolina<br />

esperdiçada inutilmente, enquanto em tôda (sic) parte, até os médicos tinham<br />

os seus automóveis restringidos para a economia da essência necessária à<br />

guerra! Voltei a Queluz amargado <strong>de</strong> raiva contra aquêles patifizinhos (sic)<br />

farreando no sacrifício alheio. (DUARTE, 1947, p. 79)<br />

Enten<strong>de</strong>-se que, para o autor, diante <strong>de</strong> tantas adversida<strong>de</strong>s era imprescindível que<br />

houvesse a participação ativa e comprometida <strong>de</strong> todos os combatentes. Caso houvesse o<br />

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