FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista
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parecida com a da Alemanha e do Império Austro-Húngaro durante a Primeira Guerra<br />
Mundial: que tivessem seu potencial industrial minimizado pelo bloqueio terrestre e naval,<br />
que neutralizava a capacida<strong>de</strong> exportadora e impedia a entrada <strong>de</strong> matéria-prima e ins<strong>um</strong>os<br />
para a produção armamentista.<br />
O autor expõe que às forças paulistas restava o esforço <strong>de</strong> adaptação da indústria para<br />
aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> maior urgência – como alimentos, fardas, capacetes e munições. Os<br />
paulistas surpreen<strong>de</strong>ram pela rapi<strong>de</strong>z do improviso e engenhosida<strong>de</strong> das a<strong>de</strong>quações. Um dos<br />
graves problemas gerados pelo bloqueio naval foi o abastecimento <strong>de</strong> produtos alimentícios<br />
fornecidos por outros estados, como sal – que exigiu a construção <strong>de</strong> salinas <strong>de</strong> emergência. A<br />
moagem do trigo sofreu <strong>um</strong>a nova padronização a<strong>um</strong>entando o índice <strong>de</strong> outros componentes,<br />
como farinha <strong>de</strong> mandioca e milho.<br />
A Escola Politécnica aplicou-se aos estudos, inventos e fabricações <strong>de</strong> armamentos e<br />
explosivos, sem o conhecimento perfeito do seu comportamento e dos aci<strong>de</strong>ntes que po<strong>de</strong>riam<br />
ser provocados. Os politécnicos muitas vezes tiveram que resolver problemas com os quais<br />
nunca sonharam confrontar-se, à iminência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a explosão fatal. Outras inovações tinham o<br />
objetivo <strong>de</strong> dissimular, como as bombas <strong>de</strong> f<strong>um</strong>aça usadas como cortina <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento no<br />
front ou na camuflagem <strong>de</strong> pontos estratégicos. A principal arma <strong>de</strong> dissimulação era<br />
conhecida por “matraca”, instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que produzia <strong>um</strong> ruído semelhante ao <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a metralhadora, a fim <strong>de</strong> enganar o inimigo. Vejamos o comentário <strong>de</strong> Paulo Duarte sobre a<br />
situação bélica <strong>constitucionalista</strong>:<br />
Quando ela arrebentara, os paulistas esperavam os seus aliados com os quais<br />
combinaram a execução s<strong>um</strong>ária <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ditadura. Apesar disso, os paulistas<br />
ficaram sós e sós fizeram a guerra. De modo que quase todo o armamento<br />
esperado foi <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a estabilida<strong>de</strong> ditatorial. Por isso a indústria bélica<br />
precisou ser improvisada, ante o bloqueio logo <strong>de</strong> início realizado. A fábrica<br />
<strong>de</strong> cartuchos trabalhava, mas a fabricação não permitia prodigalida<strong>de</strong>. Para<br />
poupar a munição, <strong>um</strong> “bresser” <strong>de</strong> Cruzeiro inventou a matraca.<br />
Instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que arremedava as metralhadoras. De noite servia<br />
para o tiroteio <strong>de</strong> inquietação, proclamava ao inimigo, <strong>de</strong> dia, <strong>um</strong>a potência<br />
<strong>de</strong> fogo que nunca possuímos...<br />
Mas apenas com as matracas e canhões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira não podíamos<br />
acompanhar as apostas adversárias feitas com artilharia pesada e quase <strong>um</strong><br />
fuzil metralhadora para cada soldado. Daí a invenção das bombardas.<br />
Podíamos fabricar as bombardas, mas como obter os canhões para lançá-las?<br />
Artilharia primitiva, a fabricação não oferecia gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s,<br />
entretanto, faltava o material capaz <strong>de</strong> resistir à explosão do arremêsso (sic).<br />
Fabricou-se com o existente. N<strong>um</strong>a experiência <strong>de</strong> novo tipo <strong>de</strong> projétil,<br />
explodiu esse na boca da peça, matando <strong>um</strong> dos nossos generais e muitos<br />
outros elementos preciosos. (DUARTE, 1947, p. 124)<br />
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